Ainda há muitos cristãos que anunciam a graça de Deus, ainda que timidamente, enquanto a aparente maioria - dos que professam essa fé - vive como se a ignorasse, impondo a si mesmo e aos outros um “evangelho” em que o desempenho visível e material (e muitas vezes materialista) é o critério que os define do ponto de vista da religião, mesmo que neguem peremptoriamente e rejeitem qualquer conteúdo religioso ao seu discurso e ao seu estilo de vida.
Não é de se estranhar, portanto, que funcionem, na prática, como carrascos de si mesmos e dos outros, nem tanto pelo seu comportamento excessivamente rigoroso, vigilante e formalista, mas principalmente por se privarem de viver a plenitude da graça de Deus, que alegam ter encontrado um dia.
Viver a plenitude da graça de Deus não é sinônimo de licenciosidade, de pecar inconsequentemente para que esta mesma graça cubra essa multidão de pecados.
Viver a plenitude da graça de Deus não é sinônimo de licenciosidade, de pecar inconsequentemente para que esta mesma graça cubra essa multidão de pecados.
O estilo de vida determinado e dirigido pela graça implica, com o perdão da redundância, em viver graciosamente consigo mesmo e para com os outros, ter uma atitude em relação à vida (sua e dos outros) de acolhimento, generosidade, leveza, gentileza, simplicidade e tolerância; não querer ser mais do que se é e ter prazer no simples fato de existir e ter provado a suprema graça de ter sido acolhido por Deus.
Entretanto, há tantos cristãos que submergem num oceano de obrigações autoimpostas que não conseguem voltar à superfície para simplesmente respirar o ar que Deus de graça lhes deu.
Essas obrigações não são necessariamente uma vigilância permanente contra o pecado, mas um bloqueio das suas próprias aptidões e do seu crescimento espiritual, geralmente com medo do que os outros vão pensar.
Todo o teatro das relações sociais corriqueiras é incorporado pelo crente e ele se preocupa mais em representar uma vida cristã do que propriamente em ser um cristão.
Não é raro, tristemente, que muitos descubram tarde demais que apenas têm uma representação cristã, mas perderam muito tempo evitando ser cristãos.
Por isso é tão comum ouvirmos mais lamentações dessa gente boa do que celebração, ainda que silenciosa.
Por isso é tão comum ouvirmos mais lamentações dessa gente boa do que celebração, ainda que silenciosa.
Por isso há tantas caras fechadas e cansadas em busca de um sorriso alheio, esquecidas que estão da capacidade que têm em si mesmas de sorrir.
Por isso há tanta gente que não consegue se perdoar e vive numa rotina de autopunição, ainda que travestida de desempenho religioso.
Tanto a graça como a vida são dons de Deus, e viver a graça de Deus como estilo de vida é simplesmente unir com ternura o que Ele não separou.
Todos os dias e para sempre.