quarta-feira, 30 de novembro de 2016

10.000 brasileiros mórmons vivem em Utah

O Templo - centro da devoção mórmon em Salt Lake City e no mundo.

Mesmo sem ser mórmon, tive o prazer de conhecer o Estado de Utah duas vezes, passando pela capital Salt Lake City em 2014 e 2015.

Utah é uma terra de grandes belezas naturais, com seus lindos e imensos parques nacionais, além dos pontos turísticos que fazem parte do inconsciente coletivo mundial como o Monument Valley.

Na segunda oportunidade, tomei mais tempo para conhecer um pouco da capital, em especial a praça do templo onde estão instalados os principais órgãos diretivos dos mórmons no mundo, além do Templo que é sede da religião.

Quando puder, ainda que de passagem, visite o Utah e a sempre bela e 

As fotos que ilustram esta matéria são de minha autoria e os artigos abaixo foram escritos por Cláudia Trevisan e publicados no Estadão de 27/11/16:

Dez mil brasileiros vivem o ‘sonho americano mórmon’

No centro mundial da religião, ainda reside o veterano Cláudio dos Santos, de 101 anos, que embarcou para Salt Lake City em 1955

SALT LAKE CITY - Ser mórmon no Brasil de 1955 era integrar uma minoria de 500 pessoas, entre as quais estava Cláudio dos Santos. Naquele ano, ele decidiu se mudar com a família para Salt Lake City, o centro mundial da religião fundada nos Estados Unidos na década de 1820. Aos 101 anos, Santos é o veterano dos cerca de 10 mil brasileiros que vivem na cidade, a maioria dos quais integrantes da igreja.

Em 1955, ele embarcou com a mulher e os três filhos para Miami em uma Fortaleza Voadora, um avião militar de quatro motores usado na 2.ª Guerra Mundial. De lá, eles viajaram por uma semana de ônibus até Utah, o Estado do Oeste americano cuja paisagem árida e montanhosa foi um dos cenários preferidos para os clássicos filmes de cowboy hollywoodianos.



Placa de boas-vindas na fronteira sul do Estado, com o Arizona, já anunciando o esplendor do Monument Valley a seguir.


Quando se fala no País, a especialidade lembrada é o rodízio

Feijoada ainda aparece, mas em segundo plano; grande parte dos funcionários é brasileira e busca aprender inglês

SALT LAKE CITY - Rodízio é sinônimo de Brasil nos Estados Unidos e, em Salt Lake City, a concorrência de espetos é acirrada. Na capital do Estado de Utah também há lugares de prato feito, feijoada, pudim e brigadeiro, regados a guaraná. Com o nome gringo de Rodizio Grill, o restaurante da família Utrera abriu as portas na cidade em 1998, quando a rede que já tem 19 endereços no país ainda engatinhava.

Dos 70 funcionários da empresa em Salt Lake City, 70% são brasileiros, na maioria integrantes da Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, segundo Nicolas Utrera, filho do fundador do negócio, Ivan Utrera. Entre eles está Diego Souza, que se batizou como mórmon em 2007, quando tinha 16 anos, e se mudou para a capital de Utah em 2014.

Depois de estudar inglês por alguns meses, ele entrou na LDS Business College, a escola de negócios ligada à igreja –a sigla de três letras se refere à versão em inglês de Santos dos Últimos Dias. Os mórmons são a força dominante em Utah e representam 60% da população do Estado. Além da igreja, eles controlam algumas das melhores instituições de ensino locais e oferecem a seus seguidores estrangeiros as mesmas anuidades que cobram dos americanos – em geral, os estudantes internacionais estão sujeitos a preços mais elevados.

Souza estuda contabilidade e se formará no fim de 2017. No ano passado, ele se casou com uma americana que conheceu na igreja, com a qual pretende ter o primeiro filho em breve. “No Brasil, eu era pobre. Aqui eu também sou pobre, mas tenho carro e consigo viajar para o exterior e pensar em comprar uma casa”, disse Souza, que trabalha como garçom e churrasqueiro. Enquanto ele falava com a reportagem, um de seus colegas passou anunciando o resultado de um jogo entre Corinthians e Flamengo: “2 a 1 para o Coringão!”.

Diego Cavalcante Quiroga, de 32 anos, chegou a Salt Lake City em abril com a mulher, Jessica, e os dois filhos, de 5 e 2 anos. Mórmon como o xará, ele é garçom da Rodizio Grill, estuda inglês e pretende entrar em uma faculdade de Utah. “Para ter algo melhor, eu precisava do inglês e vim para cá para aprender mais rápido”, disse Quiroga, que é de uma família mórmon.

Feijoada. O Rodizio Grill é um dos pelo menos seis restaurantes brasileiros que existem na região de Salt Lake City – em sua maioria churrascarias. Uma das exceções é o Sweet Spot, da família Drogueti, especializado em feijoada, salgadinhos, pratos feitos e doces brasileiros. Atrás do balcão, o patriarca Reinaldo Drogueti atende cerca de 150 brasileiros a cada sábado em busca de feijoada.

A cearense Lucy Filizola, que não pertence ao mundo dos restaurantes, se mudou para Salt Lake City em 1997, quando tinha 17 anos. “Minha mãe queria que eu viajasse”, disse a filha de uma família mórmon de classe média alta do Ceará. A brasileira se casou no ano seguinte e teve seis filhos, seguindo a tradição de grandes famílias da igreja. Formada em contabilidade na LDS Business College, Lucy é separada e cria sozinha os seus seis filhos, um dos quais tem paralisia cerebral. “Não tenho empregada e todos ajudam com o irmão na cadeira de rodas”, disse a cearense, dona de uma empresa de consultoria. “Não é como no Brasil. Aqui, eles são autossuficientes e cada um é responsável por suas coisas.”

