Hans Scholl, Sophie Scholl e Christoph Probst Três jovens heróis para todos os tempos. Eles venceram. |
No dia 22 de fevereiro de 1943, três jovens alemães foram executados. Eram eles os irmãos Sophie e Hans Scholl, mais o amigo Christoph Probst.
Os três haviam sido presos no dia 18 de fevereiro, por distribuírem panfletos contra Hitler, isto numa época em que o apoio popular ao Führer era maciço e os ventos acabavam de começar a virar na guerra, depois da (então recentíssima) derrota em Stalingrado.
Os três jovens eram militantes da organização Rosa Branca (Weisse Rose), haviam participado das organizações nazistas para a juventude, mas já haviam percebido a monstruosidade que haviam apoiado, e agora tratavam de combatê-la com os seus parcos recursos.
Boa parte da fonte de sua rebeldia (quando a imensa maioria apoiava o regime) veio de sua inspiração cristã e do valor que aprenderam a dar à vida e à dignidade humana.
Isto muito antes da resistência alemã chegar às altas esferas militares, o que resultou no atentado contra Hitler em 20 de julho de 1944 (a chamada "Operação Valquíria").
Roland Freisler, o "juiz" O sangue dos inocentes tingia de vermelho a sua toga |
Foi um trabalho de formiguinha mesmo, do beija-flor que vai buscar água no lago para apagar o incêndio na floresta, que deixou um legado de bravura e honra que até hoje cercam os seus nomes, e merecem ser sempre lembrados para que desgraças como esta jamais se repitam.
Sophie, Hans e Cristoph não são só heróis alemães, mas de toda a humanidade. Merecem todas as homenagens enquanto houver mundo e pessoas dispostas a lutar pela Justiça e contra a barbárie de qualquer matiz.
E onde quer que a liberdade seja defendida e desfrutada, os seus nomes e suas curtas (mas gigantescas) histórias de vida devem sempre estar presentes.
A história dos três jovens foi contada no tristemente maravilhoso filme "Uma Mulher Contra Hitler" (trailer no vídeo abaixo):
Há 70 anos, nazistas executavam irmãos símbolos da resistência
Hans e Sophie Scholl foram executados por participarem do movimento anti-Hitler Rosa Branca
Em 15 de fevereiro de 1943, pouco antes da meia-noite, três rapazes caminhavam em direção ao centro de Munique. Seus nomes eram Hans Scholl, Alexander Schmorell e Willi Graf. Todos pertenciam ao grupo Weisse Rose (Rosa Branca), movimento de resistência contra Adolf Hitler e sua ditadura. Por isso, levavam cerca de mil panfletos, denunciando em termos explícitos o regime nazista e seus crimes.
Eles depositavam os folhetos em diferentes caixas postais, para que o correio os fizesse chegar aos destinatários. Mas Scholl e Schmorell tinham um plano bem mais ousado: sob o manto da noite, com um estêncil e tinta preta, escreveram "Abaixo Hitler" na fachada da Chancelaria da Baviera, a sede do governo daquele Estado no sul alemão. Em outro ponto, foram ainda mais explícitos: "Hitler assassino de massa". Na Franz Joseph Strasse 13, a irmã mais jovem de Hans, Sophie Scholl, esperava o retorno dos três.
Caminho para a resistência
Sophie Scholl |
Os irmãos Scholl viviam com a família na pacata cidade de Ulm quando os nazistas chegaram ao poder, em 1933. Ambos ainda estavam na escola: Hans nascera em 1919, Sophie, em 1921. O pai, Robert Scholl, trabalhava como consultor fiscal para sustentar os cinco filhos e, como liberal, não tinha muita simpatia pelos novos governantes. Ele e a esposa Magdalena procuravam educar as crianças segundo o modelo cristão da tolerância.
Mas os filhos dos Scholl ficaram fascinados pelos nazistas. Hans fez rápida carreira na Juventude Hitlerista, a organização juvenil dos nacional-socialistas. Aos 16 anos, já comandava 160 jovens da entidade. Sua irmã mais nova, Sophie, também tivera forte simpatia pelo nazismo. Ela se juntou à Liga das Moças Alemãs, o braço feminino da Juventude Hitlerista. Assim como seu irmão, Sophie subiu logo a uma posição de liderança e era, segundo se recorda uma testemunha da época, "muito entusiasmada, muito fanática pelo nacional-socialismo".
