Hoje, 23 de agosto de 2012, se vivo fosse, o escritor, jornalista e dramaturgo Nelson Rodrigues, comemoraria 100 anos de idade.
Criou frases imortais como "o dinheiro compra até amor verdadeiro", "se todos conhecessem a intimidade sexual uns dos outros, ninguém cumprimentaria ninguém", "toda unanimidade é burra", "só o inimigo não trai nunca" e "Deus está nas coincidências".
Por mais "óbvio ululante" (outra criação dele) que seja dizer isso, o grande observador do cotidiano brasileiro do século XX continua atual e polêmico como sempre foi.
Criou frases imortais como "o dinheiro compra até amor verdadeiro", "se todos conhecessem a intimidade sexual uns dos outros, ninguém cumprimentaria ninguém", "toda unanimidade é burra", "só o inimigo não trai nunca" e "Deus está nas coincidências".
Por mais "óbvio ululante" (outra criação dele) que seja dizer isso, o grande observador do cotidiano brasileiro do século XX continua atual e polêmico como sempre foi.
Muitos eventos celebram o seu centenário, e recomendamos a leitura do ótimo artigo "O anjo pornográfico: religião e prazer em Nelson Rodrigues", de Élton de Oliveira Nunes, publicado na revista (metodista) Caminhando, que pode ser lido na íntegra em .pdf clicando aqui.
Abaixo, um pequeno excerto do artigo em questão:
Mas, que vida é essa que leva para a morte? E por que mortes violentas e, em um sentido, punitivas e autopunitivas? Podemos buscar uma resposta no drama cristão de sentido e negação. Mais precisamente na fórmula cristã do sofrimento para a redenção: desejo, pecado, punição (Cf. uma leitura pietista de Tg 1.13-15). Sábato (1992/p. 30) vê claramente isso quando comenta:
A falta de auto-estima não transparece apenas nos atos extremos do suicídio. A cada momento, uma personagem necessita de punição.
A nós, torna-se claro aqui que Nelson revive em suas tramas o calvário do ser humano no drama da vida cristã. Ao desejar, comete o ser humano pecado. Ao pecar, vem a punição. Mas, em Nelson, a punição é também uma forma de redenção. Ao ser punido, de alguma forma, o ser se redime. Mas esta redenção não termina, pois novo ciclo de desejo irrompe e o drama recomeça. Por isso, novamente a peça se reinicia com outros nomes e situações, mas sempre o mesmo drama. Falando sobre isso, Francisco Carneiro da Cunha (2000/p. 15), citando Nelson Rodrigues, diz:
A ficção para ser purificadora tem de ser atroz. O personagem é vil para que não o sejamos. Ele realiza a miséria inconfessa de cada um de nós. E no teatro que é mais plástico, direto e de um impacto tão mais puro esse fenômeno de transparência torna-se mais válido. Para salvar a platéia é preciso encher o palco de assassinos, adúlteros e insanos, em suma, de uma rajada de monstros. São os nossos monstros íntimos dos quais eventualmente nos libertamos para em seguida recriá-los em cena novamente.
O drama de Nelson é o drama cristão. Nelson busca a redenção, pois vida é desejo (sexual) e desejo é intolerável na sociedade (expressa na família cristã-burguesa). O outro é objeto sempre proibido. Sábato (1992/p. 67) comenta:
Tendo recebido a formação cristã de classe média urbana brasileira, o dramaturgo preservou até o fim a crença na divindade e em preceitos morais básicos. A dificuldade de observar esses preceitos aguça a loucura. Na terra o homem vive o desregramento de uma unidade perdida, inconsolável órfão de Deus. Há um deblaterar insano em terreno hostil. Resta o sentimento permanente de logro. A vida prega uma peça em todo mundo.