quinta-feira, 1 de novembro de 2012

Santa Tekavita: a primeira indígena canonizada pelo Vaticano

É provável que alguém que tenha sido uma criança católica nos anos 1970, assim como eu fui, se lembre de um livrinho infantil gostoso de ler, "Tecavita - A Rosa Branca dos Iroqueses", sobre as virtudes de uma indiazinha que vivia na América do Norte na época da colonização.

Cá entre nós, confesso que eu sempre achei que esse "rosa branca" do título - e o rosto de uma menina caucasiana na capa - tinha um quê de racismo, mas a história era boa e a suspeita passava batida, até porque poderia ser apenas uma tradução (e edição) infeliz.

E não é que no último domingo, 21 de outubro de 2012, a Tekavita foi canonizada?

Pois é, agora é a Santa Tekavita, segundo informa o jornal português Público, com grafia lusitana, estranhamente na sua seção de economia (?!):

A primeira santa índia foi proclamada pelo Papa

Sete novos santos, entre os quais dois que de destacaram no apoio aos operários na Revolução Industrial

O Papa Bento XVI proclamou este domingo como santa Kateri Tekakwitha, a primeira ameríndia a ser canonizada pela Igreja Católica. Numa cerimónia em que canonizou mais seis novos santos, entre os quais uma espanhola defensora dos operários no século XIX, o Papa afirmou que aquela índia norte-americana foi firme “na sua vocação tão particular na sua cultura” e que, nela (reforma ortográfica pra quê?), “fé e cultura se enriqueceram mutuamente”.

Nascida em 1656 no que é hoje Nova Iorque, Kateri Tekakwitha morreu com 24 anos no actual Canadá, em 1680. Filha de pai da tribo Mohawk e de mãe Algonquin, Kateri impressionava os missionários do tempo, conta a Reuters, com a sua devoção e as suas práticas penitenciais.

Conhecida como a flor-de-lis dos Mohawks, oprimidos durante muito tempo, Kateri foi o centro, logo desde a sua morte, de uma grande devoção, que culminou com uma cura inexplicada de um menino ameríndio de 12 anos, em 2006. Jake Finkbonner, a criança em questão, esteve hoje na celebração na Praça de São Pedro do Vaticano, em Roma, acompanhado de centenas de pessoas da tribo Lummi e de outros ameríndios.

Na cerimónia, conta a agência Ecclesia, o Papa apelou a uma Igreja em constante “estado de serviço” à humanidade e a Deus. Referindo-se aos novos santos, disse que eles deviam ser “um encorajamento e um modelo” e acrescentou: “Com coragem heróica, eles consumiram a sua existência na consagração total a Deus e no serviço generoso aos irmãos. São filhos e filhas da Igreja, que escolheram a vereda do serviço seguindo o Senhor.”

A data foi escolhida porque a Igreja Católica celebrava hoje o Dia Mundial das Missões. Entre os novos santos, há dois mártires: Jacques Berthieu (1838-1896), padre jesuíta francês que morreu em Madagáscar, por não querer renunciar à sua fé; e Pedro Calungsod (1654-1672), catequista filipino morto em Guam por um pai que queria proibir o seu filho de ser baptizado. Pretexto para que o Papa lembrasse “os numerosos cristãos que são perseguidos por causa da sua fé nos dias de hoje”.

Conta a AFP que estava um belo sol outonal em Roma e que a cerimónia decorreu diante de muitos milhares de pessoas, com bandeiras americanas, canadianas, filipinas, italianas, espanholas, francesas e bávaras. Uma multidão muito internacional, muito alegre e de todas as idades, acrescenta a mesma fonte.

Os novos santos incluem ainda o padre italiano Giovanni Battista Piamarta (1841-1913), que ajudou os jovens operários durante a Revolução Industrial italiana do final do século XIX, e a espanhola Maria Carmela Sallés y Barangueras (1848-1911), freira que apoiou também as mulheres operárias da mesma época. O grupo de novos santos inclui ainda a norte-americana Barbara Cope (Madre Marianne de Molokai, 1838-1918), que se dedicou aos leprosos, e a leiga alemã Anna Schäffer (1882-1925). Todos eles, disse o Papa, entenderam “a necessidade de uma presença cultural e social do catolicismo no mundo moderno”.

Foi a décima vez que o actual Papa proclamou novos santos. No total, Bento XVI proclamou 44 novos santos, incluindo o português Nuno Álvares Pereira, em Abril de 2009.



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