sexta-feira, 28 de fevereiro de 2014

Anchieta será canonizado sem comprovação de milagres

Conforme já havíamos anunciado aqui em dezembro de 2013, o padre José de Anchieta será finalmente canonizado pelo Vaticano, curiosamente sem seguir o rito de comprovação de milagres que teriam sido conseguidos mediante sua intercessão, que é exigido de outros candidatos ao altar.

A "canetada papal" que eleva Anchieta aos píncaros da hagiografia católica foi noticiada pelo Estadão:

Padre José de Anchieta será declarado santo por decreto do papa Francisco

Assinatura do documento ocorrerá antes da canonização dos papas João XXIII e João Paulo II

José Maria Mayrink

O padre José de Anchieta será declarado santo, por decreto do papa Francisco, no início do mês de abril, anunciou nesta quinta-feira, 27, o arcebispo de Aparecida, cardeal d. Raymundo Damasceno Assis, em entrevista ao repórter Silvonei José, na Rádio Vaticano. A notícia é surpreendente, porque não se esperava que a cerimônia de canonização fugisse às regras da Congregação para as Causas dos Santos, que vinha trabalhando para acelerar o processo de Anchieta.

Segundo d. Damasceno, a canonização por decreto, em vez de uma celebração solene na Praça de São Pedro, foi decisão pessoal do papa, que na mesma data, a ser ainda fixada, vai declarar santos dois missionários canadenses. A assinatura do decreto ocorrerá antes da canonização dos papas João XXIII e João Paulo II, marcada para o dia 27 de abril, que deverá atrair mais de dois milhões de pessoas.

"Vamos comemorar de uma maneira simples a canonização do Padre Anchieta a partir da assinatura do decreto, que corresponde a uma forma equivalente à proclamação solene de um santo", anunciou d. Damasceno. Em seguida, haverá outras comemorações, a começar por uma missa celebrada em conjunto com os canadenses em uma paróquia romana e por outra missa, a ser presidida por Francisco no Colégio Pio Brasileiro, em Roma. A data depende da agenda do papa.

Pio. Dirigido até agora pelos jesuítas, o Pio Brasileiro está comemorando 80 anos de existência e passará a ser administrado pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). Essa instituição abriga os padres brasileiros enviados a Roma para fazer mestrado e doutorado em Teologia. Seu novo diretor será, provavelmente, padre Lauro Versiani, reitor do Seminário São José, em Mariana (MG).

D. Damasceno, que é também presidente da CNBB, adiantou que haverá celebrações pela canonização de Anchieta durante a assembleia-geral do episcopado em Aparecida, na primeira quinzena de maio, e nas cidades em que ele atuou como missionário: São Paulo, Rio, Vitória e Salvador. O cardeal prevê que haja comemorações também nas Ilhas Canárias, onde José de Anchieta nasceu em 1534, e em Portugal, onde ele se tornou jesuíta e estudou. Morreu em 1597, no Espírito Santo.

Anchieta foi beatificado em 1980 pelo papa João Paulo II. A canonização estava dependendo da aprovação de um milagre, que Francisco dispensou. "O beato Anchieta, Apóstolo do Brasil, é venerado em todas as regiões do País e centenas de graças são atribuídas à sua intercessão", observou padre César Augusto dos Santos, vice-postulador da causa de canonização.



quinta-feira, 27 de fevereiro de 2014

Sobrevivente mais velha do holocausto morre aos 110 anos de idade


Tocando piano, Alice Herz-Sommer ainda viveu quase 70 anos mais desde o fim de Hitler em 1945. A notícia é da EBC:

Mais velha sobrevivente do holocausto morre aos 110 anos

Alice Herz-Sommer, a mais velha sobrevivente do holocausto, cuja história foi retratada em documentário, morreu em Londres aos 110 anos, informou nesse domingo (23) a família. Judia oriunda de Praga, ela passou dois anos, durante a 2ª Guerra Mundial, no campo de concentração de Terezin, na atual República Tcheca, onde tocava piano, distraindo os colegas de prisão.

Alice Herz-Sommer morreu tranquilamente acompanhada pela família na manhã de domingo, disse o neto Ariel Sommer.

A vida dela, que foi amiga do escritor existencialista Franz Kafka, deu origem ao filme The Lady In Number 6: Music Saved My Life.

O curta-metragem, de 38 minutos, no qual Alice conta a sua vida e mostra a importância da música e do riso para uma vida feliz, foi indicado nesse domingo para o Oscar de melhor documentário.

Cerca de 140 mil judeus foram deportados para o campo de Terezin e 33.430 morreram.



quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014

O exorcismo judaico de Matisyahu


O cantor judeu ortodoxo Matisyahu é figurinha carimbada aqui no blog, seja pelo seu talento musical, seja pelo simples fato de raspar a barba.

É hora de fazê-lo voltar às nossas páginas em razão do filme "Possessão" ("The Possession", 2012), supostamente baseado em uma história real, em que ele atua no papel de filho de um rabino ortodoxo que se encarrega de realizar o ritual de exorcismo judaico que liberta a garotinha do demônio que a possui.

O capeta em questão se esconde numa caixa antiga com inscrição em hebraico e é um bom filme para quem gosta do gênero.

Se é verdade que ser ator não é a praia dele, Matisyahu não chega a decepcionar e se sai bem, sobretudo nas cenas do exorcismo.

Acostumados que todos estamos, inclusive pelas referências culturais, a exorcismos praticados por católicos e evangélicos, não deixa de ser curioso conhecer a prática do ponto de vista judaico.

Entretanto, cá entre nós, preferimos Matisyahu como cantor, vamos combinar!

O que acontece com nosso rapper judeu no final do filme? Não, não vamos contar, mas você que - como nós - é fã dele não vai gostar.... (risos macabros).

Abaixo, o trailer e algumas cenas do filme:







terça-feira, 25 de fevereiro de 2014

Amizade de padre copta e xeque muçulmano resiste a 40 anos de intolerância religiosa no Egito

Numa região em permanente estado de guerra e num país marcado pelo ódio religioso, ainda há lugares onde cristãos e muçulmanos podem viver em paz e harmonia, segundo noticia o UOL:

No Egito deflagrado,
xeque e padre mantêm
amizade de 40 anos

Richard Furst

Às margens do Rio Nilo, no vilarejo de Qufada, município de Maghagha, no Alto Egito, vive uma dupla de amigos totalmente estranha para o país onde nasceram: Fattah Hamdi, xeque, mantêm há mais de 40 anos a amizade do padre Yoanas.

A semelhança da túnica, da barba longa e do semblante destes dois amigos escondem diferenças enormes.

