sábado, 28 de fevereiro de 2015

Sua capacidade de julgamento não é lá essas coisas

critique

Matéria da Superinteressante reproduzida no Brasil Post:

Duas ideias erradas que você tem sobre sua capacidade de julgamento

Ana Carolina Prado

A gente pode admitir que é ruim em esporte, que não tem o menor talento musical ou que tem gosto duvidoso para escolher roupas, mas uma qualidade que dificilmente abriríamos mão de defender sem falsa modéstia: nossa inteligência. Se você concorda com isso, leitor, este post pode abalar um pouco suas estruturas. Porque ele tem o objetivo de provar que você não é tão esperto quanto pensa. Não leve para o lado pessoal, estamos todos nessa – incluindo Einstein e Stephen Hawking.

É que nossos cérebros estão cheios de noções preconcebidas e padrões de pensamento que nos influenciam sem que percebamos. Como explica o livro “Você não é tão esperto quanto pensa”, do jornalista David McRaney (Editora Leya), somos cheios de crenças que parecem boas no papel, mas desmoronam na prática – e, mesmo quando elas desmoronam, nós tendemos a não notar. Temos esse desejo profundo de estarmos sempre certos e nos vermos sob uma luz positiva em termos morais e comportamentais – e isso norteia em muito a forma como a nossa mente funciona. Quer ver como? Leia dois exemplos tirados do livro:

1. A ideia errada: “Minhas opiniões são o resultado de anos de análise racional de objetiva dos fatos”.

A verdade: Suas opiniões são resultado de anos em que você prestou atenção a informações que confirmavam o que você acreditava. :/

Imagine a situação: você está de bobeira em casa e, em vez de ficar navegando para sempre pelo catálogo do Netflix, resolve realmente assistir a um filme e escolhe algum clássico oitentista, tipo “Os goonies”. Você vê e, no dia seguinte, encontra por acaso um texto que faz alguma referência ao filme. Coincidência engraçada, justo agora. Dois dias depois, vê um comercial na TV dizendo que vão exibir o filme naquela tarde. Eita. Para completar, um amigo seu, que não sabia que você havia assistido ao filme nos últimos dias, posta no Facebook uma matéria que fala sobre um dos atores que estavam lá. Gente, será que é o universo tentando te mandar uma mensagem? Seria legal (e estranho), mas não. Trata-se simplesmente de um negócio chamado “viés da confirmação”.

Você lê vários textos fazendo referência a várias coisas todos os dias, o Facebook está lotado de posts com notícias sobre pessoas famosas, os canais de TV estão sempre transmitindo algum filme. Mas, porque “Os goonies” estava na sua cabeça, você estava mais sensível a coisas que lhe fizessem referência e descartou as outras. Antes disso, você provavelmente passou várias vezes por conversas e textos e vídeos que mencionassem algo relacionado ao filme, mas na época tudo passou despercebido.

Algo parecido acontece em relação a outros temas – incluindo os que envolvem ideologias. É por causa desse viés que teorias da conspiração se mantêm: se você procurar APENAS provas de que o homem não foi à Lua, que a Avril Lavigne e a Anitta morreram e foram substituídas ou que o governo federal tem um plano de ocupação comunista no país, você vai encontrar.

Essa tendência também foi a responsável por fazer com que os apoiadores de Barack Obama comprassem livros que o retratavam de uma forma positiva durante a época da eleição presidencial norte-americana de 2008, enquanto aqueles que não o curtiam compraram livros que o mostravam de uma forma negativa. O pesquisador Valdis Krebs chegou a essa conclusão analisando tendências de compras na Amazon e o comportamento de pessoas nas redes sociais, e continuou o estudo por anos, chegando à conclusão de que as pessoas compravam livros para ter a confirmação de suas ideias, não para obter novas. A tendência dos humanos é querer estar certo sobre como veem o mundo, então procuram informações que confirmam suas crenças e evitam provas e opiniões que as contradizem.

Confirmando isso, um estudo de 2009 da Universidade de Ohio mostrou que pessoas passam 36% mais tempo lendo um ensaio se ele se alinha com sua opinião. Em outras palavras, prestamos mais atenção a materiais que validem nossa visão de mundo – até que ficamos tão confiantes dela que ninguém consegue nos fazer mudar de ideia. E isso é bem ruim. “Na ciência, você se aproxima mais da verdade ao procurar evidências contrárias. O mesmo método talvez devesse ser usado para formar suas opiniões”, diz David McRaney.

2. A ideia errada: Você entende como o mundo funciona baseando-se em estatísticas e fatos selecionados a partir de muitos exemplos.

A verdade: Sentimos informar, mas a sua visão de mundo não foi construída de forma tão ciente e cuidadosa. Na verdade, você é mais propenso a acreditar que algo é senso comum se puder encontrar só um exemplo disso e muito menos propenso a acreditar em algo que nunca viu antes.

Essa tendência se chama “heurística da disponibilidade” e é bastante usada por políticos, como quando eles contam, em um discurso, alguma anedota envolvendo uma situação que é familiar aos ouvintes. Ao fazer isso, eles estão apostando que aqueles que os ouvem entenderão esse exemplo como um indicativo de que existem muitos outros casos semelhantes.

É o mesmo princípio que faz as pessoas acharem, logo após algum caso envolvendo um atirador em uma escola, por exemplo, que isso virou uma espécie de “epidemia” – e faz com que os pais ignorem que seus filhos têm três vezes mais chance de serem atingidos por um raio do que receber um tiro de um colega. Na época em que aconteceu o caso de Columbine, uma pesquisa feita por Barry Glassner, autor do livro “Cultura do Medo”, mostrou que a violência nas escolas tinha caído 30% e que era mais fácil um estudante levar um tiro antes desse caso acontecer. Mas ninguém deu atenção a isso, já que haviam acabado de testemunhar a tragédia. A frase “só acredito vendo” também está relacionada à heurística da disponibilidade. Ter visto ou ouvido um caso que comprove uma ideia torna você muito mais propenso a adotá-la do que ler por alto outros 10 fatos distantes que provem o contrário. “Você não pensa em estatísticas, pensa em exemplos, em histórias”, escreve David McRaney.

Essa tendência foi apontada em 1973, no estudo dos pesquisadores Amos Tverksy e Daniel Kahneman. Os voluntários ouviram uma gravação com nomes de homens sendo ditos em voz alta, sendo 19 deles de pessoas famosas e 20 de desconhecidos. O estudo foi repetido depois com nomes de mulheres. Depois, eles tiveram de lembrar o máximo de nomes possível ou identificá-los a partir de um banco de palavras. Cerca de 66% das pessoas se lembraram dos nomes de pessoas famosas com maior frequência que os nomes desconhecidos e 80% disseram que a lista tinha mais nomes de famosos do que de não-famosos. Para os autores, isso mostrou que, quanto mais disponível estiver a informação, mais rápido você a processa e, assim, mais acredita nela e maior sua tendência a ignorar outras informações que a contradigam.



sexta-feira, 27 de fevereiro de 2015

Papa autoriza enterro de mendigo no Vaticano

mendigos vaticano

Willy Herteller era um mendigo muito conhecido nos arredores do Vaticano, e chegou a fazer amizade com vários integrantes do clero e do governo da cidade papal.

Já há muitos anos era conhecido e estimado por praticamente todos os moradores e funcionários de lá, segundo informa o diário italiano La Stampa.

