O salmo 139 é o mais belo hino bíblico sobre o cuidado de Deus na formação de cada ser humano, "entretecido" (v. 13) e "esmeradamente tecido" (v. 15) no ventre da mãe.
Aquilo que a Bíblia já dizia 3.000 anos atrás, agora é confirmado pela ciência, conforme você pode ler na interessante matéria abaixo, publicada na revista Galileu:
Por que somos seres únicos?
por Caroline Williams, da New Scientist
DNA é só o começo. Veja como o jeito de andar ou o formato da orelha são diferentes em cada um de nós e inspiram novas tecnologias de reconhecimento
Olhe ao redor e vai perceber como todas as pessoas são diferentes. Rostos, corpos, comportamentos e personalidades, todos parecem únicos e especiais. Agora pense na humanidade como um todo. Somos cerca de 7 bilhões, mas estimativas sugerem que 100 bilhões de pessoas viveram e morreram nos últimos 50 mil anos. Até onde sabemos, todas elas são, ou foram, totalmente únicas. O mesmo se aplica a todos os seres humanos que ainda estão por nascer.
Há na nossa espécie uma quantidade incrível de variação. Quanto mais buscamos tecnologias para confirmar identidades, mais descobrimos qualidades que tornam cada um de nós especial. Algumas, como DNA e digitais, são óbvias. Outras, nem tanto. Então, sim, sua mãe estava certa: você é muito, muito especial. Mas não confie apenas na palavra dela. Veja abaixo 10 traços que, de acordo com a ciência, são seus e de mais ninguém.
Uma parcela de apenas 0,5% do DNA dos humanos é distinto entre as pessoas e seria responsável pela infinidade de diferenças que vemos. Mas tão pouco seria suficiente para explicar todas as variações que encontramos? Na teoria, sim. E muito. Nosso genoma contém cerca de 3,2 bilhões de letras de código de DNA; 0,5% disso seria 16 milhões de letras. O código possui quatro letras, então o número de combinações possíveis é igual ao número 4 elevado a 16 milhões. O gigantesco resultado dá um número de possíveis genomas muitas e muitas vezes o suficiente para que todas as pessoas que já existiram tenham DNAs diferentes.
Assim, probabilidade de alguém ter exatamente o mesmo genoma que você é zero. Isso vale até para gêmeos idênticos. Apesar de serem 100% iguais no momento da concepção, os genomas dos gêmeos se diferenciam logo em seguida, fruto de pequenas mudanças e mutações aleatórias que ocorrem sempre que o DNA é copiado. E quanto mais velhos os gêmeos, mais diferentes eles são.
O tamanho e formato delas são determinados, em grande parte, pelos genes. Mas a formação de impressões digitais no feto também é influenciada por fatores sutis, como a pressão das paredes uterinas e até os movimentos do fluido amniótico.
Assim, as digitais de gêmeos idênticos podem ser bastante parecidas, mas as diferenças são grandes o suficiente para serem detectadas. Na datiloscopia, essas distinções são conhecidas como “minúcias” e incluem variações como a bifurcação ligeiramente deslocada de uma linha em cada gêmeo ou uma presilha (um dos traços formados pela impressão) mais fechada. O mesmo vale para as marcas nos dedos dos pés.
Ninguém sabe para que as digitais servem. Estudos mostram que, ao contrário do que diz o senso comum, elas não tornam os dedos mais aderentes, pois reduzem a fricção em vez de aumentá-la. Independentemente de seu propósito, elas claramente não são essenciais para a sobrevivência. O único problema conhecido por pessoas com mutações que as faz nascer sem as impressões é passar pelo controle de imigração.
Desde que nossos ancestrais ficaram de pé 1,5 milhão de anos atrás, os seres humanos sempre caminharam mais ou menos do mesmo jeito: um pé na frente do outro, gingando os quadris, encostando no chão primeiro o calcanhar e depois os dedos. O incrível é que, apesar da semelhança, todos nós andamos pelo planeta com um estilo ligeiramente diferente.
Estudos realizados desde a década de 1970 demonstram que as diferenças nos estilos é grande o suficiente para que reconheçamos as pessoas apenas pelo modo como andam no mínimo em 90% das vezes. Quando paramos de crescer, as diferenças no comprimento das nossas pernas e na largura dos quadris, combinadas com fatores ambientais como os músculos gerados pelo exercício físico, acabam gerando um estilo próprio.
