segunda-feira, 10 de agosto de 2009

As crônicas de Marvin - 14

Sentimentos em comum

Rapidamente subimos a ruazinha e caminhávamos em direção ao Shopping que ficava ali perto.
- Hummm... Então estamos indo para o Shopping, Marvin?
- Bem, não exatamente. – respondi.
Continuamos andando enquanto ela tentava descobrir nosso destino antes de chegarmos. Foi então que chegamos à entrada do Shopping. Do lado de fora, existe um terreno vago, onde geralmente se instalam circos ou parques de diversão. Naquele dia, estava um parque que geralmente se instalava ali todo ano. Era setembro ainda. Não havia muitas chuvas naquela época, por isto era uma época boa de se instalar parques de diversão. Sem chuva, mais clientes.
- Muito bem, aqui estamos...
- O parque? – perguntava Amanda.
- Sim, o parque. Achei que seria legal nos divertirmos um pouco... Afinal de contas, não dá para ficar trancado em casa por todo o feriado...
- É, você tem razão... Mas Marvin, eu não posso entrar neste parque...
A declaração me assustou... Será que havia alguma regra maluca por trás disto? Mas é estranho, este parque já esteve em Goiânia outras vezes e me lembro bem de alguns irmãos comentarem sobre como se divertiram ali...
- Ué, Amanda... Por quê?
- É que eu estou de vestido... Estávamos em uma visita, lembra-se? Bem, vestidos não combinam muito com parques de diversão...
- Ah, você tem razão... Hummmm...
- Se você tivesse me avisado, eu estaria preparada. – me respondeu com um sorriso...
- Não seja por isto. Estamos na frente de um Shopping... Vamos comprar algo mais adequado então!
- O quê?
Antes que ela rejeitasse esta opção, peguei ela pela mão e a levei para o Shopping. Ela bem que tentou negar, mas não teve jeito: fomos até uma loja de roupas, procurar algo para ela.
Bem, neste momento eu tenho que confessar que não poderia ter cometido erro maior que este. A combinação de mulheres mais lojas de roupas nunca foi tão desastrosa para os homens que as acompanham. É como se acontecesse um distúrbio no espaço-tempo, fazendo com que o tempo para as mulheres ficasse pelo menos umas três vezes mais rápido, enquanto que para os homens ficasse umas quarenta vezes mais lento. E na verdade não posso reclamar muito disto, pois afinal, o mesmo efeito deve acontecer ao contrário, quando chamamos elas para ir a um boteco para conversarmos com nossos amigos. E assim como há homens que não vão a butecos, também há mulheres que não demoram muito tempo em uma loja de roupas. Infelizmente as exceções são poucas para ambos os lados. E eu não tive esta sorte.
A tarefa era simplesmente encontrar uma calça e uma blusa que fossem mais apropriados para se ir a um parque de diversões. Bem, não era tão simples assim... Ela levou um bom tempo escolhendo tudo.
- Puxa, Marvin, me desculpe pela indecisão... É que eu não consigo achar algo que me agrade...
- Está tudo bem, Amanda... – respondi, sorrindo.
Ela me parecia meio tensa... Talvez pensasse que a demora dela pudesse me fazer mudar de idéia. Eu entendia o lado dela. Às vezes é fácil para nós criticarmos as pessoas quando elas fazem algo que gostam, mas que nós mesmos não gostamos. Uma pessoa que não goste de xadrez pode não achar sentido nenhum em estudar livros e livros de jogadas de xadrez. Mas para aquele que gosta, estudar aqueles livros é prazeroso. E muitas vezes há discussões desnecessárias simplesmente por que as pessoas não conseguem ver isto. Mas eu não a trouxe ali para que ela ficasse nervosa ou tensa, eu queria que ela se divertisse. Então enquanto ela escolhia uma calça, peguei um chapéu de praia que estava ali por perto e o coloquei.
- Ei, que tal estou? – disse fazendo caretas...