Herteller tinha 80 anos de idade e vivia de esmolas até morrer no dia 12 de dezembro de 2014, e um de seus amigos, o monsenhor Americo Ciani, pediu ao papa que autorizasse o seu enterro no cemitério teutônico, que tem uma história antiga dedicada à última morada da nobreza e aristocracia da Alemanha.

O cemitério em questão está localizado entre a basílica de São Pedro e a Sala Paulo VI, e o papa autorizou o enterro de Herteller, cujo funeral aconteceu dia 9 de janeiro de 2015, e foi oficiado pelo próprio monsenhor Ciani.



quinta-feira, 26 de fevereiro de 2015

Papa revisa teologia do inferno


Matéria publicada no IHU:

O papa Francisco revisa a teologia do inferno

"A Igreja oficial defende desde o século XV que o castigo do inferno destinado aos pecadores é 'eterno', ideia iniciada no século VI com Santo Agostinho. O papa Francisco acaba de revisar tal doutrina católica ao afirmar que a Igreja 'não condena para sempre'”. O comentário é de Juan Arias em artigo no El País, 20-02-2015.

Eis o artigo.

Sem necessidade de grandes encíclicas, com suas falas habituais, Francisco está realizando uma revisão da Igreja para aproximá-la de suas raízes históricas.

Deu o último golpe de graça em um momento um pouco mais solene do que suas conversas habituais com os jornalistas. Dessa vez aproveitou, dias atrás, seu discurso aos novos cardeais para recordar-lhes que o castigo do inferno com o qual a Igreja atormenta os fiéis não é “eterno”.

Segundo Francisco, no DNA da Igreja de Cristo, não existe um castigo para sempre, sem retorno, inapelável.

O Papa jesuíta é formado em teologia, ainda que não tenha feito o doutorado. Dele, talvez hoje o papa renunciante e doutor em teologia, Bento XVI, possa dizer o que afirmava sobre seu antecessor, o papa polonês João Paulo II: que sabe pouca teologia.

Durante um jantar informal em Roma, na casa de um jornalista alemão seu amigo, Ratzinger confessou, efetivamente, aos poucos comensais presentes, que o papa Wojtyla “era mais poeta que teólogo” e que ele, como Prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, cargo que ocupava na época, precisava revisar seus discursos e documentos papais para que não escapasse “alguma imprecisão teológica”.

Francisco é, entretanto, um fiel seguidor da teologia inspirada no cristianismo original, que era, afirma ele, não o da “exclusão”, mas o da “acolhida” de todos, até mesmo dos maiores pecadores. É inspirado por aquele cristianismo antes que a teologia liberal do profeta Jesus de Nazaré fosse contaminada pela severa teologia aristotélica e racional.

Não foi um lapso a afirmação de Francisco aos cardeais de que a Igreja “não condena ninguém para sempre”, o que equivale a dizer que o castigo de Deus não é “eterno”, já que as portas da Igreja da misericórdia e do perdão estão sempre abertas ao pecador.

O Papa que está exigindo aos seus, começando pelos cardeais, a ir ao encontro daqueles que o mundo esquece e marginaliza, ao invés de perder seu tempo nos palácios do poder, sabe que essa doutrina teológica sobre a eternidade e irreversibilidade das penas do inferno, foi sofrendo mudanças ao longo da História da Igreja.

Até o século III a Igreja nunca defendeu a doutrina da eternidade do inferno. Pelo contrário, o exegeta das Escrituras, Orígenes (250) defendeu a doutrina da apocatástase, segundo a qual o Deus dos Evangelho perdoa sempre. Orígenes baseava-se na parábola do Filho pródigo que volta aos braços do pai e é recebido com tanta festa que causa a inveja do irmão bom e fiel.

Somente no século VI começa a aparecer o conceito de “condenação eterna”, sobretudo com Santo Agostinho, o mesmo que defendia que as crianças mortas sem batismo deveriam ir para o inferno. Diante dos protestos das mães dessas crianças, a Igreja criou a doutrina do Limbo, um lugar onde essas crianças “não gozam nem sofrem”, algo completamente estranho aos Evangelhos

Em nossos dias, o falecido papa polaco, João Paulo II, no Catecismo da Igreja Universal nascido das discussões do Concílio Vaticano II, aboliu o Limbo. De acordo com comentários de amigos pessoais do papa, Wojtyla nunca aceitou que uma irmã sua nascida morta e que não pôde ser batizada, pudesse não estar no céu por ter morrido antes de ser libertada do pecado original com o batismo.

A família do futuro Papa era muito católica e, fiel àquela doutrina, nem sequer enterraram o corpo da pequena por não ter podido receber o batismo. Ele mesmo confirmou quando ao falar do túmulo no qual gostaria de juntar os restos de toda sua família, frisou que faltava somente sua irmãzinha, “pois havia nascido morta”. Foi jogada no lixo.

Foi o Concílio de Florença no século XV que rubricou definitivamente a doutrina de Santo Agostinho de um castigo e um inferno eterno. Já no século V, entretanto, São Jerônimo estava convencido de que a doutrina do inferno com a misericórdia de Deus não era conciliável. De todo modo, pedia-se aos sacerdotes e bispos que continuassem defendendo a doutrina tradicional “para que os fiéis, por temor ao castigo do inferno eterno, não pecassem”.

Hoje, o papa Francisco deu um salto de séculos, colocou-se ao lado das primeiras comunidades cristãs ainda embebidas da doutrina do misericordioso profeta de Nazaré, que veio “para salva e não para condenar”.

Os primeiros cristãos sabiam que Jesus havia sido duro e severo com a hipocrisia e com o poder tirano, enquanto abraçava os marginalizados pela sociedade bem como os que a Igreja oficial de seu tempo tachava de pecadores.

Podem parecer minúcias teológicas para os não religiosos, mas são muito importantes para milhões de cristãos que durante séculos sofreram oprimidos pela doutrina de um Deus tirano, sedento de castigo e de castigo eterno.

Lembro que no final dos anos 60, após escrever no jornal espanhol Pueblo um artigo intitulado “O Deus no qual não acredito”, em que defendia que os cristãos precisavam escolher entre Deus e o inferno eterno, já que ambos eram conceitos inconciliáveis, sofri um duro interrogatório do então arcebispo de Madri, Monsenhor Casimiro Morcillo, que me acusou de “ter escandalizado os fiéis”.

Aqui no Brasil, o teólogo da libertação, Leonardo Boff, me contou que há 16 anos o grande escritor e poeta de Pernambuco João Cabral de Mello Neto estava para morrer e, apesar de não ser religioso, estava angustiado naquele momento pela doutrina sobre o medo do inferno, que lhe haviam inculcado na infância. Foi chamado para o tranquilizar. Boff, que foi condenado ao silêncio pelo papa Bento XVI quando este era Prefeito da Congregação da Fé, usou com o escritor as mesmas palavras que agora o papa Francisco usa para assegurar que Deus não condena ninguém para sempre.

Boff disse com humor ao poeta que alguém capaz de escrever a joia literária, social e humana Morte e Vida Severina, merecia indulgência plena na hora de se despedir da vida.

A mudança é copernicana. Hoje é um papa como Francisco que afirma com total naturalidade que o Deus cristão “não condena ninguém para sempre”, que é como dizer que não existem infernos eternos, uma afirmação que há pouco tempo atrás poderia ter servido para abrir um processo contra um teólogo e condená-lo ao ostracismo.



quarta-feira, 25 de fevereiro de 2015

Uma estátua de Buda com um monge mumificado dentro


A matéria é do Gizmodo Brasil:

Esta estátua de Buda tem uma múmia dentro dela

Cheryl Eddy

Esta não é uma estátua de Buda qualquer. Como a radiografia mostra claramente, há uma múmia dentro dela.