De um lado, um salafista do Partido Nour, grupo islâmico ultraconservador que quer definir uma nova ordem no país de acordo com tradições do século 7. Do outro, está um sacerdote da Igreja Copta, uma das comunidades cristãs mais antigas do mundo.

No surto de violência no Egito, as propriedades cristãs têm sido alvos constantes de ataques de radicais islâmicos. Mesmo antes das manifestações pelo país, houve prisões de manifestantes lutando pela construção de novos templos.

Os cristãos compõem em torno de 10% dos quase 90 milhões de egípcios. Apesar de ser comum a amizade entre seguidores das duas religiões, as lideranças muçulmanas mantêm linha dura e proíbem a construção ou restauração de igrejas sem a aprovação de autoridades locais. Um relatório divulgado pelo governo egípcio aponta que existem duas mil igrejas no país, contra mais de 100 mil mesquitas.

"Manter a nossa amizade há mais de 40 anos é uma forma também de contribuir para a sociedade local. Ao lado disso, há fortes laços entre nossas famílias: superamos momentos pessoais juntos. Participamos de jantares do mês sagrado do Ramadã e dos almoços de Natal e Páscoa. Nossos filhos são amigos também, só não sabemos se vão seguir a vida como xeque e padre", destaca Yoana, enquanto espera Hamdi para uma reunião num campo de futebol, onde jovens muçulmanos e cristãos também têm o hábito de se encontrar para conversar.

É sexta-feira, dia de descanso nos países árabes, mas Yoanas tem agenda normal. O xeque está atrasado, porque ainda não terminou as orações semanais na mesquita.

Enquanto espera, o padre é surpreendido por uma muçulmana que pede ajuda para retirar parte de um brinquedo que feriu o nariz do filho. Yoanas chama o padre que realiza os serviços médicos na igreja: uma bolinha é retirada com uma pinça, e a mãe, que não tem contato físico com homens, balança a cabeça para agradecer o socorro.

"As relações entre muçulmanos e cristãos aqui na cidade são muito fortes. É amizade, não apenas cumprimentos pelas ruas. Se houver problemas, mesmo entre dois cristãos, viemos à igreja para ajudar a resolvê-los", diz o xeque ao se aproximar do templo e ver o atendimento médico realizado.

O xeque também é do Comitê de Reconciliação, local que trabalha de acordo com regulamentos islâmicos extremamente tradicionais.

As diferenças são colocadas de lado no dia a dia e eles parecem conversar sobre os mais diferentes temas. São a favor, por exemplo, da nova Constituição do Egito. O copta espera que essa possa ser a oportunidade de facilitar a construção de novas igrejas cristãs, algo praticamente impossível neste momento. A relação com as suas mulheres – o título religioso não os proíbe do casamento –, os filhos e os problemas da comunidade também são tratados.

"Fazendo caridade em nossa região, a gente encontrou uma forma de falar sobre religião e política sem alterar a voz. É preciso se dedicar ainda mais, nós sabemos, temos muito ainda a conversar sobre nossas doutrinas", acrescenta o padre.

A população local, formada por cerca de 220 famílias cristãs e mais de 30 mil muçulmanos, recorre constantemente às lideranças religiosas. Até em casos extremos, o xeque ou o padre são acionados pelos moradores antes mesmo do hospital ou da polícia. Qufada está distante do Cairo não só pelas quatro horas de carro, mas pelas galinhas e jumentos soltos nas ruas aonde o asfalto, o saneamento básico e a coleta de lixo ainda não chegaram.

"Todos os dias nós resolvemos problemas entre a população. Em muitos casos, uma luta ou acidente pessoal se transforma em conflito religioso, sem ter essa origem. Certa vez um cristão atropelou um muçulmano. Se a vítima tivesse morrido seria um grande problema porque as pessoas começariam a relacionar com a igreja. Nós não aceitamos qualquer opinião tendenciosa ou agressiva em favor de um grupo ou ideia", frisa o xeque.

Há diversos relatos de que líderes islâmicos incitaram atos contra cristãos, transmitindo mensagens contra coptas pelos alto-falantes de mesquitas e durante os protestos pela restituição do presidente deposto Mohamed Mursi.

Em Qufada não é diferente. Mas Hamdi diz que está pronto para subir a qualquer momento até a torre da igreja da Virgem Maria para proteger o templo do amigo Yoanas. Sobre os ataques e mortes em manifestações no Egito, o xeque abraça o padre e diz: "essas pessoas não entendem o islã, que quer dizer paz".



segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014

O funkeiro evangélico

Matéria da Folha de S. Paulo:

Do proibidão ao ostentação, evangélico é um dos principais compositores de funk do Rio

RAFAEL ANDERY

Thiago não consegue decidir se quer ser praga ou santo. Batizado Thiago Jorge Rosa dos Santos, o carioca da favela Vila Cruzeiro é conhecido como Praga.

O apelido vem da infância. Na escola, Praga matava aulas, "perturbava geral" e assinava suas pichações com a alcunha.

Hoje, aos 28 anos, Santos é um cara tranquilo. Casado desde 2009, frequentador assíduo da Assembleia de Deus e planejando cursar uma faculdade de direito, fala com voz modulada, evita palavrões e está quase sempre sério.

Poderia ser só mais um pai de família da zona norte do Rio se não fosse, também, o autor de versos como: "Onde eu chego, eu paro tudo / A mulherada entra em pane / Meu cordão é um absurdo / Meu perfume é da Armani". Ou ainda, em outra linha: "Nóis fecha nessa porra/ No claro e no escuro / Nóis rouba, nóis trafica / Nóis não gosta de andar duro".

Mas Praga não é bandido e nem ostenta muito. Na entrevista, usava camisa polo Lacoste, calça jeans e tênis Adidas, praticamente a mesma roupa do repórter. Praga é, isso sim, um compositor de funk, o único do estilo a se dedicar exclusivamente à composição, dispensando a participação em shows e gravações. "Sou tímido, tímido, tímido. Para ser MC, o cara tem que gostar de tumulto", diz. "Minha vocação é o lado chato, de ficar em casa, pensando, lendo, assistindo aos meus documentários, para, aí sim, fazer a minha crônica do dia a dia e transformar isso em música."

Considerado por muitos do meio como o melhor na arte da escrita de funks, Praga já compôs para nomes como Mr. Catra, navega com naturalidade pelos diferentes estilos do ritmo, do "proibidão" ao "ostentação", e tem três de suas músicas elencadas no livro "101 Funks Que Você Tem Que Ouvir Antes de Morrer" (de Julio Ludemir): "Visão de Cria", "Vida Bandida" e "Vida Bandida 2".