Imediatamente quando ela me viu, começou a rir...
- Hahaha, Marvin, você está uma graça... Mas eu acho que não faz seu estilo, hahaha...
- Tem razão, mas nesta loja não se vendem sombreros mexicanos...
- Ah, é claro... Eles certamente fazem seu estilo, não é? – disse ela, rindo, talvez me achando com cara de Mariachi fake.
E pelos próximos minutos, ela ficou bem mais descontraída. Claro, eu ia fazendo minhas palhaçadas enquanto ela escolhia... Eu escolhia roupas estranhas, gerando mais risos por parte dela... Fico me perguntando como é que tais roupas são criadas... Será que os costureiros um dia acordam, dizendo “Puxa, hoje vou fazer a roupa mais estranha que eu puder” e fazem?
Então, começamos a provar as roupas, esperando a opinião do outro, como em um filme hollywoodiano. Comecei então a entender por que algumas vezes aparecem cenas como estas... Geralmente se pede a opinião sobre uma roupa a pessoas que confiamos, que queremos de certa forma, agradar. E depois de uma hora, ela já havia escolhido tudo que queria. Pediu para uma das atendentes para que pudesse trocar de roupa nos provadores depois de pagar e a atendente deixou. Então fomos ao caixa, onde eu peguei tudo que ela escolheu e disse:
- Pode deixar, eu pago.
- Você? Não, Marvin, não posso deixar você fazer isto.
- Ora, Amanda, fui eu quem te obrigou a vir até aqui... É o mínimo que eu posso fazer...
- Não, não posso aceitar isto... Você não precisa pagar nada...
- Ei... Não faço isto por que preciso, mas por que eu quero te dar isto de presente...
Ela ficou um pouco tímida com isto.
- Puxa, não é todo mundo que tem a vontade de me dar presentes assim...
- É, eu sei... Mas não faz mal a ninguém dar presentes de vez em quando, não é?
- Mesmo sendo caros?
- Dinheiro é o de menos agora e eu não tenho muito com que gastar... O que importa é agradar as pessoas de quem você gosta.
- Puxa... Obrigada então... – disse ela um pouco tímida...
Paguei a conta dela e ela rapidamente foi se trocar. O vestido a deixava um pouco velha, devo confessar. Agora com calça jeans e camiseta, ela parecia novamente uma jovem. Hora da diversão!
Corremos para o parque que ainda estava um pouco vazio. Ainda era dia, e as pessoas preferiam vir mais tarde. Assim, pagamos rápido pela entrada e em pouco tempo já estavamos tentando nos decidir sobre qual o primeiro brinquedo que iríamos...
- Vamos na montanha russa!!! – disse eu.
- Pu... Puxa, você tem certeza?
Só pelo gaguejar dela, eu já tinha certeza. A intenção era assustar mesmo.
- Sim, claro!
Então fomos para a fila. Não demorou muito tempo e os carrinhos chegaram. Entramos, Amanda ainda meio desconfiada. Colocamos todos os equipamentos de segurança e em pouco tempo o carrinho estava partindo.
Eu nunca tinha andado de montanha russa na vida. E aquela foi a experiência mais assustadora que tive. Depois de subir até a parte mais alta, lentamente, o carrinho desceu, de uma vez, até chegar próximo ao solo. É como se a fôssemos jogados de um desfiladeiro. Confesso que não apreciei o loop, minha cabeça foi parar junto aos pés. E não entendo por que o pessoal gosta de gritar tantooo... O quê é aquilo????
- AAAAAAhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhh!!!!
Desci acabado... Que viagem... Só depois de pisar em terra firme, tive a oportunidade de reparar na Amanda...
- Uau, adorei!!! Vamos de novo!!!
- O quê?????
- Vamos de novo!!! Eu gostei demais, é muito legal... Nunca imaginei que fosse tão bom!
- Você está brincando?
- Claro que não!!! Vamos??
