Eu tenho um problema sério com pessoas que não conseguem ouvir o que seu interlocutor está falando, não exatamente por má audição, mas por má vontade. É claro que há várias explicações possíveis para esta atitude, mas em geral, quando alguém fala demais é porque tem algo a esconder. A verborragia se transforma, portanto, em uma poderosa arma de defesa contra quem ameaça invadir a sua fortaleza de segredos inconfessáveis ou o seu armário repleto de esqueletos empoeirados. Quando esta pessoa se diz cristã, o problema me parece mais sério, pois poder estabelecer um diálogo equilibrado entre o falar e o ouvir é um dos dons que Deus concedeu ao homem, tanto que, no relato da Criação, o próprio Deus em Pessoa ia ao jardim do Éden conversar com Adão e Eva. Jesus – o Logos (Verbo) de Deus - gostava de pregar e conversar, e muitas vezes os seus ensinos e diálogos se mesclavam, como nos rotineiros confrontos com os fariseus e na suprema aula que concedeu a Nicodemos (João 3). Nem Pilatos resistiu ao seu desejo de conversar para tentar entender.
A pregação expositiva é, de fato, bela e necessária, mas ela deve - ao menos - incentivar que seus ouvintes dialoguem com o pregador, no sentido de suscitar dúvidas que possam ser questionadas e ideias que sejam aperfeiçoadas, senão no momento do culto, em algum período reservado para isso dentro ou fora da igreja. O crente é um ser que pensa, embora geralmente seja tratado como repositório inanimado de mensagens não necessariamente inspiradas nem cristãs. O próprio jargão evangélico inibe esta interação, pois hoje os pregadores dizem que “entregam” uma mensagem, como se não houvesse possibilidade de, digamos, "deglutição" do que foi dito. Escondem-se atrás de uma autoproclamada “inspiração” para apregoar barbaridades supostamente autorizadas por um ser alegadamente divino, que, na verdade, se confunde com a pessoa – e as carências - de quem as anuncia. Não provocam nos ouvintes uma atitude de verdadeira entrega em adoração a Deus, mas de rendição incondicional ao pregador. Não por acaso, vemos hoje a igreja se perdendo no turbilhão de ensinamentos errados e heréticos de “pastores” que “apascentam a si mesmos” (Judas 12), que não toleram críticas nem admitem ser questionados, atitudes que se baseiam – principalmente – na passividade a que os ouvintes foram induzidos ao longo das últimas décadas, reduzidos que foram a meros espectadores de um discurso previamente elaborado, que apenas reproduz à exaustão o mais recente modismo evangélico, geralmente seduzido pelo “deus” que se escreve com “d” de “dinheiro”.
Jesus tinha especial prazer em conversar com seus ouvintes. As perguntas e os pedidos que lhe foram feitos serviram para ensinar grandes verdades, como no caso do centurião romano (Mateus 8), da mulher samaritana (João 4) e do jovem rico (Lucas 18). Os diálogos que o Mestre travava com Seus interlocutores eram momentos propícios para que o evangelho fosse anunciado e compreendido. Mesmo na liturgia do Antigo Testamento, os salmos foram poeticamente compostos e eram responsivamente cantados, num símbolo de que o culto a Deus é – também – um diálogo em oração e adoração. Quando Tiago (1:22) nos recomenda que sejamos praticantes da Palavra e não somente ouvintes, ele não está separando radicalmente o ouvir do pregar e do praticar, isentando o pastor de qualquer responsabilidade de também envolver-se no que aqui chamamos de “diálogo” da adoração. A palavra grega (ποιητής - poiētēs ) traduzida ao português por “praticante”, “cumpridor”, também significa “poeta” (como vertida em Atos 17:28). O poeta saboreia, questiona, interpreta e se delicia com as palavras, mediante as quais dialoga com o mundo. Pregar, ouvir e praticar a Palavra de Deus formam um conjunto que está intimamente ligado à poesia espiritual que deve ser a nossa vida e a da nossa comunidade cristã. Precisamos de pastores, entretanto, que não vejam o púlpito como um pedestal do seu próprio ego a declamar versos perversos do seu desejo mórbido de poder, mas que se disponham a construir coletivamente esta obra prima poética do Logos de Deus, que é a Igreja.
A pregação expositiva é, de fato, bela e necessária, mas ela deve - ao menos - incentivar que seus ouvintes dialoguem com o pregador, no sentido de suscitar dúvidas que possam ser questionadas e ideias que sejam aperfeiçoadas, senão no momento do culto, em algum período reservado para isso dentro ou fora da igreja. O crente é um ser que pensa, embora geralmente seja tratado como repositório inanimado de mensagens não necessariamente inspiradas nem cristãs. O próprio jargão evangélico inibe esta interação, pois hoje os pregadores dizem que “entregam” uma mensagem, como se não houvesse possibilidade de, digamos, "deglutição" do que foi dito. Escondem-se atrás de uma autoproclamada “inspiração” para apregoar barbaridades supostamente autorizadas por um ser alegadamente divino, que, na verdade, se confunde com a pessoa – e as carências - de quem as anuncia. Não provocam nos ouvintes uma atitude de verdadeira entrega em adoração a Deus, mas de rendição incondicional ao pregador. Não por acaso, vemos hoje a igreja se perdendo no turbilhão de ensinamentos errados e heréticos de “pastores” que “apascentam a si mesmos” (Judas 12), que não toleram críticas nem admitem ser questionados, atitudes que se baseiam – principalmente – na passividade a que os ouvintes foram induzidos ao longo das últimas décadas, reduzidos que foram a meros espectadores de um discurso previamente elaborado, que apenas reproduz à exaustão o mais recente modismo evangélico, geralmente seduzido pelo “deus” que se escreve com “d” de “dinheiro”.
Jesus tinha especial prazer em conversar com seus ouvintes. As perguntas e os pedidos que lhe foram feitos serviram para ensinar grandes verdades, como no caso do centurião romano (Mateus 8), da mulher samaritana (João 4) e do jovem rico (Lucas 18). Os diálogos que o Mestre travava com Seus interlocutores eram momentos propícios para que o evangelho fosse anunciado e compreendido. Mesmo na liturgia do Antigo Testamento, os salmos foram poeticamente compostos e eram responsivamente cantados, num símbolo de que o culto a Deus é – também – um diálogo em oração e adoração. Quando Tiago (1:22) nos recomenda que sejamos praticantes da Palavra e não somente ouvintes, ele não está separando radicalmente o ouvir do pregar e do praticar, isentando o pastor de qualquer responsabilidade de também envolver-se no que aqui chamamos de “diálogo” da adoração. A palavra grega (ποιητής - poiētēs ) traduzida ao português por “praticante”, “cumpridor”, também significa “poeta” (como vertida em Atos 17:28). O poeta saboreia, questiona, interpreta e se delicia com as palavras, mediante as quais dialoga com o mundo. Pregar, ouvir e praticar a Palavra de Deus formam um conjunto que está intimamente ligado à poesia espiritual que deve ser a nossa vida e a da nossa comunidade cristã. Precisamos de pastores, entretanto, que não vejam o púlpito como um pedestal do seu próprio ego a declamar versos perversos do seu desejo mórbido de poder, mas que se disponham a construir coletivamente esta obra prima poética do Logos de Deus, que é a Igreja.
Bíblia, um livro de muitas metáforas... e, portanto, de muita poesia.
ResponderExcluirVerdades ditas de forma poética...