Dúvida do dia: chegará Donald Trump a Washington? (uma recriação do famoso quadro "George Washington cruzando o rio Delaware", de 1851) |
Ufa! Finalmente chegou o dia das eleições nos Estados Unidos, que foi esperado como se algo parecido com o Armagedom estivesse para acontecer. E talvez aconteça...
Hoje é dia de pegar seu balde de pipocas e ficar na frente da TV vendo algum canal internacional de notícias porque fortes emoções estão reservadas para o decorrer do dia e da próxima noite que testará os cardíacos.
Independentemente de quem ganhe aquela poltrona cobiçada no Salão Oval da Casa Branca, Donald Trump (pelo lado republicano) ou Hillary Clinton (democrata), o estrago já está feito para a democracia americana, que se apresenta como modelo para o mundo e teve uma campanha digna de "república das bananas" e repleta de golpes abaixo da cintura.
O quadro se apresenta levemente favorável a Hillary Clinton, sobretudo quando se considera que o número de latinos que já votou antecipadamente (nos Estados onde existe esta possibilidade) é o maior da história norte-americana, e ninguém tem dúvida sobre qual é o candidato preferido deles, já que Donald Trump fez questão de atacar esta comunidade ameaçando construir uma muralha gigante na fronteira com o México para impedir que eles entrem no país.
Curiosamente, Clinton não teve que levantar um dedinho só para atrair o voto latino, já que Trump lhe entregou de bandeja esta fatia do eleitorado.
Entretanto, há um grupo específico que já está experimentando o amargo sabor da derrota, não importando quem vença o pleito. É o grupo dos evangélicos fundamentalistas americanos, que vão votar maciçamente em Donald Trump mas morrem de vergonha de ter que admitir que farão isso.
Comportamento este muito diferente das eleições passadas, em que os evangélicos foram decisivos para eleger George W. Bush em 2000 e 2004, e lutaram fervorosamente contra Barack Obama em 2008 e 2012, quando ressuscitaram a ideia do "tea party", o movimento com valores tradicionais e independentistas que foi decisivo na Revolução Americana de 1776.
O maior expoente do "tea party" foi Sarah Palin, candidata a vice-presidente dos Estados Unidos em 2008 na chapa encabeçada por John McCain, mas seu apoio a Trump nas atuais eleições é bastante discreto, a exemplo do que ocorre com a imensa maioria dos evangélicos americanos, que parecem ter vergonha de se aliarem a um candidato misógino que não mede as palavras e vive se metendo em trapalhadas verbais.
Isto fez com que opositores dos evangélicos se animassem e passassem a atacá-los por sua hipocrisia, como foi o caso de Bill Maher, militante ateu e apresentador do programa "Real Time with Bill Maher" (vídeo abaixo), no qual agradeceu a Trump pela oportunidade que ele concedeu aos americanos de conferirem a hipocrisia dos evangélicos no que diz respeito a uma campanha política.
Primeiro, porque diante de um candidato tão falastrão e politicamente incorreto, os evangélicos fingiram não apoiá-lo ou, no máximo, defendem um voto envergonhado em Trump. Poucos realmente dão a cara a tapa. O "low profile" é a regra neste segmento.
Segundo, porque, apesar de defensores dos 10 mandamentos, se alinharam com um candidato cuja vida denota sua intenção permanente de quebrar todos eles.
Bill Maher prossegue seu agradecimento a Trump dizendo que - graças ao magnata - esta campanha não é como as campanhas passadas, nas quais todo candidato fazia questão de parecer "mais cristão" que o outro, mas exige dos evangélicos uma resposta à inquietação de todos nos Estados Unidos: como é que eles se alinharam à campanha de um homem que é mais conhecido por suas virtudes nada cristãs?
No fundo, este é o grande problema que ocorre quando aqueles que se dizem cristãos tornam o nome "evangélico" numa espécie de identificação de partido político.
Ao levar um nome santo como este para a arena dos debates político-ideológicos, podem ter deixado para trás seu profundo significado espiritual.
Algo muito parecido com o que está acontecendo no Brasil, infelizmente.