segunda-feira, 7 de julho de 2008

Fé morta

Acordei cedo hoje e, enquanto criava coragem para sair da cama, zapeei a TV nos tradicionais programas "evangélicos" da madrugada. 

Na Record estava uma senhora contando como sua vida mudou depois do "Congresso Empresarial", e, depois de desfilar um rosário de aquisições que comprovavam a sua prosperidade, ela soltou a seguinte pérola: "porque a fé sem obras é morta". 

Se eu ainda tinha algum sono, foi aí que eu me despertei. Se ela disse isso é porque foi ensinada pelos pastores da Universal. 

Fiquei pensando cá com os meus botões: como é que alguém consegue deturpar um texto tão maravilhoso como o de tiago 2:17, tirando-o do seu contexto e dando-lhe essa interpretação tão esdrúxula:

Tiago 2:

14 Que proveito há, meus irmãos se alguém disser que tem fé e não tiver obras? Porventura essa fé pode salvá-lo?
15 Se um irmão ou uma irmã estiverem nus e tiverem falta de mantimento cotidiano.
16 e algum de vós lhes disser: Ide em paz, aquentai-vos e fartai-vos; e não lhes derdes as coisas necessárias para o corpo, que proveito há nisso?
17 Assim também a fé, se não tiver obras, é morta em si mesma.
18 Mas dirá alguém: Tu tens fé, e eu tenho obras; mostra-me a tua fé sem as obras, e eu te mostrarei a minha fé pelas minhas obras.
19 Crês tu que Deus é um só? Fazes bem; os demônios também o crêem, e estremecem.
20 Mas queres saber, ó homem vão, que a fé sem as obras é estéril?
21 Porventura não foi pelas obras que nosso pai Abraão foi justificado quando ofereceu sobre o altar seu filho Isaque?
22 Vês que a fé cooperou com as suas obras, e que pelas obras a fé foi aperfeiçoada;
23 e se cumpriu a escritura que diz: E creu Abraão a Deus, e isso lhe foi imputado como justiça, e foi chamado amigo de Deus.
24 Vedes então que é pelas obras que o homem é justificado, e não somente pela fé.
25 E de igual modo não foi a meretriz Raabe também justificada pelas obras, quando acolheu os espias, e os fez sair por outro caminho?

26 Porque, assim como o corpo sem o espírito está morto, assim também a fé sem obras é morta.

Este é um texto que ainda causa alguma controvérsia entre católicos e protestantes sobre a suficiência da fé para a salvação. 

Assim como uma multidão de teólogos de ambos os lados, não vejo dificuldades na interpretação desse texto. 

Está claro, para nós, que a fé não é algo que se assume apenas intelectualmente, mas que produz resultados práticos (obras) no mundo das coisas reais e concretas. 

Quem se converte ao Senhor Jesus produz boas obras não por que elas carregam algum bem salvífico intrínseco alheio à fé, mas, pelo contrário, elas a acompanham. 

Agora, eu confesso que fiquei estarrecido com esta idéia de que as tais "boas obras" - sem as quais a fé é morta - são aqueles bens materiais que o suposto crente consegue ao fazer provas, correntes e pirâmides de "fé", ou seja, a sua prosperidade visível, palpável, aferível e auferível conforme as aparências humanas. 

Troca-se o crente que se doa aos outros pelo que deles recebe. Pelo jeito, chegamos ao fundo do poço da teologia da prosperidade. 

Ok, eu sei, eles sempre dão um jeito de cavar mais fundo ainda...


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