Saída em missão é ritual de ‘transição’ para a vida adulta

Aos 17 anos, Vitor, o filho de Solange Cruz e de Silvio, prepara-se para seus dois anos como missionário, um ritual que todos os homens da igreja são encorajados a desempenhar. As mulheres servem por períodos menores – 18 meses – e representam um número crescente dos jovens mórmons que tentam converter pessoas ao redor do mundo. Atualmente, a igreja tem 75 mil missionários, alguns dos quais trabalhando nos Estados Unidos.

Há 16 meses, a brasileira Luiza Renta saiu de Porto Seguro para ser missionária em Salt Lake City. Sua função é ficar na Praça do Templo para explicar a visitantes os princípios e a história da igreja, em um misto de relações públicas e busca de convertidos para a religião. Missionárias de diferentes países trabalham no local, levando crachás com suas respectivas bandeiras. Como os homens, elas andam em dupla. A atual companheira de Renata é da Mongólia, mas o par muda a cada duas semanas. “Não trocaria os 18 meses por nada.”


Placa de boas-vindas na fronteira norte de Utah, com o Idaho, na rodovia I-15 que leva a Salt Lake City.


Clã Neeleman fica entre EUA e Brasil há 60 anos

Missionários chegaram ao País na década de 1950; família reúne hoje cerca de 80 pessoas

SALT LAKE CITY, UTAH - “Você voltaria para o Brasil comigo?” foi a primeira pergunta que Gary Neeleman fez à então namorada, Rose Lewis, quando retornou a Utah, depois de servir por dois anos como missionário mórmon no interior do Paraná e Santa Catarina. “Mas você acabou de voltar”, ela respondeu. “Sim, mas ainda não acabei”, justificou ele.

O ano era 1956. Dezoito meses mais tarde, o casal chegava a São Paulo com seu filho de 4 meses, John. Nos dez anos seguintes, Neeleman trabalharia como correspondente da agência de notícias United Press Internacional no Brasil. Nesse período, 3 dos 7 filhos do casal nasceram no Hospital Samaritano, na capital paulista, entre os quais David, dono da empresa de aviação Azul.

Sessenta e dois anos depois de pisar pela primeira vez no Brasil, Neeleman ainda não terminou sua história com o País. Desde 2001, ele é cônsul honorário do Brasil em Salt Lake City, responsável por atender uma comunidade estimada em 20 mil pessoas nos Estados de Utah, Idaho, Wyoming, Montana e Oeste do Colorado. Nove de seus descendentes foram missionários no Brasil, entre os quais um neto e uma neta que ainda estão servindo em São Paulo e no Rio Grande do Sul.

Além dos sete filhos, Neeleman e Rose têm 35 netos e 21 bisnetos, a maioria dos quais detentores de cidadania americana e brasileira. Com maridos e mulheres que foram agregados à família, o clã é formado por 80 pessoas.

“Eu gostei do Brasil e gostei dos brasileiros”, disse Neeleman, lembrando sua experiência de meados da década de 1950. Aos 82 anos, ele caminha com ajuda de uma bengala fabricada por outro empreendedor da família, Mark, dono de uma fábrica de produtos de bambu no Brasil.

Ao lado de Rose, que tem 81 anos, Neeleman fez seis viagens à Amazônia nos últimos anos para entrevistar pessoas e levantar dados para dois dos quatro livros sobre o Brasil que escreveram juntos: Trilhos na Selva, de 2011, e Soldados da Borracha, publicado no ano passado.

O primeiro conta a história fracassada da construção da ferrovia Madeira-Mamoré, no início do século 20, na qual cerca de 10 mil trabalhadores faleceram, vítimas de doença tropicais. O outro fala da história de milhares de seringueiros que morreram na Amazônia durante a Segunda Guerra Mundial para garantir o crucial fornecimento de borracha para as forças aliadas durante o conflito. Em uma das viagens que fizeram à Rondônia para levantar dados para os livros, Rose e Gary passaram uma noite na estrada, quando o carro em que os levava a Jaci-Paraná quebrou.

Guerra Civil. O mais recente livro do casal, A Migração Confederada ao Brasil, conta a história dos americanos que imigraram para o Brasil no fim do século 19, deixando o Sul dos Estados Unidos, depois da derrota para o Norte na Guerra Civil americana (1861-1865).



terça-feira, 29 de novembro de 2016

O desafio de (ainda) ser cristão no Iraque


Um dia, no futuro, quando alguém escrever a história atualizada do cristianismo, pelo menos um capítulo especial será reservado para o exemplo de força e fé que poucos, mas valorosos cristãos estão vivendo (e sobrevivendo) diariamente no Oriente Médio.

A matéria é da BBC Brasil:

‘Destruam nossos filhos antes de nossas igrejas’: cristãos iraquianos falam sobre devastação deixada pelo EI em Mossul

Quando o Estado Islâmico (EI) avançou sobre o território do Iraque, em 2014, milhares de cristãos foram os primeiros a deixar o país. Os poucos que restaram sob domínio do EI foram mortos ou forçados a se converter ao Islã. Agora, com a ofensiva do exército iraquiano sobre o local, alguns cristãos estão retornando às suas casas – e à sua religião.

Mossul, segunda maior cidade do Iraque, foi tomada pelo EI em junho de 2014. Localizada em uma província rica em petróleo e próxima da Síria - e das posições do EI no deserto - a cidade se tornou símbolo do poder dos extremistas. Foi ali que seu líder máximo, Abu Bakr al-Baghdadi, proclamou um "califado".

Por isso, desde o dia 17 de outubro, uma força de ataque formada por 50 mil combatentes iraquianos, entre soldados, guerrilheiros peshmerga (como são conhecidos os curdos iraquianos), tribos sunitas e milicianos xiitas – assistidos por aviões militares e consultores de uma coalizão liderada pelos Estados Unidos – luta para reconquistar Mossul.

A batalha ainda está longe do fim, mas muitos têm conseguido escapar em meio aos combates e fugir para campos de refugiados ou para outras cidades no Iraque.