"Escrevi minha primeira música aos oito anos", conta. "Meu irmão era MC e foi pra ele que eu dei a minha primeira rabiscada." Seus primeiros sucessos foram interpretados pelo MC Smith. "Visão de Cria" e "Vida Bandida" são recheadas de referências ao tráfico de drogas e causaram polêmica no Rio. Smith, inclusive, chegou a ser preso por apologia ao crime ao lado de outros três funkeiros (todos amigos de Praga).

"Apologia ao crime não existe", se defende o compositor. "A gente faz uma crônica do dia a dia. Se não houvesse o crime, nós não falaríamos disso. Já viu funk que fala de ET? Esse crime de apologia fere a liberdade de expressão."

"Temos o dever de levar um funk com cunho político, que mostre essa situação, para fora da favela", diz. "Mas você já viu algum funk desses na TV? Nunca. Lá só querem saber de Naldo e Anitta, ninguém quer levar o cara da Vila Cruzeiro que discute segurança pública. Nem as leis de incentivo à cultura nos ajudam. Se o projeto tiver funk no nome, pode esquecer."

O futuro de Praga no funk, contudo, é incerto. Não pela questão financeira. Afinal, o carioca chega a cobrar R$ 5.000 por composição e detém os direitos autorais delas -apesar de ganhar uma merreca com isso. "Se dependesse do Ecad, meu Deus do céu. A fiscalização deles é muito deficiente e não é feita onde minhas músicas tocam", lamenta.

A incerteza vem de questões menos mundanas. Evangélico, Thiago ainda não se tornou "membro efetivo" de sua congregação devido à natureza de seu ganha pão. "É um paradoxo. Gosto de uma religião completamente contrária ao meu trabalho", diz. Praga ainda não se sente preparado para abdicar do funk, mudar seu comportamento e até o jeito de falar. "Acho que esse dia chegará, mas ainda não sei quando."

Um dia, o funk perderá Praga, o melhor compositor do estilo. E a Assembleia de Deus ganhará de vez mais um devoto, Thiago dos Santos.



domingo, 23 de fevereiro de 2014

A síndrome do zumbi


Não, zumbis como aqueles da série The Walking Dead não existem. Pelo menos por enquanto. Há pessoas vivas, entretanto, que - patologicamente - se veem como zumbis.

É o que explica o artigo abaixo, do io9, traduzido e adaptado por Natasha Romanzoti para o HypeScience:

Como tratar um zumbi psicologicamente

A síndrome de Cotard, delírio de Cotard ou síndrome do cadáver ambulante é uma condição que leva as pessoas a acreditar que estão do lado errado da série The Walking Dead. Ou seja, elas pensam que estão realmente mortas. E como você convence alguém de que ele ainda está vivo?

Em 1880, o médico Jules Cotard reportou o primeiro caso desta doença. Sua paciente, conhecida como “Madame X”, acreditava que certas partes do seu corpo haviam desaparecido e que ela não precisava comer. A mulher ainda dizia que sua alma tinha sido roubada pelo diabo, portanto, ela estava morta e não podia morrer. Claro que isso levou a sua real morte, de fome.

Ao longo do século que se seguiu, muitas pessoas foram diagnosticadas com síndrome de Cotard. Seus delírios cobriam vários ângulos de um tema similar: ou elas pensavam que partes de seu corpo estavam mortas, em decomposição, ou faltando, ou simplesmente acreditavam que elas, como pessoas já mortas, não podiam morrer.

Uma mulher filipina de 53 anos de idade foi internada em um hospital psiquiátrico gritando aos médicos que podia sentir o cheiro de sua carne apodrecendo e que deveria ser levada para o necrotério. Um homem no Irã insistiu que estava morto, que era um lobisomem, e que seus filhos haviam se transformado em ovelhas. Duas mulheres chinesas diferentes acreditavam que suas entranhas – coração, fígado ou estômago – haviam sido retiradas e as cavidades preenchidas com água.

Casos mais famosos e clássicos são raros. Um homem de 46 anos acreditava que o seu corpo tinha sido transformado em imaterial, e ele tinha virado um fantasma. Ele parou de comer, já que “não precisava”, e perdeu 14 quilos em dois meses. Acabou internado em um hospital para impedir sua morte por desnutrição. Outro homem foi internado depois de um acidente de moto que o deixou convencido de que ele estava morto. Uma viagem posterior para a África do Sul com sua mãe o convenceu de que ele tinha ido para o inferno (por causa do calor) e que o espírito de sua mãe estava lhe dando um passeio pelo purgatório.

Delírio de Cotard parece ser apenas um aspecto de uma doença mental maior. A maioria dos pacientes são esquizofrênicos, depressivos ou bipolares. Madame X teve a infelicidade de ter a síndrome quando a psiquiatria ainda estava em sua infância, mas hoje a medicina já tem uma visão melhor da condição.

Infelizmente, esta é uma área onde a terapia da conversa raramente tem efeito. Pessoas simplesmente não podem ser convencidas de que estão vivas. No entanto, uma vez que elas já pensam que estão mortas, raramente temem os riscos de tratamentos.

Antipsicóticos e antidepressivos podem ajudar bastante. Além disso, energia elétrica parece ser uma boa forma de trazer as pessoas de volta dos mortos. Uma mulher que acreditou ser um cadáver por sete anos admitiu estar viva novamente após a segunda rodada de eletroconvulsoterapia. Outro homem, que teve lesões em seu cérebro e que afirmava que seu estômago havia desaparecido, não sentiu nenhuma mudança depois de receber medicação, mas respondeu a eletroconvulsoterapia.

Tratamento de choque não é uma coisa brutal como a que vemos em filmes antigos. Os pacientes são anestesiados, recebem choques breves, e só depois são acordados de novo. Pacientes de Cotard muitas vezes se sentem melhor depois de apenas algumas sessões, e começam a socializar, cuidar de si mesmos e aceitar que estão vivos.



sábado, 22 de fevereiro de 2014

Solidão mata mais que obesidade


Artigo de Carol Castro para o Superinteressante:

Solidão mata mais que obesidade

Um pouco de solidão faz bem: deixa você até mais criativo. Mas vê se não abusa do tempo longe dos amigos e familiares. Ficar muito tempo na solidão é mais perigoso que a obesidade.

Tão perigoso que mata até duas vezes mais, segundo pesquisa do psicólogo John Cacioppo, da Universidade de Chicago. Ele acompanhou, ao longo de seis anos, o impacto da solidão na saúde de mais de 2 mil pessoas com mais de 50 anos. E percebeu que os mais solitários correm mais riscos de morrer do que quem se sente amado e querido.

