O apóstolo Paulo é visto, por muitos, como o seguidor de Jesus que, utilizando um verbo moderno, “formatou” a teologia cristã, organizando as igrejas nascentes, abrindo-as aos gentios, repudiando os judaizantes e consolidando a doutrina da justificação pela fé no sangue redentor de Cristo. Sua conduta biblicamente registrada nos é apresentada rotineiramente de maneira quase que totalmente espiritualizada. Fica claro, por seus atos e suas cartas, que Paulo investia todos seus recursos físicos, financeiros e intelectuais na modelagem e conformação de uma igreja doutrinariamente unida em torno dos princípios fundamentais da fé. Por outro lado, isto não o impedia de dar ordens e conselhos práticos quanto à maneira do cristão se comportar no seu cotidiano na vida em família, na igreja e na sociedade.
Um outro aspecto da vida de Paulo, entretanto, é pouco abordado nas pregações e nos estudos mais aprofundados: o seu apego ao direito. Uma primeira cautela é necessária antes de se analisar o tema: o vocábulo “direito” da época do apóstolo não tem exatamente o mesmo significado que tem hoje em dia, de um direito codificado, com valores universais e garantias fundamentais que permeiam, com lamentáveis exceções, todos os povos do mundo. Ainda que o direito romano tenha sido a fonte básica das instituições jurídicas que hoje compartilhamos com quase todos os povos e tribos, como propriedade, casamento, família, herança, etc., naquela época ele se restringia a poucas pessoas, consideradas “cidadãos romanos” por nascimento (como Paulo afirma em Atos 22:28), ou por alguma concessão especial. Em segundo lugar, o fato de ser cidadão romano garantia - a quem possuía esta condição – o acesso aos serviços formais de justiça ainda precários na época. Aos demais nada era reservado, senão os humores – nem sempre pacíficos e justos – de quem estava em posição de autoridade. O exemplo maior disso foi o próprio Jesus, transformado que foi num verdadeiro joguete entre as esferas de poder de Pilatos, do Sinédrio e de Herodes. Como um cordeiro, foi enviado ao matadouro sem direito a nada.
O exemplo de Jesus não foi seguido por Paulo, que também terminou sendo enviado ao matadouro, mas, por mais espiritual que fosse, não titubeou em invocar sua condição de cidadão romano para fazer valer seus direitos ("civis romanus sum"). Diante do direito da época, Paulo era “alguém” enquanto Jesus não era ninguém. A primeira vez que Paulo se apresenta como “cidadão romano” acontece no cárcere de Filipos, no qual ele e Silas são injustamente presos depois de serem açoitados. Depois do terremoto que abre as grades e anima o carcereiro se converter, os magistrados decidem soltar Paulo e Silas, mas o apóstolo não aceita sair sem a presença dos oficiais, já que se declara cidadão romano (Atos 16:37), o que provoca justificado temor nos seus algozes, que haviam ousado torturar “alguém” que privava da cidadania romana. A segunda vez ocorre em Jerusalém, quando os soldados romanos se preparavam para açoitá-lo (Atos 22:25) e a terceira diante de Festo em Cesaréia, quando Paulo, conhecedor do ordenamento jurídico de seu tempo, apela para César (Atos 25:11), sendo que, depois, quando é interrogado por Agripa, este comenta com Festo que Paulo bem podia ter sido solto se não tivesse apelado para César, direito que lhe conferia a condição de cidadão romano (Atos 26:32).
O final da história todos nós sabemos. Paulo é levado preso para Roma e lá, enquanto tramita o seu processo, tem oportunidade de pregar o evangelho, confirmar os irmãos distantes através de cartas e consolidar a nascente igreja de Roma, terminando por ser decapitado, segundo a tradição, já que cidadãos romanos, com raríssimas exceções, não eram crucificados, castigo reservado aos “outros”. Nas suas cartas é nítida a sua preocupação em que os cristãos respeitassem a lei e obedecessem as autoridades (Romanos 13 talvez seja o melhor exemplo). Portanto, Paulo foi cidadão romano do nascimento à morte, e exerceu sua cidadania nos momentos mais difíceis de sua vida, sem abdicar do seu crescimento espiritual, trabalho este que resultou num gigantesco legado à cristandade. Isto não o impediu de dizer que sua “pátria” estava no céu (Filipenses 3:20). A palavra aí traduzida para o português como “pátria” é πολίτευμα - politeuma – e significa mais propriamente “comunidade à qual se pertence”, figurativamente uma “cidadania”. A forma verbal de politeuma, politeumai (πολιτεύομαι) é utilizada um pouco antes, em Filipenses 1:27, em que o apóstolo recomenda que, "acima de tudo, vivamos por modo digno do evangelho de Cristo" e não deixa de ser no mínimo curioso que Paulo transmita esta ideia através de uma frase que, em grego, significa primariamente "viver vida de cidadão".
Desta forma, Paulo conciliou, como poucos, sua cidadania fática com a espiritual, numa clara demonstração de que é possível ser cristão sem deixar de ser cidadão, vivendo na plenitude o paradoxo cristão de estar neste mundo, interagir nele mas a ele não pertencer. É claro também que todo cristão sabe que – pelo menos metaforicamente – seu destino é o mesmo de uma ovelha indo para o matadouro, morto para a terra e vivo para o céu, tendo sempre em vista que não pertence a este mundo que jaz no maligno. "Porque, na verdade, nós, os que estamos neste tabernáculo, gememos oprimidos, porque não queremos ser despidos, mas sim revestidos, para que o mortal seja absorvido pela vida" (2 Coríntios 5:4). O desafio do cristão é, portanto, seguir o exemplo de Paulo e discernir todas as circunstâncias e oportunidades de exercer a sua condição total de cidadão da terra e do céu.
