sábado, 19 de março de 2016

Bento XVI segue firme e manifesta apoio discreto a Francisco

A matéria é do IHU:

O apoio "surpresa" do Papa Emérito à linha indicada por Francisco


Chega às livrarias um texto de Bento XVI que fala de Francisco. Chega sem alarde, mas é um inédito absoluto: nunca o Papa Emérito havia falado do sucessor entrando no mérito da sua pregação, mas desta vez o faz. E o faz em apoio à linha de Francisco, elogiando o seu empenho sobre o tema da "misericórdia". 

A reportagem é de Luigi Accattoli, publicada no jornal Corriere della Sera, 16-04-2016. A tradução é de Moisés Sbardelotto.


As palavras sobre o sucessor são poucas, quatro linhas, mas estão em um contexto importante, que trata da centralidade do tema da misericórdia na época atual da história cristã e constituem um enquadramento positivo daquilo que o papa argentino vem propondo nessa frente e que nem sempre encontra o agrado dos adeptos aos trabalhos.

"O Papa Francisco – afirma Bento XVI no texto que aparece agora – encontra-se totalmente de acordo com essa linha (que põe a misericórdia no centro da mensagem cristã). A sua prática pastoral se expressa justamente no fato de que ele nos fala continuamente da misericórdia de Deus."

Atas em livro

Essas palavras encontram-se em um livro da editora San Paolo que publica as atas de um congresso teológico que foi realizada em outubro passado, em Roma, na casa dos jesuítas da Via degli Astalli. Naquele congresso, foi lido por Dom Georg Gänswein o texto de uma entrevista com Ratzinger sobre o tema da "justificação pela fé", que é a afirmação central da Reforma luterana: no dia 31 de outubro, o Papa Bergoglio irá para Lund, na Suécia, para celebrar com os luteranos os 500 anos da Reforma.

O livro com o texto de Bento XVI é editado pelo jesuíta Daniel Libanori e é intitulado Per mezzo della fede. Dottrina della giustificazione ed esperienza di Dio nella predicazione della Chiesa [Por meio da fé. Doutrina da justificação e experiência de Deus na pregação da Igreja] (San Paolo, 199 páginas).

O entrevistador anônimo

O entrevistador anônimo insta Ratzinger a desenvolver uma comparação entre o sentimento religioso da humanidade contemporânea a Lutero, marcado pela ideia do pecado e pela necessidade da "justificação", e o nosso atual.

Ratzinger, desenvolvendo afirmações já propostas pelo cardeal, reconhece que hoje não sentimos mais aquela necessidade de escapar da "cólera divina" movida pelo nosso pecado, mas ainda sentimos a "necessidade da graça e do perdão".

"Para mim – diz o Papa Emérito – é um sinal dos tempos o fato de que a ideia da misericórdia de Deus se torna cada vez mais central e dominante."

Como ilustração dessa progressiva centralidade, Ratzinger cita a polonesa Faustina Kowalska (1905-1938), cujas "visões" (ela era uma mística e deixou um diário) refletem "o desejo da bondade divina, que é próprio do homem de hoje"; e cita o papa polonês, que canonizou compatriota e publicou uma encíclica sobre o tema: "Deus rico em misericórdia" (1980).

Ratzinger cita Francisco

É nesse ponto que Ratzinger nomeia Francisco, afirmando que ele se encontra "de acordo com essa linha". O bom Bento XVI, mestre de discrição, não diz nada sobre si, mas seria fácil acrescentar que, ao tema da misericórdia, deve ser atribuída a sua primeira encíclica, intitulada "Deus é amor" (2006) e que é sua, tomada de um discurso do dia 30 de março de 2008, a afirmação de que "o nome de Deus é misericórdia", posta por Francisco como título do livro-entrevista com Andrea Tornielli (Ed. Piemme, 2016).

"A misericórdia de Deus"

Conclusão de Ratzinger na entrevista: "Os homens de hoje sabem que precisam da misericórdia de Deus e da sua delicadeza. Na dureza do mundo tecnicizado em que os sentimentos não importam mais nada, aumenta, porém, a expectativa de um amor salvífico que seja dado gratuitamente. Parece-me que, no tema da misericórdia divina, expressa-se de modo novo aquilo que significa a justificação pela fé".

Não são afirmações óbvias. Não faltam católicos que acusam Francisco de operar um desequilíbrio bonachão da pregação da Igreja, esquecendo a "justiça divina", a necessidade da penitência, o risco da "perdição eterna".

Em um momento em que essas críticas vão se acentuando, o apoio que lhe vem de Bento XVI pode se revelar útil. Já eram uma dezena os textos de Bento XVI publicados depois da renúncia ao papado, mas esse é o mais importante. Ele nos diz que a mente teológica do papa emérito continua tecendo a sua teia.

Antigamente, ele saía em auxílio do missionário do mundo que foi o Papa Wojtyla e agora não receia em fazer o mesmo, a partir do seu retiro, como acompanhamento da pregação do papa que propõe uma "reforma da Igreja em saída missionária".



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