Então ela me puxou pela mão e subimos novamente no carrinho da montanha russa. O pior é que não tinha fila, não tive tempo nem de respirar direito.
Depois de cinco voltas na montanha russa, a Amanda finalmente concordou em experimentar os outros brinquedos. Bom para mim, agora poderia ver se encontrava algum brinquedo que ela não gostasse (e eu sim). Não, não se trata de revanche... Ah, se trata sim!!! Fui direto naquele brinquedo que te faz girar em cima de um grande prato.
- Marvin, você tem certeza?
- Ei, não precisa perguntar se eu tenho certeza toda vez que formos em um brinquedo novo. Este aqui será diferente.
E o pior é que foi mesmo. Agora eu poderia saber como se sente uma roupa em uma máquina de lavar... O brinquedo começou lentamente a girar, mas logo ele girava tão rápido, mas tão rápido, que eu não conseguia mais desgrudar a minha cabeça do equipamento de segurança... E todos gritavam sem nenhum motivo, então decidi me juntar a eles...
- aaaaaaaaaaaaaaaAAAAAAAAAaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaAAAAAaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaAAAAAHHH!!!!
Foi uma experiência única! Vai ser a única vez na minha vida que vou neste brinquedo. Isto não é um brinquedo, é uma máquina de tortura chinesa... Como é que alguém consegue gostar disto???
- Puxa, eu gostei demais deste também!!!!
- O quê???
- Ah, Marvin, fala que você não gostou nem um pouquinho?
- Não gostei nem um pouquinho...
- Hummm, não seja mal-humorado... Hehehehe...
- Está bem, então vamos em qual agora?
Ela deu uma risadinha, olhando para algo atrás de mim...
- O que foi?
Me virei e tudo que vi foi um carrossel.
- Ah, então você está curtindo com a minha cara, não é?
- Hehehe... Só um pouquinho, Marvin...
- Humpf... Tenho certeza que no próximo brinquedo, eu me darei bem.
Desta vez fomos ao barco pirata. Não, eu não me dei bem, principalmente quando ele chegava nos pontos mais altos... Nenhuma diferença para a montanha russa...
- Muito legal este também, Marvin!!! – disse Amanda, com um grande sorriso no rosto.
Nunca a vi tão feliz em todo tempo que a conheço.
- Puxa, acho que preciso de um tempo... – respondi.
- Hehehe, tudo bem.
- Hummm, acho que sei de um brinquedo que será bom para mim...
- Ah, é? Qual?
Corri à uma das poucas barracas que não envolvia te chacoalhar, te jogar para cima ou te colocar de cabeça para baixo: a barraca de tiro. E nestas horas compensou todo aquele tempo ocioso desperdiçado com meus jogos de tiro ao alvo, escondidos dos anciãos, para não levar um chamado de atenção.
Comprei cinco rolhas, e fui capaz de ganhar uns dois chocolates. Eu sei que aquilo ali é difícil pois os prêmios são bem presos, mas o que vale é a diversão. Fiquei com um chocolate, o outro dei para Amanda.
- Humm, estava bom... Mas agora fiquei com vontade de comer mais alguma coisa...
- Puxa vida, mesmo depois de chacoalhada para todos os lados?
- Hehehehe, sim! Que tal um sorvete?
- Está bem... Eu também vou querer...
Compramos o sorvete e nos sentamos em um lugar, à sombra. Ficamos calados por cinco minutos, tomando o sorvete.
- Marvin...
- Sim?
- Eu queria te agradecer... por me trazer aqui... eu gostei muito...
- Hehehehe, embora eu esteja parecendo um rabugento, eu também estou gostando de estar por aqui... Esta hora eu poderia estar em casa, sozinho, fazendo qualquer coisa para matar o tempo...
- Hummmm... É mesmo, você mora sozinho... E seus pais?
- Bem... eles morreram há algum tempo...
- Oh... Sinto muito...
