terça-feira, 24 de dezembro de 2013

2000 anos depois, uma mulher ainda dá à luz numa caverna em Israel


É muito provável que a manjedoura de Jesus estivesse localizada numa caverna, junto com os animais, perto da estalagem em Belém na qual "não havia lugar para eles" (Lucas 2:7)

É, portanto, muito curioso que crianças continuem nascendo numa caverna na região que hoje engloba Israel, Palestina e Jordânia.

E, apesar de Herodes ter morrido há mais de 2.000 anos, ainda é muito arriscado para uma mulher criar filhos numa certa caverna da região.

Ela é muçulmana, se chama Sarah Nawajah, e foi numa caverna que ela deu à luz a seus filhos, em meio à conturbada zona de guerra que é o Oriente Médio.

Não há lugar para eles...

E todos nós precisamos mais do que nunca do Príncipe da Paz:
Porque um menino nos nasceu, um filho se nos deu; e o governo estará sobre os seus ombros; e o seu nome será: Maravilhoso Conselheiro, Deus Forte, Pai Eterno, Príncipe da Paz.
Isaías 9:6
A interessante matéria foi publicada na Folha de S. Paulo de 22/12/13:



Mulher das cavernas

Muçulmana que mora há 45 anos como beduína relata ataques de autoridades israelenses contra sua família

RESUMO Sarah Nawajah é conhecida no acampamento de Susya, na Cisjordânia, como "a peregrina", por ter ido a Meca, cidade sagrada para o islamismo, na Arábia Saudita. "Mas esta terra também é sagrada", diz, sobre a caverna em que vive - apesar da animosidade dos vizinhos, colonos israelenses de Qyriat Arba.

(...) Depoimento a
DIOGO BERCITO
ENVIADO ESPECIAL A SUSYA (CISJORDÂNIA)

Venho de um vilarejo ocupado, perto de Beer Sheva, tomado em 1948. Meus filhos nasceram aqui, na caverna. É um modo de vida beduíno. Nós vivemos com as ovelhas.

Mudei para cá com meu marido em 1968. Os colonos israelenses tentam nos expulsar. Sofremos muito. Um dia, há cinco anos, eles vieram com seus jipes e destruíram tudo o que nós temos. Eu perdi meu azeite, eles levaram a comida das ovelhas.

No ano passado, estávamos plantando quando nos atacaram. Queimaram nossas videiras, mataram 50 de nossas ovelhas com seus rifles. Eu corria e gritava todo o tempo quando vi aquilo.

Fui reclamar no vilarejo vizinho de Qyriat Arba. Quiseram que eu assinasse um papel dizendo que sou uma causadora de distúrbios. Meus filhos foram presos. Tive de pagar [o equivalente a] R$ 3.500 para tirá-los da prisão.

Há uma torre de vigia aqui perto. Só posso ficar no vale. Se os colonos veem que eu saí, vêm tomar minha casa.

Toda vez que eles me veem, dizem que sou uma puta. Querem tomar a terra.

Tudo o que você vê aqui tem uma ordem de demolição. Não querem que a gente fique aqui. Mas eles, sim, podem ficar. Podem sair. Podem construir. Eu não. Pedi várias vezes ao governo para ter permissão, nunca me deram nada. Querem demolir até o nosso poço de água.

PECADO

Temos dificuldade para trazer ambulâncias. Um dia, meu marido, que já morreu, teve ataque de asma, e o Exército não deixou a ambulância vir. Nós o pusemos em um burro para ir ao hospital.

Dois anos atrás, os israelenses vieram e atiraram um... como se diz? Coquetel molotov. Eles não sabem o que é "haram" [pecado].

Esta é a minha terra. Não quero que tomem de mim. Posso fazer azeite dessas oliveiras e viver disso. Tenho 70 anos. Por quanto tempo consigo lidar com essa situação?

Antes de eles destruírem a caverna, era muito bonito aqui. Nos sentávamos aqui no verão, era lindo. É muito fresco no verão e quente no inverno. Mas eles não querem que a gente viva aqui.

Eu moro na tenda, agora, durante o verão. No inverno, fica frio, então arrumo um canto e venho à caverna.

O governo palestino não pode fazer nada. Nem podem vir até aqui.

SAGRADO

Eu acordo de manhã, rezo, sirvo o café da manhã para as ovelhas e começo o meu dia com os animais. Depois, levo eles para os campos, limpo minha casa e cozinho.

Na temporada, faço manteiga e iogurte do leite das ovelhas. Também planto trigo. Então temos as colheitas.

Na primavera, às vezes a colheita não é boa, então tenho de alimentar os burros com as azeitonas colhidas.

Nossa terra é valiosa. Não vamos entregar aos judeus. Só saio daqui quando morrer. Estou feliz, e só consigo dormir quando estou aqui.

Vou ficar feliz, também, quando todos os colonos forem embora. São monstros.

Uma vez, bati em um soldado. Ele veio nos dizer para sair. Eu atirei um sapato de plástico na cabeça dele. Eles estavam me empurrando!

Fui para a cidade sagrada de Meca duas vezes, por isso me chamam de "hajja [peregrina] Sarah". Mas aqui, esta terra, também é sagrada.

As dificuldades seriam outras se Maria e José
se dirigissem a Belém nos dias atuais...




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