quinta-feira, 12 de outubro de 2017

Celebrando os 500 anos da Reforma com Lutero - parte 12


OS JUROS

A maior desgraça da nação alemã, contudo, é com certeza o empréstimo a juros: se este não existisse, muitos teriam que deixar de comprar sua seda, seu veludo, joias, especiarias e toda sorte de ostentação. Ele não existe há muito mais de 100 anos e já levou à pobreza, à miséria e à perdição quase todos os príncipes, fundações, cidades, nobres e herdeiros. Se continuar por mais 100 anos, é impossível que a Alemanha fique com um centavo sequer. Com certeza teremos que nos devorar uns aos outros. Foi o diabo que o inventou, e com a sua aprovação o papa fez sofrer o mundo inteiro. Por isso conclamo e peço aqui que cada um encare sua própria perdição, a de seus filhos e herdeiros – ela não está às portas, mas já grassa dentro de casa – e que o imperador, os príncipes, senhores e cidades façam com que o empréstimo a juros seja proscrito o mais rápido possível e coibido doravante, não importa se o papa e toda a sua justiça ou injustiça se oponham, ou se há feudos ou fundações sobre ele embasadas. É melhor que seja instituído um único feudo com bens hereditários ou rendas honestas numa cidade do que uma centena deles à base do empréstimo a juros. Sim, um feudo baseado em empréstimo a juros é pior e mais pesado do que 20 deles baseados em bens hereditários. Na verdade o empréstimo a juros deve ser símbolo e sinal de que o mundo está vendido ao diabo com graves pecados, de sorte que só podemos mesmo ficar carentes de bens seculares e espirituais ao mesmo tempo. No entanto, ainda não estamos notando nada!

Neste ponto também se deveriam realmente por rédeas nos Fugger e nas companhias desse tipo. Como é possível que durante a vida de uma única pessoa se juntem tão imensos bens reais de acordo com a vontade de Deus e de maneira correta? Eu não conheço a conta. Mas não compreendo como se pode, com 100 florins, ganhar 20 por ano, sim, com um florim, ganhar mais outro, e tudo isso proveniente não da terra ou do gado, onde os bens não dependem do entendimento humano, mas da bênção de Deus. Deixo isso para os entendidos do mundo. Eu, como teólogo, não posso censurar mais do que a aparência maligna e escandalosa da qual diz São Paulo: “Acautelai-vos de todo aspecto ou aparência maligna” [1 Ts 5.22]. Isso eu sei muito bem: seria muito mais de acordo com a vontade de Deus fomentar a agricultura e reduzir o comércio, e que agem muito melhor aqueles que cultivam a terra, conforme a Escritura, e nela procuram seu sustento, como está dito a nós e a todos na pessoa de Adão: “Maldita seja a terra quando nela trabalhas; ela te produzirá cardos e abrolhos, e no suor do teu rosto comerás o teu pão” [Gn 3.17-19]. Ainda há muita terra não arada e sem cultivo.

(LUTERO, Martinho in À Nobreza Cristã da Nação Alemã, acerca da Melhoria do Estamento Cristão. 1520. MARTINHO LUTERO. Obras Selecionadas. São Leopoldo: Sinodal. Porto Alegre: Concórdia. Tradução de Walter O. Schlupp. 2. ed. 2000. vol. 2, págs. 337-338)



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