Uma delas é a cidade de Qaragosh. No mês passado, o exército iraquiano retomou o controle sobre a cidade, considerada a mais importante para os cristãos locais antes da invasão. Lá, as igrejas foram destruídas, estátuas de Maria decapitadas e crucifixos queimados pelo EI.

“Eu preferia perder meus filhos do que ver a igreja assim”, disse uma mulher à BBC.

Já Ismail, um jovem de 16 anos, e sua mãe foram forçados pelo Estado Islâmico a se converter ao Islã. “Eles me disseram ‘não há outro Deus além de Alá’ e ‘você será um muçulmano’. Eu disse ‘não há outro Deus além de Jesus’ e ele me bateu”, contou.

"Ele apontou uma arma na minha cabeça e disse à minha mãe 'se você não se converter ao Islã, vamos matar seu filho'", disse Ismail à BBC.

De volta a uma igreja perto de sua casa, Ismail espera começar uma nova vida. Mas para ele - e para milhares de outros cristãos no Iraque - o futuro ainda é incerto.



sábado, 26 de novembro de 2016

Adeus, Russell Shedd

Hoje foi um dia triste para os protestantes brasileiros, em especial os batistas, que tinham em Russell Shedd uma referência ímpar em termos de conhecimento e dignidade.

Tive o prazer de conhecê-lo no carnaval de 1986, quando participei de um retiro interdenominacional no Recanto Sal em Americana (SP), então de propriedade da Cruzada Estudantil e Profissional para Cristo (CEPC), organização missionária de grande relevância no século XX, fundada por Bill Bright (1921-2003).

Foram dias de profunda comunhão e intenso aprendizado, e jamais me esquecerei das preleções de Russell Shedd sobre o evangelho de João, quando ele explicava os textos com aquela fala mansa, folheando lentamente as páginas da Bíblia que ele próprio editou pela Vida Nova.

Vai-se o servo e fica o legado, portanto.

Curioso que ele tenha falecido no mesmo dia em que Fidel Castro teve sua morte anunciada. Shedd aos 87 anos, Castro aos 90 anos de idade.

Duas vidas que, cada um à sua maneira, influenciaram o século XX e ajudaram a moldar o mundo em que vivemos, para o bem ou para o mal, segundo a ótica de quem se sentia abençoado ou ameaçado por cada um deles.

Tive o prazer de visitar Cuba em 2000. A ilha ainda guardava os sinais de uma época em que a Guerra Fria entre americanos e soviéticos dividia o mundo entre "bons" e "maus" ao gosto do freguês.

Senti-me bem, entretanto. Havia um nítido desejo de mudar, mas não se sabia como. O embargo econômico que o governo americano lhes havia imposto desde os tempos da Revolução Cubana parecia ser o mais importante fator limitador para uma mudança de regime.

Lendo a mensagem do presidente dos EUA, Barack Obama, ao povo de Cuba, dizendo que a História julgará Fidel e que o povo cubano está no limiar de novos (e melhores) tempos, fica a esperança de que aquele povo digno e batalhador encontre o lugar de honra que merece na comunidade das nações.

Por seu lado, Russell Shedd conquistou o seu lugar no coração de cristãos brasileiros e de outras nações com a sua humildade e seu enorme amor pela Palavra de Deus, da qual foi um dos maiores e melhores pregadores nas muitas décadas em que esteve entre nós.



quinta-feira, 24 de novembro de 2016

Sinos incomodam em Brasília

E não são os do apocalipse, que - apesar de tudo - ainda não chegou por aquelas plagas.

A informação foi publicada no Estadão em 13/11/16:

Tribunal de Brasília manda igreja ‘limitar’ volume dos sinos

Badaladas incomodam vizinho da São Pedro de Alcântara, no Lago Sul; Corte impõe nível de intensidade sonora em 50 decibéis

Sarah Teófilo

O Tribunal de Justiça do Distrito Federal mandou ‘limitar’ o volume dos sinos da Igreja São Pedro de Alcântara, no Lago Sul de Brasília, em ação movida por um vizinho do templo contra a Mitra Arquidiocesana. A sentença, da 6.ª Turma Cível do TJ/DF, prevê que os sinos badalem no limite do nível de intensidade sonora estabelecido pelas normas de controle de ruídos, ou 50 decibéis.

A ação foi proposta por um vizinho da São Pedro de Alcântara, que alega morar na região há mais de 30 anos. Segundo ele, há mais de um ano um novo maquinário de som foi instalado e passou a incomodá-lo.

De acordo com o vizinho, os sinos são tocados diariamente, de quatro a cinco minutos por vez, quatro a cinco vezes ao dia, e o têm impedido de realizar atividades do dia a dia. Ele afirma que as badaladas o irritam e provocam cansaço e ‘outros problemas de saúde’.

Em sua defesa, a igreja afirmou que os sinos, instalados em 1977, não tocam nos ‘horários de descanso’ e que só em 2009 os propulsores foram substituídos, ‘mas sem aumento sonoro’.

A igreja afirmou que, ao receber a correspondência de um dos autores da ação, reduziu a duração das badaladas para cerca de dois minutos.

Em 1.ª instância, o juiz da 16.ª Vara Cível de Brasília, julgou improcedente o pedido do vizinho sob argumento de que se trata de ‘liberdade religiosa’ e por ‘não ter constatado qualquer abuso de direito’.

No âmbito do Tribunal de Justiça do DF, o relator da 6.ª Turma Cível, desembargador José Divino de Oliveira, acolheu apelação do autor da ação e condenou a igreja a reduzir o volume dos sinos ”a fim de assegurar a convivência harmônica entre ambos’.

COM A PALAVRA, A MITRA ARQUIDIOCESANA DE BRASÍLIA

Um dos advogados da Mitra Arquidiocesana de Brasília, João Paulo de Campos Echeverria, explicou à reportagem do Estadão que a decisão da 6.ª Turma Cível do Tribunal de Justiça do Distrito Federal ‘nada mudou a situação. Segundo ele, ‘os sinos sempre tocaram nos limites impostos pela legislação’.