Radiografia e endoscopia foram feitas para examinar as cavidades torácicas e abdominais do paciente mais velho — como a estátua é conhecida — no Centro Médico Meander, na cidade de Amersfoort, na Holanda. A radiografia identificou a múmia como o corpo do mestre budista Liuquan.

A endoscopia revelou algo fantástico: pedaços de papel com caracteres chineses e outros materiais apodrecidos foram encontrados no lugar de órgãos. Testes de DNA foram feitos, mas o resultado só será revelado em uma publicação sobre a vida do Mestre Liuquan a ser publicada em breve.

O artefato é uma das obras de uma exposição de múmias que esteve no Museu Drents, em Assen. É a primeira vez que a “múmia de Buddha” é exposta fora da China; de acordo com o museu, a estátua contém os restos mortais do mestre budista que viveu “por volta do ano 1100” e é possivelmente um exemplo de auto mumificação, que, segundo a CNET, consistia em:

Uma dieta de mil dias consumindo água, sementes e nozes, seguida de outros mil dias consumindo raízes, cascas de pinheiro e um chá especial feito da seiva de uma árvore chinesa — uma substância tóxica, usada para repelir bactérias e larvas. Depois disso os monges eram então selados em uma tumba de pedra para aguardar a morte.

Agora a estátua está em Budapeste, no Museu Nacional de História Natural, onde ficará até maio de 2015.



terça-feira, 24 de fevereiro de 2015

Capelão da PM de SP é investigado por suspeita de desvio de dinheiro

patrono policia militar
Santo Expedito vai ter muito trabalho
na PM de São Paulo
A informação é do Estadão:

Corregedoria investiga capelão militar


MARCELO GODOY

Justiça quebrou sigilo de padre Osvaldo Palópito, que é tenente-coronel, por supostas irregularidades em contas da Capelania

SÃO PAULO - A Corregedoria da Polícia Militar está investigando o suposto desvio de recursos da Capelania Militar da corporação. O alvo do Inquérito Policial-Militar (IPM) é a atuação do tenente-coronel Osvaldo Palópito, que é padre da Igreja Católica e dirigia o órgão até o dia 31 de janeiro, quando pediu a sua passagem para a reserva.

Com a crise em torno da Capelania, o comandante-geral da PM, coronel Ricardo Gambaroni, decidiu acabar com o cargo de capelão militar - o sacerdote que é ao mesmo tempo oficial da corporação. Com isso, a vaga de tenente-coronel de padre Palópito será transferida para o quadro de oficiais da PM.

A decisão de instaurar o inquérito foi tomada pelo coronel Levy Anastácio Félix, comandante da Corregedoria. Suspeita-se de enriquecimento ilícito e de desvios que envolveriam até R$ 2 milhões. As desconfianças contra o padre Palópito na corporação surgiram em 2009, mas só agora teriam sido achados indícios que justificariam a abertura da investigação.

Cantor - ele gravou seis discos -, bem falante e com vida social intensa, Palópito era o responsável pela Paróquia Santo Expedito - santo que foi militar -, na Rua Jorge Miranda, na Luz, no centro de São Paulo. É ali que funciona a Capelania, cujo prédio foi erguido nos anos 1940 com doações feitas pelos integrantes da antiga Força Pública, corporação que deu origem à Polícia Militar.

Na primeira metade do século passado, a Força Pública era uma tropa que ficava em sua maioria aquartelada, com pouca participação no policiamento das ruas. Sua lógica organizacional era militar. Isso significava que cada batalhão devia ser autossuficiente, com oficinas mecânicas, serviço de alimentação, equipe médica e com sacerdotes que acompanhavam a tropa em missões, como no caso da combate à coluna Miguel Costa-Prestes, nos anos 1920.

Palópito entrou para a PM por meio de concurso - outros padres concorreram ao cargo. Aprovado, ganhou a patente de segundo-tenente e fez carreira na corporação como os demais oficiais. O Estado procurou o sacerdote por meio de seu telefone para contatos e de seu perfil em uma rede social. Até as 20 horas deste domingo, 22, ele não havia sido localizado ou respondido às mensagens deixadas.

Quebra de sigilo. A investigação contra o capelão começou em setembro de 2014. De imediato, o comando da Corregedoria decretou sigilo no inquérito. Ao Tribunal de Justiça Militar (TJM) de São Paulo, o corregedor da corporação pediu a quebra dos sigilos bancário e telefônico do sacerdote. Chefiada pelo juiz Luiz Alberto Moro Cavalcante, a Corregedoria do TJM deferiu ambas as medidas.

O Estado apurou que as interceptações telefônicas forneceram pistas que justificaram a realização de uma busca e apreensão realizada em 11 de fevereiro em um imóvel que seria frequentado pelo sacerdote em uma praia do litoral norte.

Procurado pela reportagem, o comando da corporação informou apenas que "a Polícia Militar confirma a existência de um Inquérito Policial-Militar em andamento, para apurar denúncias de possíveis irregularidades na administração do capelão Osvaldo Palópito na Capelania Militar Santo Expedito".

Paróquia de Santo Expedito na área militar estadual de São Paulo (bairro do Bom Retiro)




segunda-feira, 23 de fevereiro de 2015

Revista Época condenada a indenizar ex-empregada de Edir Macedo


A história é daquelas cheias de detalhes, conforme a matéria publicada no Brasil Post, com vídeo mais abaixo:

Ex-mulher de pastor demitido da Igreja Universal ganha indenização de R$ 10 mil por polêmica matéria na revista Época


Thiago de Araújo

A 9ª Câmara de Direito Privado do Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP) acolheu a ação indenizatória de Jacira Aparecida da Silva contra a Editora Globo, responsável pela revista Época. A decisão, oficializada na última sexta-feira (20), prevê o pagamento de R$ 10 mil por conta de uma polêmica envolvendo o ex-marido de Jacira, Gustavo Alves da Rocha, ex-pastor da Igreja Universal do Reino de Deus.

A matéria em questão, com o título “Aprendi a extorquir o povo”, publicada em 18 de setembro de 2009, apresentava Rocha como um pastor demitido pela Universal em 2004, mas que pouco tempo antes era responsável por contar e fazer o depósito do dízimo recolhido nos 26 templos da Universal em Nova York (EUA). Na mesma matéria, Rocha afirmou “ter morado” na mansão do bispo Edir Macedo, líder da Universal e dono da Rede Record, por três anos.

Foi lá que o ex-pastor teria conhecido Jacira, com a qual foi “orientado por Macedo” a se casar, na época em que ela seria empregada doméstica do líder da igreja. A ex-mulher de Rocha moveu o processo contra a Editora Globo por conta das denúncias feitas por ele, atribuindo a ela informações falsas e declarações inexistentes sobre supostas irregularidades praticadas por representantes da instituição.

“Tal conduta, por certo, extrapola o mero exercício do direito de liberdade de informação, já que a reportagem ultrapassa os limites da função jornalística, que é de informar à coletividade fatos e acontecimentos, de maneira objetiva, sem alteração da verdade, resvalando nos direitos de personalidade da autora”, afirmou em seu voto o desembargador Alexandre Alves Lazzarini. A decisão muda àquela de primeira instância da ação que começou em 2011, a qual julgou improcedente o pedido de indenização. A editora ainda pode recorrer da decisão.