É algo difícil de explicar, mas fácil de identificar, explica Mark Nixon, da Universidade de Southampton, Inglaterra. Computadores demarcam linhas traçadas pelos braços e pernas e transformam seus movimentos em número. Outra maneira de mensurar o modo de andar é fazer com que o indivíduo caminhe sobre um sensor de pressão e registrar suas passadas individuais. Sistemas desse tipo, desenvolvidos pelo grupo do pesquisador Todd Pataky na Universidade Shinshu do Japão, poderiam ser utilizados para acelerar o processo de check-in nos aeroportos.
Ainda há a ideia, em estágio inicial, de usar sensores de movimento semelhantes aos contidos em smartphones. Presos à perna, tais sensores poderiam medir a velocidade, aceleração e rotação. A técnica poderia ser usada como recurso de segurança em telefones celulares, de modo que os aparelhos não funcionariam quando fossem transportados por estranhos.
Esqueça as músicas românticas dizendo que dois corações podem bater em uníssono. A realidade é que dois batimentos cardíacos nunca são iguais. Ninguém notaria a diferença encostando a orelha contra o peito, mas é possível diferenciá-los pelos seus impulsos elétricos.
Um eletrocardiograma registra 3 picos: a onda P, que é o impulso que contrai as câmaras superiores; o complexo QRS, que é a contração mais forte das câmaras inferiores; e a onda T, muito menor, que ocorre quando o coração relaxa.
Todo coração varia em termos de forma e tamanho, então a altura, largura e espaçamento dos picos varia entre os indivíduos. É verdade que o espaçamento entre esses marcadores muda com a aceleração dos batimentos em momentos de estresse ou durante exercícios, mas ainda assim é possível determinar uma assinatura individual.
Como os batimentos cardíacos não são controlados de forma consciente, são praticamente à prova de falsificação. Algumas empresas especializadas em biometria estão desenvolvendo aparelhos que usam essa característica para verificar identidades. A Apple também está trabalhando no uso dos nossos batimentos cardíacos como senha para proteção de informações privadas. E aonde a Apple vai, outros com certeza vão atrás.
A voz é a soma de muitas partes: o barulho do ar quando vibra pela laringe, o modo como interage com a boca e o nariz e a maneira como é moldada pelo palato, língua, lábios e bochechas.
Como é altamente improvável que duas pessoas tenham a mesma laringe, boca, nariz, dentes e músculos, com os mesmíssimos tamanhos e formatos, as vozes são especiais e fáceis de reconhecer.
Mas, ao contrário de outras características, temos a capacidade de alterar nossas vozes conscientemente, mexendo com o jeito que usamos os músculos do rosto e da laringe para mudar o volume, a altura e o tom. De acordo com Sophie Scott, neurocientista do University College de Londres, isso significa que a maioria das pessoas pode mudar sua voz quando quer e até quando não quer (reagindo a situações sociais sem que se dê conta).
Sophie estuda como imitadores produzem vozes tão parecidas com as de outras pessoas. O que se sabe é que os melhores profissionais têm excelentes habilidades para emular com perfeição trejeitos alheios, não apenas a voz. Por causa disso não existe uma maneira confiável de identificar uma voz apenas pela comparação das ondas de áudio ou por altura e tom. Até há sistemas que usam reconhecimento de voz, mas eles são combinados com outras senhas para se proteger de imitadores.
Os cães sempre souberam e agora a ciência comprova: não existem duas pessoas com o mesmo cheiro. Mas será que a variação é suficiente para que 7 bilhões tenham cheiros diferentes? “Com certeza”, diz George Preti, do Monell Chemical Senses Center, nos EUA. “Só a axila tem pelo menos algumas dúzias de odorantes, talvez mais, e as concentrações e quantidades relativas podem variar bastante.”
Nós não temos apenas um cheiro, é claro, mas vários. Cada pedacinho do nosso corpo possui diferentes tipos e quantidades de secreções e hospeda diferentes tipos de bactérias, que por sua vez transformam nossas secreções, geralmente inodoras, em um cheiro.
Uma análise recente de compostos orgânicos voláteis do suor de 200 voluntários austríacos demonstrou que dessa mistura de quase 5.000 ácidos, álcoois, cetonas e aldeídos, 44 deles variam o suficiente para produzir um perfil químico capaz de ser lido da mesma forma que uma digital. Preti diz que os compostos podem influenciar a maneira como identificamos uns aos outros. Não há ainda como capturar o cheiro total de um indivíduo e usar os dados para identificá-lo, mas há rumores de que o governo dos EUA está interessado numa tecnologia do tipo e Preti diz já estar trabalhando na ideia.