Echeverria observou ainda que foi interposto no processo recurso por ambas as partes, tanto pela igreja quanto pelo vizinho.



quarta-feira, 23 de novembro de 2016

Miguel Falabella vira "deus" no teatro


É arte ou profano? Decida-se lendo a matéria do Estadão:

Miguel Falabella estreia 'God', peça que ironiza e humaniza o todo-poderoso

Trata-se de uma versão traduzida e adaptada pelo próprio ator e diretor

Ubiratan Brasil

Além de ser brasileiro, Deus ostenta uma elegante cabeleira grisalha, bigode e cavanhaque. “E, como Ele mesmo gosta de dizer, é egocêntrico, sexista, genocida”, comenta o ator, diretor e dramaturgo Miguel Falabella que, no papel do Todo-Poderoso, estreia nesta sexta-feira, dia 18, a peça God, no Teatro Procópio Ferreira.

Trata-se de uma versão traduzida e adaptada pelo próprio Falabella (responsável também pela direção) do espetáculo escrito pelo americano David Javerbaum que, na Broadway, foi encenada por Jim Parsons (o Sheldon do seriado The Big Bang Theory) e, depois, por Sean Hayes (conhecido pelo hilariante papel de Jack McFarland, de Will & Grace). “Enquanto o Deus deles é mais frívolo, o meu é mais poderoso, até por causa da minha voz”, conta Falabella que, antes de chegar a São Paulo, apresentou o espetáculo em Niterói, Belo Horizonte, Curitiba, Campinas, Brasília e Porto Alegre, como aquecimento. “Foi emocionante. Sem contar os musicais, desde Louro, Alto, Solteiro, Procura (de 1994), eu não era recebido tão calorosamente pela plateia. Cheguei a chorar em Porto Alegre.”

O motivo é simples - ao longo de uma vasta carreira, construída especialmente na televisão, Falabella cultivou uma fidelidade com o espectador baseada na confiança. Sua ironia rasgadamente crítica sempre traduziu com exatidão os anseios de seu público e, incrivelmente, mesmo os personagens mais insolentes, como Caco Antibes, do seriado Sai de Baixo, proferiam frases que bem poderiam ser repetidas pela plateia.

Em God, a situação se repete. Na peça, ele vive o Criador que, cansado do descaso da humanidade com a natureza e com os Dez Mandamentos, volta à Terra a fim de, à la Steve Jobs, criar o “universo dois ponto zero”, com uma interface mais bem resolvida. “Segundo suas próprias palavras, se o ser humano não se cuidar, em dez anos a Nokia vai apresentar o novo modelo de homem”, diverte-se. “Sem se esquecer da Bíblia em formado iPad.”

O texto da peça é ágil e se explica por um motivo prosaico: David Javerbaum começou escrevendo tuítes em que tratava, em tom de brincadeira, de passagens da Bíblia. Em seguida, ele reuniu o material e escreveu um livro, The Last Testament: A Memoir By God (O Velho Testamento: Uma Memória de Deus), que inspirou, por fim, a peça.

Em sua versão, Falabella criou um Deus mais mundano. “É um ser muito engraçado, que confessa suas limitações, sem esconder os lances mais horrorosos. Afinal, o que Ele fez a Abrão, incitando-o a sacrificar o próprio filho como teste de sua fé, é um ato maldoso”, explica o ator. “Mas o mais interessante do espetáculo é que o texto não fala de religião, mas do homem. Com isso, ninguém se sente ofendido.”

No espetáculo, Deus e seus dois arcanjos dedicados, Miguel (Magno Bandarz) e Gabriel (Elder Gattely), respondem a algumas das questões mais profundas que têm atormentado a humanidade desde a Criação, em apenas 90 minutos. Sem paciência com as confusões políticas, Ele oferece uma nova versão dos Dez Mandamentos, entre eles os seguintes: “Honrarás teus filhos”, “Separar-me-ás do Estado” e “Não me dirás o que devo fazer”.

Também não poderia faltar humor, característica marcante de Falabella, especialmente nos desabafos de Deus. “Ele fala sobre o dilúvio de uma forma muito engraçada, dizendo que deu um trabalho danado enxugar tudo aquilo para recriar a vida”, diz. “Deus também desmistifica a origem da humanidade ao revelar que, no início, eram dois homens, Adão e Jefferson, e que a mulher chegou depois.”

Como autor da versão nacional, Falabella não se esquivou de rechear o texto com citações locais, como a referência à Rua 25 de Março (“Gosto daquele barulho”) e, ao fazer um pot-pourri de várias canções, emendou músicas de Leonardo com Mara Maravilha. “Menciono também a revista Caras, quando Deus reclama de quando teve uma única chance de aparecer na capa: ‘A Ana Maria Braga e o diabo do Louro José ficaram na minha frente na foto’.”

Apesar do tom de comédia, o espetáculo sofre uma reviravolta perto de seu final. É quando Deus recrimina os atos destrutivos do homem contra a natureza. “Ele é firme ao falar que estamos rumando contra um muro e sem freio”, comenta Falabella. “Abro mão do humor nesse momento em que Deus culpa o homem pelo apocalipse. Ao fazer minha versão, acabei retirando uma citação de José Saramago, que se encaixa bem: ‘A vida é um manual de maus costumes’.”

GOD

Teatro Procópio Ferreira. Rua Augusta, 2823. Tel.: 3083-4475. 6ª, 21h. Sáb., 18h e 21. Dom., 18h. R$ 90 / R$ 150. Até 18/12.



terça-feira, 22 de novembro de 2016

Parabéns, evangélicos! Seu apoio a Temer fez o preço da pinga baixar 40%

Vejam o lado bom, queridos evangélicos! Seu apoio entusiasmado a Michel Temer pode ser festejado com a "caipirinha cóspel" mais barata dos últimos tempos.... uhulll!

