Quando o Vaticano se apresenta no cenário internacional como ator político (o que ocorre desde priscas eras), está sujeito ao intrincado jogo da diplomacia e dos interesses que nada têm a ver com religião.
Por mais que o papa Francisco venha se esforçando em, digamos, "limpar a área", as coisas andam feias entre o Vaticano e a ONU, conforme já havíamos comentado aqui em julho de 2013.
Culpa, muito provavelmente, do gigantesco passivo acumulado de casos de pedofilia acobertados, sem resolução ou condenação, segundo noticia a BBC Brasil:
ONU acusa Vaticano de proteger padres pedófilos
Um relatório da ONU não economizou na linguagem forte ao acusar o Vaticano nesta quarta-feira de "sistematicamente" adotar políticas que permitiram o abuso sexual de menores por membros do clero, incluindo medidas para "proteger" os religiosos das consequências de seus crimes.
O Comitê da ONU sobre Direitos da Criança expressou "consternação" com a recusa da Santa Sé em reconhecer a extensão dos crimes cometidos, e pediu que o Estado católico abra seus arquivos para revelar os crimes.
A chefe do órgão, Kirsten Sandberg, disse que o Vaticano continua violando a Convenção da ONU para os direitos das crianças "porque não fez o que precisa ser feito".
"A Santa Sé adotou políticas e práticas que levaram a abusos contínuos e à impunidade dos agressores. A Santa Sé repetidamente colocou a reputação da Igreja e a proteção dos agressores acima dos interesses das crianças", afirmou Sandberg.
"Em suas conclusões, o comitê sobre esse tema destacou a prática de mobilidade dos agressores. Estes eram mudados de transferidos de paróquias para paróquias quando as coisas eram reveladas, o que ainda põe as crianças em muitos países em alto risco de abuso sexual."
Para o comitê da ONU, a Igreja deve "remover imediatamente" todos os padres suspeitos de abusos ou que comprovadamente praticaram abusos.
Medidas
O Vaticano disse à BBC que emitirá um comunicado escrito em resposta ao relatório da ONU.
A sede do governo papal estabeleceu uma comissão para combater o abuso de crianças dentro da Igreja.
Barbara Blaine, porta-voz da associação de vítimas Snap, disse à BBC que não vê "nenhuma ação sendo tomada pelo papa Francisco ou sua administração" para proteger as crianças que ainda correm o risco de serem exploradas por religiosos.
Em dezembro, a Santa Sé rejeitou um pedido da ONU por informações a respeito dos abusos, alegando que só transfere esse tipo de informação a outros países no contexto de investigações judiciais.
"Temos recomendações bem concretas que (o Vaticano) deveria seguir, entre elas, de proteção e compensação das vítimas. Além de cooperar com as autoridades policiais em outros países", afirmou Sandberg.
"Quando às vítimas, elas precisam de medidas de reintegração, proteção; precisam de compensação monetária e na forma de medidas que possam ajudá-las hoje", disse.
O documento também criticou a Igreja Católica por suas posições quanto à homossexualidade, a contracepção e o aborto.