quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

Uma defesa linguística do homossexualismo

Calma, gente! Estamos falando de morfologia das palavras, mais precisamente dos afixos, que podem ser os prefixos, os infixos e os sufixos, que compõem a linguagem que falamos no nosso dia-a-dia.

Acontece que os movimentos gays preferem o uso da palavra "homossexualidade" em vez de "homossexualismo", sob o argumento de que o sufixo "ismo" indica doença, enfermidade, enquanto o sufixo "dade" indica condição, qualidade, um modo de ser.

Ora, no fabuloso (e utilíssimo) mundo dos afixos as regras não são tão rígidas assim, como você já deve ter percebido. 

O sufixo "ismo" geralmente indica - entre outras variáveis - uma ideologia, um sistema de crenças consolidado pelo tempo e pela experiência, uma área do saber regida por regras estabelecidas.

Exemplos? São vários: romantismo, laicismo, cristianismo, ateísmo, comunismo,  nazismo, jornalismo, e por aí vai...

Aí, quando o Malafaia explode na mídia falando sobre "homossexualismo", os jornalistas que repercutem o termo terminam arranjando encrenca com os movimentos gays que dizem prezar pelo purismo da semântica.

Em sua coluna publicada na Folha de S. Paulo ontem, 27/02/13, Helio Schwartsman faz uma defesa interessante de sua liberdade de utilizar o termo que bem entender. Confira abaixo:

Em defesa do homossexualismo

SÃO PAULO - Alguns membros de comunidades homoafetivas e simpatizantes me recriminaram porque, no sábado passado, numa coluna em que critiquei as declarações do pastor Silas Malafaia sobre gays, eu utilizei o termo "homossexualismo", e não "homossexualidade", como teriam desejado.

Estou ciente dessa preferência, mas receio que ela não tenha o fundamento alegado. Ao contrário do que dizem alguns militantes, simplesmente não é verdade que "-ismo" seja um sufixo que denota patologia. Quem estudou um pouquinho de grego sabe que o elemento "-ismós" (que deu origem ao nosso "-ismo") pode ser usado para compor palavras abstratas de qualquer categoria: magnetismo, batismo, ciclismo, realismo, dadaísmo, otimismo, relativismo, galicismo, teísmo, cristianismo, anarquismo, aforismo e jornalismo. Pensando bem, esta última talvez encerre algo de mórbido, mas não recomendo que, para purificar a atividade, se adote "jornalidade".

De qualquer forma e por qualquer conta, as moléstias são uma minoria. Das 1.663 palavras terminadas em "-ismo" que meu Houaiss eletrônico relaciona, apenas 115 (um pouco menos que 7%) designam doenças ou estados patológicos. E olhem que fui liberal em meus critérios, contabilizando mais de uma dezena de termos que descrevem intoxicações exóticas, como abrinismo e zincalismo.

Compreendo que os gays procurem levantar bandeiras, inclusive linguísticas, para mobilizar as pessoas. Em nome da cortesia pública, eu me disporia a adotar a forma "homossexualidade", desde que ela fosse defendida como uma simples predileção. Mas, enquanto tentarem justificar essa opção com base em delírios etimológicos, sinto-me no dever de continuar usando a variante em "-ismo". Alguém, afinal, precisa zelar para que preconceitos não invadam e conspurquem o universo de sufixos, prefixos e infixos. A batalha pode ser inglória, mas a causa é justa.



quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

Eu quero a minha galinha de volta


O corriqueiro roubo de uma galinha em Patos (PB) se transforma num inusitado desespero por reaver o animal, ao qual a reportagem mistura, sabe-se lá por quê, uma música do Roxette ("Spending My Time"  - "Gastando Meu Tempo"). Vai saber...


Você deve ter ficado curioso para saber que fim levou a pobre galinha Rafinha, não é mesmo?

Infelizmente, não temos boas notícias. A galinácea foi roubada por um viciado que a trocou por 2 pedras de crack. Ao que tudo indica, se isto serve de consolo, a cocoricó não foi pra panela, mas morreu de desgosto no novo lar, acrescentando ainda mais dor à tristeza de suas donas.

A cidade de Patos, na Paraíba, emocionada com tanto amor por uma galinha, parou para homenagear a finada com um enterro com direito à presença do prefeito. Confira no vídeo abaixo:



terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

O jogo do poder no Vaticano

Interessante artigo publicado no Viomundo:

Gilberto Nascimento: O mapa dos grupos que desestabilizaram papa

O cardeal alemão Joseph Ratzinger chegou a ser chamado de “rotweiller do papa”, nos anos 1980 e 1990. Era, então, o todo poderoso prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, a antiga Santa Inquisição. Eminência parda de João Paulo II – a quem sucedeu, em abril de 2005 -, Ratzinger defendeu ferozmente a restauração do poder episcopal, a volta à ortodoxia.

Combateu a Teologia da Libertação e ajudou a dizimar a Igreja identificada com a opção preferencial pelos pobres, a partir do Concílio Vaticano II (1962-1965), principalmente na América Latina. Ratzinger foi o algoz do brasileiro Leonardo Boff, seu ex-aluno. Calou o teólogo franciscano com o “silêncio obsequioso”, em 1985.

No comando da Santa Sé, já como o papa Bento XVI, cercou-se de cardeais conservadores, fortalecendo uma linha de ação delineada no pontificado de João Paulo II. Deu poder a movimentos católicos de inspiração autoritária e ultraconservadora.

Incrustados na Cúria Romana, esses grupos iniciaram uma acirrada disputa pelo poder. Vários auxiliares foram acusados de desvios financeiros e envolvidos em outros escândalos, como os casos de pedofilia.

Sem controle da situação, Bento XVI –agora às vésperas de sua renúncia -, descobriu tardiamente que não governava sozinho. Em meio a uma rede de intrigas, vaidades e ambição, perdeu o comando. Se viu sem forças.

Nomeações feitas por ele sem seguir preceitos e hábitos comuns no Vaticano também geraram fortes reações. Ao recrutar antigos colaboradores, colocando-os em postos-chave, contrariou interesses de esquemas enraizados na Santa Sé.

Até os anos 1990, só se falava na divisão interna na Igreja entre os chamados conservadores e progressistas. Hoje, são os integrantes dos grupos mais à direita, incensados por Bento XVI, que o sabotam.

O papa, após anunciar sua renúncia, criticou “a divisão no corpo eclesial” que deturpa “o rosto da Igreja”. Denunciou a “hipocrisia religiosa” e o comportamento daqueles que querem “aparecer”, que buscam o “aplauso e aprovação”. Bento XVI só não identificou quem seriam esses “hipócritas” que lutam desbragadamente em busca do poder na Santa Sé.

