A crise econômica americana tem levado muitos pastores a serem demitidos de suas igrejas, e, ainda que a causa aqui não seja exatamente a mesma, é muito provável que a "concorrência desleal" da "centralização de dízimos e ofertas" promovida por alguns telepastores, com a promessa fácil e inconsequente do paraíso na terra, leve muitas igrejas a não terem mais condições de sustentar seus pastores. Veja o que noticiou o jornal Valor Econômico de ontem, 17/05/10, reproduzindo matéria do The Wall Street Journal:
Doação em queda faz igrejas dos EUA demitirem pastores
Joe Light, The Wall Street Journal
Joe Light, The Wall Street Journal
Quando Tim Ryan foi convidado para uma reunião urgente ano passado para discutir seu trabalho como pastor da juventude na Igreja Evangélica Livre West Shore, sentiu na hora que algo estava errado.
"É muito difícil. Não sei como fazer isso", disse o pastor executivo John Nesbitt, um dos líderes do rebanho de 2,5 mil pessoas da megaigreja em Mechanicsburg, no Estado da Pensilvânia.
A igreja, parte da denominação Igrejas Evangélicas Livres da América, tem crescido rapidamente, mas as doações tinham ficado bem abaixo das previsões devido aos efeitos da recessão nos fiéis. Por isso Ryan estava perdendo seu emprego, assim como estava outro pastor.
Embora a economia dos Estados Unidos pareça estar se recuperando da pior recessão em gerações, mais sacerdotes estão desempregados e as igrejas continuam lutando contra o declínio das doações. Em 2009, o governo contabilizou mais de 5 mil religiosos procurando empregos, ante 3 mil em 2007 e 2 mil em 2005. Os funcionários administrativos das igrejas também estão sentindo os efeitos da crise. Numa pesquisa em outubro, cerca de um em cada cinco membros da Associação Nacional de Administradores de Igrejas, que reúne várias denominações e tem mais de 3 mil associados, disseram que foram obrigados a demitir durante a recessão.
O índice oficial de desemprego do clero nos EUA está em 1,2%, bem menor que a média nacional, mas as demissões podem ser especialmente dolorosas para essas pessoas. As igrejas não contribuem com os fundos de seguro-desemprego, então os demitidos não podem receber os mesmos benefícios que os outros trabalhadores.
A West Shore manteve Ryan, de 42 anos, e o outro pastor na folha de pagamento por cinco meses enquanto procuravam outros empregos, mas muitas igrejas não oferecem pacotes de rescisão, dizem especialistas.
"As igrejas vacilam tanto na hora de demitir as pessoas que na hora em que precisam não têm os recursos para um bom pacote de indenização", diz Bob Clarke, que dirige um programa de assistência a pastores em dificuldades da Igreja Presbiteriana na América.
Duas coisas contribuíram para as demissões: o declínio de longo prazo na participação em várias denominações, combinado aos estresses de curto prazo da recessão.
Quase 30% dos fiéis disseram que reduziram o dízimo desde novembro de 2009, segundo uma pesquisa com 1.008 adultos realizada no fim de janeiro e início de fevereiro pela Barna Group, uma firma de Ventura, na Califórnia, que pesquisa tendências religiosas e presta consultoria a igrejas. Quase metade dos 3.000 integrantes da Associação Nacional de Administradores de Igrejas diz que teve de reduzir ou congelar salários e benefícios.
Algumas lideranças religiosas temem que as doações não voltarão ao nível de antes da recessão enquanto o desemprego continuar alto. Pesquisas com as igrejas descobriram que as doações desabaram a partir de novembro de 2008, quando o desemprego estava em 6,7%. Desde então, as contribuições caíram junto com a expansão do desemprego.
Algumas das mais prejudicadas pela recessão foram as megaigrejas, ou as que comportam 2 mil fiéis ou mais num culto. Ano passado, a Igreja Comunitária de Granger, no Estado de Indiana, com seus 6 mil membros, teve de demitir 8 empregados e cortar o horário de 15 outros.
A saída de um pastor pode ter um impacto especialmente emocional sobre uma congregação. Quando a West Shore anunciou quais pastores seriam demitidos, vários membros na audiência mostraram choque. "As pessoas sabiam que não andavam doando muito, mas não acho que entendiam que a situação chegaria a isso", disse Ryan.