Na Record, Jacira já havia negado reportagem


Na época da reportagem, a Record produziu uma matéria com Jacira (que, segundo a revista, tinha confirmado o relato do ex-marido), na qual ela negava as denúncias feitas Gustavo Alves da Rocha. Antes de ser pastor da Universal, ele teria conhecido Edir Macedo em Londres, onde o líder da igreja estaria aumentando o número de templos e precisava de ajuda.

Já pastor nos EUA, ele garantia ter presenciado os planos de Macedo para construir o seu império, afirmando ainda que o dízimo ajudou na expansão da emissora.

“Todos os salários dos funcionários da Rede Record são pagos pela emissora em conta corrente dos beneficiários e todos os investimentos são pagos pela emissora com recursos próprios (...). Edir Macedo nos ensinava a atingir as metas que ele criava para cada igreja, e a meta era financeira. Não era de fiéis”, comentou o ex-pastor à Época em 2009.

A Record negou as informações prestadas por Rocha, assim como a Universal. Em seu blog pessoal, Edir Macedo rebateu todo o conteúdo da revista, chamando tudo de um “recomeço da guerra entre Globo e Record”.





domingo, 22 de fevereiro de 2015

É possível "aprender dormindo"?


A matéria é da BBC Brasil:

A ciência de 'aprender dormindo'

David Robson

A ideia de aprender enquanto dormimos é tão atraente quanto controversa. Na literatura e no cinema, o mais comum é que ela tome a forma de uma mente inconsciente absorvendo novas informações a partir de uma gravação tocando ao fundo.

Hoje, se sabe que este tipo de aprendizado durante o sono é quase certamente impossível. Embora estudos iniciais tivessem sugerido que as pessoas sejam capazes de guardar alguns fatos durante o sono, a verdade é que os cientistas nunca puderam descartar que elas não tivessem simplesmente acordado levemente e ouvido a gravação.

Para testar essas suspeitas, Charles Simon e William Emmons conectaram eletrodos ao couro cabeludo de voluntários e se asseguraram de que suas 'cobaias' estavam dormindo no momento em que gravações fossem tocadas. As pesquisas, feitas nos anos 1950, confirmaram as suspeitas: as pessoas não aprenderam nada do que foi tocado para elas enquanto dormiam.

Apesar de ser impossível ensinar habilidades do zero a uma pessoa durante o sono, há muitas maneiras, básicas ou sofisticadas, de ajudá-la a consolidar conhecimento adquirido enquanto descansa.

Quando dormimos, nosso cérebro pode não enxergar ou escutar novas informações, mas está absorvendo as experiências do dia anterior, enviando memórias do hipocampo, onde os cientistas acreditam que elas se formam, para as várias áreas do córtex, onde são armazenadas a longo prazo.

"O sono ajuda a estabilizar as memórias e a integrá-las a uma rede de recordações mais antigas", diz Susanne Diekelmann, da Universidade de Tubingen, na Alemanha. Dormir também possibilita a generalização daquilo que aprendemos, para podermos aplicar o conhecimento em novas situações.

'Manipulando' sonhos

Assim, vários experimentos têm buscado estimular o cérebro durante o sono com a finalidade de ajudá-lo a consolidar fatos e habilidades aprendidos durante o dia.

Entre os métodos existentes para alcançar esse fim, o mais simples deriva de uma pesquisa realizada no século 19 pelo nobre francês Marquês d’Hervey de Saint-Denys.

Explorando maneiras de manipular seus sonhos, ele descobriu que podia evocar certas lembranças com odores, sabores e sons. E usava esses estímulos durante o sono para ter noites com sonhos mais prazerosos.

Essa mesma abordagem pode fazer o cérebro reproduzir, durante o sono, habilidades e fatos adquiridos, reforçando o aprendizado.

Diekelman fez uma experiência com voluntários na qual pediu para eles memorizarem uma sequência de objetos enquanto inalavam um aroma artificial e sutil. Quando os voluntários dormiam, a cientista borrifou o mesmo aroma nas narinas de alguns deles.

Uma tomografia mostrou que eles apresentavam uma comunicação maior entre o hipocampo e as áreas do córtex. No dia seguinte, esses voluntários lembraram de 84% dos objetos na sequência, enquanto o grupo que não foi submetido ao aroma durante o sono lembrou de apenas 61%.

Upgrade tecnológico

Em um futuro próximo, a tecnologia poderá oferecer novas maneiras de incentivar os ciclos do sono no cérebro. Cientistas acreditam que a consolidação da memória ocorre durante oscilações específicas e lentas da atividade elétrica cerebral. Por isso, estão tentando estimular esse tipo de onda no cérebro sem acordar o paciente.

Jan Born, da Universidade de Tubingen, é um dos pioneiros nesse tipo de experiência. Recentemente, Born testou uma espécie de touca de eletrodos que medem a atividade neural enquanto um fone de ouvidos toca sons em sincronia com as ondas cerebrais.

"O método aprofunda o sono de ondas lentas e o torna mais intenso. É uma maneira mais natural de fazer o sistema funcionar em um certo ritmo", explica.

Já Miriam Reiner, do Instituto de Tecnologia Technion, em Haifa, em Israel, está elaborando um tipo de "neurofeedback" que permite aos voluntários controlar sua atividade neural enquanto estão acordados. Um eletrodo ligado à cabeça dos voluntários envia sinais a um jogo no qual cada pessoa tem que dirigir um carro com o poder do pensamento.

Quando o eletrodo registra a frequência correta de ondas cerebrais, normalmente associada com a consolidação da memória durante o sono, elas aceleram. A mudança no estado mental é visível. "Me sinto mais relaxada, como se estivesse em um lugar sereno e bonito", diz Reiner.

A ideia é dar um impulso à consolidação da memória logo após o aprendizado, o que faz com que o cérebro funcione melhor durante o sono.

Pesquisas

Ainda são necessários testes mais abrangentes e com mais voluntários antes que essas técnicas sejam adotadas no dia-a-dia. Para Reiner, ainda precisamos nos perguntar se seria correto começar a manipular as memórias das pessoas, ainda que com boas intenções.

"O sono é um estado vulnerável", observa ela.

Mas a cientista ressalta que questões como essa não devem conter o interesse em aprender dormindo.

Em última instância, pesquisas sobre o assunto podem mudar a maneira como percebemos essa parte tão subestimada de nossas vidas.

Em uma cultura ocidental onde ser workaholic é aceitável, o sono às vezes tende a ser considerado uma perda de tempo que tentamos vencer com uma boa dose de cafeína. Mas quem sabe um dia comecemos a valorizar o dormir como uma parte do dia rentável na qual não precisamos fazer nada, a não ser relaxar.



sábado, 21 de fevereiro de 2015

Teoria radical da física quântica diz que somos afetados por outros universos


Artigo publicado no Brasil Post:

Nova teoria quântica radical diz que outros universos afetam o nosso

David Freeman

Universos paralelos há muito são um dos pilares da ficção científica. Mas segundo uma nova teoria radical de mecânica quântica, publicada em 23 de outubro na Physical Review X, outros universos são reais – e existem em grande número.

Além disso, os cientistas por trás da teoria dizem que os outros universos exercem uma ligeira força repulsiva sobre o nosso universo – e essa força é o que torna o reino quântico tão bizarro.

“Qualquer explicação de fenômenos quânticos vai ser esquisita, e a mecânica quântica padrão não oferece nenhum tipo de explicação – ela só faz previsões para experimentos de laboratório”, disse por email ao Huffington Post Howard Wiseman, físico da Universidade Griffith, de Brisbane, na Austrália, e um dos criadores da nova “teoria de muitos mundos interativos”. “Nossa nova explicação ... é que existem mundos paralelos comuns que interagem de forma particular e sutil.”