É que a solidão eleva a pressão arterial a níveis perigosos: perto da zona de perigo de ataques cardíacos e derrames. Além disso, o isolamento pode enfraquecer seu sistema imunológico, deixar você depressivo, e piorar a qualidade do seu sono. Pois é, a ausência de amigos faz você perder até o sono.

Segundo Cacioppo, quando nos sentimos isolados ficamos mais atentos a qualquer ameaça e por isso acordamos com qualquer barulhinho.

Viu só que perigo?



sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014

Hannah Arendt comenta sobre papa João XXIII

Um artigo interessante publicado no IHU sobre a opinião que a filósofa judia de origem alemã Hannah Arendt tinha do papa João XXIII:

A verdadeira força de João XXIII. Artigo de Hannah Arendt

Em 1965, nas páginas da revista New York Review of Books, Hannah Arendt traça um retrato de João XXIII, sem temores reverenciais. Não são os dotes intelectuais do pontífice que atraem a sua atenção, mas sim a autenticidade da sua religiosidade e, ainda mais, as suas implicações profundamente humanas.

Publicamos aqui um trecho do livro Il papa cristiano. Umanità e fede in Giovanni XXIII, de Hannah Arendt. O texto foi publicado no jornal Il Sole 24 Ore, 14-02-2014. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

Eis o texto.

O Diário da alma, os diários espirituais de Angelo Giuseppe Roncalli, que assumiu o nome de João XXIII quando se tornou papa, é um livro estranhamente decepcionante e estranhamente fascinante. Escrito em grande parte em períodos de retiro, ele consiste em expressões de devoção e de autoexortações infinitamente repetitivas, "exames de consciência" e anotações de "progresso espiritual", apenas com raríssimas referências a acontecimentos reais, de modo que, por páginas e páginas, ele parece um livro da escolar elementar sobre como ser bom e evitar o mal.

No entanto, no seu modo estranho e incomum, ele consegue oferecer uma resposta clara a duas questões que estavam nas mentes de muitas pessoas, quando, entre o fim de maio e o início de junho de 1963, "Angelo Giuseppe Roncalli, que assumiu o nome de João XXIII", jazia no leito de morte no Vaticano.

Quem me chamou a atenção para tais perguntas de modo simples e inequívoco foi uma camareira romana que, um dia, me disse: "Senhora, esse papa era um verdadeiro cristão. Como foi possível? E como pôde acontecer que um verdadeiro cristão se sentasse no trono de São Pedro? Ele não teve que ser primeiro nomeado bispo, arcebispo e cardeal, antes de ser, finalmente, eleito papa? Ninguém se deu conta de quem ele realmente era?".

Bem, a resposta à última das suas três perguntas parece ser "não". Ele não estava entre os papáveis quando entrou no conclave; e os alfaiates vaticanos não tinham preparado nenhum hábito do seu tamanho. Ele foi eleito porque os cardeais não conseguiram entrar em acordo e estavam convencidos de que, como ele mesmo escreveu, "eu seria um papa de provisória transição", sem muitas consequências. "No entanto", continuava, "aqui estou eu, já às vésperas do quarto ano do meu pontificado, com um imenso programa de trabalho na minha frente para ser realizado perante os olhos do mundo inteiro, que olha e espera".

O que surpreende não é tanto o fato de ele não ser contado entre os papáveis, mas que alguém possa ter pensado que ele era uma figura sem consequências. No entanto, tudo isso é desconcertante apenas retrospectivamente. Na verdade, a Igreja pregava a imitatio Christi há quase 2 mil anos, e ninguém pode dizer quantos párocos e monges podem ter existido que, vivendo na obscuridade ao longo dos séculos, afirmaram como o jovem Roncalli: "Eis, portanto, o meu modelo: Jesus Cristo", sabendo perfeitamente bem, mesmo aos 18 anos, que ser "semelhante ao bom Jesus" significava ser "tratado como um louco": "Eles dizem e acreditam que eu sou um tolo. Talvez eu seja, mas o meu amor próprio não permitiria que eu pensasse assim. Esse é o lado engraçado de tudo isso".

Mas a Igreja é uma instituição e, especialmente a partir da Contrarreforma, esteve mais interessada em manter as crenças dogmáticas do que a simplicidade da fé. Ela não favoreceu a carreira eclesiástica de homens que tinham tomado ao pé da letra o convite: "Segue-me!". Não que eles temessem conscientemente os elementos claramente anarquistas presentes em um modelo de vida pura e autenticamente cristã; eles simplesmente consideravam que "sofrer e ser desprezado por Cristo e em Cristo" era a política equivocada.

E era justamente isso que Roncalli desejava ardente e entusiasticamente quando citava, em seguida, essas palavras de São João da Cruz. E o desejava oo ponto de "trazer mais viva a marca [...] da semelhança com Cristo crucificado", já desde a cerimônia da sua consagração episcopal, deplorando o fato de "ter sofrido pouco demais até agora" e esperando e desejando que "o Senhor me visite com tribulações particularmente aflitivas", "alguns grandes sofrimentos e aflições do corpo e o espírito".

Ele acolheu a sua morte dolorosa e prematura como confirmação da sua vocação: o "sacrifício" necessário para a grande obra que ele devia deixar incompleta. A relutância da Igreja em nomear aos cargos mais altos aqueles poucos cuja única ambição era imitar Jesus de Nazaré não é difícil de compreender.

Também pode ter havido uma época em que os membros da hierarquia eclesiásticas raciocinaram que o Grande Inquisidor dostoievskiano, temerosos de que, nas palavras de Lutero, "o destino mais duradouro da palavra de Deus é de desordenar o mundo com a sua mensagem, porque o sermão de Deus vem para mudar e renovar a terra inteira até conduzi-la a ela". Mas esses tempos já estão longe. Eles tinham esquecido que "ser gentil e humilde [...] não equivale a ser fraco e acomodado", como Roncalli anotou em uma ocasião.

E é precisamente isso que eles estavam destinados a descobrir: que a humildade diante de Deus e a submissão diante dos homens são duas coisas bem diferentes, e, por mais que fosse grande em certos ambientes eclesiásticos a hostilidade contra esse papa absolutamente atípico, é mérito da Igreja e da sua hierarquia que ela não se excedeu e que muitos alto dignitários, os príncipes da Igreja, acabaram sendo conquistados por Roncalli.



quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014

Papa quer viajar com passaporte argentino

A informação é do IHU:

“Quero viajar com passaporte argentino”, diz Papa Francisco

“Quero viajar por todo o mundo com passaporte argentino”. Foi o que disse há alguns dias o Papa Francisco ao embaixador do seu país de origem na Santa Sé, Juan Pablo Cafiero. Sua velha documentação estava a ponto de vencer e então pediu ajuda para renová-la. O próprio Papa pagou as taxas.

