quarta-feira, 12 de março de 2008

Batismo: essencial para a salvação?

Nesses debates pelos fóruns da vida, a gente se depara com algumas situações inusitadas, mas que servem para que a gente estude um pouco mais a Bíblia e aprenda sobre assuntos que a gente nunca tinha pensado. Debatendo com um mórmon no tópico sobre o batismo pelos mortos do antigo Forum Atos (infelizmente o link está inativo), cansado da insistência dele em dizer que o batismo nas águas é obrigatório e imprescindível para a salvação (o que justificaria o ritualismo de sua igreja), com base no versículo de João 3:5, em que Jesus diz a Nicodemos que "aquele que não nascer da água e do Espírito, não pode entrar no reino de Deus", eu fui pesquisar mais a fundo esse texto em particular e, como ele me pediu uma análise mais didática e detalhada, eu fiz as perguntas e respostas que transcrevo a seguir:


1) Com quem Jesus estava conversando?

R: Com Nicodemos.


2) Quem era Nicodemos?

R: Um fariseu, membro do Sinédrio, um mestre em Israel (João 3:10) e profundo conhecedor da Lei e dos rituais judaicos.


3) Quando Jesus diz a Nicodemos (João 3:3) que ele deveria nascer de novo, Nicodemos entende isso de maneira literal ou espiritual?

R: De maneira literal.


4) Quando Jesus diz a Nicodemos (João 3:5) que quem não nascer da água e do Espírito não pode entrar no reino de Deus, o que Nicodemos entendeu por "água"?

R: Nicodemos só podia ter entendido que era um dos banhos rituais que os fariseus normalmente tomavam antes das cerimônias religiosas, algo com que ele estava acostumado e, dado o seu nível social e eclesiástico, certamente praticava seus banhos ou abluções rotineiramente.

5) Existe a possibilidade de que Nicodemos tenha entendido por "água", neste contexto, o batismo ritual cristão nas águas?

R: Não. Primeiro, porque o batismo cristão ainda não havia sido instituído. Segundo, é muito provável que Nicodemos conhecesse o batismo de João, mas certamente não o relacionou à "água" deste contexto, pois o batismo de João era um sinal público de arrependimento, e não de salvação, como Jesus estava claramente falando. Terceiro, como grande conhecedor das Escrituras, talvez Nicodemos estivesse se lembrando desta passagem:

Ezequiel 36:25 Então aspergirei água pura sobre vós, e ficareis purificados; de todas as vossas imundícias, e de todos os vossos ídolos, vos purificarei.
Ezequiel 36:26 Também vos darei um coração novo, e porei dentro de vós um espírito novo; e tirarei da vossa carne o coração de pedra, e vos darei um coração de carne.
Ezequiel 36:27 Ainda porei dentro de vós o meu Espírito, e farei que andeis nos meus estatutos, e guardeis as minhas ordenanças, e as observeis.

Caso tivesse se lembrado deste texto de Ezequiel, e já ciente que Jesus estava dando uma interpretação espiritual à sua exposição, Nicodemos certamente pensaria que não se tratava de uma aspersão de água no sentido exato da expressão, assim como Deus não faria um transplante literal de coração (Ez 36:26) ou prenunciaria um sacrifício azteca, maia ou inca, mas isso era um simbolismo de purificação e regeneração, nos moldes simbólicos dos banhos rituais judaicos. Se formos admitir a interpretação literal deste texto (intimamente relacionado a João 3), temos que afirmar que o batismo na "água" tem que ser por aspersão (como fazem católicos e presbiterianos, por exemplo), e que algum ritual deve expressar este "transplante" de coração de pedra por coração de carne.



6) Havia, então, no contexto da conversa de Jesus com Nicodemos, uma referência explícita ao batismo cristão através da palavra "água"?

