segunda-feira, 4 de agosto de 2014

Menino-passarinho volta pra casa


Já fez o seu voo de volta pra casa o menino-passarinho de Higienópolis, a quem nos referimos ontem aqui no blog.

O desfecho da inusitada e emocionante história é contado por Vivian Codogno no Estadão:

Menino-passarinho é resgatado pela mãe em Higienópolis

SÃO PAULO - O menino-passarinho voou de volta para seu ninho em Cachoeiras de Macacu, na região serrana do Rio de Janeiro, no último domingo. Há oito dias ele vivia entre a copa de uma árvore e a calçada do número 105 da Rua Veiga Filho, no Higienópolis. Desde que chegou, Pedro (nome fictício) contava aos vizinhos que veio da cidade próxima a Nova Friburgo. Uma das moradoras da rua, a fonoaudióloga Maria Rosália Martins Silva, é também dona de uma propriedade na cidade fluminense, e fez uma série de contatos e, enfim, descobriu que lá havia uma criança desaparecida.

“Conseguimos localizar a mãe de Pedro, que havia movimentado uma campanha para encontrá-lo”, relata Maria Rosália. Durante dois dias, elas trocaram mensagens via redes sociais e telefone e, ao receber uma foto do filho, Dulciléa Klein teve uma crise hipertensiva e precisou ser internada. Apenas na madrugada de domingo recebeu alta e pode se deslocar até São Paulo para rever o filho.

Neste momento da história, começa uma nova epopeia. Sem dinheiro para custear a viagem de 536 quilômetros, Dulciléa convenceu o motorista do Conselho Tutelar de Nova Friburgo a fazer o transporte com o carro do órgão. Arrecadou o dinheiro que pôde com amigos e partiu para a jornada de cerca de 7 horas até São Paulo, acompanhada do atual marido e de um profissional do Conselho Tutelar. Com receio da reação de Pedro, tudo foi planejado sem que ele soubesse.

Quando chegou à Veiga Filho na tarde de domingo, Dulciléa encontrou uma vigília com cerca de 20 pessoas que desde a noite anterior protegiam Pedro de eventuais violências que pudesse sofrer. Seu filho estava no shopping do bairro, onde pode entrar acompanhado de Maria Rosália, destoando dos frequentadores locais, com sua bermuda surrada, seu chinelo de dedo, e seu moletom da universidade Anhembi-Morumbi doado por algum transeunte. Desde que uma matéria contando sua história foi publicada pelo Estado, Pedro ganhou dezenas de simpatizantes, que foram até seu ninho provisório e o presentearam com roupas, doces e dinheiro. Conseguiu arrecadar o suficiente para comprar um boneco do personagem Woody, do filme Toy Story, seu preferido.

Ao sair do shopping com o brinquedo nas mãos, Pedro avista a mãe, acaricia seus cabelos, a abraça e logo diz: “vamo embora, mãe?”. Dulciléa conta que não abandonou o filho como ele havia contado. De acordo com ela, o garoto faz tratamento psiquiátrico, o que o deixa inquieto. “No dia 6 de julho, ele estava assistindo televisão com um primo, quando o avisou que voltava em um minuto. E desapareceu. Não houve briga ou conflito”, se emociona.

Na mochila, a mãe carregava fotos, uma mensagem que imprimiu em cartazes para procurá-lo, o teste do pezinho do garoto, e laudos psiquiátricos atestando que Pedro toma remédios controlados. Médicos do Conselho Tutelar não conseguem identificar a sua doença e quando fica agressivo, o garoto se torna um problema e é encaminhado para atendimento em órgãos de assistência a “crianças especiais”. Por isso, desenvolveu um receio de kombis oficiais, como a do próprio Conselho Tutelar.

Na despedida de seus novos amigos, Pedro chora. Procura por dona Dulce, a senhora que elegeu como sua mãe adotiva. Abraça forte a psicóloga Luciana Sodré Cardoso, responsável pela segurança do menino durante sua estadia na árvore. A chef de cozinha Gabriela Nunes, que fez parte da vigília, sorri e se emociona: “Levo uma lição gigante para a vida”. Com lágrimas nos olhos, o jornalista Eduardo Lemos garante que foi “impossível não se conectar com essa história. Quando entendi o Pedro, ficou muito fácil protege-lo”. Sem o menor esforço para conter as lágrimas, o produtor cultural Nick Ayer brinca: “Agora já podemos montar o bloco ‘Unidos da Veiga Filho’”.

Pedro entra no banco de trás do carro. A sua sacola, antes apenas com um par de calças jeans, uma blusa de frio, um edredon e a “Enciclopédia prática da mágica e do ilusionismo”, volta para Cachoeiras de Macacu muito maior. Acena com o boneco Woody pela janela. Quando o carro começa a andar, sua mãe grita: “Que Deus abençoe a todos vocês!”.



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