quinta-feira, 12 de dezembro de 2013

Vaticano influenciou acordo na Organização Mundial do Comércio


A notícia é anterior ao histórico acordo firmado pela OMC na última semana, foi publicada no dia 06/12/13 pelo Estadão, mas não deixa de ser uma amostra da influência econômica global que o papa Francisco imprimiu à diplomacia vaticana:

Vaticano ataca acordos comerciais propostos por EUA e Europa

Em discurso na conferência ministerial da OMC, Santa Sé apresenta pela primeira vez a visão do papa Francisco sobre o comércio global

GENEBRA - Que o papa Francisco já havia condenado o modelo capitalista não é mais novidade. Mas, agora, o Vaticano decidiu também sair ao ataque dos acordos comerciais regionais que ameaçam o sistema multilateral e que estão sendo propostos pelas grandes potências comerciais.

A OMC vive um momento crítico e o dia de hoje pode definir o futuro da entidade. Negociações que vivem um impasse há doze anos podem fracassar, o que abriria a porta para que governos como o dos EUA ou Europa simplesmente abandonem a entidade.

Ontem, em Bali durante a conferência ministerial da OMC, um discurso que poucos notaram foi justamente o da Santa Sé. Coube ao núncio apostólico Silvano M. Tomasi dar o recado do papa. E, uma vez mais, o pontífice mostrou coerência com seu pensamento econômico e atacou o caminho que as grandes potências tentam dar aos acordos comerciais.

“Enquanto uma minoria vê um crescimento exponencial de sua riqueza, a diferença que os separa dos demais é cada vez maior”, alertou. “Esse desequilíbrio é resultado de um ideologia que defende a autonomia absoluta do mercado. Consequentemente, há uma rejeição ao direitos dos estados de exercer qualquer forma de controle. Uma nova tirania portanto nasceu, invisível e virtual, que impõe suas próprias regras”, acusou.

“E um desenvolvimento ainda mais grave é que essas políticas estão por vezes acertadas em acordos comerciais na OMC ou em tratados bilaterais ou regionais de livre comércio”, alertou o núncio.

O Vaticano não hesitou em sair ao ataque contra projetos como o acordo de livre comércio entre EUA e Europa, ou o tratado que está se desenhando entre as economias do Pacífico.

“Atualmente, há uma clara tendência de ampliar esses acordos regionais para formar mega-acordo acordos de comércio, tais como a Parceria Transatlântica ou a Parceria Trans-Pacífica”, indicou.

“Certamente, a ampliação de acordos comerciais regionais é um passo na liberalização comercial. Mas precisamos ter em mente que esses acordos inevitavelmente ameaçam o desejo de se ter um acordo em uma base verdadeiramente multilateral”, declarou o religioso. “De fato, ao entrar em um acordo regional, um país reduz os incentivos de ampliar seus esforços no nível multilateral”.

O Vaticano acabou sendo mais um aliado de Roberto Azevedo, o diretor da OMC e que de forma desesperada tenta salvar as negociações em Bali. “Sabemos que apenas o sistema multilateral é claro e justo e que poderia dar garantias aos mais pobres de que não seriam penalizados por acordos regionais”, alertou. “Entre os perigos das concessões que países emergentes teriam de fazer nesses acordos estão o aumento dos monopólios sobre remédios que salvam vidas, direitos legais excessivos a investidores estrangeiros, limitar o espaço para políticas para que nações possam promover um desenvolvimento sustentável e inclusivo”, completou.



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