A teoria é uma nova guinada na chamada “interpretação de muitos mundos” da mecânica quântica, que tem origem nos anos 1950. Como explicou Wiseman em um comunicado por escrito:
“Na conhecida ‘interpretação de muitos mundos’, cada universo se ramifica em vários novos universos cada vez que é feita uma medição quântica. Todas as possibilidades se realizam, portanto – em alguns universos, o asteroide que matou os dinossauros não atinge a Terra. Em outros, a Austrália foi colonizada pelos portugueses. Mas os críticos questionam a realidade desses outros universos, pois eles não influenciam em nada o nosso universo. Desse ponto de vista, nossa abordagem dos ‘muitos mundos interativos’ é completamente diferente, como indica o nome.” Wiseman e seus colaboradores – Michael Hall, também da Universidade Griffith, e Dirk-Andre Deckert, da Universidade da Califórnia em Davis, dizem que sua teoria pode ter implicações importantes no campo da dinâmica molecular, que é crítica para o entendimento das reações químicas.
Será que ela também sugere que os humanos possam um dia interagir com outros universos?

“Não é parte de nossa teoria...”, disse Wiseman à Motherboard. “Mas a ideia de interações com outros universos não é mais pura fantasia.”

O que os outros especialistas acham da nova teoria?

Lawrence Krauss, físico teórico da Universidade do Arizona em Tempe, disse ao Huffington Post ser “cético”. E um físico popular da República Tcheca escreveu em seu blog que, apesar de Wiseman e seus colaboradores terem “conseguido apresentar algumas ideias que são ao menos ligeiramente originais”, o paper é “outro exemplo do fato de que tais esforços são uma empreitada sem esperanças e um enorme desperdício de tempo”.

Mas Charles Sebens, filósofo da física na Universidade de Michigan em Ann Arbor disse à Nature que estava empolgado com a abordagem de Wiseman e seus colaboradores.

“Eles fazem análises interessantes de fenômenos particulares como energia de ponto zero e tunelamento quântico”, disse ele à revista. “Acho que, juntos, eles fizeram uma boa apresentação de uma ideia nova e empolgante.”

Claramente não há consenso. Mas, se Wiseman está chateado com as respostas variadas à teoria, ele não dá sinais disso.

“Alguns estão completamente felizes com suas próprias interpretações da mecânica quântica, e é pouco provável que os façamos mudar de ideia”, disse ele por email. “Mas acredito que há muitos que não estão felizes com as interpretações atuais, e são esses que vão se interessar pela nossa. Espero que o interesse seja suficiente para que haja novos trabalhos, pois ainda há muitas perguntas sem resposta.”

Enquanto isso, a última palavra deveria ficar provavelmente com o físico teórico e ganhador do Nobel Richard Feynman (1918-1988), que disse certa vez: “Acho que posso afirmar com segurança que ninguém entende mecânica quântica”.



sexta-feira, 20 de fevereiro de 2015

Justiça gaúcha autoriza registro de criança com um pai e duas mães

A informação é do próprio Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul:

Multiparentalidade: Registro civil de criança terá nome do pai e de duas mães

As duas mulheres e o homem são efetivamente mães e pai da criança, pois gestaram e nutriram, em conjunto, o projeto de prole, não sendo lícito desconsiderar o vínculo de casamento entre as duas mães e a paternidade, tanto biológica como afetiva do pai, lançando mão da proteção especial que o Direito das Famílias atual deve dar às relações fundadas no afeto e na condição individual do ser humano, de rigor o reconhecimento da multiparentalidade e a consequente retificação do registro civil da criança.

Com base nesse entendimento, em recurso relatado pelo Juiz de Direito José Pedro de Oliveira Eckert, convocado ao Tribunal de Justiça, e acompanhado à unanimidade pela 8ª Câmara Cível, foi autorizado que uma criança tenha o nome do pai e de duas mães em seu registro civil (multiparentalidade).

Caso

O casal de mulheres vive em união estável desde 2008. Por possuírem um relacionamento de profunda amizade com um homem, prepararam-se, juntamente com as respectivas famílias, para ter um filho em conjunto. Desse arranjo familiar tiveram uma filha, cuja gestação competiu a uma das autoras da ação. Defenderam o reconhecimento da multiparentalidade, para que conste na certidão de nascimento da criança duas mães e o pai.

Em primeira instância a multiparentalidade foi negada por impossibilidade jurídica do pedido. Os autores da ação recorreram ao Tribunal de Justiça.

Recurso

Ao analisar o caso, o magistrado ressaltou que no âmbito do Direito das Famílias, a ausência de lei para regência de tais fatos sociais não é indicador necessário de impossibilidade jurídica do pedido.

O julgamento de indeferimento da petição inicial por impossibilidade jurídica do pedido foi afastado pelo magistrado. Dessa forma, permitindo que o Tribunal de Justiça pudesse julgar o pedido dos autores.

São efetivamente mães e pai, pois gestaram e nutriram, em conjunto, o projeto de prole, não sendo lícito desconsiderar o vínculo de casamento entre as duas mães e a paternidade, tanto biológica como afetiva do pai (...) No tocante à filha recém nascida, não se cogita de qualquer prejuízo, muito pelo contrário, haja vista que essa criança terá uma ¿rede de afetos¿ ainda mais diversificada a amparar seu desenvolvimento, asseverou o Juiz de Direito José Pedro de Oliveira Eckert.

Deu provimento, portanto, à apelação, concedendo o direito a multiparentalidade.

Os Desembargadores Luiz Felipe Brasil Santos e Alzir Felippe Schmitz acompanharam o voto do relator.

Proc. 70062692876



quinta-feira, 19 de fevereiro de 2015

Depois de Lutero é a vez do papa Francisco virar boneco

Esta semana está propícia para líderes religiosos virarem brinquedo. Depois do playmobil de Lutero chegou a vez do boneco do papa Francisco, segundo noticia o IHU:

Chegou o boneco de pelúcia do Papa Francisco

Vamos falar de aproveitar uma oportunidade "santa". Sete meses antes da primeira visita do Papa Francisco aos Estados Unidos, uma empresa de pequeno porte está pronta para ganhar dinheiro com o evento histórico.

A reportagem é de Parija Kavilanz, publicada no sítio da CNN, 16-02-2015. A tradução é de Claudia Sbardelotto.

A fábrica de brinquedos Bleacher Creatures [Criaturas das arquibancadas] é mais conhecida por seus bonecos de pelúcia de 25 centímetros que representam atletas famosos como Derek Jeter, do New York Yankees, David Ortiz, do Red Sox, e, mais recentemente, Tom Brady e Rob Gronkowski do New England Patriots.

Então como é que o papa se encaixa nesse mix desportivo?

"Todos concordam que o papa é uma figura inspiradora, tremendamente popular em todo o mundo", disse Matthew Hoffman, CEO da Bleacher Creatures com sede na cidade de Plymouth, Pensilvânia. "Ele se encaixa perfeitamente no nosso universo de figuras de pelúcia".

O boneco de pelúcia do Papa Francisco custa 20 dólares e chegará às lojas em julho.

Além do papa, a empresa também está lançando bonecos baseados em personagens de histórias em quadrinhos e super-heróis, incluindo Batman, Lanterna Verde, Super-homem e Harley Quinn.

Hoffman teve a idea de criar a Bleacher Creatures quatro anos atrás, quando foi assistir um jogo de beisebol com seus filhos.