- Não tem problema... Você iria saber de uma forma ou de outra, não?
- Sim...
Houve um pequeno momento de silêncio.
- Eles morreram de acidente de carro... Estavam viajando à noite, quando um caminhoneiro que dormiu ao volante invadiu a pista deles...
- Puxa... Que pena.
- É... Sabe, eu sempre fui muito distante deles... Meu pai sempre trabalhava muito, só chegava à noite... Minha mãe se sentia muito carente por isto. Você poderia até pensar que ela teria suprido esta carência com seu filho, mas não foi assim comigo. Ela estava muito preocupada com o próprio casamento... Cresci sem o costume de conversar com eles... E eu nunca pensei que fosse sentir a falta deles, até que aconteceu o acidente... Na época, eu vivia para meu trabalho, assim como meu pai. Hoje acho que foi a única coisa que ele me ensinou, viver para o trabalho. Quando eles morreram, eu percebi que estava cometendo os mesmos erros que meu pai, então mudei minha vida completamente... Deixei um bom emprego e uma vida de luxo para viver uma vida mais simples...
Amanda ficou em silêncio por pelo menos um minuto, refletindo. Estava visivelmente melancólica e não era para menos.
- Sempre me lembro de um certo dia, quando estávamos esperando começar a reunião. Eu ainda tentava me enturmar com as outras irmãs, embora elas não me quisessem como amiga. Era uma noite de verão e fazia tanto calor!! Estava triste por causa de meu pai também, das brigas dele com minha mãe... Então apareceu uma nova pessoa no salão, um estudante. Ele era tão tímido... Assim como eu... E embora eu soubesse que ele era muito inteligente, ele nunca se vangloriou disto. Ele nunca tentou ser melhor que ninguém. Cada dia me surpreendo mais com ele, pois eu nem mesmo sabia que ele suportava sozinho a morte dos pais... Ele deve ser realmente forte por suportar isto de forma racional...
Lentamente virei meu rosto e olhei para aquela moça, que agora olhava para o chão.
- Sabe, este estudante... É por tudo isto que eu... que eu gosto tanto dele... E por isto estou tão feliz de estar perto dele...
Senti um frio na barriga, uma sensação que não poderia descrever... Uma parte de mim parecia não acreditar que estava acontecendo aquilo. Parecia irreal, fantástico. Esta parte cética precisava encontrar algo errado naquilo tudo.
- Amanda... como você poderia gostar deste estudante? Ele nunca atraiu ninguém, ele sempre foi feio e esquisito...
- Marvin... Esta beleza que você se refere é apenas um castelo de areia contruído na praia. Um dia vem a onda da idade e leva tudo. Mas a praia sem o castelo pode continuar sendo bela... E na verdade o que importa é a praia, não o castelo. Podemos fazer mais castelos, do jeito que quisermos, desde que a praia seja boa para isto. O que importa são as pessoas, as aparências mudam sempre. Talvez Jeová em sua grande sabedoria tenha permitido que as coisas fossem assim, para podermos entender que há muitas formas de beleza e que nem sempre o nosso imperfeito deixa de ser belo.
- Puxa, belas palavras... Nunca li algo assim na Sentinela...
- Hummmm... Não leu mesmo... São resultado de minhas reflexões. Eu gosto muito de pensar nas coisas da vida, mas não comento elas com ninguém, por que tenho medo de dizer besteira e ser repreendida.
A velha censura, muito peculiar às ditaduras. Ela não estava com medo de meras repreensões do tipo “você está errada neste ponto X”, mas daquelas acompanhadas por comissões e afins.
De repente, ela se levantou.
- Ei, tem mais um brinquedo que eu quero ir! Vamos?
Então ela me pegou pela mão e me puxou até os carrinhos de bate-bate. Havia muito tempo que não brincava em um destes. Peguei um preto e ela um azul. Logo que se iniciou, parti em direção a ela com toda a força que o carrinho poderia me oferecer. Bati com tanta força que ela até tombou para o lado.
