quinta-feira, 17 de novembro de 2011

Teste de mediunidade

Trata-se de um artigo do blog Obras Psicografadas, especializado na discussão científica do espiritismo, em que - desta vez - um cientista cético testa as reais capacidades mediúnicas de pessoas que alegam tê-las. Como é um artigo longo e detalhado, transcrevemos abaixo apenas a primeira parte, indicando no final o link para a íntegra da matéria:

Testando a alegada mediunidade: Métodos e Resultados (2005)

Neste artigo, o famoso cético Richard Wiseman testou 5 médiuns escolhidos pela União Nacionalista de Espiritualistas (SNU). A SNU declarou que todos os médiuns tinham sofrido um procedimento rigoroso de seleção e que estavam sujeitos a avaliação ininterrupta. Os resultados da pesquisa de Wiseman foram publicados no British Journal of Psychology, uma revista científica indexada que teve um fator de impacto de 2.172 em 2010. Será que algum dos médiuns passou no teste? Saiba a resposta a seguir!

Os médiuns alegam ser capazes de se comunicar com os mortos. Esse tipo de alegação atrai bastante interesse público e, se válida, tem importantes implicações para muitas áreas da psicologia. Por mais de 100 anos, os pesquisadores testaram os supostos médiuns. Este trabalho obteve resultados mistos e provocou muito debate metodológico. Este artigo revisa as questões chave neste debate, descreve como os autores desenvolveram uma metodologia que buscava prevenir os muitos problemas que atrapalharam a pesquisa anterior, e como usaram este método para testar vários médiuns profissionais. Os resultados deste trabalho não apoiaram a existência de uma capacidade mediúnica genuína. Interpretações rivais destes resultados são discutidas, junto com os meios através dos quais a metodologia apresentada no artigo poderia ser usada para avaliar alegações semelhantes em seu conceito, mas que não são paranormais, feitas em contextos forenses, clínicos e profissionais.

Alguns indivíduos alegam possuir capacidades mediúnicas que os permitiriam contatar o ‘mundo dos espíritos’ e receber informações dos mortos. Há várias razões para submeter estas alegações a investigações empíricas rigorosas.

A primeira delas é o fato de que as capacidades mediúnicas, se válidas, forneceriam evidência para apoiar a sobrevivência à morte corpórea, e, portanto, teriam implicações importantes para diversos aspectos da psicologia. Tais dados iriam, por exemplo, apresentar um forte desafio às hipóteses principais da pesquisa neuropsicológica subjacente, incluindo a noção de que a personalidade humana, a cognição, e a consciência sejam dependentes de um cérebro vivo. A evidência de capacidades mediúnicas genuínas também levantaria intrigantes perguntas sobre os mecanismos sensoriais que podem sustentar tais capacidades e, num nível mais prático, teria implicações importantes para os muitos aspectos da psicológica clínica relacionada à perda e ao luto.

Segunda, demonstrações de capacidades aparentemente mediúnicas têm um impacto significativo na crença e no comportamento público. Pesquisas recentes revelaram que quase 30% dos americanos atualmente acreditam na existência de capacidades mediúnicas genuínas (Newport & Strausberg, 2001), aproximadamente 10% dos britânicos visitam médiuns e tanto recebem mensagens dos mortos como obtêm conselhos direcionando suas vidas (Roe, 1998), e novos tipos de programas de televisão que exibem tais demonstrações consistentemente atraem milhões de telespectadores (Brown, 2001). Testes bem-controlados de médiuns ajudariam o público e os criadores de programa de televisão a avaliarem a validade de tais supostas capacidades, ajudando-os em suas decisões e atitudes finais.

Terceira, certos indivíduos que trabalham em contextos não-paranormais fazem alegações que são análogas a essas feitas pelos médiuns, e os métodos desenvolvidos para testar os médiuns poderiam ser usados para examinar estas alegações. Por exemplo, alguns clínicos alegam ser capazes de obter insights do passado dos pacientes puramente através de suas reações a certos testes projetivos, alguns médicos trabalhando em um cenário profissional parecem ser capazes de fazer registros detalhados da personalidade das pessoas simplesmente com base em sua pontuação em certas ferramentas de avaliação, e alguns indivíduos operando em um contexto forense alegam ser capazes de produzir perfis exatos de delinqüentes a partir de uma quantidade muito limitada de informação comportamental. Vários escritores (p.ex. Alison, Smith, & Morgan, 2003; Wood, Nezworski, Lilienfeld, & Garb, 2003) recentemente observaram que a evidência anedótica que apóia estas alegações pode ser o resultado dos mesmos tipos de estratagemas psicológicos que podem sustentar a aparente exatidão das leituras mediúnicas (p.ex. o uso de afirmações gerais, coincidências, etc.), e assim os métodos desenvolvidos para examinar tais alegações podem se beneficiar de um completo entendimento dos procedimentos usados para testar a mediunidade.

Dada a natureza das questões teóricas e práticas que cercam este tema, talvez não surpreenda que o teste científico da mediunidade tenha uma história longa e controversa.

Os primeiros testes de médiuns foram feitos na década de 1880 e os principais investigadores envolvidos assistiam às sessões espíritas, registrando os comentários que os médiuns supostamente recebiam dos mortos, e então tentando avaliar a exatidão destas informações. A maioria dos relatórios resultantes argumentou em favor da existência de capacidade mediúnica genuína, e continha longas transcrições de mensagens mediúnicas junto com detalhadas descrições das evidências que apóiam estas declarações (ver, p.ex. Hodgson, 1892, 1898). Críticos atacaram estes trabalhos, argumentando que freqüentemente falharam em avaliar se as leituras aparentemente exatas podiam ter sido o resultado de vários estratagemas psicológicos, tais como os médiuns que se empenham em conjecturas astutas ou que produzem declarações muito gerais que seriam endossadas pela maioria das pessoas (ver, p.ex., Gardner, 1992; Hyman, 1977; Podmore, 1901).

Com o passar dos anos, muitos pesquisadores tentaram desenvolver procedimentos para eliminar a possibilidade de tais estratagemas, e então os usaram para pesquisar alguns dos melhores médiuns da época. Os estudos resultantes obtiveram resultados misturados, com alguns trabalhos encontrando evidência a favor de capacidades paranormais genuínas e outros apoiando a hipótese nula (para uma revisão deste trabalho, ver Schouten, 1994). Estes trabalhos provocaram uma quantidade considerável de debate estatístico metodológico, muito do qual se concentrou no grau em que os procedimentos empregados naqueles estudos que obtiveram resultados positivos tinham conseguido eliminar os potenciais vieses e problemas (para um exemplo recente deste tipo de debate, ver Hyman, 2002; Hyman, 2003; Schwartz, 2003). Infelizmente, a discussão que cerca o alcance diverso das potencias questões estatísticas e metodológicas que pode induzir tal trabalho está espalhada pela literatura psicológica e parapsicológica, e freqüentemente é apresentada de um modo gradativo ao invés de ser mais conceitualmente organizada. Além disso, os pesquisadores que trabalham nesta área ainda têm que desenvolver um método relativamente padrão de teste que seja prático e que reduza a chance para tais artefatos. Este artigo trata dessas duas questões. A primeira parte deste artigo revisa os problemas principais que impediram os testes anteriores de mediunidade e descreve como os autores planejaram um método de teste que era tanto prático quanto metodologicamente seguro. A segunda parte do artigo apresenta uma descrição detalhada de como este método foi usado para testar vários médiuns profissionais.

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