"Eu queria comprar brinquedos para eles no estádio, mas não havia muitas opções", disse ele. Então, decidiu transformar os atletas em fofinhos personagens de pelúcia.

Ele estava começando algo.

Hoffman lançou o negócio em 2011 e seu faturamento chegou a 1 milhão de dólares nos primeiros seis meses. Desde então, adquiriu acordos de licenciamento com a NFL, MLB, NBA, NHL, e, mais recentemente, a DC Comics e Warner Bros.

"O que é realmente interessante é que metade dos nossos clientes são crianças e a outra metade adultos", disse ele.

Embora ele não espera qualquer reação contrária com o papa "plush", Hoffman disse que estão cuidando de todos os pormenores.

"Nós fizemos a nossa auditoria jurídica e eu creio que não estamos perturbando ninguém", disse ele. "E sim, entramos em contato com o Vaticano e gostaríamos de oficialmente fazer uma parceria com eles".



quarta-feira, 18 de fevereiro de 2015

Papa pede que cardeais saiam da "zona de conforto"


A matéria é do Brasil Post, publicada em 15/02/15:

Papa Francisco diz a novos cardeais que rechacem mentalidade de "casta" e defendam os mais fracos

Philip Pullella

Cidade do Vaticano (Reuters) - O papa Francisco pediu aos líderes católicos romanos neste domingo que evitem uma mentalidade de "casta fechada", afirmando que a credibilidade da Igreja está em sua capacidade de ajudar os pobres e perseguidos nas margens da sociedade.

Francisco pediu por uma Igreja com mais misericordiosa e compassiva na homilia de uma missa na Basílica de São Pedro, com os novos cardeais que foram empossados no sábado.

Desde sua eleição há dois anos como o primeiro papa latino-americano, Francisco têm pedido aos líderes da Igreja que deixem suas zonas de conforto e privilégios e se aproximem de seus rebanhos, especialmente os pobres.

Ele insistia constantemente na homilia, dizendo aos novos cardeais da Igreja que eles necessitavam mover-se "com coragem e determinação, arregaçar as mangas e não ficar parados assistindo passivamente ao sofrimento do mundo".

Francisco disse que os líderes da Igreja de 1,2 bilhão de membros devem evitar a tentação de "tornar-se uma casta fechada com nada autenticamente eclesial sobre isso".

Ele exortou-os a prestar atenção nos presos, doentes, desempregados e perseguidos e naqueles que perderam sua fé, assim como ateus.

"O caminho da Igreja é precisamente o de deixar suas quatro paredes para trás e sair em busca daqueles que estão distantes, aqueles na periferia da vida", disse o papa.

"Nós não vamos encontrar o Senhor a não ser que realmente aceitemos os marginalizados... realmente o evangelho dos marginalizados é onde a nossa credibilidade está em jogo."



terça-feira, 17 de fevereiro de 2015

Islamismo no Brasil: uma fé crescente

Matéria publicada no IHU:

A fé que se move. Adesão de fiéis brasileiros ao islamismo é crescente

Fayad e Beatriz são muito semelhantes a outros jovens brasileiros urbanos. Ele é mineiro e trabalha com marketing. Ela se formou em arquitetura nos Estados Unidos e nasceu em Brasília. Encontraram-se em São Paulo, e depois do casamento foram morar em Santa Cecília, um bairro tradicional do centro. Como qualquer casal, eles vão ao supermercado, pagam suas contas, visitam a família. Às vezes, pegam a estrada e seguem para a praia. Adquiriram um hábito tipicamente paulistano, como também são seus times - ele é corintiano, ela torce para o São Paulo.

A reportagem é de João Luiz Rosa, publicada pelo jornal Valor, 06-02-2015.

Frequentemente, porém, eles são confundidos com estrangeiros e, em algumas situações, provocam perplexidade nas outras pessoas. Há pouco tempo, um feirante levou um susto ao descobrir que Beatriz falava português, depois de tentar se comunicar com ela por gestos. Em um shopping, Fayad se viu cercado por seguranças, indecisos sobre como reagir ao que ele estava fazendo. O que eles têm de diferente? São muçulmanos. No episódio da feira, ela usava o hijab, como é conhecido o lenço adotado pelas mulheres para cobrir a cabeça. Ele repetia uma das cinco orações que todo muçulmano deve fazer diariamente, inclinado para a cidade sagrada de Meca, na Arábia Saudita.

Episódios como esses não são incomuns para os adeptos do Islã no Brasil, onde os preceitos da religião são pouco conhecidos. No país, não se sabe sequer o tamanho exato desse rebanho. Os números são díspares. Segundo dados do IBGE, baseados no censo de 2010, existem 35.167 muçulmanos no país. As organizações islâmicas, no entanto, calculam um número muito maior, entre 800 mil e 1,2 milhão de pessoas.

Independentemente do critério adotado, o islamismo cresce no Brasil. E rapidamente. De acordo com o IBGE, a comunidade muçulmana aumentou 29,1% entre 2000, quando 27.239 pessoas se declaravam seguidoras da religião, e 2010. No mesmo período, a população em geral aumentou 12,3%.

Na Mesquita Brasil, a mais antiga da América Latina, esse movimento é patente. Às sextas-feiras - considerado o dia das orações, algo como o domingo cristão ou o sábado judaico - 600 pessoas cumprem os ritos semanalmente. Idealizado pelo arquiteto Paulo Camasmie, o mesmo da Catedral Ortodoxa de São Paulo, o edifício no bairro do Cambuci começou a ser construído na década de 20. O minarete branco pode ser visto de longe. Dentro, sob arcos e abóbadas adornados de arabescos dourados, os fiéis ficam em pé, ajoelham-se, inclinam-se com a cabeça à frente do corpo. O tapete indica a direção de Meca, a mesma posição do altar. Entre os homens, que são maioria, há muitos jovens, alguns adolescentes, poucas crianças. Quase todos usam roupas comuns - jeans e camisa ou camiseta. Alguns trazem na cabeça o taqyah, um boné que lembra o quipá dos judeus. Mas aqui e ali se veem homens com roupas étnicas, principalmente negros africanos. As mulheres entram por outra porta e sentam-se atrás. Todas usam o hijab e saias longas.

Existem 17 mesquitas na região metropolitana de São Paulo. Só a Mesquita Brasil tem recebido, em média, de três a cinco convertidos por semana. Já foram 20 neste ano. "São brasileiros e não vêm de famílias árabes", diz o xeque Abdelhamid Metwally, principal autoridade religiosa da Mesquita Brasil. De voz forte, o religioso egípcio impressiona ao entrar na mesquita, trajando um chapéu alto e longa túnica negra, arrematada por um colarinho branco. "É só uma roupa para que saibam quem é o xeque", brinca. "O importante é a parte interna ser melhor que a externa".

Os muçulmanos preferem falar em "reversão", em vez de "conversão". É um traço distintivo do islamismo. A palavra Islã traz a ideia de que a submissão a Deus é a verdadeira fonte de paz. Segundo esse conceito, todas as pessoas nascem sob o Islã, ou seja, são muçulmanas. A partir da puberdade, deixam esse estado e tornam-se pecadoras. A transição ocorre entre 9 e 15 anos e é marcada pela primeira ejaculação para os meninos ou a primeira menstruação para as meninas. A partir daí, elas devem usar o véu. Depois disso, quem segue os preceitos do islamismo volta à situação original de paz. É por isso que "reverte", em vez de se converter, explica o libanês Feres Fares, intérprete na Mesquita Brasil, onde traduz para o português as prédicas feitas em árabe.