Um outro aspecto da vida de Paulo, entretanto, é pouco abordado nas pregações e nos estudos mais aprofundados: o seu apego ao direito. Uma primeira cautela é necessária antes de se analisar o tema: o vocábulo “direito” da época do apóstolo não tem exatamente o mesmo significado que tem hoje em dia, de um direito codificado, com valores universais e garantias fundamentais que permeiam, com lamentáveis exceções, todos os povos do mundo. Ainda que o direito romano tenha sido a fonte básica das instituições jurídicas que hoje compartilhamos com quase todos os povos e tribos, como propriedade, casamento, família, herança, etc., naquela época ele se restringia a poucas pessoas, consideradas “cidadãos romanos” por nascimento (como Paulo afirma em Atos 22:28), ou por alguma concessão especial. Em segundo lugar, o fato de ser cidadão romano garantia - a quem possuía esta condição – o acesso aos serviços formais de justiça ainda precários na época. Aos demais nada era reservado, senão os humores – nem sempre pacíficos e justos – de quem estava em posição de autoridade. O exemplo maior disso foi o próprio Jesus, transformado que foi num verdadeiro joguete entre as esferas de poder de Pilatos, do Sinédrio e de Herodes. Como um cordeiro, foi enviado ao matadouro sem direito a nada.
O exemplo de Jesus não foi seguido por Paulo, que também terminou sendo enviado ao matadouro, mas, por mais espiritual que fosse, não titubeou em invocar sua condição de cidadão romano para fazer valer seus direitos ("civis romanus sum"). Diante do direito da época, Paulo era “alguém” enquanto Jesus não era ninguém. A primeira vez que Paulo se apresenta como “cidadão romano” acontece no cárcere de Filipos, no qual ele e Silas são injustamente presos depois de serem açoitados. Depois do terremoto que abre as grades e anima o carcereiro se converter, os magistrados decidem soltar Paulo e Silas, mas o apóstolo não aceita sair sem a presença dos oficiais, já que se declara cidadão romano (Atos 16:37), o que provoca justificado temor nos seus algozes, que haviam ousado torturar “alguém” que privava da cidadania romana. A segunda vez ocorre em Jerusalém, quando os soldados romanos se preparavam para açoitá-lo (Atos 22:25) e a terceira diante de Festo em Cesaréia, quando Paulo, conhecedor do ordenamento jurídico de seu tempo, apela para César (Atos 25:11), sendo que, depois, quando é interrogado por Agripa, este comenta com Festo que Paulo bem podia ter sido solto se não tivesse apelado para César, direito que lhe conferia a condição de cidadão romano (Atos 26:32).
O final da história todos nós sabemos. Paulo é levado preso para Roma e lá, enquanto tramita o seu processo, tem oportunidade de pregar o evangelho, confirmar os irmãos distantes através de cartas e consolidar a nascente igreja de Roma, terminando por ser decapitado, segundo a tradição, já que cidadãos romanos, com raríssimas exceções, não eram crucificados, castigo reservado aos “outros”. Nas suas cartas é nítida a sua preocupação em que os cristãos respeitassem a lei e obedecessem as autoridades (Romanos 13 talvez seja o melhor exemplo). Portanto, Paulo foi cidadão romano do nascimento à morte, e exerceu sua cidadania nos momentos mais difíceis de sua vida, sem abdicar do seu crescimento espiritual, trabalho este que resultou num gigantesco legado à cristandade. Isto não o impediu de dizer que sua “pátria” estava no céu (Filipenses 3:20). A palavra aí traduzida para o português como “pátria” é πολίτευμα - politeuma – e significa mais propriamente “comunidade à qual se pertence”, figurativamente uma “cidadania”. A forma verbal de politeuma, politeumai (πολιτεύομαι) é utilizada um pouco antes, em Filipenses 1:27, em que o apóstolo recomenda que, "acima de tudo, vivamos por modo digno do evangelho de Cristo" e não deixa de ser no mínimo curioso que Paulo transmita esta ideia através de uma frase que, em grego, significa primariamente "viver vida de cidadão".
Desta forma, Paulo conciliou, como poucos, sua cidadania fática com a espiritual, numa clara demonstração de que é possível ser cristão sem deixar de ser cidadão, vivendo na plenitude o paradoxo cristão de estar neste mundo, interagir nele mas a ele não pertencer. É claro também que todo cristão sabe que – pelo menos metaforicamente – seu destino é o mesmo de uma ovelha indo para o matadouro, morto para a terra e vivo para o céu, tendo sempre em vista que não pertence a este mundo que jaz no maligno. "Porque, na verdade, nós, os que estamos neste tabernáculo, gememos oprimidos, porque não queremos ser despidos, mas sim revestidos, para que o mortal seja absorvido pela vida" (2 Coríntios 5:4). O desafio do cristão é, portanto, seguir o exemplo de Paulo e discernir todas as circunstâncias e oportunidades de exercer a sua condição total de cidadão da terra e do céu.
ola meu irmao em cristo helio! é o lucas. quanto tempo hein? andei ocupado com algumas coisas e parei um pouco com a internet....nem repare pois meu blog antigo retirei pois pesquisei um pouco e tinha um igual rsrs..sobre paulo, paulo depois de joao batista foi um dos maiores apostolos que ja existiu. ele tinha ensinamentos de grande importncia para as pessoas tanto social como espiritual. eu preguei isto no meu blog acesse. http://lfl22learn.blogspot.com/
ResponderExcluirabraço
Oi, mano Lucas!
ResponderExcluirsenti a tua falta e falta do blog também... fico feliz que tudo está arrumado agora... que Deus te abençoe cada dia mais!
Abraço!