sábado, 11 de abril de 2015

O difícil diálogo entre economia e teologia

"O dinheiro do imposto", pintura de Rubens

A matéria é do IHU:

Quando a economia se torna tema de debate teológico

A teologia pode se ocupar dos impostos? Pode parecer estranho, mas não é. Não é nos Evangelhos que se narra o episódio em que Jesus é questionado se é certo ou não pagar o tributo a César? "É uma pergunta antiga e é pertinente ainda hoje, especialmente quando pensamos na resposta de Jesus, segundo o qual se deve dar 'a César o que é de César e a Deus o que é de Deus'. Para a fé cristã, tudo pertence a Deus e à sua ideia de amor e de justiça. Por isso, os impostos deveriam ser definidos e pagos com base em princípios que garantam a justiça para todos."

A reportagem é de Giuseppe Matarazzo, publicada no jornal Avvenire, 26-03-2015. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

Não é de se estranhar, portanto, que a Concilium, a revista internacional de teologia publicada pela Queriniana, no seu último número, aborde o assunto e reúna, com uma resenha, as sugestões e os temas lançados pelo discutido e feliz livro de do economista Thomas Piketty, O capital no século XXI (Ed. Intrínseca), detendo-se em particular sobre a "redistribuição das riquezas" e a ''justa taxação", como "soluções" para democratizar o capitalismo, capaz agora apenas de criar desigualdades, minando "a partir dos fundamentos os valores meritocráticos sobre os quais se regem as nossas sociedades democráticas".

Ao longo do tempo, a riqueza dos indivíduos mais ricos tiveram um índice de crescimento maior em relação à economia como um todo, de modo que os ricos se tornaram mais ricos, e os pobres tornaram-se mais pobres. Não se trata apenas de uma percepção de Piketty, mas também do resultado de um estudo sobre três séculos de dados em mais de 20 nações.

"O mais rico – apontam os teólogos Luiz Carlos Susin (Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, em Porto Alegre, Brasil) e Klaus da Silva Raupp (atualmente em formação em Boston), que comentaram o trabalho de Piketty – continuará aumentando a sua riqueza, e, no longo prazo, a desigualdade não se baseará mais apenas nas diferenças de renda, mas também nas riquezas herdadas." O garfo só pode aumentar. E interesse, inevitavelmente, às gerações posteriores.

Embora exista uma democracia formal, o abismo entre os mais ricos e os mais pobres é intransponível, e isso ofende as bases do humanismo. A economia brasileira, por exemplo, é um exemplo válido para ilustrar a disparidade entre riquíssimos e paupérrimos: segundo a ONU, relatam Silva Raupp e Susin, nos últimos 12 anos, 17 milhões de pessoas de um total de 20 milhões cruzaram a linha da pobreza extrema e da fome.

No entanto, segundo o Banco Central do Brasil, os lucros dos bancos e de outros atores do mercado financeiro alcançaram níveis sem precedentes na história do país.

A solução para colocar o capitalismo novamente na estrada democrática, para Piketty, está no sistema (justo) de taxação: "progressiva sobre a renda e, sobretudo, sobre a renda de capital (sobre os grandes patrimônios) como a melhor alternativa para regular o capital e diminuir a desigualdade".

Campo no qual se jogam elementos políticos, filosóficos. E teológicos: o bem comum e da justiça social, princípios da doutrina social católica moderna, presentes em todos os documentos da Igreja, da Rerum novarum de Leão XIII à Pacem in terris de João XXIII, até a Evangelii gaudium do Papa Francisco, que pede ao mundo católico que se posicione contra "uma economia da exclusão" e "um dinheiro que governa em vez de servir".



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