À frente, nessas disputas, estão fortes correntes conservadoras na Igreja Católica, como a Opus Dei, considerada um verdadeiro “exército do papa”. O outro grupo mais expressivo é a Fraternidade de Comunhão e Libertação, cujos membros, por causa da fervorosa devoção, chegaram a ser rotulados de “stalinistas de Deus” e “rambos do papa”. No pontificado de João Paulo II eram os “monges de Wojtyla”.

A Opus Dei e a Comunhão e Libertação são os dois grupos com mais força atualmente na Igreja Católica. Mas despontam ainda outros movimentos como os Focolares, o Neocatecumenal e os Legionários de Cristo.

A Opus Dei, fundada em 1928 na Espanha pelo sacerdote Josemaria Escrivá (canonizado em 2002), cresceu no país durante a ditadura de Francisco Franco, de 1936 a 1975. Hoje, está em 90 países, com 89 mil seguidores em todo o mundo.

Seu objetivo, segundo os líderes, é difundir a vida cristã. Certas práticas atribuídas aos seguidores são criticadas, como um suposto hábito de golpear costas e nádegas com chicote. Adeptos seriam obrigados ainda a relatar aos superiores até seus pensamentos.

Grande parte dos integrantes da Opus Dei ocupa cargos de liderança e destaque na sociedade. A organização conta em seus quadros com cardeais, bispos e, ao menos, dois mil sacerdotes. Mantém instituições de ensino como a Universidade de Navarra (Espanha), um seminário em Roma, 600 colégios e 17 escolas de administração e negócios.

Seu braço para a área empresarial é o IESE Business School (Instituto de Estudos Superiores de Empresa), instalado também no Brasil e com planos de oferecer cursos no País – entre eles um de gestão de mídia – a 500 alunos. No Brasil, são ligados à Opus Dei o jurista Ives Gandra Martins e o professor de Comunicação Carlos Alberto Di Franco, entre , entre outros.

O governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, revelou em uma entrevista que seu livro de cabeceira é “Caminho”, de Josemaria Escrivá. Disse ser admirador das ideias do sacerdote espanhol, mas nega ser seguidor da Opus Dei.

Presente em 80 países e com cerca de 200 mil simpatizantes, o movimento Fraternidade de Comunhão e Libertação tem como seu maior expoente o cardeal de Milão, Angelo Scola, ligado a Bento XVI. Foi fundado em 1954 na Itália pelo monsenhor Luigi Giussani e hoje é dirigido pelo espanhol Julián Carrón. Seus integrantes propõem a cultura como “chave de leitura da história”. Os conflitos na sociedade, na visão deles, devem ser analisados a partir da cultura e não da luta de classes ou de questões econômicas.

Fundado em 1943, na Itália, por Chiara Lubich, o movimento Focolares reúne hoje 100 mil membros. Tem como um de seus principais representantes em Roma o cardeal brasileiro João Braz de Avis, prefeito da Congregação para os Institutos de Vida Consagrada e Sociedades de Vida Apostólica. É um nome bastante citado como papável. Ex-arcebispo de Brasília, Avis ainda integra o Pontifício Comitê para os Congressos Eucarísticos.

O movimento Focolares é considerado uma “associação de fiéis de caráter privado e universal de direito pontifício” e seus integrantes se dizem “consagrados na pobreza, castidade e obediência”.

Presente em 15 mil comunidades de 105 países e com um milhão de seguidores hoje, o movimento Neocatecumenal surgiu em Madri, nos anos 1960. Foi criado pelo pintor espanhol Francisco Argüello. Seu objetivo era ajudar paroquianos a buscar a evangelização numa época de sociedade “descristianizada”.

Outra corrente religiosa, a Congregação dos Legionários de Cristo, foi criada em 1941, na Cidade do México. Seu fundador, o padre mexicano Marcial Maciel, foi acusado de abusar sexualmente de seminaristas menores de idade. Após denúncias e visitas de uma comissão nomeada pelo papa Bento XVI, a organização sofreu uma intervenção da Santa Sé.

Em meio a esse emaranhado de grupos, visões e interesses distintos, os conflitos na Cúria Romana se avolumaram. Na busca pelo poder, cargos são disputados ferrenhamente.

Ao nomear representante de um grupo para um posto importante, o papa desagrada outros. Tensões ocorreram, por exemplo, a partir de indicações como a do italiano Ettore Gotti Tedeschi, ligado à Opus Dei, para o Instituto de Obras Religiosas (IOR), o banco do Vaticano. Tedeschi assumiu em 2009 e foi demitido no ano passado, por má gestão.

Amigo do papa, Tedeschi teria sido vítima de um complô armado por conselheiros da instituição financeira para desmoralizá-lo. Por trás, estaria o cardeal Tarcísio Bertone, secretário de Estado do Vaticano, segundo documentos vazados no chamado escândalo VatiLeaks. O banco, conforme denúncias, recebia dinheiro de origem duvidosa.

A nomeação do próprio Bertone para a Secretaria de Estado teria gerado insatisfações. O motivo seria o fato de Bertone não vir da área diplomática, o que seria uma tradição na Cúria Romana nas indicações para tal cargo. Ex-secretário de Ratzinger na Congregação para a Doutrina da Fé, Bertone é salesiano.

Bento VXI também removeu do cargo de porta-voz do Vaticano o espanhol Joaquim Navarro Valls, um quadro da Opus Dei bastante próximo de João Paulo II. Valls ocupava a função havia 22 anos e foi substituído pelo padre jesuíta Federico Lombardi.

Outra atitude considerada incomum foi a remoção, em 2011, do cardeal Angelo Scola, então primaz de Veneza e detentor de vários cargos na Cúria Romana, para o posto de arcebispo de Milão.

Scola, do movimento Comunhão e Libertação, é apontado como um dos favoritos para a sucessão de Bento XVI. Sua ida para Milão pode ter sido um indicador, segundo vaticanistas, de que seja o nome preferido pelo papa para sucedê-lo. O papa também transferiu um bispo brasileiro, Filipo Santoro, de Petrópolis para uma diocese da Itália, a fim de que ele pudesse servir mais de perto ao movimento Comunhão e Libertação.

Ex-assessor da CNBB e estudioso dos assuntos do Vaticano, o padre Manoel Godoy, diretor-executivo do Instituto Santo Tomás de Aquino (de Belo Horizonte), alerta que o próximo papa deverá fazer mudanças profundas na Cúria Romana para não virar refém das atuais estruturas de poder. Segundo Godoy, cardeais eméritos que continuam na Santa Sé acabam formando grupos de conspiradores capazes de desestabilizar o papado. “Os cardeais aposentados ficam lá. Têm muito tempo para arquitetar planos e propostas e não deixam o papa governar”, constata.