R: Não. Nem implícita, porque o batismo cristão em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo sequer havia sido instituído, o que só vai ocorrer depois da ressurreição de Jesus. Tanto que a Bíblia não registra o batismo de nenhum dos apóstolos e discípulos próximos a Jesus durante Sua vida. João mesmo é claro ao dizer que Jesus não batizava ninguém, mas quem batizava eram os seus discípulos. O "batismo" que praticavam era certamente o do arrependimento, nos moldes de João, conforme Lucas narra (7:29). Se Jesus não batizou ninguém, é de se perguntar quem foi que batizou Pedro, por exemplo. Teriam os apóstolos se batizado uns aos outros? Não há qualquer indício disso, nem de que eles tenham sido "rebatizados" ou "cristianizados" depois da Sua ressurreição, quando veio a ordenança do batismo cristão. O único batismo que conheceram foi o de João. Se houvesse necessidade de se estabelecer, desde já, o batismo cristão como obrigatório para a salvação, Jesus certamente teria deixado ordens específicas a respeito disso antes de sua crucificação, ou teria explicitamente convalidado o batismo de João em batismo cristão. Já o único apóstolo batizado segundo o ritual cristão, quando este já havia sido instituído, foi o extemporâneo Paulo (Atos 9:18). Tanto que o próprio Jesus, antes de ascender aos céus, disse-lhes que eles só conheciam o batismo de João e que seriam batizados com o Espírito Santo dentro de poucos dias (Atos 1:5). Antes do Pentecostes, quando os apóstolos decidem escolher outro apóstolo no lugar de Judas (no caso, Matias), eles decidem que o novo apóstolo deveria ter estado com eles desde o batismo de João (Atos 1:22). Se é para se ter uma interpretação literal de João 3:5, os apóstolos e discípulos próximos de Jesus estariam fora, pois só conheceram o batismo joanino, a não ser que alguém queira propor uma "teologia da marretada" fazendo com que o batismo de João se transformasse, num passe de mágica, em batismo cristão.

Se eu fosse um sujeito desonesto, sem nenhum respeito pela Bíblia e sem nenhum temor a Deus, eu afirmaria que os apóstolos e discípulos próximos a Jesus foram batizados depois de mortos. Isto até combinaria, de maneira bem mórbida, com o que Paulo diz em 1ª Coríntios 15:29, ironizando os que se batizam pelos mortos. Ele poderia estar contando vantagem por ter sido o único apóstolo batizado de acordo com o ritual cristão.



7) Uma objeção que pode ser levantada, embora muito fraca, devo admitir, é a de que o batismo de João valeria pelo batismo cristão, ou que o batismo de João teria algum poder mágico que validaria a salvação de alguém que não tivesse se submetido ao batismo cristão. É correta esta afirmação?

R: Certamente que não. Equivaleria a dizer que Deus deu um "jeitinho" de salvar aqueles que morreram apenas com o batismo de João, o que não deixaria de ser uma injustiça também com todos aqueles que morreram na época do Velho Testamento, onde, do começo ao final, não há uma referência, uma sequer, a algum tipo de batismo ritual de iniciação. Logo, se o batismo na água é essencial para a salvação, todos os que tivessem morrido antes do batismo cristão ser instituído, estariam perdidos e, absurdo dos absurdos, Jesus teria deixado também a ordenança dos cristão se batizarem em nome deles.


8) O uso da palavra "água" por Jesus em outras conversas narradas por João autoriza que se interprete literalmente como sendo H2O ?

R: Não. Em João 4, quando Jesus pede água para beber a uma mulher samaritana, Ele lhe diz que "aquele que beber da água que eu lhe der nunca terá sede; pelo contrário, a água que eu lhe der se fará nele uma fonte de água que jorre para a vida eterna" (João 4:14). No final da Festa dos Tabernáculos, Jesus se levanta em meio à multidão e diz: "quem crê em mim, como diz a Escritura, do seu interior correrão rios de água viva" (João 7:37). Obviamente, em nenhuma dessas passagens, Jesus está se referindo literalmente à água. Nesta última, no versículo seguinte, João explica: " Ora, isto ele disse a respeito do Espírito que haviam de receber os que nele cressem; pois o Espírito ainda não fora dado, porque Jesus ainda não tinha sido glorificado". É uma interpretação espiritual, portanto, autenticada pelo próprio autor do Evangelho, que mostra que o Espírito Santo ainda não havia sido dado, e o mesmo se pode dizer do batismo cristão, que ainda não havia sido instituído.


9) Dizer que o batismo na água é essencial para a salvação não significa anular a fé e pregar a salvação pelas obras?