O recente ataque ao jornal francês "Charlie Hebdo" não teve repercussões profundas na maneira como a comunidade islâmica é tratada no Brasil, avaliam porta-vozes da religião. A posição praticamente unânime é que o país é um exemplo de convivência pacífica. A pichação do muro da Mesquita Brasil com a frase "Je suis Charlie" foi apagada logo no dia seguinte e considerada um episódio isolado. Há poucos relatos de reações mais agressivas no país, como o de uma garota muçulmana que teria sido alvo de uma pedrada na rua.

Apesar disso, os líderes da religião não escondem sua preocupação com a repercussão negativa que os assassinatos em Paris acarretam para a religião, inclusive no Brasil. "O islamismo tem 1,8 bilhão de adeptos no mundo e ações como essa são praticadas por uma minoria. Não podemos reduzir o Islã a uma quantidade marginal de muçulmanos. Essa é uma falácia", diz o professor Ali Zoghbi, vice-presidente da Federação das Associações Muçulmanas do Brasil. Com sede em São Paulo, a organização congrega 45 das 98 entidades islâmicas do país.

Os líderes muçulmanos condenam com veemência a ação em Paris, mas criticam a republicação das charges pelo "Charlie Hebdo". "O governo francês deveria estabelecer uma legislação que coibisse ofensas a ícones religiosos capazes de gerar violência", afirma Zoghbi. "O laicismo deveria preservar o direito de uma minoria de não ser ofendida."

O episódio do "Charlie Hebdo" reacendeu a discussão sobre um suposto choque de civilizações, que colocaria as sociedades ocidentais e o Islã em trincheiras opostas. A tese mistura religião e etnia em um pacote xenofóbico, para dificultar a entrada ou permanência de imigrantes pobres em países da Europa, e vem ganhado força entre grupos ideológicos de ultradireita. Mesmo entre o público em geral, porém, a imagem do Islã tem sido seriamente prejudicada por sucessivas ações de radicais religiosos ou governos de países de maioria muçulmana.

Para o espectador médio, pouco atento a nuances ideológicas, a imagem chocante do piloto jordaniano Muath al-Kasaesbeh, queimado vivo pelo Estado Islâmico, estabelece uma conexão instantânea entre a crueldade e a religião dos algozes, mesmo que a vítima, neste caso, tenha sido outro muçulmano. O vídeo, divulgado dias atrás na internet, causou comoção global. Também não ajudam notícias recentes como a pena recebida pelo blogueiro saudita Raif Badawi. Acusado de criticar clérigos da Arábia Saudita e insultar o Islã, ele foi condenado a uma multa, dez anos de prisão e mil chibatadas. A segunda sessão - estão previstas 20, ao todo - foi adiada porque as feridas da primeira ainda não haviam sido curadas. Organizações de direitos humanos de várias partes protestam contra a pena.

No centro desse debate está a sharia, o conjunto de fundamentos e normas que constituiriam o sistema jurídico fundado nos preceitos do Islã. "Em vários países islâmicos, o Estado pretende ou inspirar-se no Islã para criar suas normas jurídicas ou considerar que o seu direito é a própria sharia", diz Salem H. Nasser, professor de direito da Fundação Getúlio Vargas em São Paulo. "Disso resulta que países diferentes dão interpretações diferentes para o que deveria ser o conteúdo da sharia e de sua adaptação ao mundo atual."

Um desafio central, afirma Nasser, será encontrar uma resposta à necessidade de reinterpretar as fontes originais para obter regras mais apropriadas aos tempos atuais. "Em parte, esse é o problema em relação a punições como o açoitamento ou o apedrejamento", diz o professor, especialista em direito islâmico.

Por enquanto, boa parte da ação das organizações orientadas a divulgar o Islã no Brasil tem sido voltada a explicar conceitos básicos, na tentativa de desvincular o islamismo de uma imagem de intolerância ou beligerância em relação a outras religiões. Em parte, a ideia é explorar pontos comuns com outras correntes monoteístas. Por exemplo, a fé em Jesus, professada pelos muçulmanos, mas sob uma concepção muito diferente do cristianismo. Para o Islã, Jesus faz parte de uma longa sucessão de profetas enviados por Deus, como Noé e Abraão, mas não compartilha da natureza divina, como acreditam majoritariamente os cristãos.

A ideia da Trindade, central para o cristianismo, é estranha ao Islã. A crença islâmica é que Jesus não chegou a ser pregado na cruz. Antes de ser preso, teve seu rosto trocado pelo do traidor Judas Iscariotes, que foi crucificado em seu lugar. Depois disso, subiu ao céu. Seu retorno é esperado para antes do fim do mundo. Jesus voltaria com 33 anos, para morrer com 60 a 70 anos de idade.

Os meios de comunicação de massa, muito usados por católicos e evangélicos, ainda estão distantes da esfera islâmica no país, mais isso pode estar prestes a mudar. Na Mesquita Brasil, como ocorre em outras comunidades, está em andamento um projeto piloto para ampliar a difusão da fé islâmica, com a criação de unidades capazes de promover cursos, providenciar livros e oferecer espaço para orações. "Temos planos de criar revistas, TV etc., mas tudo a seu tempo", diz Nasser Fares, presidente da Sociedade Beneficente Muçulmana, que administra a Mesquita Brasil. A mesquita é sustentada por doações da comunidade. Os muçulmanos são estimulados a contribuir com o zakat, o equivalente a 2,5% dos rendimentos líquidos, que são destinados a ajudar os necessitados.

É difícil antever qual será o impacto de iniciativas desse tipo na atração de brasileiros. Estudos acadêmicos mostram que a reversão é maior entre 20 e 40 anos de idade, com uma concentração nas faixas etárias mais novas. A pergunta é: por que uma religião identificada pela maioria como uma fé de códigos rígidos - apesar de a posição dos adeptos ser diferente - estaria atraindo pessoas recém-saídas da adolescência?

O fenômeno requer um estudo mais aprofundado, diz a antropóloga Lídice Meyer Pinto Ribeiro, e se estenderia a outras religiões, caso dos hare krishnas, que também experimentam um interesse renovado, apesar de se pautarem por códigos conservadores, como o celibato até o casamento. "Uma hipótese é que os jovens estejam vivendo uma crise de valores éticos e, por isso, passaram a buscar nessas religiões padrões que, para eles, as gerações anteriores falharam em transmitir", afirma a professora de ciências da religião na Universidade Presbiteriana Mackenzie.

Outro fator intrigante é que as mulheres seriam maioria entre os revertidos, em contraste com outra percepção muito difundida - e da qual os muçulmanos também discordam - de que o sexo feminino é relegado pelo Islã a uma posição secundária em relação aos homens. Uma das teorias é que as brasileiras estariam encontrando nas mesquitas um espaço para conhecer potenciais maridos, mas em seus estudos, até agora, a professora Lídice diz não ter identificado fundamentos fortes que justificassem essa ideia.

Os brasileiros não são os únicos a fortalecer as fileiras da fé islâmica no país. O Brasil também tem recebido uma grande quantidade de pessoas que já professavam a religião em seus países de origem, mas tiveram de fugir por causa de conflitos. Um levantamento publicado em novembro pela Agência das Nações Unidas para Refugiados mostra que 1.524 refugiados sírios chegaram ao país de janeiro de 2010 a outubro de 2014, tornando-se o maior grupo a buscar asilo político aqui. Intitulada "Novo Perfil do Refúgio no Brasil", a pesquisa revela que o fluxo de sírios, que começou em 2012 com 37 reconhecimentos oficiais, multiplicou-se por sete no ano seguinte, para 284 casos, e somou 1.183 pedidos aceitos até outubro do ano passado.