Alguns desses cardeais, como os italianos Angelo Sodano, decano do Colégio Cardinalício, e Giovanni Batista Ré, o eslovaco Josef Tomko e o colombiano Dario Castrillón Hoios, seriam simpáticos a interesses defendidos pela Opus Dei.



segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

Professor da PUC-SP diz que novo papa deve ser "executivo"

Na interessante entrevista transcrita abaixo, publicada na Folha de S. Paulo do dia 22/02/13, o professor Francisco Borba Ribeiro Neto, da PUC-SP, diz, entre outras coisas, que o novo papa deverá dominar as habilidades e competências de um executivo de multinacional.

No fim da entrevista, o professor faz uma rápida referência aos pentecostais. Esperamos que o novo papa não peça consultoria a certos "pastores" e "apústulas" milionários que sabem como ganhar dinheiro como ninguém ao explorar as fileiras evangélicas:

"Novo papa tem de ser como um chefe de multinacional", diz professor da PUC

FÁBIO ZANINI

Uma das dificuldades de encontrar um novo papa é achar alguém que reúna duas características muito diferentes: solidez no pensamento conservador e jogo de cintura para administrar a igreja, inclusive seus muitos egos.

No segundo ponto, Bento 16 deixou a desejar, segundo análise de Francisco Borba Ribeiro Neto, coordenador do Núcleo Fé e Cultura da PUC. "É preciso um papa presidente de multinacional", resume.

Folha - Esse conclave será mais longo e mais difícil do que o anterior?
Francisco Borba Ribeiro Neto - Vai ser mais difícil, mas não sei se mais longo; afinal, ele já começou, de certa forma. Mais difícil porque não existe uma liderança tão clara como se demonstrou ser a de Joseph Ratzinger [nome do papa]. Vai ter que se construir uma.

Existem questões muito diferentes que terão de ser resolvidas por uma mesma pessoa. Primeiro, um problema político-administrativo no Vaticano.

É preciso um papa gerente?
Não gerente, mas um papa presidente de multinacional. Um papa CEO. Não que precise entrar nas questões mais corriqueiras, mas que consiga administrar egos, vontades políticas e dotar todos de uma linha única.

Por outro lado, existe um caminho de renovação cultural e espiritual da igreja que começou com João Paulo 2º, se radicaliza com Ratzinger e terá de ser continuado. Exige um perfil de papa místico, com maior bagagem teológica etc. Existem essas pessoas no conclave? Existem, mas provavelmente nenhuma delas aparece hoje como Ratzinger apareceu em 2005.

Ratzinger no lado administrador deixou a desejar?
Ele claramente esperava não precisar ter que exercer essa função. Não gosta dela, não tem perfil para isso.

É possível identificar correntes definidas no conclave?
No conclave em si, ainda é difícil. Você pode pensar em grandes correntes que existem hoje na igreja e que de certa forma se refletem no conclave. Eu diria que há três hoje, que vêm do Concílio Vaticano 2º [encontro nos anos 60 que mudou ritos da igreja].

Duas são pró-mudança e uma tradicionalista, reacionária. Os tradicionalistas são os que claramente se colocaram contra o Vaticano 2º.

Ainda têm o modelo Concílio de Trento [1545-63, que reagiu à reforma protestante] como da igreja ideal. Basicamente, uma liturgia bastante distante do povo. Missa em latim, por exemplo. É a ideia de que a excepcionalidade da igreja deve ficar patente em todos os seus gestos.

Já os progressistas defendem que a igreja tem que se adaptar aos tempos modernos. Por exemplo, na questão da sexualidade.

E os conservadores diriam que a modernidade está em crise, o humanismo está em crise. Para eles, a recuperação do humanismo não pode acontecer dentro do marco do pensamento moderno.

Pedem um retorno às raízes do cristianismo para enfrentar essas demandas.

Por exemplo, na questão da afetividade. Para o conservador, o mais importante não é quando o jovem pode ter uma relação sexual, mas se o jovem está preparado para amar uma pessoa.

No conclave, o domínio é conservador?
Não tenho dúvida. Os progressistas permanecem vivos no conjunto da igreja, mas são muito fracos dentro do conclave. O que você tem são cardeais mais sensíveis às demandas desse grupo.

O próximo papa vai ter que abrir caminho para que o diálogo entre o pensamento católico conservador e as demandas da modernidade apareça.

Para ele criar esse diálogo, vai aparecer como um papa aberto às demandas progressistas. Mas não necessariamente vai atender a elas.

Em que cardeais devemos prestar atenção no conclave?
Primeiro, nos grupos latino-americano e africano. A probabilidade de um papa latino-americano ou africano é pequena, porém sem dúvida o peso da opinião deles vai valer muito no conclave.

Depois, um grupo forte seria o dos seguidores diretos de Ratzinger. Exemplos: Marc Ouellet [Canadá], Angelo Scola [Itália] e Christoph Schönborn [Áustria].

As pessoas vão ouvi-los entendendo que estarão a ouvir o Ratzinger. Depois, o Gianfranco Ravasi [Itália], a figura mais progressista. Mas o fato é que a força do pensamento de Ratzinger na igreja é muito grande.

Mesmo com a renúncia?
A renúncia o fortalece muitíssimo, porque quebra a maior objeção que poderia ser feita a ele: de ser um homem que usou o poder para garantir a posição do seu grupo.

Mesmo se não tiver o novo papa, como a América Latina vai ser levada em conta na escolha?
Vai ser levada muito em conta. Mas o problema da igreja na América Latina é recuperar o elemento místico, bandeira dos conservadores, e assim conseguir fazer frente ao pentecostalismo. Ao mesmo tempo, conseguir manter a sua agenda social.

O grupo conservador nunca foi contrário a manter a agenda social da Teologia da Libertação: reforma agrária, distribuição de renda etc.

Se conseguir recuperar a dimensão mística e manter a dimensão social, a igreja latino-americana voltará a ser um grande referencial.



domingo, 24 de fevereiro de 2013

Wikileaks expõe Vaticano como braço político dos EUA na América Latina

Que o Vaticano é um ente político na configuração de Estado soberano, sujeito às intrincadas relações diplomáticas (muitas vezes lascivas) da geopolítica mundial, isso todo mundo já sabia.

Igualmente conhecida é a influência conservadora que o Vaticano procura imprimir nos países que têm maioria da sua população católica, como acontece na América Latina, onde o Brasil está - obviamente - incluído.

Basta recordar as declarações supostamente imparciais e desinteressadas de vários bispos católicos quando chega a época das eleições gerais brasileiras. No que, lembremos a seu favor, são acompanhados por muitos pastores evangélicos.

Diga-se de passagem que não há nada de errado em padres e pastores tentarem influenciar seus rebanhos. O problema ocorre quando tentam travestir ideologia de teologia e apresentar apoios políticos como dogmas de fé.

Entretanto, parafraseando Bismarck, que disse que "leis são como salsichas; é melhor não saber como são feitas", é do senso comum (e de bom tom) fingirmos que não sabemos como são disputados e acordados os jogos políticos na arena (vale-tudo) das relações internacionais.

