Eu confesso que não tenho mais paciência para ficar tentando entender (ou explicar) essa esoterização místico-ideológica que arrasa a igreja evangélica brasileira. Só nesta semana vi na TV duas coisas abomináveis.
A primeira foi um programa da igreja universal (assim mesmo com letras minúsculas) convidando os seus fiéis a levarem 1 kg de sal para (pasmem!) ser “energizado” nos templos.
Chegamos à versão gospel do pirlimpimpim.
A segunda, não menos mágica, foi o retorno de Morris Cerullo a mais uma campanha caça-níqueis de Silas Malafaia, com a sua já manjada oferta numerológica, agora de esdrúxulos 610 reais (não mais 900).
Nem me preocupo mais em refutar essas sandices, pois a qualquer cristão digno do nome bastaria imaginar se algum dos apóstolos (os originais) se exporia a este papel profano ridículo.
Talvez um fiel seguidor desses falsos profetas venha aqui dizer que o que importa é que o nome de Jesus está sendo anunciado e pessoas estão se convertendo, o que pode até ser verdade, mas nunca é demais lembrar que pessoas se convertem a Cristo nas situações mais inimagináveis e – muitas vezes – demoníacas, sem que isto legitime o lugar ou a circunstância em que se converteram.
Além disso, nada impede que Deus se valha de uma jumentinha para tornar audível a Sua palavra, o que obviamente não transforma o pobre animal em ministro do evangelho.
O fato é que o evangelicalismo brasileiro se tornou um balaio de gatos dos mais variados tipos, que servem a propósitos individualistas ideológicos e utilitários, ainda que travistam sua mensagem como coletiva e universal.
O amor ao dinheiro continua sendo a raiz de todos os males, e nessa cobiça alguns se desviaram da fé (1 Timóteo 6:10), e é muito triste ver gente boa e inteligente concordando com esta apostasia desenfreada, retrato trágico de uma época em que o joio está sendo separado do trigo.
E por falar em grãos, é interessante ver como invocam a assim chamada “lei da semeadura” de 2 Coríntios 9 (algo como “quem planta dinheiro, colhe fortunas”), ignorando o contexto que fala que Deus fará abundar a Sua graça (v. 8), aumentará os frutos da nossa justiça (v. 10), TUDO ISTO com o fim de suprir as necessidades dos santos (v. 12) e não as de um “pastor” ou ministério específicos.
É claro, ainda, que a graça de Deus é exatamente o que é: de graça, não negociável; mas nem isso as pessoas se dão conta na sua ânsia de cair no conto do bilhete premiado.
Afinal, são atraídas e engodadas pela sua própria concupiscência (Tiago 1:14), e a concupiscência, “havendo concebido, dá à luz o pecado; e o pecado, sendo consumado, gera a morte” (Tiago 1:15).
Desta forma, pelo menos neste particular da cobiça coletiva, inocentemos Silas Malafaia, Morris Cerullo, Edir Macedo, e tantos outros aproveitadores da ignorância alheia que responderão diretamente a Deus por sua perversidade.
Culpemos, porém, os incautos que acreditam nas ofertas e nos sais energizados com os quais – mal e porcamente – tentam lavar suas almas e consciências, esperando – em vão - instalar um reino efêmero neste mundo e dando adeus à eternidade. Infelizmente...