A notícia é da Agência Brasil:

Impostos podem cair 40% com volta da cachaça ao Simples, prevê setor

Mariana Branco

Os micro e pequenos produtores de cachaça terão redução de cerca 40% nos impostos sobre a bebida quando o setor retornar ao Simples Nacional, regime tributário simplificado para pequenos empresários. A estimativa é do Instituto Brasileiro da Cachaça (Ibrac). A inclusão da bebida, ao lado do vinho e da cerveja artesanais, foi sancionada pelo presidente Michel Temer em 27 de outubro.

O aval de Temer foi dado em meio a um pacote de medidas do governo chamado Crescer sem Medo. A possibilidade de opção pelo Simples começa a valer somente em 2018. As medidas também ampliaram de 60 para 120 meses o prazo de parcelamento de dívidas por empresas optantes do Simples e elevou de R$ 3,6 milhões para R$ 4,8 milhões o teto de faturamento para participar do regime.

O diretor executivo do Ibrac, Carlos Lima, destaca que a cachaça saiu do Simples Nacional em 2001, junto com outros setores. Na avaliação dele, a resistência ao retorno da atividade ao regime simplificado tem relação com preconceito, pelo fato de tratar-se de uma bebida alcóolica.

De acordo com Lima, atualmente há cerca de 1,5 mil fabricantes de cachaça registrados no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Desses, 90% são micro e pequenos produtores. Ele acredita, contudo, que o retorno ao Simples em 2018 aumentará essa contagem.

“O censo agropecuário do IBGE [Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística] de 2006 levantou 11.124 [produtores de cachaça]. Ou seja, temos uma informalidade de cerca de 80%. Com certeza [o número de produtores clandestinos] vai diminuir com a possibilidade de aderir ao Simples”, diz.

Para Lima, a redução da informalidade trará benefícios. “Com isso, é possível aumento da arrecadação tributária e da qualidade da cachaça. Esses produtos informais não estão sujeitos a um controle de qualidade. Agora, passarão a ser fiscalizados pelo órgão competente”, ressalta.

Edição: Juliana Andrade



segunda-feira, 21 de novembro de 2016

Uma budista tenta acalmar Bolsonaro

A matéria foi publicada no Estadão de 20/11/16:

Media training ensina Bolsonaro a 'olhar para si'

Olga Curado agora dá aulas a deputado do PSC, políticos e empresários implicados na Lava Jato

Gilberto Amendola

Entre os políticos que já fora ajudados por Olga Curado estão nomes como o de Lula, Dilma e Aécio

Ensinar o deputado Jair Bolsonaro (PSC-RJ) a se ouvir, a compreender que tudo aquilo que ele diz pode ter consequências na vida de outras pessoas; ensiná-lo a olhar para dentro de si e a encontrar um ponto de equilíbrio – tudo isso, claro, usando técnicas do Aikidô, arte marcial que prega os princípios da não violência.

Parece uma missão impossível, mas esse já foi um dos trabalhos da especialista em media training, jornalista, poeta e budista Olga Curado. Sim, Bolsonaro foi um dos políticos nacionalmente conhecidos que, ao longo dos últimos 16 anos, procurou melhorar a própria comunicação tendo se socorrido dos serviços de Olga (o ex-presidente Lula, a ex-presidente Dilma Rousseff e o senador Aécio Neves também já foram ajudados por ela).

A ética profissional não permitiu que Olga contasse detalhes das sessões com o deputado linha dura. O que não impediu que a reportagem imaginasse o excelentíssimo se atirando e rolando no tapete macio do escritório da especialista – eventualmente utilizado para dinâmicas físicas. “É importante ensinar a cair para que a pessoa aprenda a se levantar. Proponho exercícios de equilíbrio físico. A pessoa tem que cair para perceber o seu ponto de equilíbrio. Cair no chão, rolar e perceber como é rígida. No filme O Discurso do Rei, o coach usa técnicas parecidas com essa para melhorar a comunicação do rei gago”, diz Olga.

A reportagem procurou Bolsonaro para que o próprio comentasse as aulas, mas o pedido parou na assessoria do deputado que, automaticamente e sem ouvi-lo, avisou que ele não falaria sobre o assunto.

Ainda sobre Bolsonaro, Olga comenta que ele é um personagem curioso – com crenças que ela não discute. “Ele tem o público dele. O importante é que políticos como Bolsonaro tenham a medida clara do que falam. Às vezes, políticos falam sem a noção das consequências. Falam e se surpreendem com o efeito nocivo do ódio. Se surpreendem com a interpretação que fazem do que eles dizem. É preciso cuidado com a força bruta da inconsciência”, diz.

‘Água no pescoço’. Sem revelar especificidades de seus clientes, Olga conta como muitos dos políticos chegam em seu escritório. “Normalmente me procuram quando a água já está batendo no pescoço”, fala. Não à toa, citados na Operação Lava Jato (políticos e empresários) estão entre os seus clientes mais recentes. “Claro, o meu trabalho acontece antes do caso chegar em Curitiba”, avisa. “Mas eu preparo, por exemplo, quem vai dar algum depoimento em CPI ou explicações públicas. Tento passar técnicas para que eles tenham autocontrole mesmo diante das perguntas mais duras. Até para dizer que não vai responder é preciso algum preparo”, lembra.

Mas existiria alguma dica básica que poderia ser aplicada para a maioria dos políticos em maus lençóis? “Não adianta querer ser simpático, seduzir os interlocutores ou fingir ser íntimo demais. Não precisa cometer suicido público, mas não se deve enrolar. Não ajudo políticos a se esconderem. Eles precisam assumir responsabilidades por aquilo que pensam ou querem. Não ensino a mentir. Não faço teatro”, afirma Olga.