Agora, portanto, podemos também fingir uma certa surpresa, já que acaba de vir à tona - via Wikileaks - o que muita gente imaginava, mas não tinha como comprovar: o Vaticano atua como braço político dos Estados Unidos, assim meio que fazendo do papa um moleque de recados do Tio Sam. 

Justo ele que se autointitula o "vigário" ("substituto", "representante") de Cristo na Terra. Quem diria...

Moral da história: tome cuidado com as salsichas, venham de onde vierem. As notícias transcritas abaixo foram publicadas pelo insuspeito diário conservador O Estado de S. Paulo nos links indicados no título de cada manchete:




Cerca de 130 telegramas mostram que pontificado de Bento XVI agiu nos bastidores para influenciar região, incluindo articulação com EUA para que avião que traria papa ao País em 2007 fizesse escala forçada em Caracas para pressionar Chávez

Jamil Chade

GENEBRA - O regime cubano, a "ameaça" de Hugo Chávez, a crise em Honduras ou mesmo os acordos comerciais do Brasil. O Vaticano sob o pontificado de Bento XVI, longe de ter uma postura de mero espectador, adotou iniciativas políticas nos bastidores para influenciar a situação na América Latina nos últimos anos e defender seus interesses.

É o que revelam mais de 130 telegramas vazados pelo site WikiLeaks, e obtidos com exclusividade pelo Estado, apontando para as entranhas das relações políticas do Vaticano desde 2005 na região latino-americana, que representa mais de 40% de seus fiéis no mundo.

Tentando ter um papel político central no continente, a Santa Sé tratou de algumas das crises no hemisfério com o presidente dos EUA, Barack Obama. Documentos revelam que o cardeal Tarcisio Bertone, secretário de Estado do Vaticano, fez propostas concretas para o governo americano sobre a situação em Honduras quando se reuniu, em 10 de julho de 2009, com o presidente Obama.

Num telegrama de 15 de julho de 2009, a embaixada americana na Santa Sé relata um encontro de diplomatas americanos com monsenhor Francisco Forjan em que o Vaticano rejeita chamar a retirada de Manuel Zelaya da presidência como um "golpe de Estado". A Igreja pedia ao governo americano que insistisse com seus parceiros para que explicassem ao público as "ações anticonstitucionais de Zelaya que precipitaram a crise". O líder da Igreja nesse assunto era o cardeal Oscar Rodriguez Maradiaga, arcebispo de Tegucigalpa e hoje considerado como um dos potenciais candidatos a papa.

Um dos temas mais constantes nas reuniões entre diplomatas americanos e cardeais do Vaticano é a situação de Cuba. Um telegrama de 19 de agosto de 2009 revela que uma viagem de cardeais e bispos americanos a Cuba naquele ano não era apenas uma visita episcopal. A meta era também a de pressionar o governo de Havana em relação aos prisioneiros políticos, um pedido de Washington.

O telegrama escrito pela representação americana em Cuba conta que o cardeal de Boston, Sean O’Malley, um dos que estarão no conclave, reuniu-se com o presidente da Assembleia Nacional de Cuba, Ricardo Alarcón. O documento revela que os cardeais e bispos relataram ponto a ponto ao governo americano como havia sido a conversa com Alarcón. "Apreciamos o fato de a delegação (de religiosos) ter levantado os problemas de prisioneiros políticos", indicou o telegrama.

No dia 15 de janeiro de 2010, o Vaticano fez uma sugestão concreta ao governo americano para enfraquecer o regime cubano: baratear os custos de ligações entre Cuba e os EUA. A proposta foi apresentada por monsenhor Nicolas Thevenin, conselheiro político de Bertone. "Isso poderia ter um impacto positivo na promoção de uma mudança política", indicou.

A Venezuela de Hugo Chávez é apresentada pela Santa Sé como a grande preocupação na região. Para Accattino, um endurecimento da posição dos EUA diante de Cuba poderia acabar ajudando Chávez, "o novo sucesso de Fidel Castro na América Latina". "A diferença é que ele tem os recursos do petróleo", alertou. O Vaticano, em diversas conversas com diplomatas americanos, deixou claro que Caracas vinha pressionando a Igreja e transformado a Santa Sé em um de seus alvos de crítica.

Pressão contra Chávez. Três anos antes, no dia 1.º de fevereiro de 2007, o embaixador americano em Caracas, William Brownfield, e o cardeal Jorge Urosa Savino se reuniram na casa do núncio apostólico na capital venezuelana para discutir a possibilidade de que o papa Bento XVI usasse sua viagem que faria naquele ano ao Brasil para pressionar Chávez. Uma viagem oficial a Caracas estaria descartada pelo Vaticano. "Chávez não o convidaria", disse o cardeal.

Os dois passaram a debater a possibilidade de que o avião que traria o papa de Roma a São Paulo, em maio, fizesse uma parada de 45 minutos em Caracas, com a justificativa de reabastecer. Nesse período, o papa receberia bispos e faria uma declaração. "O cardeal concordou que qualquer parada teria uma importância simbólica", indicou o telegrama, apontando para a reação positiva de Savino. A escala acabou não ocorrendo.





Jamil Chade

GENEBRA - 'Desde o início do pontificado de Bento XVI, em 2005, a tendência política na América Latina vem chamando a atenção da Igreja, de acordo com telegramas divulgados pelo Wikileaks.

Num telegrama de 3 de abril de 2006, a diplomacia americana na Santa Sé revela a intervenção da Igreja, pedindo uma ação dos EUA sob o governo de George W. Bush na América Latina. No dia 28 de março daquele ano, o cardeal mexicano Juan Sandoval se encontraria com o embaixador americano na Santa Sé. "Sandoval repetiu o que alguns de nossos interlocutores no Vaticano estão apontando quanto às preocupações sobre líderes de esquerda na América Latina - Castro, Chávez, Evo Morales, Nestor Kirchner, Bachelet, e talvez Lopez Obrador - e chamou isso de uma tendência perigosa", indicou o telegrama. "Ele nos pergunta se o presidente Bush poderia ajudar", aponta.

Segundo o governo americano, Washington já teria tratado disso com as autoridades no Vaticano e indicou que Bush também já teria falado do assunto com a Nunciatura Apostólica em Washington.

Haiti - O esforço do Vaticano em ter um papel político chega até mesmo ao Haiti. Num telegrama de 10 de janeiro de 2010, a diplomacia americana revelava como a Santa Sé estava preocupada com a possibilidade de que o ex-padre e ex-presidente Jean Bertrand Aristide retornasse a Porto Príncipe.

Figuras do alto escalão do Vaticano, como Peter Wells e Ettore Balestrero, teriam acionado religiosos com contatos com Aristide, que na época vivia na África do Sul, para convencê-lo a não voltar ao Haiti.