- Ah, é assim, é? – disse ela com tom de revanche.
- Sim, é assim mesmo!
Ela não teve jeito de fazer nada, pois os moleques que estavam na pista se aproveitaram do fato dela estar meio presa para acabar de prendê-la. Dei a ré e fiz a volta na pista, para pegar embalo para mais um choque. Ela tentava ainda se livrar dos outros.
Enquanto isto, vários pensamentos passavam por minha cabeça. Todos eles se relacionavam com minha surpresa há pouco, nossa conversa. Eu sempre me senti sozinho e de alguma forma sempre quis resolver isto, sendo reconhecido por alguém. Até agora, não tinha tido sucesso. Por isto pensei que sempre seria um grande solitário cercado pela sociedade.
Mas com o tempo, percebi que eu estava errado. Eu não era um em um milhão, eu não era um tipo raro de pessoa. Na verdade, a grande parte do mundo é que é solitária. O mundo está cheio de pessoas tentando ser amadas, tentando ser reconhecidas. Não é para menos, pois a cada dia deixamos mais e mais de ser seres humanos. Nossa dor, nosso amor, nossa tristeza ou alegria não passam de algum tipo de reação química. Somos operários obrigados a fazer tudo que nossos patrões pedem por medo de sermos substituídos ou para mostrar (provar) que somos bons naquilo que fazemos. Somos brinquedos manuseados por crianças de 3 anos, soltando os pedaços. Ficamos sozinhos em nossa insignificância e assim como eu quis combater minha solidão com reconhecimento, todo mundo quis.
Por um momento quase acertei o carrinho dela novamente.
- Hahahaha, escapei!! – disse ela.
- Não por muito tempo!
Este combate da solidão então promoveu a maior onda de idiotices da história humana. Havia todo tipo de tentativa para se tornar famoso. Tinha gente com a capacidade de fazer músicas com duas notas musicais apenas. Letras de músicas obrigatoriamente tinham que estar relacionadas com sexo. Então começou a aparecer mulheres dançando ao lado deles... Alguém lançou a mania de apelidar mulheres de frutas e em pouco tempo não havia mais nome para usar (vocês deveriam ter conhecido a mulher jaca). Foi aí que começaram a pegar o nome de qualquer animal, planta, planeta, marca de cigarro... Tinha até a mulher Colgate, já imaginaram? Aquilo não parecia ter fim. Uma pobre mulher estava tentando bater o recorde já estabelecido de ser a mulher com mais silicone nos seios. Fico imaginando qual a razão disto. Talvez as milhares de mensagens de sua coleção de fãs pervertidos em todo o mundo a fizessem se sentir melhor. Devia ser muito triste chegar no seu quarto à noite e dar-se conta de que todo mundo é fã do seu silicone. Deveria ser muito triste alguém se esforçar tanto em seu trabalho para ser reconhecido pelos seus patrões, mas nunca receber sequer um obrigado.
- Ahá!!!! Te peguei, Marvin!
Era Amanda atingindo meu carrinho com grande força...
- Isto não vai ficar assim!
- Ah, você não vai mais me pegar!
Analisando estas tentativas, me dei conta que na verdade a simples busca pelo reconhecimento não valia de nada. Não era o simples reconhecimento, mas O Reconhecimento, aquele que se admira a pessoa de uma forma inexplicável, assim como não conseguia explicar o que senti ao ouvir Amanda me dizendo que gostava de mim. Então percebi que os dois de fato eram a mesma coisa, que eu acabei de achar o que procurava. Percebi que mais uma vez eu estava enganado... Pensei que saberia exatamente como era ser querido, mas me enganei completamente... Era um sentimento completamente diferente, incontrolável. Não era a resposta a um problema que eu encontrei, pois seria injusto tratar algo tão auto-suficiente em função de algo tão negativo.
Meu carrinho mais uma vez batia com força no dela, fazendo ela ir para frente.
