quinta-feira, 11 de agosto de 2016

O dogma da infalibilidade gospel

Primeiramente, é importante esclarecer que utilizamos o adjetivo "gospel" de maneira irônica, querendo diferenciá-lo do termo "evangélico(a)", que - apesar do mau uso que a palavra tem no Brasil - ainda se refere a "evangelhos", que os cristãos - dogmaticamente - creem infalíveis mesmo, sem tergiversações.

Em segundo lugar, desde quando eram conhecidos apenas por "protestantes", as denominações reformadas nunca aceitaram o dogma da infalibilidade papal, aprovado pelo Concílio Vaticano I em 1870, quando era papo Pio IX.

Este dogma católico é mais comedido, pois afirma que o papa é infalível apenas quando se pronuncia ex cathedra, ou seja, quando exerce sua função de sumo pontífice e define uma doutrina de fé, mas não quando fala sobre questões corriqueiras do cotidiano religioso.

Entretanto, os contornos político-ideológicos que o nome "evangélico" ganhou no Brasil nas últimas décadas nos permitem imaginar que, na verdade, "infalíveis" do ponto de vista religioso são - diuturnamente - os líderes e "apóstolos" que surgiram por estas plagas para dominar seus rebanhos particulares e conduzi-los a seus paraísos privados.

É só assim que se entende a notícia do Estadão, publicada em 09/08/16, que dá conta de que o PSC - Partido Social Cristão - vai processar a jovem jornalista que acusou Marco Feliciano de tentativa de estupro, assédio sexual e agressão.

Primeiramente, é estranho um partido que utilize o nome "cristão" e se apresente como reduto "evangélico" como é o caso do PSC, que abriga uma gama de políticos já bem rodados pelo Brasil.

Tudo funciona na mesma base que outras denominações evangélicas que têm donos no país, sim, todos se fundamentam na infalibilidade de seus líderes e na suposta perfeição do caráter de cada um deles, que devem ser cegamente seguidos e obedecidos.

Isso tudo apoiado numa rede de blogs e portais que repercutem a santidade desses homens e mulheres infalíveis, bem como blindam (tanto quanto podem) os seus erros.

Assim, por exemplo, pouca gente ficou sabendo do que aconteceu outro dia, quando um tal "bispo" Marcos Klein, fingindo-se de admirador da causa LGBT, fez uma pegadinha com o deputado Jean Willys durante um voo, dizendo nas redes sociais que ele "ou se converte ou morre".



Deve estar faltando na Bíblia do "bispo" o capítulo 26 de Provérbios, que diz:
24  Aquele que odeia dissimula com os seus lábios; mas no seu interior entesoura o engano.
25  Quando te suplicar com voz suave, não o creias; porque sete abominações há no teu coração.
26  Ainda que o seu ódio se encubra com dissimulação, na congregação será revelada a sua malícia.
Claro que os defensores da "infalibilidade evangélica" fizeram de tudo para abafar o caso, assim como advogam abertamente pela canonização em vida de Marco Feliciano e dos integrantes do PSC, onde já se viu alguém ter a coragem de acusá-los - pobres santinhos infalíveis - de qualquer, digamos, "deslize"?

E assim o nome "evangélico" vai sendo vilipendiado e enterrado no Brasil, neste circo de horrores político-ideológico-fake em que se tornou a fogueira de vaidades e desejos carnais inconfessáveis de tanta gente mais chegada a dissimulações.



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