Num telegrama da embaixada americana junto ao Vaticano, logo após a vitória de Joseph Ratzinger no conclave de 2005, um cardeal americano revelaria ao governo de Washington. Bento XVI nao dará nenhum sinal ou nem tomará decisões em relação à América Latina apenas para ganhar simpatia ou aplausos.



sábado, 23 de fevereiro de 2013

Gollum canta "I Dreamed a Dream" de "Les Misérables"


"I Dreamed a Dream" é uma das canções do musical "Les Misérables", baseado na obra clássica de Victor Hugo, que ficou mais conhecida recentemente por causa do fenômeno Susan Boyle no programa "Britain's Got Talent".

O musical teve enorme sucesso e longa carreira na Broadway, além de mais uma versão cinematográfica recentemente lançada, com elenco estelar no qual se destaca Anne Hathaway cantando a referida canção, papel que lhe valeu a indicação para o Oscar 2013 de melhor atriz coadjuvante.

Curioso, entretanto, é o rapaz que fez uma versão mash up de como seria Gollum, d'O Senhor dos Anéis, cantando "I Dreamed a Dream" devidamente adaptada ao "my precious" da obra de J. R. R. Tolkien. Confira no vídeo abaixo:


E compare com a maravilhosa versão de Anne Hathaway:


E nunca é demais lembrar o furacão Susan Boyle, né não?








sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

Há exatos 70 anos 3 jovens foram executados por terem se oposto a Hitler

Hans Scholl, Sophie Scholl e Christoph Probst
Três jovens heróis para todos os tempos.
Eles venceram.

No dia 22 de fevereiro de 1943, três jovens alemães foram executados. Eram eles os irmãos Sophie e Hans Scholl, mais o amigo Christoph Probst.

Os três haviam sido presos no dia 18 de fevereiro, por distribuírem panfletos contra Hitler, isto numa época em que o apoio popular ao Führer era maciço e os ventos acabavam de começar a virar na guerra, depois da (então recentíssima) derrota em Stalingrado.

Os três jovens eram militantes da organização Rosa Branca (Weisse Rose), haviam participado das organizações nazistas para a juventude, mas já haviam percebido a monstruosidade que haviam apoiado, e agora tratavam de combatê-la com os seus parcos recursos.

Boa parte da fonte de sua rebeldia (quando a imensa maioria apoiava o regime) veio de sua inspiração cristã e do valor que aprenderam a dar à vida e à dignidade humana.

Isto muito antes da resistência alemã chegar às altas esferas militares, o que resultou no atentado contra Hitler em 20 de julho de 1944 (a chamada "Operação Valquíria").

Roland Freisler, o "juiz"
O sangue dos inocentes tingia
de vermelho a sua toga
Os quatro dias que separam a sua prisão de sua execução mostram a crueldade do regime jurídico que imperava na Alemanha à época, e foram julgados pelo vergonhoso juiz Roland Freisler, que - após desonrar repetidas vezes o Direito e a Justiça - viria a morrer num bombardeio aliado em 3 de fevereiro de 1945.

Foi um trabalho de formiguinha mesmo, do beija-flor que vai buscar água no lago para apagar o incêndio na floresta, que deixou um legado de bravura e honra que até hoje cercam os seus nomes, e merecem ser sempre lembrados para que desgraças como esta jamais se repitam.

Sophie, Hans e Cristoph não são só heróis alemães, mas de toda a humanidade. Merecem todas as homenagens enquanto houver mundo e pessoas dispostas a lutar pela Justiça e contra a barbárie de qualquer matiz.

E onde quer que a liberdade seja defendida e desfrutada, os seus nomes e suas curtas (mas gigantescas) histórias de vida devem sempre estar presentes.

A história dos três jovens foi contada no tristemente maravilhoso filme "Uma Mulher Contra Hitler" (trailer no vídeo abaixo):


A matéria é do Terra:

Há 70 anos, nazistas executavam irmãos símbolos da resistência

Hans e Sophie Scholl foram executados por participarem do movimento anti-Hitler Rosa Branca

Em 15 de fevereiro de 1943, pouco antes da meia-noite, três rapazes caminhavam em direção ao centro de Munique. Seus nomes eram Hans Scholl, Alexander Schmorell e Willi Graf. Todos pertenciam ao grupo Weisse Rose (Rosa Branca), movimento de resistência contra Adolf Hitler e sua ditadura. Por isso, levavam cerca de mil panfletos, denunciando em termos explícitos o regime nazista e seus crimes.

Eles depositavam os folhetos em diferentes caixas postais, para que o correio os fizesse chegar aos destinatários. Mas Scholl e Schmorell tinham um plano bem mais ousado: sob o manto da noite, com um estêncil e tinta preta, escreveram "Abaixo Hitler" na fachada da Chancelaria da Baviera, a sede do governo daquele Estado no sul alemão. Em outro ponto, foram ainda mais explícitos: "Hitler assassino de massa". Na Franz Joseph Strasse 13, a irmã mais jovem de Hans, Sophie Scholl, esperava o retorno dos três.

Caminho para a resistência

Sophie Scholl
Os irmãos Scholl viviam com a família na pacata cidade de Ulm quando os nazistas chegaram ao poder, em 1933. Ambos ainda estavam na escola: Hans nascera em 1919, Sophie, em 1921. O pai, Robert Scholl, trabalhava como consultor fiscal para sustentar os cinco filhos e, como liberal, não tinha muita simpatia pelos novos governantes. Ele e a esposa Magdalena procuravam educar as crianças segundo o modelo cristão da tolerância.

Mas os filhos dos Scholl ficaram fascinados pelos nazistas. Hans fez rápida carreira na Juventude Hitlerista, a organização juvenil dos nacional-socialistas. Aos 16 anos, já comandava 160 jovens da entidade. Sua irmã mais nova, Sophie, também tivera forte simpatia pelo nazismo. Ela se juntou à Liga das Moças Alemãs, o braço feminino da Juventude Hitlerista. Assim como seu irmão, Sophie subiu logo a uma posição de liderança e era, segundo se recorda uma testemunha da época, "muito entusiasmada, muito fanática pelo nacional-socialismo".

Mas em 1942, os irmãos já tinham perdido a crença em Hitler e seu regime. Ambos se deram conta de que sua fé cristã e crenças morais não eram compatíveis com os objetivos nazistas. Hans começou a nutrir a convicção de que deveria fazer algo contra o regime criminoso. Convocado em 1942, viu em primeira mão os horrores da guerra. E também estava profundamente preocupado com o destino dos judeus perseguidos e deportados.

"Viva a liberdade!"

Hans Scholl
Já em 1942, Hans Scholl tinha reunido na Universidade de Munique um pequeno grupo disposto a combater o nazismo. Dele fazia parte o professor de Filosofia Kurt Huber, e Christoph Propst, Alexander Schmorell e Willi Graf, todos estudantes de Medicina, assim como Hans. Sophie Scholl se uniu a eles em maio de 1942, quando também se mudou para Munique, a fim de estudar Biologia e Filosofia.