Além de Ryan, a igreja demitiu o pastor que cuidava dos 60 fiéis com deficiências físicas. O pastor, que agora trabalha num asilo no Estado de Nova York, não respondeu a pedidos de entrevista.
Um ajudante de garçom de 44 anos que tem problemas cerebrais disse a várias pessoas que começou a chorar quando o pastor anunciou que estava indo embora. "Tive de sair da sala para tomar um ar fresco. Foi difícil para a gente", disse ele.
Até que ponto os pastores são suscetíveis a demissões depende em parte da igreja ou denominação em que trabalham. Os bispos católicos e metodistas unidos indicam seus pastores. Assim, quando uma paróquia se vê obrigada a eliminar um cargo, o bispo pode transferir o sacerdote para outra igreja que possa mantê-lo. Enquanto isso, escritórios de colocação de rabinos afirmam que o período médio que esses sacerdotes passam procurando emprego aumentou, mas poucos templos e sinagogas tiveram de demitir.
Mas pastores de outras denominações cristãs ficam praticamente sozinhos na hora de enfrentar o desemprego e a busca por um novo trabalho. No momento, a Igreja Presbiteriana na América, que tem 1,7 mil igrejas, tem cerca de cinco pastores procurando emprego para cada uma de suas 54 vagas, o dobro de antes da recessão, disse o administrador do grupo, John Robertson.
A forte concorrência não é o único obstáculo enfrentado pelos sacerdotes. Cada emprego tem uma lista extensa de qualificações que às vezes são até mais específicas que o habitual no setor privado. Os tribunais têm se negado a interferir na contratação de membros do clero por enxergarem na primeira emenda constitucional, que trata da liberdade religiosa, um impedimento. Assim, as proibições da constituição americana à discriminação com base em deficiências físicas, idade e sexo não se aplicam, diz Dianna Johnston, advogada da Comissão de Igualdade nas Oportunidades de Emprego, agência que fiscaliza as leis federais de combate à discriminação no trabalho.
Uma oferta de emprego na Flórida para um pastor, no site da Convenção Batista do Sul, por exemplo, exige que o interessado seja casado e tenha entre 30 e 49 anos. Outro anúncio para um cargo de meio período no Kansas alerta que o comitê não vai considerar os candidatos divorciados.
Ryan, que trabalhou na West Shore por um ano e meio mas nunca foi ordenado, resolveu não mudar a mulher e os quatro filhos e aceitou um emprego laico com reformas caseiras, oferecido por um integrante da congregação.
O novo trabalho? Carpintaria. A profissão de Jesus e de seu pai, José, segundo a Bíblia. "Entendo muito bem a ironia disso", disse Ryan.
"É muito difícil. Não sei como fazer isso", disse o pastor executivo John Nesbitt, um dos líderes do rebanho de 2,5 mil pessoas da megaigreja em Mechanicsburg, no Estado da Pensilvânia.
A igreja, parte da denominação Igrejas Evangélicas Livres da América, tem crescido rapidamente, mas as doações tinham ficado bem abaixo das previsões devido aos efeitos da recessão nos fiéis. Por isso Ryan estava perdendo seu emprego, assim como estava outro pastor.
Embora a economia dos Estados Unidos pareça estar se recuperando da pior recessão em gerações, mais sacerdotes estão desempregados e as igrejas continuam lutando contra o declínio das doações. Em 2009, o governo contabilizou mais de 5 mil religiosos procurando empregos, ante 3 mil em 2007 e 2 mil em 2005. Os funcionários administrativos das igrejas também estão sentindo os efeitos da crise. Numa pesquisa em outubro, cerca de um em cada cinco membros da Associação Nacional de Administradores de Igrejas, que reúne várias denominações e tem mais de 3 mil associados, disseram que foram obrigados a demitir durante a recessão.
O índice oficial de desemprego do clero nos EUA está em 1,2%, bem menor que a média nacional, mas as demissões podem ser especialmente dolorosas para essas pessoas. As igrejas não contribuem com os fundos de seguro-desemprego, então os demitidos não podem receber os mesmos benefícios que os outros trabalhadores.
A West Shore manteve Ryan, de 42 anos, e o outro pastor na folha de pagamento por cinco meses enquanto procuravam outros empregos, mas muitas igrejas não oferecem pacotes de rescisão, dizem especialistas.
