terça-feira, 14 de junho de 2011

Poder da superstição é maior do que você imagina

Artigo do LiveScience traduzido por Natasha Romanzoti e publicado no site HypeScience:

Superstição: você não é idiota por acreditar

Você fica feliz quando encontra um trevo de quatro folhas? Você evita passar debaixo de escadas? Você coloca sua cueca da sorte quando seu time vai jogar? Então, parabéns, você faz parte do grupo de indivíduos que aprendem com as experiências (esse grupo inclui os pombos).

Uma nova pesquisa encontrou evidências de que as superstições não são tão inúteis quanto parecem. Ao adotar a crença de que você pode – ou não pode – fazer algo para afetar o resultado que você deseja, você tem um aprendizado.

A superstição é uma “surpresa” evolutiva: segundo os pesquisadores, não faz sentido que os indivíduos acreditem que uma ação específica influencie o futuro (pois obviamente não pode).

No entanto, o comportamento supersticioso é reconhecido em muitos animais, não apenas humanos, e muitas vezes persiste em face da evidência contra ele.

As superstições não são “gratuitas” – os rituais e as coisas que o animal evita custam a ele em termos de energia ou de oportunidades perdidas. A questão torna-se: como a seleção natural pode criar, ou simplesmente permitir, tal comportamento inapropriado?

“De uma perspectiva evolucionária, superstições parecem inadequadas”, diz o biólogo Kevin Abbott, coautor do estudo com Thomas Sherratt.

Assim, a nova pesquisa procurou razões para tais anomalias existirem. Talvez a superstição tenha um efeito placebo ou sirva para a sociabilidade. Ou talvez seja realmente inadequada agora, mas é o resultado de traços que foram adequados no passado (como os dentes do siso).

A primeira descrição de comportamento supersticioso em animais é de 1948. Um cientista colocou pombos mortos de fome em gaiolas, oferecendo-lhes alguns segundos de acesso a alimentos em intervalos regulares.

Enquanto os intervalos eram curtos, as aves começaram a ter comportamentos como girar no sentido anti-horário, balançar de um lado para o outro ou jogar a cabeça para cima. Os comportamentos pareciam ter uma relação causal com a apresentação dos alimentos. Uma vez que os comportamentos foram estabelecidos, eles persistiram, mesmo quando os intervalos de tempo alongaram.

O cientista comparou o comportamento dos pombos a respostas condicionadas; as aves estavam tentando aprender a produzir alimentos por conta própria.

Em 1977, outro pesquisador desafiou essa conclusão, dando oportunidades aos pombos de detectar se o resultado (ganhar comida) foi devido às suas ações (o comportamento estranho), ou simplesmente ao acaso.

Ele descobriu que os pássaros podiam discernir diferenças sutis, assim como os humanos. As aves podiam julgar a causa e o efeito, pelo menos quando tinham todas as informações necessárias.

Hoje, os cientistas concluem que a insuficiência de informações ou “crenças anteriores” podem orientar as aves a conclusões erradas (se elas acharem que o comportamento causa o ganho de comida, vão continuar agindo assim – pura superstição).

Em 2009, pesquisadores compararam superstição com uma boa aposta. Um rato, ouvindo um barulho na grama de um gato, se esconde debaixo da terra. Quando um galho farfalha por causa do vento, o rato também se esconde – mas isso não é uma ação estúpida, e sim reflete a falta de dados: o rato não pode dizer se o barulho é de um gato na grama ou do vento nas árvores.

O novo estudo, de Kevin Abbott e Thomas Sherratt, vai além na análise da superstição. Eles projetaram a escolha e a experiência em modelos.

O cenário são duas opções. Uma delas é uma máquina de jogos, na qual você tem uma chance de pagar para jogar porque você acha que pode ganhar, e o prêmio é grande. A segunda dá-lhe a escolha entre duas armas, uma na qual você tem experiência e a outra não.

Esse modelo inclui a capacidade de treinar e aprender com isso. Os resultados representam a mudança com base na experiência, de preferência com parâmetros que permitam a mudança ou deixem o assunto envolvido em hábito supersticioso.

O modelo prevê o que ocorre na vida real: o que acontece nos últimos 10 ou mais eventos tem um impacto. Os resultados tendem a seguir o senso comum: você será supersticioso se isso não for lhe custar muito caro, em comparação com velhos caminhos seguros (ou seja, se não for caro para jogar na máquina, você acredita e arrisca; se seu risco de morrer for grande, você opta pelo seguro, a arma que você sabe usar).

Esse modelo mostra como as superstições podem persistir em face de evidências contraditórias. Quanto mais você carrega um amuleto da sorte, mais provável que você se convença de que ele não funciona, mesmo que inicialmente você acreditasse (ele não vai lhe ajudar sempre).

Agora, se você duvida de algo em primeiro lugar, mas um grande número de situações lhe apresenta experiências positivas, você pode muito bem começar a acreditar. Isso mostra como os mecanismos adaptativos de aprendizagem nos levam a lugares que não devemos ir (e vice-versa).

Mais simples ainda, a superstição pode ser apenas um jeito dos humanos acharem que estão controlando uma situação que não depende deles – é a nossa cara, não?

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