quarta-feira, 28 de novembro de 2012

12 dicas para quem cuida de pessoas em estado terminal

Alguns dias atrás, divulgamos aqui a notícia da americana que ficou 42 anos em coma, sendo cuidada pela mãe até a morte desta, e depois pela irmã.

Todas as pessoas que, de alguma forma, se veem na condição de ter que cuidar de outras pessoas debilitadas em razão de alguma enfermidade ou acidente, sabem como é difícil se desincumbir de tamanha responsabilidade sem causar dano a si próprias.

Isso se dá, principalmente, porque as pessoas cuidadoras – além do alto nível de stress envolvido - sacrificam boa parte das suas próprias necessidades em prol da pessoa que está sob seus cuidados.

Pesquisa da Universidade de Yale revela que cerca de 1/3 dos cuidadores de seres amados em estado terminal sofrem de depressão. Aproximadamente ¼ deles se encaixam nos critérios clínicos estabelecidos para o diagnóstico de ansiedade.

Já 41% dos cuidadores de um cônjuge com mal de Alzheimer ou outra forma de demência passam por uma severa depressão em até 3 anos depois da morte daquele(a) que cuidavam.

Analisando essa situação, o site World of Psychology trouxe 12 recomendações aos cuidadores para protegê-los da ansiedade e da depressão e fortalecer a sua saúde mental enquanto cuidam de um parente.

Como são bastante relevantes, relembrando situações que já enfrentei pessoalmente com meu pai e minha avó, decidi traduzi-las em parte e adaptá-las àquilo que eu próprio vivenciei. São elas:

1) Reconheça que o problema existe

Não tente fingir que você não está cansado, ou que cuidar de alguém é padecer no paraíso. Seja honesto a respeito dos seus próprios sentimentos.

Isto significa que você não deve suprimir as suas emoções reais em troca de um pensamento positivo imaginário, por mais real que seja o seu sacrifício.

Um estudo da revista Psychological Science revelou que pessoas com baixa autoestima que, mesmo contra todas as evidências, insistem em forçar um pensamento positivo de que seu esforço é reconhecido, terminam rancorosas e com autoestima mais baixa de quando entraram no processo.

É melhor reconhecer para si mesmo, de preferência em voz alta e com as palavras mais cruas possíveis, o quanto essa situação é extremamente injusta, desagradável e desgastante.

2) Eduque-se

Procure se informar sobre as reais condições da pessoa amada e quais são os tratamentos, as terapias e as intercorrências possíveis.

Fazendo isso, você não será surpreendido nem se assustará quando situações anômalas ocorrerem. Consequentemente, o seu choque será menor.

Tanto quanto possível, procure inclusive treinamento adequado à situação que você enfrenta.

Isto não eliminará as surpresas pelo caminho, mas fará com que você, além de enfrentá-las de maneira proativa, tenha uma perspectiva do que ocorrerá com a pessoa sob seus cuidados no prazo de um mês ou um ano, por exemplo. Assim, poderá programar melhor a sua própria vida.

3) Coloque a sua máscara de oxigênio

Lembra-se daquela recomendação de rotina no inicio dos voos, “máscaras de oxigênio cairão do compartimento acima; coloque a sua primeiro para depois colocar a das crianças”?

Isto quer dizer que cuidar de você mesmo primeiro é tão ou mais importante do que cuidar da pessoa amada em necessidade.

A lição vale para tudo na vida: você só terá condição de cuidar dos outros se estiver bem em primeiro lugar.

Pesquisa do Journal of the American Medical Association revelou que cuidadores mais velhos (do que aqueles de quem cuidam) que estão super estressados têm o seu próprio risco de morte aumentado em 63% em comparação com aqueles cuidadores que sabem administrar o seu stress.

4) Programe uma folga

Estabeleça um período diário de cerca de meia-hora para dedicar-se única e exclusivamente a você, sem pensar em nenhum outro problema de quem quer que seja.

Isto não significa que você deva tirar uns 15 minutos enquanto a sopinha não fica pronta, ou na leitura daquele material entediante sobre a enfermidade que a pessoa querida sofre.

Significa – sim – que durante este pequeno período dedicado a você mesmo, as tarefas diárias e as necessidades de nenhuma pessoa neste mundo ocuparão a sua mente.

Isto não é egoísmo, é relaxamento essencial para a sua saúde física e emocional.

5) Rotule a sua culpa

É inevitável que você se cubra de “culpas” (geralmente imaginárias) ao longo do período em que cuida da pessoa amada, seja direcionada a ela ou aos seus afazeres e relacionamentos deixados de lado.

Procure, entretanto, classificar essas “culpas” em verdadeiras ou mentirosas, em benéficas ou não, se te ajudam a prosseguir ou se te paralisam e te afundam no poço da depressão.

Desta forma, pensamentos mórbidos sobre as suas habilidades como cuidador(a) devem ser rejeitadas e descartadas de imediato.

