sexta-feira, 31 de julho de 2015

Evangélico inocente confundido com bandido é linchado no RJ


Quando nos debatemos aqui contra a histeria coletiva que quer fazer justiça com as próprias mãos, à la Rachel Sheherazade, logo aparece um monte de gente, boa parte deles se apresentando como "cristãos" e "evangélicos", para defender a barbárie.

Eles não conseguem compreender que o nosso maior medo é exatamente este: a morte de um inocente provocada pelo comportamento de manada de uma turba motivada pelo boato, pela fofoca, pelo pânico infundado e pelo raciocínio rasteiro (se é que se pode ser chamado de "raciocínio") de quem não pára 5 segundos para refletir.

Esta tragédia é agravada ainda mais em tempos de redes sociais, onde qualquer foto ou "notícia" compartilhada por alguém se torna instantaneamente verdade absoluta que demanda uma punição imediata sem que ninguém se dê ao cuidado de checar os fatos para confirmar a sua veracidade.

Não há maior desgraça para a Justiça (com "J" maiúsculo), como valor filosófico e fator de organização da sociedade, do que a condenação de um inocente e - pior ainda - de maneira sumária, instantânea, sem direito à defesa.

Por isso mesmo, evite acender o pavio da histeria coletiva. A vítima pode ser alguém que você conheça, ou até mesmo você...

A notícia é d'O Dia:

Homem amarrado e agredido no Grajaú não era bandido, diz polícia

Carlos Santos levou socos e pontapés e teve pés e mãos amarrados depois que mulher o acusou de ser assaltante

EDUARDO FERREIRA

Rio - Uma tentativa de justiçamento por pouco não provocou a morte de um homem inocente nesta quinta-feira no Grajaú, Zona Norte. Carlos Santos, 40 anos, foi acusado por uma mulher de ser assaltante e isso quase lhe custou a vida. Ele teve pés e mãos amarrados e foi agredido com socos e pontapés.

Espancada no meio da rua, a vítima precisou ser socorrida por bombeiros para o Hospital Federal do Andaraí, recebeu alta e foi à 20ª DP (Vila Isabel) prestar depoimento. Ninguém apareceu na delegacia para prestar queixa contra ele.

O espancamento ocorreu um dia após o governador Luiz Fernando Pezão visitar a 1ª Companhia Integrada de Polícia de Proximidade (CIPP), no Grajaú, e elogiar a queda da criminalidade da região. A base da CIPP fica a 800 metros do local onde Carlos foi agredido.

Ainda confuso e com hematomas na cabeça e no rosto Carlos contou na DP que estava a caminho de uma igreja evangélica na Rua Teodoro da Silva quando foi amarrado e espancado. Um testemunha, que não quis se identificar, disse ao DIA que o homem gritava muito e parecia estar alterado, no meio da Rua Barão do Bom Retiro.

Uma mulher teria se assustado com ele e corrido para uma padaria pedindo ajuda. Foi quando os "justiceiros" apareceram, amarraram Carlos e o agrediram.

A Polícia Civil informou que vai apurar quem são os agressores, fazer diligências e solicitar imagens de câmeras de segurança. Grávida de oito meses, Luciene Maria, 34, esposa de Carlos, espera justiça. “É muita maldade. Meu marido é trabalhador e nunca fez mal a ninguém”, contou.

Casos semelhantes em outros pontos da cidade

Vários casos de linchamento ocorreram nos últimos dias. Segunda-feira, um suspeito de estuprar uma mulher na comunidade do Terreirão, no Recreio dos Bandeirantes, sofreu várias agressões. Segundo a polícia, Sandro Roberto dos Santos, de 40 anos, foi socorrido e autuado em flagrante por tentativa de estupro. No último dia 20, um homem identificado como Newton Costa Silva foi linchado por 15 homens na Favela da Rocinha, na Zona Sul. Com um histórico de problemas psiquiátricos, ele teria sido torturado, espancado e morto após invadir uma casa vizinha.



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