Essa característica especial nasce de 100 trilhões de bactérias que vivem dentro e fora do seu corpo. Há 10 bactérias para cada célula do seu corpo e, em termos genéticos, elas são ainda mais dominantes: os micróbios representam 3,3 milhões de genes, comparados com os meros 23 mil do seu corpo. “Você é apenas 0,7% humano”, brinca Jeremy Nicholson, bioquímico do Imperial College London.
Das mais de mil espécies de bactérias que costumam viver dentro e fora do corpo humano, cada um de nós hospeda apenas cerca de 150, a maioria delas dentro do intestino. O elenco dessa população microscópica é diferente em cada um dos seres humanos.
As bactérias da pele também variam de uma pessoa para a outra. Um estudo recente publicado na prestigiada revista científica Proceedings of the National Academy (PNAS) descobriu que uma impressão digital bacteriana única e exclusiva é transferida pelos nossos dedos para os objetos nos quais encostamos, como mouses e teclados, e permanece nessas superfícies por cerca de duas semanas. Mesmo os gêmeos idênticos, difíceis de diferenciar com testes de DNA, são identificados com facilidade quando analisamos os traços que são deixados por seus companheiros microscópicos.
A íris de cada olho é especial o suficiente para que diversos países, como Reino Unido, Canadá e EUA aceitem uma imagem digital dela como prova de identidade. Mas a aparência das íris é hereditária. Então, como olhos que são iguais aos de toda a família podem, ao mesmo tempo, serem totalmente únicos?
A resposta está na complexidade da estrutura da íris, uma grande mistura de músculos, tendões, vasos sanguíneos e células pigmentadas que produzem cor, profundidade, sulcos, cristas e manchas. A cor e a textura geral da íris é determinada geneticamente, o que explica as semelhanças hereditárias. Mas o reconhecimento de íris usado em aeroportos ignora a cor e concentra-se nos detalhes dos sulcos, cristas e pintas. Essas características dependem da localização exata dos tendões, músculos e células pigmentadas à medida que a íris se desenvolve antes do nascimento, fatores aleatórios e não são controlados pelos genes.
Se olhar no espelho e puxar suas orelhas, vai perceber que uma é ligeiramente diferente da outra. Mais do que isso, cada uma delas é diferente das orelhas de todas as outras pessoas.
A orelha humana se desenvolve a partir de 6 calombos minúsculos que surgem na lateral da cabeça cerca de 5 semanas após a concepção e se fundem gradualmente. A genética define a forma geral, mas o ambiente dentro do útero, incluindo a posição do feto, influencia o resultado final. Depois de formadas, as orelhas praticamente não mudam de formato.
Pesquisadores desenvolvem maneiras de reconhecer indivíduos pelo formato de suas orelhas. Uma análise feita pela Notre Dame University, nos EUA, mostra que a identificação pela orelha pode ser tão precisa quanto o reconhecimento facial. Tanto que pessoas já chegaram a ser condenadas com base em “impressões auriculares” deixadas na cena do crime nos EUA e na Holanda. Mas isso ainda é controverso porque a impressão deixada pode mudar de acordo com a pressão exercida sobre a orelha. Nos EUA, pelo menos um suspeito foi libertado após tribunais rejeitarem a confiabilidade desse tipo de análise.
Os seres humanos nascem com grande quantidade de neurônios, mas nossos cérebros podam 50% deles durante a infância. O que sobra desse processo, motivado pela experiência, deixa cada um com um cérebro único que realiza as mesmas tarefas de forma ligeiramente diferente. É possível enxergar essas diferenças sutis quando medimos a atividade elétrica do órgão.
Em 2001, um estudo da Universidade de Regina, no Canadá, descobriu que as atividades cerebrais chamadas ondas alfa têm diferenças suficientes em um grupo de 40 pessoas para que identifiquemos cada uma delas. Outro estudo mostrou que a força de um tipo diferente de onda cerebral, as oscilações gama, também varia.
Será que as diferenças cerebrais explicam por que cada um de nós possui personalidades diferentes? É possível, mas ainda não sabemos se as ondas elétricas de cada indivíduo seriam reconhecíveis caso fossem mensuradas em dias diferentes ou depois de alguns anos. Sem isso, é impossível saber se os traços são únicos e especiais apenas na medição de certo instante.
Fomos ao Centro de São Paulo e perguntamos para as pessoas que passavam: o que te torna único?
O resultado foi um vídeo quase poético. Assista!