Já novas ideias sobre como melhorar o seu desempenho podem ser eventualmente rotuladas como “benéficas” e trabalhadas a seu devido tempo.

6) Organize-se

De certa forma, cuidar de pessoas acamadas é como criar crianças: ter organização e disciplina é essencial.

Assim, por exemplo, os horários para as crianças se alimentarem, comerem “bobagens”, brincarem, assistirem TV, etc., devem ser bem administrados.

Da mesma maneira, se a sua mãe ou esposa estão acamadas e com um mínimo de consciência, ajuda tanto a elas como a você saber de antemão o horário em que tomarão banho ou se alimentarão.

7) Saia de casa

Trancar-se em casa é uma das piores atitudes que um cuidador pode ter. Se insistir nesse comportamento negativo, rapidamente se sentirá um prisioneiro numa cela escura e assustadora.

Procure sair de casa. Aproveite todas as oportunidades que lhe aparecerem (ou provoque-as!) para interagir socialmente. É extremamente benéfico entrar em contato com outras pessoas em situações completamente diferentes daquelas que você enfrenta de casa.

Tanto quanto possível, faça cursos ou vá ao clube, a reuniões sociais ou à academia por curtos períodos tantos dias da semana quanto possíveis.

Ao fazer isso, o seu estado de espírito se animará e você certamente se tornará um melhor cuidador para a pessoa que você ama.

8) Durma

A melhor recomendação que este artigo pode dar é essa: durma bem. Por uma razão muito simples (e perigosa): distúrbios do sono potencializam o risco de depressão severa.

Se o seu sono está rotineiramente alterado e disperso, você passará a sentir fadiga e o seu estado de espírito vai por água abaixo.

Não tardará muito a perder interesse na interação social, tão necessária nesse momento, e os pensamentos negativos se intensificarão, levando a alterações no apetite e à perda de concentração.

Portanto, faça todo o possível e o impossível para dormir bem.

9) Reduza as suas expectativas

Não se engane: a tendência é que você seja constantemente lembrado de como a enfermidade tirou de você e da pessoa amada os maravilhosos anos que passaram juntos.

Não adianta, entretanto, querer ter de volta aqueles bons momentos, porque – mesmo que nada de ruim tivesse acontecido – eles de qualquer maneira jamais voltariam. Pertencem agora ao tempo que passou. É a regra da vida.

Não se torne prisioneiro, portanto, desses pensamentos nostálgicos, e se convença de que vale a pena continuar vivendo de maneira simples e – muito provavelmente – solitária, os anos que lhe restam.

Isto não significa que o que você ainda tem a viver não seja bom. Depende de você e das circunstâncias que só o futuro revelará a seu próprio tempo. Tenha paciência e procure manter a calma e a serenidade.

10) Peça ajuda

Não tenha vergonha nem espere demais até reconhecer que precisa de ajuda. Você não precisa chegar à exaustão completa antes de gritar por socorro.

Enquanto você ainda tem energia sobrando, mas sente que ela está se esvaindo, procure a ajuda de familiares e amigos para pequenos auxílios no seu dia-a-dia de cuidador(a).

Mesmo que você não tenha mais familiares e amigos próximos que possam lhe ajudar, procure saber se na sua comunidade ou na sua cidade existem serviços de assistência a pessoas nessas condições a que você possa recorrer.

Informe-se, procure, pesquise, não se sinta constrangido(a) ao pedir ajuda. É para o seu próprio bem, e também da pessoa de quem você cuida.

11) Adie decisões importantes

Os psicólogos aconselham as pessoas que acabam de perder um ente querido a não tomar decisões cruciais por um ano, período razoável para que elas tenham condições de avaliar com boa dose de equilíbrio as opções que se lhes apresentam.

O mesmo vale para os cuidadores. Evite tomar decisões que importam numa mudança radical de aspectos muito sensíveis de sua vida, sobretudo na área de relacionamentos e da sua carreira profissional.

Para tanto, espere um momento em que você esteja mais estável emocionalmente. Não faça nada precipitadamente.

12) Fale sobre isso

Não importa tanto saber como você vai conseguir apoio, porque você certamente vai precisar dele.

Procure na sua região um grupo de ajuda a cuidadores. Se não for possível, converse com pessoas do seu bairro, do hospital, da clínica ou da sua cidade para trocar experiências com quem enfrenta situação parecida.

O simples fato de desabafar com alguém capaz de entender na prática o que você está passando já é de grande ajuda.

Além disso, busque na internet organizações ou sites que possam te preparar a enfrentar o seu imenso desafio. Busque, acima de tudo, empatia. Não tenha vergonha de chorar. A empatia geralmente se faz acompanhar da simpatia.

No Brasil, por exemplo, busque no Google pelas palavras-chave “associação”, “cuidadores” acrescentando a enfermidade que eles sofrem, como “Alzheimer” ou AVC, etc., que você encontrará vários sites com informações úteis.

Cuide de você mesmo. Vale muito a pena!



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