segunda-feira, 25 de agosto de 2008

Aquela misteriosa alegria...

Debaixo do sol escaldante, procurava algo que não sabemos...

- Onde está? - repetia mentalmente para si.
- Onde caiu?

Não tinha idéia de onde poderia ter caido tal preciosidade. Estivera procurando toda vida por aquilo. E agora que tinha a chance de encontrar, não estava conseguindo... Porém, seus companheiros já haviam encontrado... E já estavam desfrutando de seu achado... Contentes, rindo uns com os outros... Se pudessem, cantariam tão bem como o melhor coral dos melhores anjos. E não é por falta de tentar. Aliás, eles sempre tentaram fazer não só isto, mas muitas outras coisas...

E aquela alegria toda contribuía ainda mais para que ele não encontrasse o que procurava... Ele tinha que fazer alguma coisa... Por que só ele não o encontrava? O que há de errado com ele? Por quê?

A exclusão é dolorida, a solidão é uma tortura. Ele não queria ficar daquele jeito sempre... Ele tinha que encontrá-las. Deveria haver alguma forma... Se aqueles ali ao seu lado encontraram, por que ele não encontraria? Eles não eram diferentes dele. Talvez até fizesse de conta que tivesse encontrado, para se aproximar e descobrir como fizeram. Isto também o ajudaria a se concentrar mais em sua busca.

Então, com toda humildade do mundo, se aproximou daquela algazarra. Não se mostrou soberbo, não estava tentando ser melhor que ninguém. Foi educado, cordial, atencioso. E os que já riam, riram dele. Tentou rir juntamente com eles, como se aquilo tudo fosse uma brincadeira costumeira entre os ali presentes. Não conseguiu. Sua situação estava deveras séria, para que despertasse em si uma vontade, principalmente a vontade de rir. E aqueles ali perceberam que sua risada era falsa. Era uma risada sem vontade, forçada, aparente. Viram o riso, não viram a humildade. Não viram a educação, a cordialidade, a atenção. Viram sua imagem mas não o viram. E assim, riram. Então, mergulhado em mais profunda tristeza, começou a se afastar. Antes porém, direcionou sua atenção para o achado daqueles que estavam ali... Mas achou algo estranho...

- Mas, estavam felizes com isto? O que significa isto tudo?

Em sua mente, um turbilhão de idéias aflorou. Já tinha visto aquilo que eles tinham em mãos... Mas jamais pensaria que era aquilo que ele deveria procurar, pois aquilo sim lhe daria a alegria esperada. Uma alegria que ri não das imagens, mas uma alegria que convida todos a rirem unidos, sem tom de críticas.

E se aquilo não existir? Se aquilo for uma ilusão? Já bem sei que muitos dos que acharam aquilo, o deixaram de lado, se cansaram de rir um da cara do outro, e resolveram abandoná-lo. Pois eu achava um absurdo que fosse possível abandoná-lo, dado tamanha alegria que proporciona àqueles que o detém. Agora vendo o que acharam, fico na dúvida se tal coisa realmente existe.
E caminhou lentamente para um canto, onde pudesse efetivar sua solidão. Sentou-se ao chegar ali, e não muito depois, um pássaro azul, de beleza inigualável, sentou-se em uma árvore próxima. Não muito depois, iniciou um canto que ele jamais ouvira. Um canto tão belo, que tinha a impressão que aquele momento seria único. Um canto mais belo que aqueles ouvia tentarem. Isto o fez mergulhar novamente em seus pensamentos.

- É verdade que não se joga pérolas aos porcos. Por isto não as encontrei com eles. Antes, a lavagem que detinham é para eles suas pérolas. E quem que jogaria esta lavagem, senão o criador de porcos? Ele não está interessado na alegria deles, está interessado em sua própria alegria. E sua própria alegria custará a vida destes porcos que há pouco riram de mim. Tenho pena deles. Acharam que poderiam ver intenções ocultas, por que me viram sorrir falsamente. Mas eles não descobriram por que agi assim. E não vão descobrir nunca por que o seu criador age assim. Antes, estão satisfeitos com sua lavagem, que fez suas cabeças. Então, que continuem com sua alegria verdadeiramente falsa. Continuem com seus rituais, seus julgamentos, suas leis, suas vestimentas, suas condutas, seus instrumentos musicais, sua pompa, sua castidade e com toda sua exegese para defendê-los. Continue com sua lavagem.

E latindo agora de forma alegre, concluiu:

- Eu não voltarei a meu próprio vômito, não eu. Não vou mais deixar que a lama atrapalhe meu olfato. Nunca mais.

E partiu em sua busca, sabendo que certamente encontraria aquelas pérolas já há muito tempo prometidas. Mas o sorriso em sua face já denunciava que de alguma forma misteriosa, ele já havia encontrado...

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