domingo, 6 de julho de 2008

Como o rio que corre para o mar....


No Forum Atos, existe uma discussão interessante sobre a divindade de Jesus, bastante democrática, que envolve católicos, evangélicos, ortodoxos, espíritas, testemunhas de Jeová, e outras vertentes religiosas. Lá pelas tantas, um espírita argumentou que Jesus mesmo teria dito que não é Deus, citando João 14:28: "Ouvistes que eu vos disse: Vou, e venho para vós. Se me amásseis, certamente exultaríeis porque eu disse: Vou para o Pai; porque meu Pai é maior do que eu". Talvez inspirado pelas minhas leituras recentes de Guimarães Rosa (sem a genialidade dele, obviamente), assim que li este versículo, imaginei outra leitura que, por analogia, esclarecesse o que Jesus havia dito:

Disse o rio ao pescador: vou para o mar, porque o oceano é maior do que eu, embora continuemos todos sendo água...

Não estava o Mestre, portanto, negando a sua divindade. A resposta que obtive foi: "Todos continuam sendo água, mas um rio não é igual um mar", ao que meu irmão e amigo Gustavo bem observou que era exatamente por isso que a comparação é perfeita. Em seguida, o espírita em questão objetou que "Pois é, da mesma forma que os rios vão todos pro mar, somos todos filhos de Deus, o que não implica em sermos todos deuses". De novo, eu achei que a resposta estava pronta na primeira analogia: afinal, "somos todos pescadores", no que o Gustavo complementou: "E disse Jesus a Simão: Não temas; de agora em diante serás pescador de homens. (Lc 5:10)".

É claro que qualquer comparação humana é incapaz de alcançar a profundidade do mistério da Trindade ou da Encarnação, mas essa pequena discussão pelo menos nos deu uma pálida idéia de como uma pequena analogia com a água - do rio, do mar e do oceano - pode nos ajudar a nos aproximarmos de entender, pela fé, como Deus é ao mesmo tempo Um e Três. Um em essência e Três em distinção de papéis. Também mostra como Jesus, a "imagem do Deus invisível" (Colossenses 1:15), em quem "habita corporalmente a plenitude da divindade" (Colossenses 2:9) pôde dizer que "o Pai é maior do que eu", pois, mesmo sendo 100% Deus e 100% homem, "tentado em todas as coisas, à nossa semelhança, mas sem pecado" (Hebreus 4:15), sabia ser limitado à sua condição humana, "humilhando-se a si mesmo, sendo obediente até a morte, e morte de cruz" (Filipenses 2:8). A analogia (e o símbolo - batismal, por exemplo) da água é universal, e se ampliarmos a imagem para o ciclo da evaporação, da chuva e da absorção pelo solo, talvez entendamos melhor ainda o que Cristo quis dizer em João 16:28 - "Vim do Pai e entrei no mundo; todavia, deixo o mundo e vou para o Pai".

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