domingo, 9 de julho de 2017

Bispos moçambicanos querem saber quem lucrou com "dívidas ocultas" do país


Ah Moçambique, país querido de povo irmão, como nossas tragédias políticas são parecidas, além dos bilhões que nos roubam e da língua que falamos...

Talvez aqui seja um pouco pior, porque as dívidas públicas são abertas, claras e conhecidas, assim como quem delas se aproveita, e pouco ou nada acontece, principalmente se o político é filiado ao partido "certo" e "inimputável", não é mesmo?!

A matéria é da Rádio Vaticano:

Moçambique. Bispos reagem ao relatório de auditoria sobre "dívidas ocultas"

A Comissão Episcopal de Justiça e Paz de Moçambique, reagiu em carta publicada no dia 4 de julho corrente, ao relatório de auditoria sobre as dívidas ocultas, cujo resumo foi divulgado semana passada pela Procuradoria-Geral da República. O relatório de auditoria foi formalmente entregue à PGR em Maio findo, pela consultora internacional Kroll.

Segundo o bispo de Pemba e igualmente presidente da Comissão Episcopal de Justiça e Paz, Dom Luíz Fernando Lisboa, o povo não deve ser responsabilizado e prejudicado por aqueles que contraíram a dívida ilegalmente.

Na carta partilhada com a imprensa moçambicana, pode-se ler o seguinte: «Não podemos permitir que ao povo moçambicano seja imputada a responsabilidade de pagar com a miséria, sangue e morte as dívidas contraídas em nome dele, de forma ilegal e inconstitucional».

Usar política como forma de caridade

Ainda de acordo com o documento da Comissão Episcopal de Justiça e Paz, os Bispos moçambicanos pedem que o órgão competente declare inconstitucional a inclusão, por parte da Assembleia da República, das dívidas ocultas contraídas em 2013 no orçamento de 2015, de forma unilateral, ilegal e ilegítima e que a PGR responsabilize as pessoas e/ou instituições que não favoreceram o trabalho da auditoria independente com vista a esclarecer o destino dos empréstimos contraídos e os seus beneficiários. Porém, acima de tudo, e em primeiro lugar, responsabilize aqueles que directamente contraíram a dívida.

«Queremos ainda lembrar aos cristãos que trabalham na política as palavras de Papa Francisco: “A política é uma das formas mais altas de caridade, porque procura o bem comum”. Ninguém está obrigado a obedecer a disciplina de qualquer partido político ou aos dirigentes que contradigam à sua consciência cristã. Com efeito, não podemos colocar um partido político nem seus dirigentes acima da justiça, do amor a Deus e do amor aos irmãos. No final dos nossos dias seremos julgados conforme o amor. Não levaremos riqueza nem poder», lê-se na carta da Comissão de Justiça e Paz, divulgado no dia 4 de julho em curso.

Entretanto, Moçambique viu a sua dívida ultrapassar 11 mil milhões de dólares após a descoberta, em Abril de 2016, de dívidas secretamente avalizadas pelo anterior Governo moçambicano, entre 2013 e 2014.

A descoberta das dívidas levou o Fundo Monetário Internacional (FMI) e os doadores a suspenderem a ajuda ao País, condicionando o reatamento do apoio à realização de uma auditoria internacional à dívida pública.

No passado dia 24 de Junho, a Procuradoria-Geral da República (PGR) de Moçambique divulgou o sumário do relatório da auditoria às dívidas ocultas, assinalando que a mesma deixou por esclarecer o destino dos dois mil milhões de dólares contraídos pelas três empresas estatais entre 2013 e 2014.

Hermínio José, Maputo



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