"Panfletos da Rosa Branca" era como o grupo chamava seus manifestos, que enviavam por carta, colavam em cabines telefônicas ou depositavam em carros estacionados. Através de amigos e conhecidos, os escritos também eram propagados para além de Munique, por exemplo até Ulm, a cidade natal dos Scholl.

O sexto documento do Rosa Branca foi também seu último. Em 18 de fevereiro 1943, Sophie distribuía panfletos junto com seu irmão na universidade. Quando ela jogou uma pilha de papéis de um parapeito para o átrio da instituição, ambos foram descobertos e presos.

Funcionários da Gestapo assumiram os interrogatórios. Mesmo nessa situação desesperada, Hans e Sophie provaram ter fibra. Ambos tentaram assumir para si toda a culpa. Sophie Scholl declarou na cara do oficial que a interrogava que não queria "ter nada a ver com o nacional-socialismo".

As provas contra eles eram contundentes. No dia 22 de fevereiro de 1943, o chamado Tribunal Popular presidido por Roland Freisler anunciou as três sentenças de morte contra Hans, Sophie Scholl e Christoph Propst. Nesse mesmo dia eles foram executados. As últimas palavras de Hans Scholl foram "Viva a liberdade!".

Modelos morais 


Christoph Probst
"Eles nos permitem acreditar que nem todos os alemães naquela época eram colaboradores silenciosos e covardes", afirmou recentemente o presidente da Alemanha, Joachim Gauck, referindo-se à importância dos dois irmãos e do movimento Rosa Branca. "Não vamos silenciar, somos a consciência pesada de vocês, o Rosa Branca não vai deixar vocês em paz!", dizia o quarto panfleto do grupo. Essas palavras são válidas até hoje: os Scholl e seus amigos tiveram a coragem de defender as próprias convicções e resistir. Poucos foram tão corajosos na época.

Até hoje, eles são celebrados por essa bravura: quase todas as cidades alemãs de tamanho médio têm uma escola batizada com os nomes de Hans e Sophie Scholl. Há também ruas e praças em sua homenagem no país todo. O troféu Irmãos Scholl é um dos prêmios literários mais importantes da nação.

A história do movimento Rosa Branca é especialmente emocionante para estudantes e crianças. Franz J. Müller, um dos últimos sobreviventes daquele grupo, percebe esse interesse muito vivo nos jovens alemães. "Eles tendem a admirar o que fizemos. Mas Hans e Sophie não queriam ser heróis. Amizade e liberdade eram valores importantes para eles."

Criada por Franz J. Müller e outros membros do grupo de resistência, a Fundação Rosa Branca de Munique tem a missão de manter viva a memória dos Scholl. Os jovens são quem mais pode tirar uma lição dessa história. "Os colegiais devem se informar da maneira mais diversificada possível, e discutir com os amigos para não serem tão facilmente influenciados por slogans de propaganda e mostrarem coragem civil quando as liberdades estiverem ameaçadas", declara Franz J. Müller. Ou seja: eles deveriam absorver um pouco do exemplo dos irmãos Scholl e seus amigos.



Padre fecha banheiro em Americana (SP)

A notícia é do UOL:

Padre fecha banheiro de paróquia e revolta taxistas, motoristas, guardas e fiéis em Americana (SP)

Eduardo Schiavoni

A decisão de um padre da paróquia Santo Antônio, em Americana (127 km de São Paulo), causou a revolta de taxistas, motoristas de ônibus, guardas municipais, agentes de trânsito e de fiéis que passam pelo local, no centro da cidade. O clérigo baixou um decreto pelo qual impede a população de utilizar o banheiro do salão de festas da igreja.

A situação afetou especialmente os taxistas, que têm um ponto nas proximidades do local e tinham até a chave. Além de banheiro, os populares afirmam ainda que o padre também quer impedir as pessoas de sentarem nas escadarias do templo religioso. O pároco Pedro Leandro Ricardo, autor da medida, não comentou a decisão. A proibição passará a vigorar, oficialmente, a partir de 1º de março.

Para que a norma passe a valer efetivamente, padre Ricardo enviou um comunicado aos taxistas do ponto da Igreja Matriz Nova, informando-os que, a partir dessa data, ficará "expressamente proibida a utilização dos sanitários do Salão de Festas Monsenhor Nazareno Magi". A chave do banheiro, que ficava com os profissionais, entretanto, já foi recolhida pela igreja.

"Eu trabalho aqui há 38 anos e nunca vi uma coisa como essa, um padre proibir as pessoas de usarem o banheiro", disse o taxista Osvaldo Micalli, 73. De acordo com ele, o ponto de táxi funciona em frente à Igreja Matriz Nova há 40 anos. "Esse ponto de táxi acompanhou a edificação da igreja. Nós sempre tivemos boa relação com os padres, tanto que eles nos deram a chave do banheiro", afirmou.

Sem água

Micalli disse que além de sanitário, o salão de festas também possuía um bebedouro. "Deus disse: dai água a quem tem sede e comida a quem tem fome. Está muito errado essa ação", disse.

O taxista João Balbino, 49, afirmou que em um dia em que estava com muitas corridas, teve de ficar das 9h às 19h sem usar o banheiro. "O único lugar fácil que a gente tinha para usar era lá." Segundo Balbino, o pároco também proibiu as pessoas de sentarem nas escadas da igreja e de encostarem-se às paredes para descansar.

Repercussão

A caixa Ludmila da Silva, 18, disse que costuma ir à escadaria da igreja para tirar um cochilo depois do almoço – a área possui sombra e, hoje, pode-se encostar nas paredes - não gostou de saber que não vai poder mais ficar nas escadarias.

"Descansar não tem nada demais, o que não pode é virar bagunça." A vendedora Cristiane Castro, 28, que se senta na escadaria da igreja para esperar o marido depois de sair do serviço, achou a medida um "absurdo". "Nunca vi ninguém faltando com respeito aqui. Não precisava disso", afirmou.

Outro lado

A reportagem procurou o padre Ricardo para comentar o assunto. Ricardo disse que, naquele momento, não poderia falar e que, para responder aos questionamentos, a reportagem teria que solicitar uma entrevista. "É um assunto muito delicado que merece atenção", disse. A reportagem tentou agendar a entrevista, mas não houve retorno.

A diocese de Limeira, que responde por Americana, também foi procurada durante a tarde de ontem e durante a manhã de hoje. O funcionário que atendeu às ligações, que não quis se identificar, informou que apenas a direção da cúria poderia falar sobre o assunto e que retornaria o contato, o que não aconteceu até as 12h de hoje.



quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

Revisitando Eclesiastes - capítulo 12

Leitura anterior: Revisitando Eclesiastes - capítulo 11

O último capítulo de Eclesiastes é um poema belíssimo sobre a decadência inexorável da vida de cada um de nós.