- Hahahaha, eu te disse que te pegaria!
Logo a sirene tocou.
- Ah, isto não é justo!! O tempo já acabou!!
Lentamente nos levantamos dos carrinhos e saímos da pista. Eu estava feliz pela alegria dela.
- Hehehehe, isto foi muito legal!!! Mas infelizmente nós temos que ir... Não avisei meus pais que eu ficaria tanto tempo fora, e já são sete horas... Eu só gostaria de ir em mais um brinquedo...
- Ah, é? Qual?
Então ela apontou para o velho e bom trem fantasma que estava no canto do parque, convidando a todos para visitá-lo. Do lado de fora tocava Thriller e me lembrei que o cantor um dia foi testemunha de Jeová também... Certamente por isto que ele declarou não defender o ocultismo com esta música... Eu diria que os fantasmas assombram mais as testemunhas de Jeová do que as pessoas comuns.
- O trem fantasma? Humm, não me parece muito assustador, parece mais para crianças...
- Ah, mas eu sempre quis ir em um... Vamos, vamos??? – insistia ela como alguém que quer finalmente desfrutar de um prazer totalmente proibido.
- Está bem, então vamos.
Como eu esperava, o trem fantasma não era tão assustador assim. Eles assustavam mais quando eu era pequeno. Mas devo confessar que eles conseguem produzir efeitos muito bons. Foi ótimo reviver tudo aquilo. Foi ótima a companhia. Mas o melhor de tudo aquilo é que esta história era minha. Não era a história de ninguém. Eu não precisei me basear na história de ninguém, não esperava que fosse igual à história de ninguém.
Saímos do brinquedo e nos dirigimos à saída. Caminhávamos devagar, como que curtindo o caminho de volta. Ela olhava para baixo, pensando em alguma coisa que eu não sabia o que era. Eu, a olhava pelo canto dos olhos, às vezes diretamente. E aconteceu que ela percebeu que eu a olhava de maneira diferente e ficou um pouco tímida...
- O...O que foi, Marvin?
- Sabe, o que você me disse antes... O quanto você gosta deste estudante?
A vergonha dela aumentou bastante com a pergunta e eu pensei que ela não iria me responder. Logo percebi sua respiração mais forte.
- ... mais do que você imagina... muito mais.
Logo pegamos o ônibus, dirigindo-nos para casa. Ficamos um bom tempo calados durante a viagem, sérios, pensativos... O que acontecia? O que ela estava pensando agora? O que eu faço?
Feriado prolongado, sete horas da noite... Este tipo de combinação fazia bairros inteiros ficarem desertos. E nunca em toda a minha eu tinha visto a rua da casa de Amanda tão perfeitamente deserta. Não havia ninguém ali, especialmente testemunhas de Jeová. Paramos em frente ao portão de Amanda.
- Marvin... Muito obrigado de novo por tudo... Eu gostei demais do passeio.
- Eu também gostei muito, Amanda...
Ela sorriu.
- Que bom... Então.... Boa noite, Marvin.
- Boa noite... Amanda...
Então ela lentamente caminhou até a porta. Eu tinha que fazer algo.
- Ei, Amanda, espere.
Corri até ela. Ficamos cara a cara.
- Eu preciso te dizer uma coisa.
- Precisa? O quê?
Como eu tinha mencionado no início, era setembro. Não havia muita chuva nesta época. O céu estava sem muitas nuvens, por isto podia-se ver as estrelas iluminando o céu. E como havia estrelas! Como a lua iluminava tão bem aquela noite! Mesmo assim, algumas partes daquela rua ainda ficavam um pouco escuras, envolvendo tudo em mistério.
Não havia ninguém além dela e eu. Coloquei minha mão esquerda em seu rosto suavemente, enquanto a direita segurava seu ombro. Não lhe disse nada, pois eu sabia que um ato vale mais do que mil palavras. O beijo que lhe dei, este disse tudo.

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