“Talvez haja mais compreensão e beleza na vida quando os raios ofuscantes do sol foram suavizados pelos contornos da sombra." (Virginia M. Axline)

sábado, 31 de julho de 2010

Pirlimpimpim gospel


Eu confesso que não tenho mais paciência para ficar tentando entender (ou explicar) essa esoterização místico-ideológica que arrasa a igreja evangélica brasileira. Só nesta semana vi na TV duas coisas abomináveis. 

A primeira foi um programa da igreja universal (assim mesmo com letras minúsculas) convidando os seus fiéis a levarem 1 kg de sal para (pasmem!) ser “energizado” nos templos. 

Chegamos à versão gospel do pirlimpimpim. 

A segunda, não menos mágica, foi o retorno de Morris Cerullo a mais uma campanha caça-níqueis de Silas Malafaia, com a sua já manjada oferta numerológica, agora de esdrúxulos 610 reais (não mais 900). 

Nem me preocupo mais em refutar essas sandices, pois a qualquer cristão digno do nome bastaria imaginar se algum dos apóstolos (os originais) se exporia a este papel profano ridículo. 

Talvez um fiel seguidor desses falsos profetas venha aqui dizer que o que importa é que o nome de Jesus está sendo anunciado e pessoas estão se convertendo, o que pode até ser verdade, mas nunca é demais lembrar que pessoas se convertem a Cristo nas situações mais inimagináveis e – muitas vezes – demoníacas, sem que isto legitime o lugar ou a circunstância em que se converteram. 

Além disso, nada impede que Deus se valha de uma jumentinha para tornar audível a Sua palavra, o que obviamente não transforma o pobre animal em ministro do evangelho.

O fato é que o evangelicalismo brasileiro se tornou um balaio de gatos dos mais variados tipos, que servem a propósitos individualistas ideológicos e utilitários, ainda que travistam sua mensagem como coletiva e universal. 

O amor ao dinheiro continua sendo a raiz de todos os males, e nessa cobiça alguns se desviaram da fé (1 Timóteo 6:10), e é muito triste ver gente boa e inteligente concordando com esta apostasia desenfreada, retrato trágico de uma época em que o joio está sendo separado do trigo. 

E por falar em grãos, é interessante ver como invocam a assim chamada “lei da semeadura” de 2 Coríntios 9 (algo como “quem planta dinheiro, colhe fortunas”), ignorando o contexto que fala que Deus fará abundar a Sua graça (v. 8), aumentará os frutos da nossa justiça (v. 10), TUDO ISTO com o fim de suprir as necessidades dos santos (v. 12) e não as de um “pastor” ou ministério específicos. 

É claro, ainda, que a graça de Deus é exatamente o que é: de graça, não negociável; mas nem isso as pessoas se dão conta na sua ânsia de cair no conto do bilhete premiado

Afinal, são atraídas e engodadas pela sua própria concupiscência (Tiago 1:14), e a concupiscência, “havendo concebido, dá à luz o pecado; e o pecado, sendo consumado, gera a morte” (Tiago 1:15).

Desta forma, pelo menos neste particular da cobiça coletiva, inocentemos Silas Malafaia, Morris Cerullo, Edir Macedo, e tantos outros aproveitadores da ignorância alheia que responderão diretamente a Deus por sua perversidade. 

Culpemos, porém, os incautos que acreditam nas ofertas e nos sais energizados com os quais – mal e porcamente – tentam lavar suas almas e consciências, esperando – em vão - instalar um reino efêmero neste mundo e dando adeus à eternidade. Infelizmente...

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