Um dos jargões modernosos que invadiram muitas igrejas evangélicas é o uso do termo “estratégia”, aplicável a toda e qualquer situação para a qual a pessoa possa dizer “Deus me deu uma estratégia...”.
Não deixa de ser mais um inapropriado empréstimo do jargão empresarial, acostumado com o uso e abuso desta palavra, originária do grego “stratēgía” (στρατηγία), que por sua vez deriva de “stratēgos” (στρατηγός), que era primitivamente “o cargo do comandante de uma armada, o cargo ou a dignidade de uma espécie de ministro da guerra na antiga Atenas, pretor, em Roma; manobra ou artifício militar”, segundo define etimologicamente o Dicionário Houaiss.
Há, portanto, uma clara conotação militar no emprego do termo, pelo menos até a segunda metade do século XX, com suas muitas guerras travadas por todo o mundo.
Com a globalização da economia que sucedeu o fim da guerra fria, a palavra passou a ser muito mais usada num contexto empresarial, em que “estratégias de marketing”, por exemplo, são essenciais para o desenvolvimento de um negócio.
Daí não chegar a ser surpresa a incorporação – por muitos líderes evangélicos – desses termos afeitos ao mundo secular, já que veem e administram a igreja como uma empresa, reproduzindo nela o seu linguajar.
É claro que a igreja está inserida na sociedade e não há nada de mal que – vez ou outra – utilize termos específicos de outras áreas para transmitir a mensagem do evangelho, afinal a língua é dinâmica e as palavras circulam livremente e se reinventam de tempos em tempos.
O que chama a atenção é a repetição desses termos numa espécie de “mantra” evangélico, como se eles carregassem algum poder intrínseco misterioso, e servissem para definir a posição da igreja no mundo.
“Estratégia” é uma palavra que não se encontra na Bíblia.
De fato, há algumas metáforas militares, como o uso frequente da palavra “exército” no Velho Testamento (228 vezes), que – significativamente - aparece apenas 2 vezes no Novo (originariamente escrito em grego), sendo uma na entrega de Paulo ao exército romano (Atos 28:16) e outra estritamente no sentido espiritual, na batalha final de Apocalipse 19:19.
Além disso, no Novo Testamento há apenas 3 referências a “armas” no sentido espiritual, e, com o perdão da redundância, nada sugere que a palavra “estratégia” tivesse alguma importância estratégica para os inspirados escritores bíblicos.
O uso constante do termo parece, portanto, muito mais um modismo inútil, uma espécie de muleta semântica utilizada à exaustão para disfarçar a ignorância de quem a utiliza.
A coisa pode ficar pior, entretanto.
“Estratagema” (do grego stratēgema - στρατήγεμα), também inexistente na Bíblia, é outra palavra que deriva do mesmo radical grego stratēgos que gerou “estratégia”, mas com uma conotação sutilmente diferente: “manobra de guerra, estratagema, astúcia, artifício de guerra”, segundo o Dicionário Houaiss, que define o significado atual da palavra como “plano, esquema etc. previamente estudado e posto em prática para atingir determinado objetivo” no sentido negativo de um ardil, uma armadilha, no popular uma “manha”, um esforço de dissimulação para enganar alguém.
Em suma, não é pecado usar a palavra “estratégia” eventualmente, mas o seu emprego reiterado pode revelar algo mais que um vício de linguagem.
Creio que muitos cristãos usam a palavra “estratégia” apenas por modismo, atribuindo-a a Deus como uma espécie de “reza evangélica” na qual eles pronunciam a palavra sem refletir sobre o que estão dizendo, mas não duvido que haja aqueles que a utilizem com o sentido de “estratagema” para embelezar um discurso ardiloso que camufla os seus projetos de poder neste mundo.
O mandamento “ide por todo o mundo e pregai o evangelho a toda criatura” de Jesus (Marcos 16:15) mostra a importância que Ele dava à comunicação, arte na qual foi Mestre enquanto andou por este mundo.
Por isso, é essencial que seus discípulos atuais se espelhem no seu exemplo e se preocupem em transmitir o evangelho de maneira clara e simples, sem recorrer a modismos e palavras dúbias que nada acrescentam.
Afinal, palavras existem para comunicar uma mensagem, uma ideia, e temo que quem usa o termo “estratégia” no meio cristão está correndo o risco de invocar uma pretensa inteligência enquanto simula uma espiritualidade inexistente.