A reportagem é de Andrés Beltramo Álvarez e publicada no sítio Vatican Insider, 17-02-2014. A tradução é de André Langer.

Segundo o próprio representante diplomático informou ao Vatican Insider, na semana passada o líder católico comunicou-se com ele para lhe solicitar apoio para os trâmites. Então, uma equipe do consulado argentino em Roma deslocou-se com as pessoas necessárias para cumprir os requisitos não apenas do passaporte, mas também do documento de identidade.

Sobrenome: Bergoglio. Nome: Jorge Mario. É o que está escrito no documento de identidade cor celeste e branca emitida no dia 14 de fevereiro de 2014 e que terá validade até o mesmo dia do ano de 2029. Os papéis foram expedidos pelo Registro Nacional de Pessoas, secção do Ministério do Interior e Transportes da República da Argentina.

O mais curioso é que na foto dos documentos vê-se o Papa na típica pose séria das imagens de documentos, vestido de túnica e solidéu brancos. Como chefe de Estado do Vaticano o Pontífice tem a possibilidade de obter um passaporte diplomático que, por tradição, tem o número 001. Mas, Bergoglio não parece ter a intenção de usá-lo.

Os papéis chegarão ao Bispo de Roma nos próximos dias já que ele mesmo pediu não gozar de privilégio algum e, portanto, os trâmites serão realizados pelas vias administrativas comuns.

“O Papa realizou o mesmo trâmite que fazem todos os argentinos: uma fotografia digital, as digitais e sua assinatura, tudo em cerca de 15 minutos; e nos próximos dias estará recebendo os documentos na Casa Santa Marta no Vaticano, onde declarou residência”, disse o ministro do Interior e Transportes, Florencio Randazzo. “Este novo gesto do Papa para com o nosso país nos enche de orgulho”, completou.



quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014

O delicado equilíbrio político-religioso no Líbano


No seu blog no Estadão, Guga Chacra tenta explicar como funciona a complicada matemática político-religiosa que conseguiu, pelo menos temporariamente, acabar com a guerra civil no Líbano, que devastou o país de 1975 a 1990:

A mágica matemática libanesa para colocar inimigos mortais em um governo de união nacional

Como única nação do mundo sem maioria religiosa, tendo diferentes pluralidades (cristãos maronitas, muçulmanos xiitas e sunitas), os libaneses precisaram resolver suas diferenças com um acordo sectário para atingir uma balança de poder. Desta forma, o presidente é cristão maronita, o premiê, muçulmano sunita, e o presidente do Parlamento, muçulmano xiita. Drusos, cristãos ortodoxos, armênios, melquitas e outras minorias possuem seus cargos. O Parlamento é metade cristão, metade muçulmano (e druso), com suas subdivisões.

Para complicar, as facções políticas se dividem em duas, com nomes de datas. Uma, a 8 de Março, conta com xiitas e cristãos. A outra, 14 de Março, com sunitas e cristãos. Os primeiros são aliados do Irã e de Assad. Os seguintes, dos EUA, Arábia Saudita e da oposição síria. Eles divergem em praticamente tudo e têm um apoio quase idêntico da população libanesa. Você acha que democratas e republicanos nos EUA ou tucanos e petistas no Brasil divergem? Visite o Líbano e veja a que ponto chega o antagonismo.

Ainda assim, depois de 11 meses de governo interino, o premiê Tammam Salam conseguiu formar um governo de união nacional, levando em consideração todas as divisões religiosas e políticas, no esquema 8-8-8 – oito da 14 de Março, 8 da 8 de Março e 8 centristas (drusos ou ligados ao presidente Michel Suleiman e ao premiê). Antes que os desinformados venham dizer que o Hezbollah controla o governo libanês, vamos ver cada um dos ministros pela sua religião e seu grupo político.

Ministros Centristas

Primeiro Ministro, Tammam Salam, muçulmano sunita
Vice-premiê e ministro da Defesa, Samir Moqbel, – cristão grego-ortodoxo
Ministro da Saúde, Wael Abu Faour – druso
Ministro da Agricultura, Akram Shehayyeb – druso
Ministro do Meio-Ambiente, Mohammad Mashnouq – sunita
Ministro dos Deslocados, Alice Shabtini – cristã maronita
Ministro dos Assuntos Sociais, Rashid Derbas – muçulmano sunita
Ministro dos Esportes e da Juventude, Abdul Muttaleb Al-Hinawi – Muçulmano xiita

Ministros da 14 de Março (sunitas e cristãos)

Ministro do Interior, Nuhad Mashnouq – muçulmano sunita
Ministro das Telecomunicações, Boutros Harb – cristão maronita
Ministro do Trabalho, Sejaan Azzi – cristão maronita
Ministro do Turismo, Michel Pharaon – cristão melquita (grego-católico)
Ministro da Informação, Ramzi Joreige – cristão grego-ortodoxo
Ministro da Justiça, Ashraf Rifi – muçulmano sunita
Ministro da Economia, Alain Haim – católico romano
Ministro de Estado, Nabil De Freij – protestante

Ministros da 8 de Março (xiitas e cristãos)

Ministro da Energia, Artur Nazarian – cristão Armênio-Ortodoxo
Ministro da Cultura, Remon Areiji – cristão maronita
Ministro da Educação, Elias Abu Saab – cristão maronita
Ministro das Relações Exteriores, Gebran Bassil – cristão maronita
Ministro de Estado, Mohammed Fneish – muçulmano xiita
Ministro da Indústria, Hajj Hasan – muçulmano xiita
Ministro das Finanças, Ali Hassan Khalil – muçulmano xiita
Ministro dos Transportes, Ghazi Zeaiter – muçulmano xiita

Agora, a matemática

Número de ministros cristãos (independentemente da denominação) – 12
Número de ministros muçulmanos e drusos (independentemente da denominação) – 12
Número de ministros cristãos maronitas – 6
Número de ministros muçulmanos sunitas – 5
Número de ministros muçulmanos xiitas – 5
Número de ministros drusos – 2
Número de ministros cristãos grego-ortodoxos – 2
Número de ministros cristãos grego-católicos (melquitas) – 1
Número de ministros cristãos armênio-ortodoxos – 1
Número de ministros protestantes – 1
Número de ministros católico-romanos – 1
Número de ministros homens – 23
Número de ministras mulheres – 1
Número de ministros do Hezbollah – 2
Número de ministros pró-Assad – 8
Número de ministros anti-Assad – 8

Conclusão – O Ministério libanês favorece os cristãos em detrimento dos muçulmanos. Isso é aceito por todos os lados. O Hezbollah tem 1/12 do governo, sendo completamente equivocado dizer que controlam o gabinete. Um terço dos ministros é anti-Hezbollah. As mulheres lamentavelmente quase não são representadas no Ministério, apesar de o Líbano ser disparado o país árabe mais liberal



terça-feira, 18 de fevereiro de 2014

A mulher barbada da religião sikh

O sikhismo é uma religião originária da região do Punjab, na fronteira entre Índia e Paquistão, que, talvez por essa, digamos, "conflagração geopolítica", seja constantemente confundida com o hinduísmo ou o islamismo, conforme a visão de quem a observa.

