quinta-feira, 30 de abril de 2015

Nem todo argentino gosta de futebol

Artigo de Agustín Arosteguy publicado em 06/06/14 no Brasil Post:

Argentino, modelo para colecionar

Há quase duas semanas me aconteceu algo que já tinha acontecido antes, mas que agora me chamou especial atenção - ou reparei pontualmente nisso. Talvez por estar no ano do mundial ou porque Marte deixou de estar retrógado depois de 80 dias, sei lá. A questão é que estava numa loja para comprar algumas coisas para minha casa nova e o dono, sabendo que eu era argentino, porque já tínhamos conversado antes, todo empolgado começou a me contar sobre seu fanatismo pelo Boca Junior e que um amigo que estava em Buenos Aires encontrou uma camiseta do tamanho certo para ele. Logo após, sem deixar muito espaço para uma possível saída, continuou dizendo, numa tentativa de provocar um diálogo ou até uma polêmica futebolística, que o que mais gostava dos times argentinos - sobre tudo do Boca Junior - era a estratégia de defesa que possuíam. Dito isso, fez uma pausa - como para me ceder a palavra - e para que assim me sentisse a vontade para falar como argentino amante acérrimo de futebol. Aí foi um constrangimento dos grandes, já que não tive outra alternativa senão cortar a onda dele e me reconhecer publicamente um completo ignorante no assunto. Expliquei a ele, sem anestesia, que na verdade eu não entendo nada de futebol. Diante disso, o caro amigo, cujo nome é Vinicius, ficou me olhando com uma expressão entre confuso e perplexo.

Tudo isso me levou à reflexão mais crua e dura. É que ninguém se surpreende se um argentino não gosta de comer churrasco ou pão com linguiça. Ninguém se horroriza se ele não gosta de chimarrão ou ainda, se esse argentino não pode nem provar o doce de leite porque acha enjoativo.

Prezados irmãos brasileiros, há um monte de assuntos sobre os quais se pode bater um papo com um argentino além do futebol, das torcidas organizadas, da violência, das armações da máfia ou se o Maradona é ou não melhor que o Pelé. Temos tantas coisas para falar e não precisamos ir longe: a música, com toda essa variedade de ritmos, batuques, ao mesmo tempo tão parecidos aos nossos e tão diferentes. O mar e a praia, que talvez não sejam tão lindas e quentes quantos as daqui, mas da para mergulhar à vontade. E por último, para só citar três casos, a arte culinária, que rende muito e favorece sem dúvida uma rica e extensa troca. Então, meus queridos façamos girar a roleta e festejemos o fato de sermos vizinhos.



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