sexta-feira, 9 de novembro de 2012

Cientistas querem ler o que você sonha

Sonhos: a última fronteira!

Parodiando a série Jornada nas Estrelas, talvez não seja o espaço a última fronteira, mas os sonhos, o território onírico onde nenhum homem jamais esteve, pelo menos de maneira real.

É exatamente este campo pouco explorado da mente humana que cientistas japoneses, do Laboratório de Computação em Neurociência ATR, sediado em Tóquio, estão querendo investigar.

Obviamente, como o nome "ciência" indica, a abordagem não será psicanalítica, à moda de Sigmund Freud ou Carl Jung, ainda que todo o simbolismo dos sonhos continue sujeito às mais variadas formas de interpretação.

O problema que se pode vislumbrar desde já é se uma técnica de, digamos, "leitura" dos sonhos não se limite à interpretação, mas se desvirtue em controle da mente ou manipulação das pessoas, apenas para citar dois efeitos colaterais danosos do procedimento.

Os sonhos revelam os segredos mais íntimos de todas as pessoas, mesmo aqueles que são tão secretos a ponto de que o próprio sonhador os desconheça. Logo, por que submeter a um desconhecido a abertura desse envelope selado dos recônditos mais obscuros de sua alma?

Os pesquisadores japoneses recorreram a uma estratégia moderna, sem dúvida, mas não muito diferente daquela utilizada para desvendar os segredos das civilizações passadas.

Veja o caso dos hieróglifos egípcios, por exemplo. Eram um total mistério até 1822, quando o francês Jean-François Champollion finalmente os decifrou através da leitura da Pedra de Roseta, que havia sido descoberta em 1799.

Para sorte da humanidade, a Pedra de Roseta era um artefato do século II a. C., período em que os gregos dominavam o Egito, e nela estava insculpido um mesmo texto em 3 idiomas: o egípcio antigo (hieróglifos), o egípcio daquela época e o grego arcaico.

Era, obviamente, muito mais fácil traduzir o grego antigo, e, a partir dele, decifrar o que queria dizer cada hieróglifo.

No caso dos sonhos atuais, a técnica usada no Japão é muito mais avançada, mas segue a mesma solução de Champollion, e a semelhança com os hieróglifos vai mais além: os cientistas também leem imagens. Neuroimagens.

A grosso modo, a experiência consiste em despertar os voluntários sonhadores participantes no momento em que se detectam padrões de ondas cerebrais correspondentes ao início do sonho. Esses padrões são exaustivamente estudados previamente para, digamos, "calibrar" a leitura do eletroencefalograma do paciente.

Constatado o início do sonho, os pesquisadores perguntam ao sonhador o que exatamente ele acabou de sonhar, anotam, e o colocam de novo para dormir, sempre por um período de 3 horas, entre 7 e 10 vezes em dias distintos, sendo que os participantes eram despertados até 10 vezes por hora.

Cá entre nós, só mesmo a paciência oriental para se submeter a um teste como esse...

Os dados obtidos revelaram uma média de 6 a 7 sonhos visuais por hora, que levaram os cientistas a obter 200 relatos de sonhos, mediante os quais puderam extrair palavras-chave conforme a frequência com que apareciam, por exemplo: "carro", "masculino", "feminino", "computador", etc, dividindo-as em 20 categorias.

Agora, com os voluntários já despertos, os pesquisadores lhes apresentavam fotografias relativas a essas palavras-chave, e associavam as ondas cerebrais correspondentes a cada uma delas, separando-as inclusive pelas regiões do cérebro que elas afetavam.

Desta forma, por comparação com fatos e valores já conhecidos de antemão, se pode chegar a uma conclusão sobre o que a pessoa está sonhando mediante o gráfico de suas ondas cerebrais. Uma Pedra de Roseta mais moderna, sem dúvida, mas igualmente decifrável.

A primeira grande descoberta, entretanto, foi constatar que tanto o sentido da visão (quando a pessoa está desperta) como as imagens dos sonhos são processadas na mesma região do cérebro.

Já a leitura científica dos sonhos, propriamente dita, pode dar origem a uma assustadora "polícia dos sonhos", levando a usos perigosos por indivíduos e governos mal intencionados.

Do ponto de vista jurídico, por exemplo, até que ponto são invioláveis a consciência e a liberdade de um cidadão para se proibir que uma ordem legal qualquer invada os seus sonhos?

Não se trata somente de controle mental, mas a tecnologia pode ser desenvolvida até o ponto de manipular alguém a ter determinados sonhos ou assumir certas verdades alheias como suas.

Enfim, são muitas as possibilidades de aplicação da pesquisa científica japonesa, embora, cá entre nós, elas pareçam ser muito mais maléficas que benéficas. Talvez aquele recente filme, "A Origem" ("Inception") não seja tão ficção científica assim...

Pelo menos por enquanto, os seus sonhos são só seus. Mas só por enquanto... aproveite!

Fonte: Nature



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