segunda-feira, 7 de março de 2016

Vaticano faz balanço do encontro do papa com o patriarca russo


A matéria é da Rádio Vaticano:

Kirill e Francisco: um encontro para a unidade dos cristãos

Nesta edição da rubrica “Sal da Terra, Luz do Mundo”, destacamos o histórico encontro em Cuba entre o Papa Francisco e o Patriarca de Moscovo Kirill. Um momento fundamental para o futuro da unidade dos cristãos.

Cuba, sexta-feira, 12 de fevereiro: Kirill de Moscovo encontra Francisco de Roma. A Igreja Ortodoxa Russa e a Igreja Católica encontram-se pela primeira vez desde o Cisma do ano 1054. Kirill está de visita àquele país, Francisco em trânsito para o México. Encontram-se e abraçam-se no Aeroporto José Marti em Havana.

“Somos irmãos é muito claro que esta é a vontade de Deus” – disse o Papa Francisco num caloroso abraço ao Patriarca Kirill que afirmou: “Mesmo que as nossas dificuldades não estão resolvidas há a possibilidade de encontrarmo-nos e isto é belo”.

No encontro em privado foram trocadas lembranças significativas: o Papa ofereceu um relicário com uma relíquia de S. Cirilo e um cálice; o Patriarca fez a oferta de uma imagem da Nossa Senhora de Kazan.

Depois foi assinada uma declaração conjunta que aborda âmbitos de colaboração e de diálogo com um particular enfoque para a situação dos cristãos no Médio Oriente.

“O nosso olhar dirige-se, em primeiro lugar, para as regiões do mundo onde os cristãos são vítimas de perseguição. Em muitos países do Médio Oriente e do Norte de África, os nossos irmãos e irmãs em Cristo veem exterminadas as suas famílias, aldeias e cidades inteiras”, pode ler-se no texto da declaração conjunta.

Francisco e Kirill no texto da declaração exortam a comunidade internacional à união para porem termo “à violência e ao terrorismo”. Apelam para a paz, para a “ajuda humanitária” aos refugiados e referem o martírio dos cristãos.

Após a assinatura da declaração conjunta o Papa Francisco e o Patriarca Kirill proferiram breves declarações:

“Temos o mesmo Batismo, somos bispos. Falamos das nossas Igrejas e concordamos que a unidade se faz a caminhar” – afirmou o Papa Francisco que sublinhou ter sentido a “consolação do Espírito” no diálogo com o Patriarca Kirill.

Francisco agradeceu a “humildade fraterna” do patriarca russo e os seus “bons desejos de unidade”.

O Patriarca Kirill, por sua vez, ressaltou nas suas declarações a abertura do encontro com o Papa e as preocupações com o “futuro do Cristianismo”.

Kirill sublinhou ainda que as duas Igrejas podem “cooperar” trabalhando para o respeito da vida humana.

Sobre este histórico acontecimento o Cardeal Kurt Koch, Presidente do Conselho Pontifício para a Promoção da Unidade dos Cristãos afirmou à RV que este encontro de Cuba é um passo corajoso que trará bons frutos:

“Seguramente irá forjar as relações dentro da ortodoxia. Até agora, com muitos dos Patriarcas Ortodoxos, não temos contactos – entre o Papa e estes Patriarcas – e este encontro poderá contribuir também para aprofundar as relações intra-ortodoxas, precisamente em vista do Concílio Pan-Ortodoxo que se realizará em junho, em Creta. Neste ponto, seguramente trará bons frutos para o diálogo teológico, que nós conduzimos não somente como Igrejas particulares, mas com o conjunto da ortodoxia; e no momento em que houver relações melhores, uma melhor compreensão mútua entre Roma e Moscovo, isto seguramente poderá ter reflexos positivos no diálogo teológico.”

“Acredito que o Patriarca russo-ortodoxo esteja profundamente consciente desta atmosfera, destas reações, e esta é a mais forte confirmação da vontade de realizar este encontro. Neste sentido, gostaria de dizer que este gesto do Patriarca é seguramente um passo corajoso” – disse o Cardeal Kurt Koch.

De registar que nesta entrevista o Presidente do Conselho Pontifício para a Promoção da Unidade dos Cristãos afirmou que o Papa Francisco no voo de regresso da visita à Turquia disse claramente ter o desejo de encontrar o Patriarca Ortodoxo Kirill: “ele pode decidir onde e como e eu vou” – declarou o Santo Padre na ocasião.

Entretanto, o Patriarca Kirill esteve recentemente de visita ao Brasil e em S. Paulo celebrou uma Divina Liturgia na Catedral Metropolitana Ortodoxa Antioquina no bairro do Paraíso. Participou nesta celebração o Cardeal Odilo Scherer, arcebispo de S. Paulo.

Na ocasião, Kirill afirmou sentir a “dor de todos os cristãos que são oprimidos hoje”. Apelou para a paz na Síria e no Médio Oriente e recordou o encontro com o Papa Francisco em Cuba. O Patriarca de Moscovo declarou ainda a necessidade da organização de uma coligação contra o terrorismo.

Sobre o encontro de Cuba entre Kirill e Francisco falou à RV o Cardeal Cláudio Hummes, arcebispo emérito de S. Paulo que assinalou ser algo de fundamental para o futuro da cristandade:

“Foi um encontro realmente histórico, algo fundamental para o futuro da cristandade, porque abriu novas portas depois de mil anos, praticamente, para poder se fazer um caminho mais fortemente unidos; embora haja caminho ainda para a unidade. Creio que não há como sublinhar suficientemente a importância deste encontro que dá muitas esperanças para o futuro. A unidade maior entre as duas Igrejas favorecerá muito a construção da paz no mundo”.

No Rio de Janeiro, o Patriarca Kirill para além de participar de um momento de oração no Corcovado, aos pés do Cristo Redentor, visitou a Igreja Ortodoxa Russa de Santa Mártir Zenáide, em Santa Teresa.

A este propósito a redação brasileira da RV ouviu o diácono Marcelo Paiva, da Igreja Ortodoxa Russa e pertencente ao clero da Missão da Proteção da Mãe de Deus no Rio de Janeiro e que realçou a importância do diálogo e a procura dos pontos em comum num entendimento cada vez mais próximo dos cristãos.

Kirill e Francisco encontraram-se em Cuba dando um passo histórico para a unidade dos cristãos. “Sal da Terra, Luz do Mundo” é aqui na Rádio Vaticano em língua portuguesa.



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