quinta-feira, 28 de março de 2013

Católicos são os religiosos mais liberais no Brasil



Os dados consolidados pela pesquisa do Datafolha não foram divulgados em sua totalidade, mas os resultados abertos até aqui não deixam de ser curiosos, segundo a matéria publicada na Folha de S. Paulo de 27/03/13:

Análise Datafolha: Católicos são os mais liberais entre religiosos

REINALDO JOSÉ LOPES

A pesquisa feita pelo Datafolha sobre a eleição do papa Francisco consolida a impressão de que há uma grande diferença entre o que a igreja prega e o que os católicos brasileiros pensam ou praticam --com algumas nuances importantes.

Em primeiro lugar, chama a atenção o fato de que, em temas polêmicos, ligados à moral sexual ou aos pilares do funcionamento da igreja, os católicos do Brasil são, com frequência, mais "liberais" que os membros de todas as demais igrejas cristãs.

É no mínimo curioso, por exemplo, que num país onde já há "bispas" e "pastoras" com status de celebridade, mais católicos defendam que uma mulher pode celebrar a missa (64% deles) do que evangélicos pentecostais (56%) e entre os não pentecostais (58%).

O contingente católico da população também é o grupo mais aberto, entre os membros das igrejas cristãs, à possibilidade de uniões homossexuais (41%).

Esse número só não é maior do que o registrado entre espíritas (64%) e adeptos da umbanda (53%), os únicos grupos religiosos do país que têm uma maioria favorável a esse tipo de união, de acordo com o levantamento do Datafolha.

E os resultados são parecidos quando se pergunta o posicionamento sobre a legalização do aborto.

A questão, claro, é como explicar o abismo entre o Magistério (o ensinamento oficial da igreja) e a prática, coisa que pesquisas de opinião de larga escala não foram projetadas para fazer.

Um primeiro aspecto importante provavelmente é o simples gigantismo e peso histórico da Igreja Católica no Brasil. O "catolicismo cultural", o hábito de batizar os filhos e ir à igreja apenas para casamentos e funerais, ainda é uma força considerável, embora esse tipo de católico esteja virando evangélico ou "sem religião" com frequência cada vez maior.

PESO E TESOURO

Há ainda a influência duradoura do Concílio Vaticano 2º (1962-1965), encontro de todos os bispos do planeta que redefiniu a relação da igreja com o mundo moderno.

Muitos sacerdotes e fiéis ainda interpretam as afirmações do concílio sobre a primazia da consciência de cada pessoa como uma abertura para tomar suas próprias decisões sobre temas que não afetariam o cerne da fé.

(Por outro lado, o concílio também condenou o aborto como "crime abominável", e só 41% dos católicos do país aceitam abrir brechas para o procedimento.)

Outro detalhe interessante é a diferença entre o que os fiéis acham correto e o que o papa deveria fazer a respeito.

Nem todo mundo que é a favor da camisinha ou da pílula anticoncepcional acha que o papa deveria sair em defesa delas, por exemplo.

E, apesar da associação entre celibato clerical e casos de abuso sexual envolvendo padres, metade dos católicos (52%) ainda prefere um clero celibatário. A tradição católica estaria, então, mais para um fardo ou para um tesouro? Para muita gente, talvez seja as duas coisas.



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