Para ela, o que faz muitos homens públicos apresentarem problemas de comunicação é a falta de clareza em seus propósitos. “Quando pergunto por que determinado político quer ser prefeito ou governador, ele me diz que é pra ‘melhorar a vida das pessoas’. Ok, tudo bem. Isso é mais ou menos verdade porque muitos não têm uma agenda concreta. A qualidade da comunicação tem a ver com coerência. Não adianta exercício de retórica. Ou o político explica como ele pretende ajudar as pessoas ou o eleitor percebe. O eleitor tem uma sensação quando o que se diz é verdadeiro ou apenas um exercício artístico, uma elaboração artificial”, diz.

Segundo Olga, a nossa “cultura do líder” faz com que muitos tenham vergonha de dizer coisas como ‘não sei’. “O mais fácil é a gente ouvir: ‘isso eu não sei, mas na minha opinião...’ Essa é a síndrome da opinião sobre assuntos que as pessoas não sabem. Políticos sofrem disso e, por isso, sofrem com a exposição pública”, conta. “Tento confrontá-los para que não assumam os dois personagens mais manjados do comportamento político: o da vítima ou o do super-herói. Nenhum funciona. Quando se escondem atrás desses personagens, só falam para convertidos. Portanto, não ganham eleições majoritárias.”

Além das questões conceituais, a especialista trata de problemas bastante concretos, como o de ensinar como um político deve respirar, como olhar para as pessoas, segurar um olhar sem constrangimento, como não parecer arrogante, usar as mãos de uma maneira correta, manter a postura e ter a consciência do próprio corpo. “Muitos tomam um susto quando se olham. Dizem: ‘ eu não sabia que era assim. Trata-se de um processo de educação não verbal”, afirma.

Questionada sobre políticos que teriam o domínio da arte da comunicação, Olga cita dois que não foram seus alunos: “Tem um que é bastante óbvio: o Obama. Ele sabe criar um ambiente empático, sabe dar a atenção devida aos seus interlocutores, tem clareza e etc.”.

Cunha. O outro é um pouco mais surpreendente. “Eduardo Cunha. Ele não precisa de aula. Acho que já nasceu sabendo. Não é um julgamento de conteúdo, mas de forma. Ele tem a fala clara e sabe o que quer quando está se expressando. Na votação do impeachment, ele ouvia os maiores xingamentos contra ele e apenas repetia: ‘Excelência, por favor, o seu voto’”.



domingo, 20 de novembro de 2016

A arte de mentir em tempos de pós-verdade

Eleitores de Trump e o próprio em êxtase.
Quanto desta cena é verdade?
Ou pós-verdade...

Sim, é isto mesmo o que você leu no título, a mentira virou uma forma de "arte" nesses tempos em que a verdade não basta mais por si só, ela precisa de um "plus".

Qualquer semelhança com o discurso político único supostamente "ético" que ouvimos diariamente no Brasil não é mera coincidência.

Leia o artigo abaixo, publicado no The Economist, traduzido e reproduzido no Estadão, que você vai entender o porquê:

Arte da mentira

Na política, a verdade já não é mais é falseada ou contestada; tornou-se secundária no debate público

Os políticos sempre mentiram. Faz alguma diferença se resolverem deixar a verdade totalmente de lado?

A essa altura deve estar claro que Donald Trump habita um mundo onde os fatos são, quando muito, imigrantes indesejáveis. Nesse mundo de fantasia, Barack Obama usa uma certidão de nascimento falsa e é o fundador do Estado Islâmico (EI), os Clinton são assassinos e o pai de um dos adversários do magnata nas primárias esteve com Lee Harvey Oswald quando este distribuía panfletos pró-Cuba.

Trump é o principal expoente da política “pós-verdade”, um estilo de atuação na esfera pública que se distingue pelo uso frequente de afirmações aparentemente verdadeiras, mas sem qualquer respaldo na realidade. O descaramento do bilionário não é penalizado, sendo antes tomado como prova de que o eleitor está diante de alguém que não abaixa a cabeça para as elites no poder.

E Trump não é o único. Na Grã-Bretanha, um dos argumentos utilizados pela campanha que venceu o referendo de junho foi o de que, se não aprovassem a saída da União Europeia (UE), os britânicos seriam invadidos por uma horda de imigrantes, já que a Turquia estaria prestes a ingressar no bloco.

Se, como The Economist, o leitor acredita que a política deve se basear em fatos, isso é preocupante. As democracias mais sólidas dispõem de mecanismos de defesa para se proteger da pós-verdade. Países autoritários são vulneráveis.

Mas a pós-verdade é mais que uma simples invenção de elites que ficaram a ver navios. A expressão põe em evidência o cerne do que há de novo na política: a verdade já não é falseada ou contestada; tornou-se secundária. No passado, o objetivo das mentiras políticas era criar uma visão enganosa do mundo. As mentiras de homens como Trump não funcionam assim. Seu intuito não é convencer, e sim reforçar preconceitos.

São os sentimentos, não os fatos, que importam nesse tipo de discurso. A incredulidade dos adversários legitima a mentalidade “nós-contra-eles” que os candidatos anti-establishment exploram com sucesso. E se os oponentes tentam mostrar que as palavras não correspondem à realidade, veem-se obrigados a lutar no campo de batalha escolhido pelos líderes pós-verdade. Quanto mais os defensores da permanência da Grã-Bretanha na UE se esforçavam para mostrar que os partidários do Brexit usavam cálculos superestimados ao determinar os valores gastos pelo país por fazer parte do bloco europeu, por mais tempo mantinham a magnitude desses gastos sob os holofotes.

A política pós-verdade tem muitos pais. Alguns são dignos de louvor. Submeter as instituições e as autoridades a questionamentos é uma virtude democrática. Assumir uma atitude cética e desafiadora diante dos líderes é o primeiro passo para reformar uma sociedade. O colapso do comunismo foi acelerado graças a pessoas corajosas para contestar a propaganda oficial.