R: Sim. A Bíblia é clara no sentido de que somos justificados pela fé (Romanos 5:1) e que a salvação de Deus é pela graça, não vindo das obras, para que ninguém se glorie (Efésios 2:8-9). Admitir que exista, na Bíblia, algum tipo de batismo pelos mortos já é um absurdo. Agora, mesmo que existisse esta aberração, dizer que ela é obrigatória para a salvação vai contra a Bíblia, que diz claramente que o que salva é a fé e não as obras. Como diz o escritor de Hebreus:

Heb 6:1 Pelo que deixando os rudimentos da doutrina de Cristo, prossigamos até a perfeição, NÃO lançando de novo o fundamento de arrependimento de obras mortas e de fé em Deus,
Heb 6:2 e o ensino sobre batismos e imposição de mãos, e sobre ressurreição de mortos e juízo eterno.

No que conclui no capítulo 9, de novo falando da "consciência":

Heb 9:13 Porque, se a aspersão do sangue de bodes e de touros, e das cinzas duma novilha santifica os contaminados, quanto à purificação da carne,
Heb 9:14 quanto mais o sangue de Cristo, que pelo Espírito eterno se ofereceu a si mesmo imaculado a Deus, purificará das obras mortas a vossa consciência, para servirdes ao Deus vivo?

E "consciência" é um termo que Pedro relaciona ao batismo no texto que, segundo os mórmons, supostamente autorizaria a pregação do evangelho aos mortos:
1Pe 3:19 No qual também foi, e pregou aos espíritos em prisão;
1Pe 3:20 Os quais noutro tempo foram rebeldes, quando a longanimidade de Deus esperava nos dias de Noé, enquanto se preparava a arca; na qual poucas (isto é, oito) almas se salvaram pela água;
1Pe 3:21 Que também, como uma verdadeira figura, agora vos salva, o batismo, não do despojamento da imundícia da carne, mas da indagação de uma boa consciência para com Deus, pela ressurreição de Jesus Cristo;
Logo, na analogia que Pedro faz da salvação das águas pela arca de Noé, ele também se refere ao batismo na água, que nos salva, não pelo simples lavar da sujeira do corpo, mas da indagação de uma boa consciência para com Deus. Assim, fica claríssimo que o que nos salva não é o ritual em si, envolva ele água por aspersão ou imersão, mas a consciência do crente que, de fato, crê em Cristo e está justificado para a salvação no Seu sangue.

10) Eliminado o sentido literal da palavra "água" em João 3:5, como podemos entendê-la simbolicamente?

R: "Água", nas palavras de Jesus narradas em João, como vimos na questão 8, pode ter vários sentidos simbólicos, mas neste texto específico de João 3:5, ligado à purificação, à regeneração e ao novo nascimento, podemos entendê-la como significando a Palavra de Deus, conforme Pedro, por exemplo, se refere:

1Pe 1:22 Já que tendes purificado as vossas almas na obediência à verdade, que leva ao amor fraternal não fingido, de coração amai-vos ardentemente uns aos outros,
1Pe 1:23 tendo renascido, não de semente corruptível, mas de incorruptível, pela palavra de Deus, a qual vive e permanece.

Tiago também diz que somos gerados (e, portanto, regenerados) pela "palavra da verdade" (Tiago 1:18), e Jesus deixa claro em João que a Palavra de Deus é a verdade (João 17:17) e que Ele nos havia limpado pela Palavra que proferiu (João 15:3). É a Palavra que purifica o caminho do crente (Salmo 119:9). Por fim, Paulo, no texto em que compara o amor do marido pela mulher ao amor de Cristo pela igreja, relaciona claramente a purificação pela água com a Palavra:

Efésios 5:25 Vós, maridos, amai a vossas mulheres, como também Cristo amou a igreja, e a si mesmo se entregou por ela,
Efésios 5:26 a fim de a santificar, tendo-a purificado com a lavagem da água, pela palavra,
Efésios 5:27 para apresentá-la a si mesmo igreja gloriosa, sem mácula, nem ruga, nem qualquer coisa semelhante, mas santa e irrepreensível.



Além disso, diante da surpresa de Nicodemos, Jesus apela para a sua condição de mestre da Lei (da Palavra): "Tu és mestre em Israel, e não entendes estas coisas?" (João 3:10).

Logo, me parece claro que o significado simbólico para "água" em João 3:5 é a Palavra de Deus, não havendo por que entender literalmente o significado do "nascer da água" como sendo a obrigatoriedade e imprescindibilidade do batismo para a salvação.



6 comentários:

  1. Oiii...Akih é a Lionna (do Yahoo Respostas)...A melhor resposta ja é sua!
    Obrigada...Se isso tudo for verdade, o batismo, não é tao necessario assim, crer é o que realmente nos salva neh?
    Obrigada!