Afinal, apesar da tênue paz intercalada com guerras obtida após a independência dos dois países do imperialismo britânico em 1947, com Mahatma Gandhi à frente, Índia e Paquistão continuam com questões fronteiriças pendentes, o que inclui o Punjab e - sobretudo - a Caxemira.

É nesse contexto religioso e territorial que surgiu o sikhismo, no século XV, consolidado que foi pelo guru Nanak (1469-1539).

Com elementos comuns a ambas as religiões, o sikhismo crê, por exemplo, num Deus único (como os muçulmanos) e em ciclos de reencarnações (como os hindus).

O termo "sikh" significa, em língua punjab, "discípulo forte e tenaz". Seu local de culto mais famoso é o Templo de Ouro de Amritsar ("Harimandir Sahib").



Feitas essas considerações iniciais, chama a atenção a notícia abaixo, publicada no Page Not Found, sobre uma característica curiosa da religião sikh:

Inglesa deixa barba crescer e diz se sentir mais sexy



Harnaam Kaur, de 23 anos, sofre da síndrome do ovário policístico. Por causa disso, pelos são constantes no seu rosto, braços e peito desde os 11 anos.

A condição fez Harnaam ser vítima de bullying na escola e receber até ameaça de morte na internet.

Agora, a mulher de Slough (Inglaterra), decidiu não depilar mais o rosto (fazia duas vezes por semana) já que a religião na qual foi recentemente batizada - sikh - proíbe que as mulheres retirem quaisquer pelos.

"Jamais retirarei os meus pelos porque Deus me fez assim, e estou feliz com a forma como estou. Agora eu me sinto mais feminina, mais sexy, e acho mesmo que aparento isso também", disse ela à Barcroft Media.

A decisão de se expor publicamente com pelos não agradou aos pais de Harnaam.

"Eles temem que eu não consiga arrumar casamento", comentou a inglesa, que trabalha como assistente de professora em escola primária.



segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014

Homem mata ex-mulher durante batismo de filho em Guarulhos (SP)

A triste e insólita notícia vem do Estadão:

Homem mata ex e seu companheiro e fere 3 em batizado em Guarulhos

Acusado, foragido, não havia sido convidado para a cerimônia de batismo do filho de seis anos

Marina Azaredo

Um homem e uma mulher morreram e três pessoas ficaram feridas no domingo, 16, após serem baleadas durante um batizado em uma igreja católica no bairro Pimentas, em Guarulhos. O autor dos disparos foi o ex-marido da mulher, que acompanhava a missa de batismo. Até as 19h de domingo, ele estava foragido.

O gráfico Pedro Félix dos Santos, de 45 anos, não havia sido convidado para a cerimônia em que seu filho de seis anos com a auxiliar de expedição Viviane Rosa dos Santos, de 34, seria batizado, mas foi até a igreja mesmo assim. Após o batismo do menino, ele levantou-se, caminhou em direção ao altar e disparou com um revólver calibre 38 contra a ex-mulher e seu novo companheiro, o motorista Rosildo Donizeti Pereira, com quem ela se relacionava há seis meses. Os dois foram atingidos na cabeça. Antes de sair da igreja, Pedro efetuou mais disparos e atingiu outras três pessoas, que ficaram feridas sem gravidade.

Rosildo chegou a ser levado para o Hospital Santa Marcelina, mas não resistiu aos ferimentos. Os outros três feridos foram atendidas pelo Serviço de Atendimendo Médico de Urgência (Samu) e encaminhadas ao Pronto Socorro dos Pimentas, em Guarulhos, mas não apresentavam risco de morte.

"Viviane e Pedro tiveram um relacionamento de dez anos que acabou em 2011, mas os dois últimos anos da relação já estavam conflagrados", afirmou o delegado Joáo Blase, do 4 Distrito Policial de Guarulhos, após ouvir as primeiras testemunhas do caso. "Certamente foi um crime premeditado."

Na mesma delegacia, já havia pelo menos três boletins de ocorrência envolvendo o casal, que teve dois filhos. Em 2005, Viviane fez uma queixa contra o ex-marido na delegacia por lesão corporal e ameaça. Em 2011, foi o gráfico quem a acusou de ameaça. Em 2012, Viviane relatou desobediência à Lei Maria da Penha, afirmando que o ex-marido descumpriu ordem de se manter afastado dela. No último boletim de ocorrência, Viviane relatava que Pedro estava bebendo e agindo com agressividade.

De acordo com a Polícia Civil, estão sendo feitas buscas, mas ainda não há pistas sobre o paradeiro de Pedro. "Enviamos diligências para diversos endereços, mas ainda não o encontramos", informou o delegado responsável pelo caso.

Na Igreja São Francisco de Assis, todas as atividades foram suspensas até segunda ordem. "De repente escutei um estrondo, em seguida mais três e apareceu uma fumaça. Havia 18 crianças sendo batizadas e 150 pessoas na missa. Dispensamos todos assim que percebemos o que havia acontecido", relatou o padre Daniel Reichter.

Em frente à igreja, o clima era de consternação na tarde de domingo.

"Quando escutei o primeiro disparo, nunca imaginei que pudesse ser um tiro. Mas aí começou uma correia, eu fui empurrado e o pessoal começou a se jogar no chão. Eu só vi um homem pulando os bancos da igreja e fugindo em um carro", disse o fotógrafo Geraldo de Almeida, que fotograva a missa.

A comerciante Cleide Regina Bessa estava na igreja para batizar a filha, mas o crime aconteceu antes de chegar a sua vez na ordem dos batismos. "A primeira coisa que pensei é que era um bomba, só depois percebi que eram tiros. Então todo mundo começou a correr para o altar e depois saímos pela lateral da igreja. Parecia filme de terror, essas coisas que acontecem nos Estados Unidos. Não vou mais batizar a minha filha aqui", afirmou.



domingo, 16 de fevereiro de 2014

Meditação contra depressão

Artigo da Forbes traduzido e adaptado por Natasha Romanzoti para o HypeScience:

Meditação é tão eficaz quanto remédios para tratar depressão?

