terça-feira, 25 de março de 2008

O evangelho de Lucas - parte 13

O capítulo 10 de Lucas começa de maneira muito parecida com o início do capítulo anterior, em que Jesus enviava os doze apóstolos para uma missão. Agora são "outros setenta e dois" discípulos (v. 1) que são enviados à frente, de dois em dois, para preparar o caminho pelas cidades em que Jesus iria passar pouco depois. O Mestre faz uma constatação que se tornaria célebre: "a seara é grande, mas os trabalhadores são poucos" (v. 2), diante do gigantismo do trabalho de levar o evangelho a todo o mundo. Jesus adverte seus discípulos que eles enfrentariam muitos problemas, eram como cordeiros enviados para o meio de lobos (v. 3), e não deviam levar nenhum apoio material (v. 4). De novo, fica claro o desprendimento em relação ao dinheiro. Eles haviam sido comissionados pelo próprio Deus, que se encarregaria de prover-lhes as necessidades. É curioso que Jesus tenha recomendado a seus discípulos que não saudassem ninguém pelo caminho, já que a saudação entre os viajantes e peregrinos era praticamente um ritual muito elaborado por aquela cultura. Talvez tenha sido exatamente por este ritual ser complicado e demorado - afinal envolvia expressões e gestos efusivos -, que Jesus pediu-lhes que não o realizassem. Há, portanto, um claro sinal de que o Mestre estava com pressa, pelo menos no que diz respeito à missão dos setenta. Não deixa de ser, também, uma espécie de "treinamento" para a perseguição que se seguiria ao estabelecimento da Sua igreja. Havia, também, uma série de recomendações para o comportamento dos discípulos nas cidades e nas casas. Eles eram os mensageiros da paz (v. 6), e como tais deviam se comportar. Se fossem bem recebidos, deviam comer do que lhes era oferecido (v. 8) sem reclamar. Deviam curar os enfermos e anunciar que o reino de Deus estava próximo (v. 9). E, de fato, estava literalmente próximo, pois Jesus passaria por ali nos dias e semanas seguintes. Era uma missão não só de anúncio do evangelho mas também de reconhecimento do terreno por onde Jesus iria passar, o que pode revelar, também, uma espécie de "pressa" nesta fase do ministério do Mestre, pois ele passaria por lugares já preparados por seus discípulos.

Quanto àquelas cidades que não aceitassem os discípulos, Jesus lhes disse que sacudissem o pó de seus pés em testemunho contra aquela cidade, clamando em voz alta que eles estavam contra aquele povo, mas mesmo assim o reino de Deus estava próximo (v. 11). Jesus, então, diz que haveria menos rigor no juízo para Sodoma do que para aquela cidade (v. 12). A razão para isso, provavelmente, era que Sodoma não havia tido a oportunidade de receber os mensageiros do evangelho que preparavam a entrada do próprio Deus na cidade. Na mesma linha, Jesus fala de Corazim e Betsaida, cidades de Israel, comparando-as com Tiro e Sidom, cidades gentias (vv. 13-14), dizendo que estas últimas teriam se arrependido se houvessem visto tudo o que aquelas viram pelo ministério de Cristo, o que não aconteceu com as primeiras. Por fim, Jesus conclui dizendo que "quem vos ouve, a mim me ouve; e quem vos rejeita, a mim me rejeita; e quem a mim me rejeita, rejeita aquele que me enviou" (v. 16). No versículo seguinte, Lucas já passa para o retorno dos setenta, felizes com o êxito de sua missão, alegres por submeterem os demônios, mas Jesus lhes adverte que deveriam estar felizes não por isso, mas pelo fato dos nomes deles estarem inscritos nos céus (v. 20).

O v. 21 mostra uma faceta do evangelho que Jesus notou bem, que Deus havia escolhido se revelar aos pequeninos, mas ocultara essas coisas dos sábios e instruídos, completando em seguida, dizendo que "ninguém conhece quem é o Filho senão o Pai, nem quem é o Pai senão o Filho, e aquele a quem o Filho o quiser revelar" (v. 22). Aqui há uma clara demonstração da Trindade, em que Pai e Filho estão em íntima unidade sem perder suas distinções pessoais. Este é um mistério espiritual que cabe somente a Deus revelar. Chega então um homem, "intérprete da lei", que pergunta a Jesus o que ele devia fazer para ser salvo. Jesus responde com outra pergunta da própria lei, perguntando o que ele entendia, ao que ele responde corretamente dizendo que deveria amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo (v. 27). Jesus aprova a sua resposta, mas o homem insiste, perguntando ao Mestre que é o seu próximo. Jesus então conta a parábola do bom samaritano (vv. 30-35), uma das mais conhecidas de todas as que Ele contou, e mostra que um sacerdote e um levita não quiseram ajudar um homem que havia sido ferido por assaltantes e deixado à beira da estrada entre Jerusalém e Jericó, exatamente pelas suas obrigações cerimoniais que, pela frieza da letra da lei, os obrigavam a manter-se puros para cumpri-las. Já um samaritano se compadece do homem e o ajuda, e se responsabiliza, inclusive financeiramente, pela sua recuperação. Indagado por Jesus sobre quem seria o próximo do homem machucado, o intérprete da lei responde que era aquele que tinha se compadecido do outro (v. 37), recusando-se a pronunciar a palavra "samaritano", já que para os judeus não havia outro povo mais desprezível do que o de Samaria, seus parentes distantes do antigo reino dividido do norte, que se haviam desviado dos preceitos da lei mosaica e da descendência de Jacó.

Por fim, Jesus chega à casa de Marta e Maria em Betânia (vv. 38-41), elas que eram irmãs de Lázaro. Neste excerto de Lucas, nem Lázaro nem Betânia são citados. A importância, novamente, recai nas mulheres. Provavelmente não era a primeira aproximação entre Jesus e os irmãos de Betânia, mas por todos os evangelhos fica claro que Ele se sentia muito bem nesta casa. No período do seu ministério, a casa de Maria e Marta deve ter sido o mais próximo do que Ele poderia chamar de "lar". Marta era mais atirada, decidida, e Maria aproveitava cada minuto do tempo que tinha com Jesus. Marta, assoberbada com o trabalho de casa, busca em Jesus o apoio para que Ele repreenda Maria e esta venha ajudá-la, mas Jesus censura a ansiedade de Marta, e mostra que Maria é que estava certa. Afinal, receber o próprio Deus e Salvador em casa era um privilégio que deveria fazer qualquer pessoa se esquecer dos seus afazeres. Maria tinha feito a escolha certa.

Um comentário:

  1. Seu blog é muito bom, já andei por aqui outras vezes, gosto de seus textos.meu blog é marthacorreaonline.blogspot.com

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