Mas em 1942, os irmãos já tinham perdido a crença em Hitler e seu regime. Ambos se deram conta de que sua fé cristã e crenças morais não eram compatíveis com os objetivos nazistas. Hans começou a nutrir a convicção de que deveria fazer algo contra o regime criminoso. Convocado em 1942, viu em primeira mão os horrores da guerra. E também estava profundamente preocupado com o destino dos judeus perseguidos e deportados.
"Viva a liberdade!"
Hans Scholl |
Já em 1942, Hans Scholl tinha reunido na Universidade de Munique um pequeno grupo disposto a combater o nazismo. Dele fazia parte o professor de Filosofia Kurt Huber, e Christoph Propst, Alexander Schmorell e Willi Graf, todos estudantes de Medicina, assim como Hans. Sophie Scholl se uniu a eles em maio de 1942, quando também se mudou para Munique, a fim de estudar Biologia e Filosofia.
"Panfletos da Rosa Branca" era como o grupo chamava seus manifestos, que enviavam por carta, colavam em cabines telefônicas ou depositavam em carros estacionados. Através de amigos e conhecidos, os escritos também eram propagados para além de Munique, por exemplo até Ulm, a cidade natal dos Scholl.
O sexto documento do Rosa Branca foi também seu último. Em 18 de fevereiro 1943, Sophie distribuía panfletos junto com seu irmão na universidade. Quando ela jogou uma pilha de papéis de um parapeito para o átrio da instituição, ambos foram descobertos e presos.
Funcionários da Gestapo assumiram os interrogatórios. Mesmo nessa situação desesperada, Hans e Sophie provaram ter fibra. Ambos tentaram assumir para si toda a culpa. Sophie Scholl declarou na cara do oficial que a interrogava que não queria "ter nada a ver com o nacional-socialismo".
As provas contra eles eram contundentes. No dia 22 de fevereiro de 1943, o chamado Tribunal Popular presidido por Roland Freisler anunciou as três sentenças de morte contra Hans, Sophie Scholl e Christoph Propst. Nesse mesmo dia eles foram executados. As últimas palavras de Hans Scholl foram "Viva a liberdade!".
Modelos morais
Christoph Probst |
"Eles nos permitem acreditar que nem todos os alemães naquela época eram colaboradores silenciosos e covardes", afirmou recentemente o presidente da Alemanha, Joachim Gauck, referindo-se à importância dos dois irmãos e do movimento Rosa Branca. "Não vamos silenciar, somos a consciência pesada de vocês, o Rosa Branca não vai deixar vocês em paz!", dizia o quarto panfleto do grupo. Essas palavras são válidas até hoje: os Scholl e seus amigos tiveram a coragem de defender as próprias convicções e resistir. Poucos foram tão corajosos na época.
Até hoje, eles são celebrados por essa bravura: quase todas as cidades alemãs de tamanho médio têm uma escola batizada com os nomes de Hans e Sophie Scholl. Há também ruas e praças em sua homenagem no país todo. O troféu Irmãos Scholl é um dos prêmios literários mais importantes da nação.
A história do movimento Rosa Branca é especialmente emocionante para estudantes e crianças. Franz J. Müller, um dos últimos sobreviventes daquele grupo, percebe esse interesse muito vivo nos jovens alemães. "Eles tendem a admirar o que fizemos. Mas Hans e Sophie não queriam ser heróis. Amizade e liberdade eram valores importantes para eles."
Criada por Franz J. Müller e outros membros do grupo de resistência, a Fundação Rosa Branca de Munique tem a missão de manter viva a memória dos Scholl. Os jovens são quem mais pode tirar uma lição dessa história. "Os colegiais devem se informar da maneira mais diversificada possível, e discutir com os amigos para não serem tão facilmente influenciados por slogans de propaganda e mostrarem coragem civil quando as liberdades estiverem ameaçadas", declara Franz J. Müller. Ou seja: eles deveriam absorver um pouco do exemplo dos irmãos Scholl e seus amigos.