quarta-feira, 13 de agosto de 2014

Futebol e triunfalismo gospel: uma combinação destinada ao fracasso?

O título deste artigo é uma pergunta porque ele não se pretende conclusivo, mas busca fomentar a discussão em torno de um fenômeno muito comum no campo desportivo atual: a união entre esporte e religião, mais especificamente entre futebol e evangélicos.

Ainda é cedo - acredito - para avaliar, com possíveis isenção e distanciamento, o desastre que foi a participação da seleção brasileira na última Copa do Mundo, realizada em solo pátrio.

A ensacolada (gíria basqueteira para "goleada") de 7x1 ainda dói demais...

Entretanto, a participação do técnico Emerson Leão no programa "Bola da Vez" do canal a cabo ESPN Brasil, algumas semanas atrás, me animou a escrever essas mal traçadas linhas, inspirado que fui por uma determinada fala do treinador em questão.

Lá pelas tantas da entrevista, Leão se queixa do papel que cabe ao técnico nos times hoje em dia, que seria - segundo ele - sempre o último a ter a oportunidade de influenciar o jogador.

Não me lembro da ordem exata, mas, segundo o treinador, o jogador sempre estaria disposto a ouvir - em primeiro lugar - seu empresário e sua família, depois o pastor, e somente a partir daí o presidente do clube e - talvez - o técnico do seu time.

A curiosa inclusão de um "pastor" entre as pessoas que o jogador de futebol consagrado mais ouve, ainda que não seja uma novidade propriamente dita, me levou a ver o desempenho da seleção brasileira na Copa 2014 com outros olhos.

Se a máxima boleira "em time que está ganhando não se mexe" é verdadeira, o mesmo se pode dizer do discurso triunfalista de certos jogadores evangélicos quando o seu time está na crista da onda.

É um tal de "Deus me abençoou" pra cá, "Deus me honrou" pra lá que fica difícil encontrar algo de concreto que realmente tenha beneficiado o jogador.

Parece que esta foi a grande influência dos jogadores evangélicos na Copa. Não vou nomeá-los porque aqui não se trata de uma crítica pessoal, mas da análise de um comportamento que merece ser melhor pensado por eles próprios.

Enquanto o time estava ganhando, ainda que a duras penas, tudo estava maravilhoso, pastor aparecia em vídeo do youtube ao lado do jogador, falando sobre sua denominação (basta procurar que você acha!), as mãozinhas eram levantadas para o céu enquanto "glórias a Deus" eram entoadas.

A partir do momento em que a Alemanha desceu a bordoada de 7x1 no Brasil, não apareceu ninguém para "glorificar a Deus" ou tentar explicar por que é que uma seleção - até então tão abençoada - sucumbiu de forma tão vexatória.

O choro compulsivo dos jogadores - durante a execução do hino nos jogos anteriores e a cobrança de pênaltis contra o Chile - se parece muito mais com a reação emotiva e sentimentaloide de alguns jovens dessa geração com o show ou a presença de seus ídolos gospel. Algo assim como se estivessem ouvindo a mais chorosa das cantoras gospel do momento.

O problema surge quando o desempenho profissional é cobrado, e isto diante da arena televisiva de bilhões de pessoas.

Não se trata mais de um recinto fechado com - talvez - algumas centenas de pessoas, em que os bordões gospel são batidos e explorados à exaustão, mas de outro tipo de batalha onde a razão deve(ria) vencer a emoção.

E foi aí que a gospelfutebolândia degringolou. Não soube responder às exigências do momento com a responsabilidade adequada que lhe era devida.

A Copa se lhes esvaiu pelas lágrimas, o tempo - implacável como o ataque alemão - não voltará mais.

Resta, portanto, a especulação: ¿ os jogadores que se dizem "evangélicos" estão ligados muito mais a uma emoção passageira (às vezes devastadora) de um discurso triunfalista do que ao culto racional pregado por Paulo em Romanos 12:1 ?

O que você acha?



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