domingo, 28 de fevereiro de 2016

A melhor sequência inicial da história do cinema


Como o dia é de entrega do Oscar, o mais famoso prêmio da indústria do cinema, decidi escrever sobre aquela que eu considero, na minha modesta opinião e com uma certa (muita, talvez) ingenuidade, a abertura mais espetacular da história das telonas.

Os cinéfilos mais autorais talvez sugiram "O Sacrifício" de Andrei Tarkovski (1986), os mais práticos talvez prefiram "O Resgate do Soldado Ryan" (1998), os mais clássicos devem recorrer a "Crepúsculo dos Deuses" (1950), entre tantos outros que merecem igual crédito.

Trata-se de um desenho animado produzido pela Disney em 1994, "O Rei Leão" ("The Lion King"), que reviveu o gênero até então esquecido e menosprezado em Hollywood e o elevou a um novo patamar com múltiplas produções que fizeram com que - a partir de 2002 - a Academia criasse um prêmio específico para a categoria, na qual o filme brasileiro "O Menino e o Mundo", do diretor paulistano Alê Abreu, concorre esta noite.

Em "O Rei Leão", tudo é feito à perfeição. Do roteiro hamletiano bem amarrado à trilha sonora espetacular (orquestrada) de Hans Zimmer, com músicas de Elton John e letras de Tim Rice. 

Além do Oscar para Hans Zimmer, três canções do filme concorreram ao Oscar de melhor música: "Circle of Life", "Hakuna Matata" e "Can You Feel The Love Tonight", com o prêmio indo para a última.

Tudo é tão bem ajustado em "O Rei Leão" que as vozes originais em inglês foram dubladas por atores consagrados como James Earl Jones (a voz original do Darth Vader em "Star Wars", que aqui dá vida a Mufasa), Rowan Atkinson (o Mr. Bean interpretando Zazu), Matthew Broderick como o jovem Simba, Nathan Lane como Timão, Whoopi Goldberg como a hiena Shenzi, sem contar Jeremy Irons como o antagonista Scar, a quem cabe também interpretar lindas canções como "Be Prepared!".

A abertura ficou tão sensacional que, caso único na história do cinema, ela própria se tornou o trailer promocional. Antes da estreia do filme, as pessoas viam esta exata abertura anunciando a data em que poderiam vê-lo na íntegra, o que gerou uma comoção como nunca se havia visto em relação a um desenho animado nos cinemas.

Na sequência inicial, embalada pela canção "Circle of Life", tudo se encaixa perfeitamente. O sol nasce na África e sua exuberante fauna é chamada para festejar o nascimento de Simba, o herdeiro do rei-leão então no Trono, Mufasa).

Das cataratas de Vitória ao monte Kilimanjaro, passando pelas savanas do Serengeti, todos os animais africanos, dos menores aos maiores, terrestres e alados, se reúnem numa caravana em direção à Pedra do Reino, para conhecer o rebento.

Zebras, gnus, guepardos, flamingos, girafas, participam em perfeita harmonia de uma procissão em que os gentis elefantes dão carona aos pássaros cansados nos seus marfins.

Há uma espécie de trégua apocalíptica para que todos os animais, sem exceção, possam se reunir para celebrar a promessa de continuidade do reino que os une.

As referências religiosas são óbvias, e de clara inspiração cristã. Búfalos e antílopes abrem passagem para o sacerdote mandril (a quem Simba depois chama ironicamente de "babuíno"), Rafiki, que sobe à Pedra do Reino e, após cumprimentar os pais, "batiza" o príncipe herdeiro.

Em seguida, Rafiki leva o jovem leãozinho à frente para exibi-lo aos fiéis súditos que o aguardam. Diante de Simba, então, os animais selvagens irrompem em êxtase diante do futuro rei e ordenadamente se ajoelham mostrando sua submissão nesse estranho mundo perfeito em que um raio de luz solar vem chancelar a cena com o selo divino.

Eis a sequência:


O filme segue nessa linha de eterno retorno e redenção, celebrando os símbolos do "ciclo da vida" em que novas gerações e estações vão se sobrepondo às antigas, mas o mundo insiste em manter uma harmonia sem fim.

Tudo se vive, tudo se sofre, tudo se alegra, tudo se renova em "O Rei Leão", mais ou menos como é a vida de cada um de nós.

Isto fica claro na sequência final de "O Rei Leão", quando Simba termina por assumir de fato o trono que era de seu pai, abençoado por Rafiki que lhe diz "It is time!" ("Chegou a hora!") e Mufasa que - redivivo - dos céus lhe dirige a voz com a mensagem "Remember!" ("Lembre-se").

Lavado pela chuva que leva embora a amargura, a dor, o remorso, o sofrimento e as cinzas do passado, a fauna africana vê Simba e sua companheira Nala apresentarem o novo herdeiro a um mundo que clama continuamente por renovo, fé e esperança.

Delicie-se também, portanto, com mais esta belíssima cena de "O Rei Leão":




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