domingo, 23 de março de 2008

Um batismo no Vaticano

Notícia do site Terra (também comentada no Forum Atos) dá conta de que o papa Bento XVI batizou ontem, sábado de aleluia, um jornalista muçulmano convertido ao cristianismo. Como Bento XVI é um homem inteligente, letrado, estrategista, é de se perguntar qual mensagem ele pretende passar com esta atitude neste momento de conflagração entre as religiões e os "mundos" que elas representam. Longe de imaginar que haja efetivamente um choque de civilizações, segundo o modelo fantasmagórico de Samuel P. Huntington, ¿por que o papa batizaria um muçulmano muito conhecido no meio jornalístico exatamente na Páscoa que simboliza a ressurreição de Cristo e, no judaísmo, o êxodo da escravidão no Egito, e isto logo após receber mais uma ameaça de ataque terrorista do Bin Laden? Registre-se, ainda, que neste meio-termo, o papa teve tempo para defender o Dalai Lama e pedir a paz para o Tibete nos recentes confrontos com o governo chinês.
Em 2006, o papa já tinha causado comoção no mundo muçulmano ao citar a frase do imperador bizantino Manoel II Paleólogo (1350-1425), que, em diálogo com um erudito iraniano, teria dito o seguinte: "Mostre-me então o que Maomé trouxe de novo, e ali encontrará apenas coisas más e desumanas, como sua ordem de difundir pela espada a fé que pregava". Sem apoiar ou rejeitar esta opinião do passado, o papa citou a frase por ocasião de uma conferência sobre fé e razão na Alemanha. Diante dos protestos islâmicos, o papa recusou-se a pedir perdão (afinal, a frase estava num contexto muito maior de discussão), mas teve que fazer as pazes com o Islã, para o que foi muito conveniente a visita que fez a Istambul no fim daquele ano.

Bento XVI, entretanto, conhece muito bem o valor do símbolo, e o seu poder de transmissão de idéias e mensagens muito claras através do silêncio. Este batismo de um muçulmano na Páscoa soa mais como uma bofetada na cara do Islã, mas o raciocínio do estrategista Joseph Ratzinger gosta de ir sempre mais fundo do que nós, pobres mortais. Resta-nos esperar para ver (ou crer).

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