"As igrejas vacilam tanto na hora de demitir as pessoas que na hora em que precisam não têm os recursos para um bom pacote de indenização", diz Bob Clarke, que dirige um programa de assistência a pastores em dificuldades da Igreja Presbiteriana na América.
Duas coisas contribuíram para as demissões: o declínio de longo prazo na participação em várias denominações, combinado aos estresses de curto prazo da recessão.
Quase 30% dos fiéis disseram que reduziram o dízimo desde novembro de 2009, segundo uma pesquisa com 1.008 adultos realizada no fim de janeiro e início de fevereiro pela Barna Group, uma firma de Ventura, na Califórnia, que pesquisa tendências religiosas e presta consultoria a igrejas. Quase metade dos 3.000 integrantes da Associação Nacional de Administradores de Igrejas diz que teve de reduzir ou congelar salários e benefícios.
Algumas lideranças religiosas temem que as doações não voltarão ao nível de antes da recessão enquanto o desemprego continuar alto. Pesquisas com as igrejas descobriram que as doações desabaram a partir de novembro de 2008, quando o desemprego estava em 6,7%. Desde então, as contribuições caíram junto com a expansão do desemprego.
Algumas das mais prejudicadas pela recessão foram as megaigrejas, ou as que comportam 2 mil fiéis ou mais num culto. Ano passado, a Igreja Comunitária de Granger, no Estado de Indiana, com seus 6 mil membros, teve de demitir 8 empregados e cortar o horário de 15 outros.
A saída de um pastor pode ter um impacto especialmente emocional sobre uma congregação. Quando a West Shore anunciou quais pastores seriam demitidos, vários membros na audiência mostraram choque. "As pessoas sabiam que não andavam doando muito, mas não acho que entendiam que a situação chegaria a isso", disse Ryan.
Além de Ryan, a igreja demitiu o pastor que cuidava dos 60 fiéis com deficiências físicas. O pastor, que agora trabalha num asilo no Estado de Nova York, não respondeu a pedidos de entrevista.
Um ajudante de garçom de 44 anos que tem problemas cerebrais disse a várias pessoas que começou a chorar quando o pastor anunciou que estava indo embora. "Tive de sair da sala para tomar um ar fresco. Foi difícil para a gente", disse ele.
Até que ponto os pastores são suscetíveis a demissões depende em parte da igreja ou denominação em que trabalham. Os bispos católicos e metodistas unidos indicam seus pastores. Assim, quando uma paróquia se vê obrigada a eliminar um cargo, o bispo pode transferir o sacerdote para outra igreja que possa mantê-lo. Enquanto isso, escritórios de colocação de rabinos afirmam que o período médio que esses sacerdotes passam procurando emprego aumentou, mas poucos templos e sinagogas tiveram de demitir.
Mas pastores de outras denominações cristãs ficam praticamente sozinhos na hora de enfrentar o desemprego e a busca por um novo trabalho. No momento, a Igreja Presbiteriana na América, que tem 1,7 mil igrejas, tem cerca de cinco pastores procurando emprego para cada uma de suas 54 vagas, o dobro de antes da recessão, disse o administrador do grupo, John Robertson.
A forte concorrência não é o único obstáculo enfrentado pelos sacerdotes. Cada emprego tem uma lista extensa de qualificações que às vezes são até mais específicas que o habitual no setor privado. Os tribunais têm se negado a interferir na contratação de membros do clero por enxergarem na primeira emenda constitucional, que trata da liberdade religiosa, um impedimento. Assim, as proibições da constituição americana à discriminação com base em deficiências físicas, idade e sexo não se aplicam, diz Dianna Johnston, advogada da Comissão de Igualdade nas Oportunidades de Emprego, agência que fiscaliza as leis federais de combate à discriminação no trabalho.
Uma oferta de emprego na Flórida para um pastor, no site da Convenção Batista do Sul, por exemplo, exige que o interessado seja casado e tenha entre 30 e 49 anos. Outro anúncio para um cargo de meio período no Kansas alerta que o comitê não vai considerar os candidatos divorciados.
Ryan, que trabalhou na West Shore por um ano e meio mas nunca foi ordenado, resolveu não mudar a mulher e os quatro filhos e aceitou um emprego laico com reformas caseiras, oferecido por um integrante da congregação.
O novo trabalho? Carpintaria. A profissão de Jesus e de seu pai, José, segundo a Bíblia. "Entendo muito bem a ironia disso", disse Ryan.