As mesquitas e organizações islâmicas têm se organizado para receber os refugiados e providenciar alimentos, roupas e moradia, além de preparar cursos de português e tentar encontrar empregos. O sentimento geral da comunidade, no entanto, é de insatisfação com as autoridades. "O governo brasileiro deveria dar o visto, mas também proporcionar condições para que essas pessoas venham morar no país, e isso não só para os sírios", diz Nasser, da Sociedade Beneficente Muçulmana. Uma saída seria estabelecer convênios com as organizações religiosas, para ajudá-las a estabelecer a infraestrutura necessária. "Mas não temos um canal de comunicação com o governo [para fazer isso]. Não sabemos a quem procurar", afirma Nasser.

Embora pareça um fenômeno recente, o Islã chegou ao Brasil há muito tempo, com escravos africanos trazidos do Sudão central, região que atualmente corresponde ao norte da Nigéria. Adeptos do Islã, esses negros sabiam ler e escrever em árabe e, por isso, foram usados em atividades de controle das fazendas, conta a professora Lídice, do Mackenzie. Eram os malês, uma forma pejorativa que vem do iorubá e significa "renegado, que adotou o islamismo". Eles eram chamados assim por escravos adeptos das religiões animistas. Instruídos, não tardou para que os malês se tornassem líderes de rebeliões. O ápice foi a Revolta dos Malês, que pretendia estabelecer um califado muçulmano na Bahia. A reação portuguesa, no entanto, pôs fim à revolta. Parte dos líderes foi mandada de volta à África. Os demais se espalharam por diversos Estados. Começava aí um dos mais interessantes e pouco conhecidos capítulos do sincretismo religioso no Brasil.

Como os portugueses eram fortemente identificados com o catolicismo, muitos malês e seus descendentes buscaram outras religiões como parte do esforço de resistência à dominação. No Rio, uma parcela deles converteu-se ao protestantismo, ingressando em denominações históricas que se instalavam no país, como a Igreja Presbiteriana. Outra parte identificou-se com as religiões africanas, com influência posterior sobre o candomblé. Nesse processo, as pequenas bolsas que os escravos costumavam trazer ao pescoço com trechos do Alcorão - uma forma de guardar o livro sagrado - ganhou um caráter muito diferente nas religiões afro: o de amuleto de proteção, a mandinga.

Outros dois ciclos se sucederam. Um deles foi o das primeiras imigrações de muçulmanos, a partir da década de 10 do século passado, como sírios, turcos etc. O movimento estabeleceu essas comunidades no país e permitiu ações como a construção das primeiras mesquitas. O ciclo seguinte, a partir dos anos 80, foi o da reversão. É dessa fase, que prossegue até hoje, que depende qual será a face que o Islã assumirá no Brasil nas próximas décadas.

De um lado, parece haver uma adaptação da religião à sociedade brasileira. Existem muçulmanos em todas as classes sociais e regiões geográficas. No Sul, foi criada um grande comunidade, principalmente em torno de Foz do Iguaçu. Mas há indicações de que o crescimento pode vir principalmente de regiões periféricas dos grandes centros, como bairros afastados de São Bernardo do Campo, no ABC paulista, ou em Francisco Morato, um município da Grande São Paulo. Nesses locais, grupos de jovens, fãs de hip hop, tem se juntado ao islamismo.

A tecnologia tem um papel importante nesse processo, mas funciona de maneira dúbia. Por um lado, é consenso entre as lideranças muçulmanas que a internet ajuda a matar a curiosidade em torno da religião e pode servir de entrada para uma experiência mais profunda. De outro, estudiosos observam que muitos jovens, hoje, se informam quase exclusivamente pelas redes sociais, nas quais opinião e informação se confundem, o que pode provocar ainda mais confusão e preconceito.

Para os revertidos, as maiores dificuldades são a aceitação da família e dos amigos, e encontrar as condições necessárias para cumprir ordenamentos não compartilhados pela maioria dos brasileiros.

Fayad e Beatriz não tiveram muitos problemas com suas famílias. Beatriz reverteu há 12 anos, quando morava nos Estados Unidos, depois de passar a conviver com um grupo muçulmano que frequentava a mesma universidade. Ela comunicou a decisão à família por carta. Recebeu aprovação. Posteriormente, houve questionamentos quando ela passou a usar o hijab, mas nada comprometedor. Fayad - que nasceu Edmar - também obteve uma reação tranquila, apesar da curiosidade da mãe, católica fervorosa.

Substituir o nome original por outro, árabe, não é obrigatório. Depende de cada um. Fayad prefere o novo nome, que significa "aquele que comunica". Nos empregos pelos quais passou desde a reversão, há cinco anos, ele sempre conversou com os superiores para explicar que precisava de cinco minutos, duas vezes por dia, para fazer as orações, cujos horários coincidiam com o expediente. O pedido nunca foi recusado. Os aplicativos ajudam a fazer tudo corretamente. Alguns programas avisam o horário das orações, que variam de acordo com a lua (no calendário muçulmano, estamos em 1436); outros mostram a direção de Meca.

Alimentar-se segundo a religião exige um certo esforço. Muçulmanos não podem comer carne de porco ou tomar bebidas alcoólicas. Isso é fácil de evitar. Mas as regras também incluem procedimentos na hora de matar o gado, para evitar que o animal sinta dor, e proíbe alimentos cujo processo de elaboração use o álcool, excetuando casos em que não sobrem resquícios no produto final. É o chamado alimento halal, semelhante ao kosher para os judeus. O Brasil é um grande exportador de carne halal, mas, com a demanda internacional, não sobra muito para o consumo interno. Para não incorrer em erros, na hora de comprar carne o casal observa o SIF - um código de identificação exibido na embalagem - para saber se a peça vem de um abatedouro halal. Ou, então, procuram um açougue especializado. Os preços variam, mas, dependendo do corte, uma peça halal pode custar até o dobro de uma similar comum.

As contas do casal também merecem atenção especial. Pelas regras do Islã, é proibido cobrar ou receber juros. Isso é um pecado grave. Os sistemas bancários de países majoritariamente muçulmanos estão adaptados ao preceito, mas em outros locais é preciso dar um jeito. A orientação é usar juro para pagar juro. Por exemplo, reservar os juros obtidos com os rendimentos de uma conta poupança para pagar os juros cobrados pela conta do condomínio eventualmente atrasada.

Na praia, os homens só devem mostrar as pernas até os joelhos e não podem expor a parte superior do corpo. O máximo permitido é uma camiseta regata. Para as mulheres, a recomendação é usar um traje com calça e blusa. O lenço ou véu, alvo de tantas discussões, não incomoda Beatriz. A indumentária ajuda a atrair a atenção nas ações de que o casal participa uma vez por mês em lugares movimentados de São Paulo, batizada de Street Dawah. É montada uma tenda, sob a qual eles tiram dúvidas das pessoas que passam pelas ruas.

Recentemente, na rua 25 de Março, um centro de comércio da cidade, um homem chamou Beatriz de "a mulher do Bin Laden". Fayad interferiu rapidamente e a situação foi contornada sem desdobramentos. Mas isso é uma exceção, eles dizem. Em geral, as pessoas são respeitosas, a despeito da curiosidade despertada, o que torna o véu uma espécie de confissão de fé. "[Com o lenço] as pessoas olham e me identificam. E isso eu quero para mim", afirma Beatriz.



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