Aposto que você já ouviu falar de pelo menos um ou dois benefícios da meditação, por exemplo, que ela melhora o sistema imunológico ou que aumenta a nossa capacidade de atenção.

Cada vez mais cientistas descobrem as vantagens dessa prática, principalmente para o cérebro. O tratamento da depressão pode ser a mais nova a ganhar respaldo científico.

Um novo estudo da Universidade Johns Hopkins (EUA), uma revisão de pesquisas sobre o assunto, concluiu que a meditação de atenção plena pode rivalizar com antidepressivos para aliviar os sintomas da depressão.

A revisão é notável porque os autores analisaram milhares de estudos anteriores sobre meditação, chegando a um pequeno número de ensaios clínicos randomizados (o padrão de ouro na ciência) para exame. Meditação de atenção plena pode não curar tudo, mas quando se trata de depressão, ansiedade e dor, a prática pode ser tão eficaz quanto medicação.

47 ensaios clínicos randomizados, que juntos englobaram mais de 3.500 participantes que ou praticaram meditação (atenção plena ou mantras) ou se engajaram em um outro tratamento, como exercício físico, foram analisados.

Alguns definiam a atenção plena como a prática de prestar atenção aos próprios processos internos (pensamentos e/ou sensações corporais) de maneira curiosa, mas sem julgamento. “Muitas pessoas têm a ideia de que meditação é sentar e não fazer nada. Isso não é verdade. A meditação é um treinamento ativo da mente para aumentar a conscientização, e diferentes programas abordam isso de formas diferentes”, afirma o principal autor do estudo, Madhav Goyal.

O tamanho do efeito da meditação sobre a depressão foi considerado moderado, de 0,3. O que torna esse resultado impressionante é que o tamanho médio do efeito da medicação antidepressiva, principal método de tratamento da doença, também é 0,3. Assim, no que diz respeito a tratar da depressão, doença com uma taxa de cura notoriamente baixa, a meditação pode ser uma escolha igual ou ainda melhor do que drogas, já que, ao contrário dos remédios, não possui efeitos colaterais.

Não houve evidência de um efeito da meditação sobre outras medidas, como atenção, humor positivo, uso de substâncias, hábitos alimentares, sono e peso. Mantras não pareciam ter o mesmo sucesso que a meditação de atenção plena, mas isso pode ser, em parte, porque os pesquisadores tinham muito poucos estudos sobre a modalidade para tirar conclusões reais.

Goval ainda alerta que a maioria dos estudos incluídos na revisão utilizaram períodos de treino muito curtos – geralmente oito semanas ou menos – e que é possível que os resultados sejam ainda melhores com períodos mais longos de meditação.

“Em comparação com outras habilidades, a quantidade de treinamento recebida pelos participantes nos estudos foi relativamente breve. No entanto, vimos um benefício pequeno, mas consistente para sintomas de ansiedade, depressão e dor. Então, podemos ver efeitos maiores com mais treinamento e prática”, diz.

O próximo passo do estudo, inclusive, deve se concentrar nesta questão.

Como não há nenhum grande mal conhecido da meditação, e a prática não vem com quaisquer efeitos secundários, uma boa opção é se engajar na atividade junto com outros tratamentos que o paciente já esteja recebendo.

“É importante mencionar que a psicoterapia ou terapia da conversa, particularmente a terapia cognitivo-comportamental, é conhecida por ser pelo menos tão eficaz quanto antidepressivos e ainda mais eficaz quando combinada com os remédios”, argumenta Goval.

Embora os mecanismos por trás do efeito da meditação sobre a depressão não sejam totalmente claros, os pesquisadores têm alguns palpites. A prática pode aumentar a regulação de atenção, a consciência corporal e a regulação emocional, bem como alterar a autoperspectiva das pessoas (por exemplo, descentramento), o que por sua vez pode desempenhar um papel na doença.

Em um nível puramente biológico, exames de ressonância magnética mostraram que a meditação está ligada a uma redução de atividade na amígdala, a área do cérebro que regula a resposta ao estresse, e também a uma redução da atividade na rede do cérebro que fica “acesa” quando nossa mente está vagando de pensamento em pensamento, situação que muitas vezes causa sentimentos de infelicidade e estresse.



sábado, 15 de fevereiro de 2014

Como viver sem dinheiro por 30 dias


Matéria interessante publicada na revista Sorria:

Minha vida sem grana

E se a gente vivesse sem dinheiro? Por um mês, a Bia tentou não pôr a mão no bolso. E, assim, vivendo na pindaíba, ela descobriu o real valor do que consome

Sou a Bia, tenho 27 anos e trabalho com os novos projetos da Editora MOL, onde a Sorria é feita. Gosto de pensar sobre como consumimos e gastamos nosso dinheiro, e, por isso, no início do ano, topei o desafio de passar um mês com apenas 100 objetos (e contei o que aconteceu na edição 18). Então, quando apareceu a oportunidade de viver com pouca ou nenhuma grana, logo me candidatei. E a experiência que vivi acabou me ensinando sobre muito mais do que o preço das coisas.

Para começo de conversa, viver sem dinheiro exige que a gente use outra medida de valor – como o escambo, a troca de serviços e objetos que é a forma básica de economia da humanidade. Então, saí me oferecendo para trocar favores. Logo descobri que a coisa mais cara que temos é o tempo. Sugeri ao meu pai que ele colocasse gasolina no nosso carro e eu, em troca, o lavaria. Ele não topou. Disse que preferia que eu levasse o carro ao mecânico, porque isso economizaria suas horas. Uma colega de trabalho também achou melhor fazer isso. Por um almoço, fiquei vários minutos resolvendo um problema na conta de celular dela no SAC da operadora. Terminei com um carro abastecido e comida fresquinha sem pôr a mão no bolso – mas consumi algumas horas do meu dia.

Fui também a uma feira de trocas, em São Paulo, levando coisas que não me interessavam mais: um porta-papel, um bauzinho, canecas e um vaso. Na base da negociação, dava para trocar roupas, objetos, móveis e até alimentos. Voltei para casa com um cd e um equipamento para fazer exercícios que estava a fim de comprar há um tempão.

Foi aí que comecei a pensar sobre o valor que atribuo ao dinheiro: como algo que não vale nada para alguém pode valer tanto para outra pessoa? Procurei Waldir José de Quadros, professor de economia da Universidade de Campinas (Unicamp), e foi ele quem me disse que, desde que surgiu, o dinheiro é uma forma de vaidade e diferenciação entre as pessoas. Na Antiguidade, os imperadores romanos cunhavam seu rosto em moedas e pagavam com elas o trabalho que consideravam nobre, como o de soldados ou artistas. O escambo parou de ser a forma de comércio só na Idade Moderna, quando as moedas chegaram para facilitar as compras. Ou seja, o dinheiro como conhecemos hoje é usado há menos de 500 anos. E, mesmo assim, damos um valor imenso a ele.