Acontece que há também forças corrosivas em ação. Muitos eleitores sentem que foram enganados e deixados para trás, ao passo que as elites continuam a viver no bem-bom. Detestam os tecnocratas que diziam que o euro contribuiria para melhorar suas vidas . Nas democracias ocidentais, as pessoas já não confiam como antes nos especialistas e nas instituições.

Mídia. A evolução da mídia também ofereceu terreno fértil para que a pós-verdade florescesse. A fragmentação das fontes noticiosas criou um mundo atomizado, em que mentiras, rumores e fofocas se espalham com velocidade alarmante. Mentiras compartilhadas online, em redes cujos membros confiam mais uns nos outros do que em qualquer órgão tradicional de imprensa, rapidamente ganham aparência de verdade. Confrontadas com evidências que contradizem crenças que lhes são particularmente caras, as pessoas preferem fechar os olhos para a realidade. Práticas jornalísticas bem-intencionadas também têm culpa no cartório. A busca da “imparcialidade” na veiculação de notícias com frequência cria um falso equilíbrio, às custas da verdade. Os cientistas da Nasa dizem que Marte provavelmente é desabitado; o professor Zureta diz que pululam alienígenas no planeta. Opinião por opinião, cada qual que escolha a sua.

Quando a política começa a ficar parecida com um ringue de luta-livre, a sociedade arca com os custos. Ao insistir em dizer - para perplexidade de alguns dos conservadores mais empedernidos - que Obama fundou o EI, Trump impede a realização de um debate sério sobre como lidar com extremistas violentos. Governar é complicado; aos olhos da política pós-verdade, porém, a complexidade é só um truque ilusionista que os especialistas usam para levar todo mundo no bico.É tentador pensar que, quando ideias vendidas sem amparo na realidade começarem a soçobrar, os eleitores abrirão os olhos e perceberão que se deixaram levar por líderes que não se dão o trabalho nem de disfarçar as mentiras. A pior parte da pós-verdade, porém, é que não se deve contar com esse movimento de autocorreção. Quando as mentiras tornam o sistema político disfuncional, é possível que os resultados negativos acabem por realimentar a mesma alienação e o mesmo descrédito nas instituições que estão na própria origem da política pós-verdade.

Políticos “pró-verdade”, às armas. Para enfrentar essa situação, os políticos comprometidos com os fatos e com a democracia precisam partir para o contra-ataque e incorporar uma linguagem mais aguerrida . Assumir uma posição de humildade e reconhecer os equívocos a que foram levados pela arrogância e pelo excesso de confiança também ajudaria. A verdade conta com forças poderosas a seu lado.

As democracias também têm instituições que podem ajudar. Sistemas judiciários independentes dispõem de mecanismos para estabelecer a verdade. O mesmo se aplica a órgãos criados para orientar a implementação de políticas públicas - em especial os que têm laços com a comunidade científica.

Se Trump for derrotado em novembro, a política pós-verdade parecerá menos ameaçadora, muito embora o bilionário tenha feito sucesso demais nos últimos meses para que ela suma do mapa de uma hora para a outra. Bem mais preocupante é a situação de países como Rússia e Turquia, onde autocratas recorrem à pós-verdade para silenciar os adversários. Deixadas à deriva num oceano de mentiras, as pessoas não terão em que se agarrar. Embaladas pela novidade da política pós-verdade, correm o risco de se ver nas mãos da opressão à moda antiga. / TRADUÇÃO DE ALEXANDRE HUBNER



Erasmo Carlos cantando "Pega na Mentira" em 1981. Premonitório?




sábado, 19 de novembro de 2016

"Strange Fruit", de Billie Holiday, a 1ª canção de protesto

Tempos bicudos esses em que estamos vivendo, não é mesmo?

Parece que esse tal "progresso" da civilização humana é só uma balela que nos vendem para entorpecer nossos sentidos a fim de que não percebamos como a depravação é inerente à nossa espécie inacreditavelmente chamada de "sapiens".

Rumos estranhos esses que o nosso planeta está tomando. Protestar resolve?

É tão difícil responder essa questão com o mínimo de isenção como estabelecer qual foi a primeira "canção de protesto".

Afinal, se você considerar por um certo ângulo, a Marselhesa (o hino nacional da França) é um canto de guerra (composto em 1792 pelo oficial Claude Joseph Rouget de Lisle) que não deixa de ser uma canção de protesto contra os "feróces soldats" que vêm "égorger ("degolar") vos fils, vos compagnes", com o inconveniente hoje politicamente incorreto de "que um sangue impuro banhe o nosso solo" (qu'un sang impur abreuve nos sillons!).

Só que a marcial e revolucionária "La Marsellaise" dá um pique e tanto, você há de concordar. Basta ouvi-la antes dos jogos de futebol da seleção francesa que até o time adversário se sente intimidado.

Já "Strange Fruit" tem uma história mais singela, mas igualmente carregada de dor e pavor.

Originalmente composta em 1937 na forma de poema por um militante comunista norteamericano (sim, eles existiram um dia), Abel Meeropol, sob o pseudônimo de Lewis Allan, ele depois a musicou e a cantou junto com sua esposa e a cantora Laura Duncan em vários comícios em Nova York, inclusive no mítico Madison Square Gordon.

Meeropol compôs o poema depois que viu a foto de dois homens negros, Thomas Shipp e Abram Smith, pendurados (enforcados) em 1930 numa árvore num dos muitos linchamentos por motivação racista que eram comuns no Sul dos Estados Unidos até a década de 1960.

Evitando ferir susceptibilidades, não publicamos a foto aqui, mas ela pode ser vista na página da Wikipedia que trata do acontecimento. 

Em 1939, a canção chegou à lenda chamada Billie Holiday, que após muita resistência dela própria, de sua gravadora e de seu empresário, terminou gravando aquela que ficou conhecida como a primeira canção de protesto da história, pelo menos no que diz respeito à era da popularização da música e da massificação da informação.