    Beijos no seu ♥

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  2. Obrigado, Lionna!

    Sim, o que importa é a fé!

    Beijo!

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  3. ola meu caro amigo helio, aqui quem fala e o lucas. olha apesar de me declarar evangelico nao fui batizado no rio, na agua. quando eu tinha 7 anos eu queria me batizar na igreja catolica, mas claro nao sabia ainda o que eu estava plenamente fazendo, mas assim mesmo fui me apresentei ao padre e fui batizado. depois conheci a igreja evangelica e fui viver em " NOVIDADE DE VIDA" e obviamente me arrependi dos pecados e sempre peço perdao a cristo e ja larguei de diversos pecados. acredito assim, o importante e voce aceitar jesus cristo como salvador se arrepender e viver em novidade de vida pois esta escrito"aquele que esta em cristo nova criatura é " o importante e pelo menos ter sido consagrado como jesus fui , levado por maria. acredito que o batismo e mais simbolico. abraço. obs : nao revelei minha idade mas tenho 16 anos hoje, e sou evangelico membro da igreja da graça aqui no rio grande do sul-passo fundo. abraço irmao em cristo

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  4. Meu querido irmão Lucas,

    Fico feliz em ver como você quer aprender cada dia mais a viver em novidade de vida, conhecendo e proseguindo em conhecer a Deus. Não tenha pressa neste processo, pois o fundamental nessa hora é depender totalmente da graça de Deus e buscar sempre a Sua orientação. Para que isso aconteça é essencial ter paciência, pois hoje eu, já com 46 anos de idade, aprendo todo dia com Deus e com as pessoas e situações que Ele coloca no meu caminho. Eu costumo dizer que nossa oração deve ser "24 horas online"... hehehe... pois ela não se limita a um momento em que dobramos os joelhos e conversamos com Deus, mas em um estilo de vida em que estamos sempre conectados nas situações mais corriqueiras, e tudo isso na mais absoluta dependência da graça dEle. Temos que aprender também a ser tolerantes conosco mesmos, pois todos erramos e temos maus momentos. Quando esta hora difícil chega, temos que deixar a culpa de lado e voltar à graça de Deus, pois Ele está sempre pronto a nos acolher e perdoar quando confessamos o pecado e O buscamos de todo coração. Por isso, não se preocupe com o batismo agora, pois o Senhor vai te orientar sobre tudo isso no momento certo, e Ele vai te dar a convicção se você deve fazer alguma coisa a respeito ou não. E isso sem pressa nem culpa, mas com paz, amor e graça sobre graça.
    Ah... um recado: vou viajar amanhã cedo e só retorno perto do computador na quarta-feira, dia 23. Por isso não estranhe se eu não ler, aprovar e responder seus comentários até lá, ok! Vou tirar uns dias de folga do computador também... hehehe... preciso!... hehehe
    Abraços!
    Graça e paz!
    Hélio

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  5. Paz e graça "chará"!

    Assunto oportuno para esclarecimento dos contradizentes, duvidosos e aqueles que necessitam de orientação sobre o tema em questão, a doutrina do batismo em águas.

    Embora seja um mandamento do Senhor Jesus - e como tal precisa ser cumprido por todos aqueles que pela SUA suficiente graça foram salvos - a prática em si não esta correlacionada com caracteristicas de religiões pagãs, o de lavar pecados e salvar a alma, embora muitos acabam "paganizando" a ordenança tentando tirar o foco da nossa fé que deve estar centrada UNICO E EXCLUSIVAMENTE em JESUS CRISTO, e no tocante à redenção plena do nosso ser devemos isso ao SANGUE DO CORDEIRO IMACULADO e não ao "elemento água" que serve de "canal" possibilitando o simbolismo existente dentro do mandamento, nossa morte com CRISTO para o pecado e consequente ressureição com ELE para vivermos em novidade de vida. O que o batismo tipica é o que de fato salva nossa alma.

    DEUS te abençõe!

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  6. O batismo de João era de Deus ou dos homens?
    Se fizermos de Deus ele dirá: Então por que não aceitasse? Se dissermos dos homens o povo se endurecerá contra nós pois tinham João como profeta.
    Lucas 7 : 29,30.
    Os doutores da lei e os fariseus não aceitaram o batismo.
    Então o batismondp imersão haverá praticado por aqueles que esperavam o Cristo.( pois João pregou a sua vinda).
    Portanto os discípulos eram todos batizados.

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