Sem um tostão furado

Com isso em mente, parti para os próximos desafios – que foram os mais difíceis. Para não usar dinheiro, vi que teria que fazer as coisas por conta própria. Só que nunca tive o costume do “faça você mesmo”. Em casa, se o encanamento entupia, chamava o encanador; se a roupa rasgava, ia à costureira. Talvez por isso meu único pensamento ao querer fazer essas coisas foi: vou estragar tudo!

Apesar do medo de destruir o quarto, comecei por pendurar quadros na parede. Para me revelar os segredos dos pregos e parafusos, convoquei meu namorado, que é artista plástico e entende disso. Aprendi o básico: medi as paredes, usei um nivelador, martelei alguns pregos e fui apresentada à furadeira. Em menos de uma hora, tudo pronto. Animada com minha nova habilidade, resolvi passar para os serviços de beleza. Soube que há top models que cortam as próprias madeixas e achei que também seria capaz. Peguei a tesoura, aparei a franja e... ficou ótimo! Duro foi cortar a parte de trás do cabelo. As mechas se confundiram, e resolvi parar antes de acontecer o pior. Mas deixei a tesoura no banheiro e, todos os dias, acerto uma mechinha. Estou ficando craque.

Minha maior dificuldade foi presentear meu namorado sem gastar dinheiro. Queria fazer algum artesanato, algo de que gosto muito – mas quando é feito pelas mãos dos outros. Depois de muito pensar, resolvi reaproveitar uma galocha velha para transformá-la num vaso com um cacto. Plantar era algo que eu sabia fazer. Já o acabamento... Acabei apelando para meu namorado – pedi a ele que fizesse os detalhes finais. De qualquer forma, foi divertido, e ele ganhou um bom vaso que não custou um centavo.

Estou lisa!

O próximo passo foi me divertir de graça. E os museus da cidade de São Paulo foram uma revelação. Por puro preconceito, não acreditava que existissem bons espaços culturais no meu país. Encantei-me com a Pinacoteca e adorei o acervo e a exposição em cartaz. Vi tudo sem filas nem muita gente ao meu redor. Entusiasmada, quis conhecer um Centro Cultural da Juventude, em um bairro da periferia. Vi um filme ótimo, mas a projeção foi feita só para mim e para mais uma pessoa que apareceu por lá.

Aí fiquei intrigada: por que espaços tão bons e gratuitos estão quase sempre vazios? Em uma conversa com Cláudio Salvadori, professor de economia da Unicamp, entendi que a falta de público nesses locais é por causa da baixa valorização da cultura por aqui. É como se, mesmo de graça, a entrada fosse cara, já que a arte é considerada supérflua.

Outro lugar que descobri foram os Clubes da Cidade. São 41 unidades, com piscinas, quadras, ginásios, campos e pistas de corrida. E uma delas é ao lado da minha casa. O problema foi que perdi dias tentando fazer a carteirinha do clube. Cada pessoa me dava uma informação, e, quando finalmente consegui levar os documentos necessários, a máquina de impressão estava quebrada. Algo parecido aconteceu quando fui procurar médicos no serviço público de saúde. Queria marcar uma consulta, e a atendente de um hospital público me disse que era só ir até lá. Fui, mas depois de andar por vários guichês, um senhor me indicou um posto de saúde – no hospital só atendem emergências. Perdi uma tarde com isso. Na manhã seguinte, enfrentei a fila de pacientes no posto, que se estendia pela calçada. Quando fui atendida, soube que só havia horário livre para dali a dois meses.

Nesses dois lugares, a grande questão para mim, além da perda de tempo, foi a sensação de que eu estava roubando o lugar de alguém que precisa do serviço e não pode pagar. Gasto todo mês com um convênio médico e tenho quadra de esportes no prédio. Foi aí que lembrei que, como os museus tinham me ensinado, os serviços públicos podem ser muito bons. Mas tem de ultrapassar a burocracia. E, talvez, essa dificuldade exista para tornar difícil o acesso. Por isso, só quem não tem alternativa recorre a eles. E quem pode prefere pagar.


A preço de banana

Então, chegou a hora de comer sem gastar. Resolvi ir atrás dos ingredientes na feira para fazer, pela primeira vez na vida, um jantar. Cheguei na hora da xepa, quando os preços são menores e dá para pechinchar. Vai que tem algo de graça? E foi por pouco. Adoro negociar e ganhei descontos de mais de 50%. Com 7 reais comprei tomate, manjericão, cebola, rúcula, limão e maçã. Fiz comida para duas pessoas durante dois dias e descobri que sou capaz de cozinhar.

Mas ainda quis insistir na ideia de comer sem pagar. Fiquei sabendo da inauguração de uma loja e fui lá para almoçar o que eles oferecessem. Só que o cardápio era amendoim e balas. No fim, a comida baratinha da feira valeu mais a pena. Mesmo assim, achei boa essa ideia de aproveitar o que nos dão de graça e resolvi passar em uma loja de cosméticos, para me maquiar com os produtos do mostruário. A vendedora não ficou muito satisfeita quando eu disse que não ia levar nada, depois de já ter passado sombras, lápis de olho, rímel, blush e batom. Mas gostei muito dos produtos, e o make ficou lindo!

Enquanto tentava não usar a minha carteira, pensei muito sobre o que me leva a gastar em coisas desnecessárias. Nos últimos dias, uma colega anunciou que estava vendendo um celular, e eu, na hora, senti que precisava dele. Levei-o para casa, toda contente. Só que, no dia seguinte, percebi que o aparelho era metade do preço da bicicleta que eu quero comprar. Foi aí que caiu a ficha e vi que costumo pôr a minha felicidade em produtos. E o que realmente importa e tem valor não é isso. Entendi que preciso pensar melhor na utilidade das coisas, para ver se preciso mesmo delas – e esperar antes de sair gastando. Que o dinheiro é indispensável, não tinha dúvidas. Mas descobri que minhas moedinhas podem ser mais bem aproveitadas se eu usá-las conscientemente.

Texto: Karina Sérgio Gomes // Ilustração: Davi Augusto // Foto: Daniela Toviansky // Assistente de fotografia: Raphael Jacomini // Beleza: Élcio "Maizena" Aragão/Agência First // Produção de moda: Ana Gabriela Nascimento // Fotodesign: Felipe Gressler



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