Uma sociedade enferma é capaz de produzir as maiores aberrações. E elas geralmente começam com pequenos incidentes, restritos a uma família desajustada ou um pequeno grupo social.
Por isso o mundo tem sua atenção chamada a um patricídio ocorrido em circunstâncias bastante improváveis num canto isolado de um país supostamente avançado.
Ali, um menino de 10 anos mata o pai neonazista, que o havia doutrinado dentro dos princípios de fascismo, violência e racismo que caracterizam o seu discurso.
Ao contrário do Brasil, nos Estados Unidos a legislação é até certo ponto omissa sobre maioridade penal. O juiz decidirá em cada caso se a criança ou adolescente tinha mínimas condições mentais e emocionais de avaliar a gravidade do seu ato infrator.
Como ficamos, então, diante de um garoto de 10 anos, exposto a uma ideologia deletéria desde a mais tenra idade, que mata o pai nazista? Como julgar a sua culpabilidade?
Bondade, maldade, vida, morte, como é que essa pequena cabeça foi formada? É desse dilema que trata a matéria abaixo, publicada no Terra:
Inicia nos EUA julgamento de menino que matou pai neonazista

Na madrugada do dia 1º, o menino foi à sala de estar, onde seu pai dormia, e o matou a tiros. Desde então, a criança está em um centro de detenção para menores aguardando o julgamento. O caso está provocando polêmica nos Estados Unidos, pois os juízes terão de decidir se, ao ser criado por um homem que pregava o nazismo, o jovem conseguia discernir entre o bem e o mal.
"Os fatos levantam diversas questões mais filosóficas que, dependendo de como forem levadas em consideração pelo juiz, poderão determinar o resultado do julgamento", afirma o jornal americano The New York Times. "Entre elas: se racismo virulento pode ser considerado uma espécie de abuso; se uma criança exposta a tanto ódio pode entender a diferença entre o certo e o errado, e se alguém que cresce em circunstâncias tão tóxicas pode ser culpada por querer uma saída".
Discussão e morte
O homem morto tinha 32 anos e era encanador, mas estava desempregado. Ele liderava na costa oeste o grupo neonazista Movimento Nacional Socialista, a maior organização do tipo nos Estados Unidos, com 400 integrantes em 32 Estados.
No dia anterior à sua morte, ele organizou um encontro em sua casa para discutir um plano para formar esquadrões armados na fronteira dos Estados Unidos com o México. Um repórter do New York Times, que escrevia um artigo sobre grupos neonazistas, esteve presente no encontro e testemunhou uma discussão do pai com o filho.
O promotor Michael Soccio diz que o filho foi espancado pelo pai após o encontro, e que a criança teria dito a um familiar que mataria seu pai. Soccio disse ao jornal americano que as ações do menino não têm nenhuma relação com nazismo, e que o caso é apenas um assassinato. "Se isso tivesse acontecido com qualquer pessoa, não haveria dúvida de que se trata de um assassinato. Foi planejado. Foi premeditado. Foi levado a cabo a sangue frio. É um assassinato", diz o promotor.
Já os advogados de defesa defendem que o menino tem problemas psicológicos agravados por sua exposição à ideologia nazista e às surras que recebia de tempos em tempos. "Este menino está condicionado à violência. É preciso se perguntar: este menino realmente sabia que esse ato era equivocado, baseado em todas essas coisas? Ele achou que estava fazendo o correto", disse o advogado Matthew Hardy.