terça-feira, 22 de novembro de 2011

Preconceito de classe



A julgar pela juventude que começa a compor a elite brasileira, as previsões para o futuro são aterradoras. Diga-se de passagem que não há nada intrinsecamente mal na palavra "elite", até porque toda e qualquer sociedade que já se formou e desenvolveu no mundo, teve - em maior ou menor grau - uma elite que a dirigiu política, militar e/ou ideologicamente. O que varia é a atenção (com as ações correspondentes) que cada uma dessas "elites" dá às demais camadas da sociedade para que elas tenham (ou não) oportunidades de um dia também alcançar o status de "elite". Nesse quesito, a juventude da elite brasileira (inclusive a chamada "evangélica"), com honrosas e raras exceções, parece preferir dar uma banana aos pobres e marginalizados, excluindo-os ainda mais do seu mundo imaginário de arrogância e superioridade, como mostra a repercussão causada pelo cartaz da festa de formatura do último ano da consagrada Faculdade de Direito do Largo São Francisco, da USP, em que um recém-formado advogado estaria em posição superior a um mendigo e uma prostituta, classes sociais que povoam a não menos tradicional Rua Augusta, local da balada. Claro que se trata de um equívoco de muito mau gosto da classe de Direito de 2011, mas esses atos falhos costumam revelar muito mais do que o que se vê na superfície. No caso da USP, são jovens geralmente de boa condição social, formados em uma universidade conceituada e gratuita, sustentada com o imposto recolhido da pinga do mendigo e dos cosméticos da prostituta, sobre os quais os formandos não têm vergonha nenhuma em tripudiar. A notícia é do Estadão:

Cartaz de festa com mendigo e prostituta causa polêmica na São Francisco

* Por Bruno Lupion, do estadão.com.br

Um estudante de Direito sentado em uma poltrona de veludo vermelho, usando terno e gravata, com olhar arrogante, não dá a mínima para um mendigo jogado aos seus pés. Uma prostituta na sarjeta também não parece abalar o jovem de sapatos lustrosos.

Alheio ao que o circunda, o rapaz representa um formando da Faculdade de Direito do Largo São Francisco, da USP, e convida seus colegas para a festa de “bota-fora” da graduação. O morador de rua, cabisbaixo, informa o preço do ingresso para a comemoração: R$ 50.

O cartaz, produzido pela comissão de formatura da turma 180 da São Francisco, foi enviado aos 460 alunos do último ano e compartilhado pelas redes sociais, acirrando os ânimos entre frequentadores das Arcadas. “Em que mundo vocês vivem? Uma indiferença quase sádica, tão lamentável quanto perversa”, criticou o aluno Guilherme Rossi pelo Facebook. “Sabe o que é pior? Ouvir coisas como: ‘É um mero cartaz…’ . De muitos ‘meros’ nosso país segue com seu preconceito absurdo”, afirmou o estudante Nichollas Alem.

A festa será realizada neste sábado, 26, em uma casa noturna na Rua Augusta. Após a repercussão negativa, a comissão de formatura enviou nota aos alunos dizendo que a intenção do cartaz seria valorizar a diversidade da Augusta, frequentada por “pessoas todas as classes sociais e orientações sexuais”. Na nota, a comissão afirma que irá corrigir o cartaz e ressaltou que, em nenhum momento, quis retratar “os advogados como seres superiores aos mendigos e prostitutas”.





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