Billie dizia que "Strange Fruit" lhe trazia à memória a morte de seu pai, que - devido ao racismo - não pode ser tratado do problema de pulmão que o incomodava.

Ouça, portanto, este clássico, cuja letra e tradução segue mais abaixo:





STRANGE FRUIT

Southern trees bear a strange fruit
Blood on the leaves and blood at the root
Black bodies swinging in the southern breeze
Strange fruit hanging from the poplar trees

Pastoral scene of the gallant south
The bulging eyes and the twisted mouth
Scent of magnolias, sweet and fresh
Then the sudden smell of burning flesh

Here is fruit for the crows to pluck
For the rain to gather, for the wind to suck
For the sun to rot, for the trees to drop
Here is a strange and bitter crop




FRUTA ESTRANHA

Árvores do sul produzem uma fruta estranha
Sangue nas folhas e sangue nas raízes
Corpos negros balançando na brisa do sul
Fruta estranha penduradas nos álamos

Pastoril cena do valente sul
Os olhos inchados e a boca torcida
Perfume de magnólias, doce e fresca
Depois o repentino cheiro de carne queimada

Aqui está a fruta para os corvos arrancarem
Para a chuva recolher, para o vento sugar
Para o sol apodrecer, para as árvores deixarem cair
Aqui está a estranha e amarga colheita



sexta-feira, 18 de novembro de 2016

Deputado Cabo Dalciolo pede para Temer abandonar maçonaria e satanismo

Em 2011, Cabo Dalciolo foi à Câmara agradecer o apoio
do então deputado Anthony Garotinho aos bombeiros do RJ.
Hoje estão em lugares bem diferentes...

O deputado evangélico Cabo Dalciolo se elegeu pelo PSOL-RJ, de onde foi expulso por suas posições religiosas e hoje é filiado ao PTdoB-RJ, que lhe permite subir à tribuna da Câmara dos Deputados e fazer discursos como esse, proferido ontem, 17/11/16, no qual alerta o presidente Michel Temer para abandonar a maçonaria e o satanismo:




quinta-feira, 17 de novembro de 2016

Candidato dos evangélicos a presidente em 2002, Garotinho é preso no RJ

Sorte sua se você ainda não votava (e não era evangélico) em 2002, e não teve o desprazer de se sentir forçado a votar num candidato em quem você não confiava só porque ele era "evangélico".

Ai de você se se voltasse contra o "ungido" do Senhor para aquela eleição...

A notícia é do El País:

Ex-governador do Rio Anthony Garotinho 
é preso pela PF

Ele foi alvo da Operação Chequinho, que combate crimes eleitorais na cidade de Campos de Goytacazes

GIL ALESSI

O ex-governador do Rio de Janeiro Anthony Garotinho foi preso preventivamente na manhã desta quarta-feira pela Polícia Federal, alvo da Operação Chequinho, que mira crimes eleitorais ocorridos em Campos dos Goytacazes, no norte do Rio. Garotinho é secretário de Governo da cidade, cuja prefeita é sua mulher, Rosinha Garotinho (PR). Ele foi detido em sua casa no bairro do Flamengo, zona sul do Rio. Ele faria parte de um esquema de fraudes que utilizou o programa Cheque Cidadão para fins eleitorais, de acordo com informações preliminares. A ordem de prisão foi assinada pelo juiz eleitoral Glaucenir Silva de Oliveira. Fernando Rodrigues, que defende o político, afirmou que a prisão é ilegal e que ele irá recorrer ao Tribunal Regional Eleitoral.

Garotinho, que é uma das maiores lideranças evangélicas do Estado e integra a Igreja Presbiteriana, foi um dos principais fiadores da campanha vitoriosa do bispo licenciado Marcelo Crivella (PRB) ao Governo do Rio este ano. O vice da chapa, Fernando Mac Dowell, é do PR, e foi indicado por Garotinho, que é pai de Clarissa Garotinho, uma das deputadas federais mais votadas no Estado. A prisão do ex-governador pode complicar o processo de montagem do primeiro escalão do prefeito eleito do Rio.

O delegado Paulo Cassiano, responsável pela ação, afirmou ao jornal Extra que Garotinho é "líder de uma organização criminosa", e que ele teria usado o programa Cheque Cidadão "para comprar votos e, consequentemente, fraudar as eleições em Campos". O programa concede benefícios de até 200 reais para famílias de baixa renda. A PF já havia detido em outubro a ex-coordenadora do Cheque Cidadão, Gisele Koch, junto com o vice-presidente da Câmara de Campos, Thiago Virgílio - que está proibido de entrar na Casa. Dois vereadores locais também foram presos à época. Para o juiz responsável pela prisão, trata-se de um "programa assistencialista eleitoreiro e que tornou-se ilícito diante da desvirtuação de sua finalidade".

Segundo a PF, o grupo colhia documentos de eleitores para cadastrá-los no Cheque Cidadão, inflando a iniciativa e provocando um aumento no volume de benefícios pagos de mais de 100%. Em troca, os beneficiários teriam que votar na mulher de Garotinho. Dos cerca de 30.000 cadastrados no programa o Ministério Público aponta que 18.000 integrariam o esquema.

Em nota divulgada em setembro a prefeitura de Campos afirmou que o programa cumpre "rigorosamente a legislação eleitoral", e que "respeita todos os critérios técnicos, inclusive, realizando recadastramentos periódicos, a fim de evitar possíveis distorções na concessão dos benefícios".

Durante seu Governo, de 1999 a 2002, Garotinho enfrentou diversas acusações de corrupção, e chegou a ser denunciado em 2010 por formação de quadrilha. Segundo o processo, que tramitou na primeira instância do Rio, ele teria agido para favorecer os grupos milicianos no Estado. Como deputado federal, Garotinho foi um dos articuladores da bancada evangélica na Câmara para barrar o kit anti-homofobia proposto pelo Governo Federal.



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