sexta-feira, 5 de agosto de 2016

Cerimônia de abertura das Olimpíadas pedirá paz entre religiões


A ideia é boa, mas se espera que não seja implementada da maneira como declarou ao Estadão o cineasta Fernando Meirelles (um dos responsáveis pela cerimônia):
“Vamos mostrar que o Brasil é um país onde um católico, um judeu e um muçulmano, depois de se conhecerem, já tomam uma cerveja juntos. Buscamos as semelhanças e celebramos as diferenças.”
No mínimo (muito provavelmente), os países islâmicos não iriam gostar de se verem retratados tomando álcool, não é mesmo?

Possíveis e temíveis gafes à parte, o que esperar da cerimônia de abertura das Olimpíadas Rio 2016 esta noite?

Confira na matéria abaixo:

Cerimônia de abertura organizada com orçamento reduzido

Festa desta sexta terá shows de música e efeitos visuais de LED

Marcio Dolzan e Ubiratan Brasil

A cerimônia de abertura da Olimpíada do Rio, prevista para começar às 20h desta sexta-feira, no Maracanã, vai celebrar a cultura da gambiarra artística. Com um orçamento reduzido drasticamente nos últimos dois anos, o evento – que terá shows unindo Caetano, Gil e Anitta, além de efeitos visuais em telas de LED – precisou se adaptar às novas condições econômicas do País, o que implicou na busca de alternativas mais baratas.

“A cerimônia é uma imensa gambiarra”, comentou Mario Andrada, diretor de comunicação do Rio-2016, em entrevista coletiva na manhã desta quinta-feira. Mas ressalvou: “Há uma grande diferença entre gambiarra e jeitinho”. Melhor explicando: ao invés de improviso, a equipe criativa – formada pelos cineastas Fernando Meirelles e Andrucha Waddington, a diretora e cenógrafa Daniela Thomas e a coreógrafa Deborah Colker – precisou encontrar soluções que compensassem o enxugamento do orçamento.

“Em dois anos de trabalho, chegamos a ter quatro projetos para a cerimônia e fizemos muita visita ao Saara”, brincou Waddington, referindo-se à conhecida zona de comércio popular no Rio, onde foram comprados quilos e quilos de tecidos. “Mas, no final, percebemos que muito do que foi originalmente criado acabou permanecendo”, acrescentou Daniela.

A equipe baseou seu trabalho em três pilares. O primeiro, representado por um jardim, traduz o valioso ecossistema nacional. “Queremos aqui mostrar que somos um povo que pensa que a grama do jardim do vizinho é mais verde”, afirmou Abel Gomes, diretor artístico executivo da Cerimônias Cariocas, união entre a agência SRCOM e a holding italiana de eventos Filmmaster Group, responsável pelas cerimônias de abertura e encerramento. “Passaremos um recado para o mundo sobre o futuro.”

O segundo pilar trata da diversidade racial. “Vamos mostrar que o Brasil é um país onde um católico, um judeu e um muçulmano, depois de se conhecerem, já tomam uma cerveja juntos”, comparou Meirelles. “Buscamos as semelhanças e celebramos as diferenças.” Finalmente, o terceiro pilar pretende traduzir o jeito de viver do brasileiro pelo sorriso cravado nos rostos, indestrutível mesmo diante de adversidades.

Todo o trabalho foi obrigatoriamente adaptado às condições e restrições do Maracanã. “É um estádio para o futebol, ou seja, os portões não são altos, o que impediu que criássemos um espetáculo como o carnaval e seus carros alegóricos”, contou Daniela Thomas, exímia criadora de cenários para peças e filmes. “Daí surgiu o espetáculo da gambiarra, pois não tínhamos como fazer, mas tínhamos de fazer.” Daniela crê no poder criativo da gambiarra ao longo dos tempos. “Desde o tempo dos gregos e romanos, quando os recursos eram mínimos, os jogos são puro entretenimento.”

Por conta disso, os cenários vão ser mais verticais que horizontais e servirão como anteparos que ajudarão no ritmo da festa, ou seja, vão auxiliar a “esconder” os voluntários (cerca de 5 mil no total) que atuarão no número seguinte. A tecnologia também será uma poderosa aliada, especialmente com o uso do video mapping, técnica que, de forma simplificada, é a capacidade de se adaptar um material de vídeo a estruturas volumétricas. Essa tecnologia permitirá um jogo entre o corpo de baile e sua coreografia com a dinâmica de imagens e luzes que um video mapping pode proporcionar.

A equipe criativa resistiu a revelar segredos, pretendendo manter intacta a surpresa do público, que se dividirá entre as cerca de 50 mil pessoas no estádio e aproximadamente de 3 bilhões de espectadores ao redor do mundo. Mesmo assim, um dos principais acabou divulgado: a criação de uma nova área verde no Rio, a Floresta dos Atletas, no Parque Radical, em Deodoro. Ela será criada com mais de 10 mil mudas de 207 espécies nativas do País, cada espécie representando uma delegação. Ao entrar no estádio, cada atleta receberá a semente de uma árvore de a plantará em um tubete com terra. “Creio que esse será um dos gestos que vai marcar essa cerimônia”, observa Daniela.

Haverá ainda uma releitura dos clássicos da MPB, como Construção, de Chico Buarque. Outras novidades acabaram reveladas nos últimos dias, como a presença da atriz inglesa Judi Dench que, ao lado de Fernanda Montenegro, vão ler versos de Carlos Drummond de Andrade. “Ela adorou o poema e aceitou vir como voluntária”, contou Meirelles, que foi veemente ao negar a existência de um quadro que simule um rapaz assaltando a modelo Gisele Bündchen. “Jamais pensamos nisso. É uma tremenda bobagem.”



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