O envelhecimento nos acomete a todos os que tivemos o prazer de passar pela juventude e ver os anos bons em que tínhamos força, curiosidade e vitalidade para experimentar os prazeres da vida, desde os mais simples até os mais complexos. 

O chamado constante do Pregador à sabedoria não deixa de ser um lembrete para que todos os jovens (de corpo, alma  e espírito) se preparem para o destino inevitável: a morte.

Quando este preparo é feito sabiamente, não deixa de ser uma espécie de "décadence avec élégance" ("decadência com elegância"), já que tolo é aquele que quer retardar indefinidamente ou se revolta contra o processo orgânico inevitável que nos leva ao fim da vida. 

E a morte deve ser vista, também, como uma celebração da vida, como um retorno à casa do Pai (12:7), por mais que seja doloroso pensar que existe um final para a existência, seja a nossa própria, seja a dos nossos queridos. 

É nesse espírito que o Pregador escreve as palavras finais de Eclesiastes, chamando a atenção do jovem para Deus, que é o grande Provedor de todas as coisas, que é o grande sustentador da vida, mas é também Aquele que nos recebe de braços abertos depois de uma vida entregue a Ele.

Assim, a primeira parte do capítulo 12 de Eclesiastes exorta o leitor a lembrar-se do Criador em três momentos (três "antes"), um no v. 1 (que mostra a perda da alegria de viver), outro nos versículos 2 a 5 (que falam da deterioração do corpo) e o terceiro nos versículos 6 e 7 (que se referem ao fim propriamente dito, à morte). 

No primeiro ANTES (v. 1), o Pregador fala da perda da alegria de viver, da importância de se lembrar de Deus e do dom da vida "antes que venham os maus dias" e cheguem os anos em que se possa dizer que neles não há mais prazer, alegria e felicidade. 

Este não deixa de ser um reforço à pregação que ele vinha fazendo, ou seja, de se aproveitar a vida, pelo simples fato de se existir, nos bons e maus momentos. 

Nos vv. 2-5, o Pregador diz que devemos lembrar do Criador ANTES que a decadência física seja incontornável, e a partir daí começa a descrever de uma maneira poética belíssima, como o nosso corpo – paulatina e definitivamente – não responde mais aos estímulos que no circundam. 

É claro que a tendência natural do ser humano é passar por uma fase de esplendor físico na juventude, e a partir de uma certa idade, o organismo começa, por assim dizer, a se desconstruir, assim como o Pregador vinha desconstruindo – nos capítulos anteriores - toda a percepção da vida que o senso comum dita. 

Há um momento final, entretanto, em que o corpo entra em colapso, e a partir daí a vista escurece, os ouvidos mal conseguem detectar o sussurro, o corpo treme, os dentes caem, o prazer sexual (o perecer do "apetite" do v. 5) se esvai, e o sono não serve mais de repouso (o "levantar-se à voz das aves" do v. 4). 

Depois dessa descrição triste, mas realista, vem o desenlace último, o terceiro ANTES (vv. 6), que é o rompimento do cordão de prata e do copo de ouro, o cântaro que quebra junto à fonte, e para mais nada serve senão ser jogado fora. 

Perde o seu viço e a sua utilidade, simplesmente não existe mais. 

Tudo poderia terminar por aí, mas Salomão conclui dizendo que ainda que o pó volte à terra, inservível para os propósitos humanos, por outro lado o espírito volta a Deus, que o deu (v. 7), porque "vaidade de vaidade, diz o pregador, tudo é vaidade" (v. 8). 

Não por acaso, esta é a sublime conclusão do discurso do Pregador, a mesma que ele já adiantara ao iniciá-lo (1:2). 

Mais que um discurso, este é um percurso que ele apresenta, o seu transcurso "debaixo do sol", expressão tão repetida em Eclesiastes, que dá a ideia de que a nossa vida é como um dia que amanhece, amadurece, desvanece e se despede ao escurecer:


1:3 Que proveito tem o homem, de todo o seu trabalho, que faz debaixo do sol?1:4 Uma geração vai, e outra geração vem; mas a terra para sempre permanece.1:5 Nasce o sol, e o sol se põe, e apressa-se e volta ao seu lugar de onde nasceu.1:6 O vento vai para o sul, e faz o seu giro para o norte; continuamente vai girando o vento, e volta fazendo os seus circuitos.1:7 Todos os rios vão para o mar, e contudo o mar não se enche; ao lugar para onde os rios vão, para ali tornam eles a correr.1:8 Todas as coisas são trabalhosas; o homem não o pode exprimir; os olhos não se fartam de ver, nem os ouvidos se enchem de ouvir.1:9 O que foi, isso é o que há de ser; e o que se fez, isso se fará; de modo que nada há de novo debaixo do sol.

Felizmente, há um retornar, não mais para o mesmo dia terreno, onde há lida e dor, mas também alegria e felicidade. 

Há um retorno à casa do Pai, ao Deus criador, ao Pai que espera o filho pródigo voltar para seu lar (Lucas 15), para o dia perfeito, conforme Salomão diz em seus Provérbios:


Prov 4:18 Mas a vereda dos justos é como a luz da aurora, que vai brilhando mais e mais até ser dia perfeito.Prov 4:19 O caminho dos ímpios é como a escuridão; nem sabem em que tropeçam.

Este dia perfeito, da luz divina, é o dia da alma imortal, conforme Calvino ensina:

2. ESPIRITUALIDADE E IMORTALIDADE DA ALMA, CONTUDO DISTINTA DO CORPO
Afinal, que o ser humano consta de alma e corpo, deve estar além de toda controvérsia. E pela palavra alma entendo uma essência imortal, contudo criada, que lhe é das duas a parte mais nobre. Por vezes também é chamada espírito. Ora, ainda que estes dois termos difiram entre si em sentido quando ocorre juntos, contudo, onde o termo espírito é empregado separadamente, equivale a alma, como quando Salomão, falando da morte, diz que "o espírito retorna então a Deus, que o deu" [Ec 12.7]. E Cristo, encomendando o espírito ao Pai [Lc 23.46], como também Estêvão o seu a Cristo [At 7.59], não entendem outra coisa senão isto: quando a alma é liberada do cárcere da carne, Deus lhe é o perpétuo guardião.
Entretanto, são absolutamente destituídos de senso aqueles que imaginam que a alma é denominada espírito por ser um sopro, ou força divinamente infundida nos corpos, a carecer, no entanto, de essência, comprovando-o não só a própria realidade, mas ainda toda a Escritura. Sem dúvida é verdade que, enquanto se apegam à terra mais do que é justo, os homens se fazem broncos; aliás, visto que se alienaram do Pai das Luzes [Tg 1.17], foram cegados pelas trevas, de sorte que não pensam que haverão de sobreviver à morte. Contudo, nem assim a luz lhes foi aniquilada nas trevas a tal ponto que não se sintam tangidos por algum senso de sua imortalidade. Sem dúvida que a consciência, que discernindo entre o bem e o mal responde ao juízo de Deus, é sinal indubitável do espírito imortal. Pois, como uma disposição sem essência poderia penetrar até o tribunal de Deus e a si incutiria terror de sua culpabilidade? Ademais, tampouco é o corpo afetado pelo temor de uma penalidade espiritual; ao contrário, só recai na alma, do quê se segue que a alma é dotada de essência.
Já o próprio conhecimento de Deus comprova sobejamente que as almas, que transcendem ao mundo, são imortais, visto que um alento evanescente não chegaria jamais à fonte da vida. Enfim, quando tantos dotes preclaros dos quais a mente humana está enriquecida proclamam sonoramente que algo divino lhe é impresso, são outros tantos testemunhos de uma essência imortal. Ora, a sensibilidade que se instila nos animais brutos não vai além do corpo, ou, pelo menos, não se estende mais longe que às coisas que lhes estão adiante. Também a versatilidade da mente humana, a perlustrar céu e terra e os arcanos da própria natureza, e quando a todos os séculos compendiou no intelecto e na memória, cada evento a dispor em sua ordem, e dos fatos passados a deduzir os futuros, demonstra claramente que no homem se aninha algo distinto do corpo. Mediante a inteligência concebemos o Deus invisível e os anjos, o que ao corpo escapa totalmente; aprendemos as coisas que são retas, justas e honrosas, o que não podemos fazer pelos sentidos corpóreos. Portanto, só o espírito pode ser a sede dessa inteligência. Aliás, o próprio sono, que entorpecendo o homem parece até mesmo privá-lo da vida, é uma testemunha não obscura da imortalidade, quando não só sugere pensamentos dessas coisas que jamais ocorreram, mas ainda presságios quanto ao porvir.
Estou abordando, apenas de leve, estes assuntos que mesmo os escritores profanos exaltam magnificamente, com estilo e expressão mais esplêndidos. Contudo, entre leitores piedosos será bastante um simples lembrete. Ora, se a alma não fosse algo essenciado, distinto do corpo, a Escritura não ensinaria que habitamos casas de barro e que na morte migramos do tabernáculo da carne, despojamo-nos do que é corruptível para que, por fim, no último dia recebamos a recompensa, em conformidade com o que, enquanto no corpo, cada um praticou.
Ora, por certo que essas referências e semelhantes a essas, que ocorrem com freqüência, não só distinguem claramente a alma do corpo, mas ainda lhe transferem o designativo homem, indicando ser ela a parte principal. Ora,quando Paulo exorta os fiéis [2 Co 7.1] a que se purifiquem de toda impureza da carne e do espírito, ele enuncia duas partes nas quais reside a sordidez do pecado. Também Pedro, chamando a Cristo "pastor e bispo das almas" [1 Pe 2.25], teria falado improcedentemente, se não existissem almas em relação às quais desempenhasse este ofício. Nem seria procedente, a não ser que as almas tivessem essência própria, o fato de que fala acerca da eterna salvação das almas, e que ordena purificar as almas, e que desejos depravados militam contra a alma [1 Pe 1.9; 2.11]; de igual modo, o autor da Epístola aos Hebreus [13.17] declara que os pastores velam para que prestem conta de nossas almas.
Com o mesmo propósito é o fato de Paulo [2 Co 1.23] invocar a Deus por testemunha contra sua própria alma, porquanto ela não se faria ré diante de Deus, se não fosse susceptível à penalidade. Isto expressa-se ainda mais claramente nas palavras de Cristo, quando ele manda que se tema àquele que, após haver matado o corpo, pode lançar a alma na Gehena de fogo [Mt 10.28; Lc 12.5]. Ora, quando o autor da Epístola aos Hebreus distingue Deus dos pais de nossa carne, como sendo o Pai dos espíritos, não poderia ele afirmar de modo mais claro a essência das almas.
Além disso, a não ser que as almas liberadas dos cárceres dos corpos continuassem a existir, seria absurdo Cristo representar a alma de Lázaro a desfrutar de bem-aventurança no seio de Abraão, e a alma do rico, por outro lado, destinada a horrendos tormentos [Lc 16.22,23]. Paulo confirma isso mesmo, ensinando que peregrinamos distanciados de Deus durante o tempo em que habitamos na carne; desfrutamos de sua presença, porém fora da carne. E, para que não me alongue mais em matéria de forma alguma obscura, acrescentarei apenas isto de Lucas [At 23.8]: ele menciona entre os erros dos saduceus o fato de não crerem na existência de espíritos e anjos.
(CALVINO, João. As Institutas. Edição Clássica. São Paulo: Cultura Cristã, 2006. 2. ed. vol. 1, pp. 180-182)

Tudo, portanto, que fazemos nesta vida interessa a Deus, em toda a extensão de nossa existência, e quanto antes nos lembrarmos para onde vamos (ou deveríamos ir), ou seja, quanto antes nos lembrarmos do nosso Criador, mais desfrutaremos esta vida aqui, com todas as suas limitações, mas também com todas as suas alegrias. 

Após ter promovido, pelo seu discurso-percurso, a desconstrução daquilo que era tido como sábio e proveitoso pela humanidade, o Pregador fincou 4 estacas sobre o terreno pantanoso e instável da vaidade humana, a saber: a sabedoria, a eternidade, a providência divina e o temor de Deus

Desses 4 pilares, apenas 2 têm o condão de tanto ser imanente como transcendente: a sabedoria e o temor de Deus. 

Os dois outros são transcendentes, estão acima das possibilidades do ser e do existir, e é nessa busca da sabedoria mediante o temor de Deus que podemos confiar que tanto a providência divina não nos faltará, como a eternidade nos está reservada pelo Pai que nos aguarda de braços abertos no final da jornada.

Os versículos finais de Eclesiastes (12:9-14), são uma espécie de assinatura do Pregador, um apelo à inspiração divina de suas palavras (vv. 10-11) e um último reforço ao conselho de temer a Deus (vv. 13-14). 

Conforme a experiência demonstra, sempre haverá novos e velhos conselhos a circular entre nós, e nunca os livros conseguirão dar conta deles, nem vale a pena ficar estudando-os tentando descobrir o segredo da vida(v. 12), pois a única coisa que realmente importa é viver e ser feliz com o que temos e alcançamos, e sempre temer a Deus e tê-lO em conta em todas as nossas atividades e em todos os nossos dias.

Se fosse possível resumir o ensino de Eclesiastes em poucas palavras, talvez elas seriam: "aproveite bem a sua vida e lembre-se de que a finitude é sua companheira inseparável, mas você pode ter o Infinito e o Eterno ao seu lado". Basta crer!



FIM



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