Não deixa de ser mais um inapropriado empréstimo do jargão empresarial, acostumado com o uso e abuso desta palavra, originária do grego “stratēgía” (στρατηγία), que por sua vez deriva de “stratēgos” (στρατηγός), que era primitivamente “o cargo do comandante de uma armada, o cargo ou a dignidade de uma espécie de ministro da guerra na antiga Atenas, pretor, em Roma; manobra ou artifício militar”, segundo define etimologicamente o Dicionário Houaiss.
Há, portanto, uma clara conotação militar no emprego do termo, pelo menos até a segunda metade do século XX, com suas muitas guerras travadas por todo o mundo.
Com a globalização da economia que sucedeu o fim da guerra fria, a palavra passou a ser muito mais usada num contexto empresarial, em que “estratégias de marketing”, por exemplo, são essenciais para o desenvolvimento de um negócio.
Daí não chegar a ser surpresa a incorporação – por muitos líderes evangélicos – desses termos afeitos ao mundo secular, já que veem e administram a igreja como uma empresa, reproduzindo nela o seu linguajar.
É claro que a igreja está inserida na sociedade e não há nada de mal que – vez ou outra – utilize termos específicos de outras áreas para transmitir a mensagem do evangelho, afinal a língua é dinâmica e as palavras circulam livremente e se reinventam de tempos em tempos.
O que chama a atenção é a repetição desses termos numa espécie de “mantra” evangélico, como se eles carregassem algum poder intrínseco misterioso, e servissem para definir a posição da igreja no mundo.
“Estratégia” é uma palavra que não se encontra na Bíblia.
De fato, há algumas metáforas militares, como o uso frequente da palavra “exército” no Velho Testamento (228 vezes), que – significativamente - aparece apenas 2 vezes no Novo (originariamente escrito em grego), sendo uma na entrega de Paulo ao exército romano (Atos 28:16) e outra estritamente no sentido espiritual, na batalha final de Apocalipse 19:19.
Além disso, no Novo Testamento há apenas 3 referências a “armas” no sentido espiritual, e, com o perdão da redundância, nada sugere que a palavra “estratégia” tivesse alguma importância estratégica para os inspirados escritores bíblicos.
O uso constante do termo parece, portanto, muito mais um modismo inútil, uma espécie de muleta semântica utilizada à exaustão para disfarçar a ignorância de quem a utiliza.
A coisa pode ficar pior, entretanto.
“Estratagema” (do grego stratēgema - στρατήγεμα), também inexistente na Bíblia, é outra palavra que deriva do mesmo radical grego stratēgos que gerou “estratégia”, mas com uma conotação sutilmente diferente: “manobra de guerra, estratagema, astúcia, artifício de guerra”, segundo o Dicionário Houaiss, que define o significado atual da palavra como “plano, esquema etc. previamente estudado e posto em prática para atingir determinado objetivo” no sentido negativo de um ardil, uma armadilha, no popular uma “manha”, um esforço de dissimulação para enganar alguém.
Em suma, não é pecado usar a palavra “estratégia” eventualmente, mas o seu emprego reiterado pode revelar algo mais que um vício de linguagem.
Creio que muitos cristãos usam a palavra “estratégia” apenas por modismo, atribuindo-a a Deus como uma espécie de “reza evangélica” na qual eles pronunciam a palavra sem refletir sobre o que estão dizendo, mas não duvido que haja aqueles que a utilizem com o sentido de “estratagema” para embelezar um discurso ardiloso que camufla os seus projetos de poder neste mundo.
O mandamento “ide por todo o mundo e pregai o evangelho a toda criatura” de Jesus (Marcos 16:15) mostra a importância que Ele dava à comunicação, arte na qual foi Mestre enquanto andou por este mundo.
Por isso, é essencial que seus discípulos atuais se espelhem no seu exemplo e se preocupem em transmitir o evangelho de maneira clara e simples, sem recorrer a modismos e palavras dúbias que nada acrescentam.
Afinal, palavras existem para comunicar uma mensagem, uma ideia, e temo que quem usa o termo “estratégia” no meio cristão está correndo o risco de invocar uma pretensa inteligência enquanto simula uma espiritualidade inexistente.