sexta-feira, 29 de março de 2013

Papamania anima mas não garante recuperação do número de católicos no Brasil

É o que diz matéria publicada na Folha de S. Paulo de 28/03/13:

Papa Francisco deve animar católicos brasileiros, dizem especialistas

MORRIS KACHANI

A nomeação de um papa latino-americano, com nome de um santo bastante reverenciado e que provavelmente visitará o Brasil em um importante evento voltado para jovens no final de julho, no Rio de Janeiro (a Jornada Mundial da Juventude), tende a animar o segmento católico nacional, na avaliação de especialistas ouvidos pela Folha.

"Sua simplicidade e sua tradição de trabalho junto ao povo pobre são dados característicos do que existe de melhor no clero latino-americano e isso ajudará a população a se encontrar com mais facilidade com esse papa do que com Bento 16", afirma Francisco Borba, coordenador do Núcleo de Fé e Cultura da PUC de São Paulo.

Contudo, se o foco do papa Francisco for o de contribuir de modo significativo para ao menos reduzir o declínio católico no Brasil, não será uma tarefa simples.

A proporção de católicos, que foi superior a 90% ao longo do século 20, caiu para menos de 3/4 no ano 2000 e menos de 2/3 em 2010. Outro aspecto relevante é o crescimento dos sem religião, que eram 0,8% em 1970 e chegaram a 8% em 2010.

Se as tendências das duas últimas décadas se mantiverem, o Brasil do século 21 terá uma configuração diferente da que teve durante seus primeiros 500 anos de história: deixará de ser hegemonicamente católico nos próximos 20 a 30 anos, passando a evangélico.

E esse é um processo não necessariamente sincronizado com o resto da América Latina. Na Argentina por exemplo, impressionantes 92% se dizem católicos.

O crescimento evangélico também acontece, mas com muito menos intensidade. "A média de católicos no continente é de 75% e o Brasil puxa esta média para baixo", explica Fernando Altemeyer, professor de teologia da PUC.

Luiz Eduardo Wanderley, também da PUC, afirma que o Brasil sempre foi mais aberto e crítico em termos religiosos do que a Argentina. "O novo papa é representante de um dos segmentos mais conservadores daquele país", diz.

Em 2011 havia 22.119 padres brasileiros, para 47.805 centros pastorais. E são 9.336 os seminaristas que em até sete anos se tornarão padres, se não mudarem de ideia durante os estudos.

Um padre leva em média sete anos para se ordenar, enquanto um pastor evangélico, dependendo da igreja, pode levar apenas três meses.

"O deficit de padres no Brasil é um problema grave de atendimento pastoral, porque o povo acaba ficando sem missa", diz Altemeyer.

Para tentar reverter esse quadro, a Igreja Católica criou novas formas de inserção, como os diáconos permanentes, que hoje já são 2.711 em atividade no Brasil.

Os diáconos são casados e não podem celebrar missa ou ouvir confissão. Mas podem batizar, fazer a extrema unção ou a liturgia da palavra.

Para Borba, o Brasil nunca foi a maior nação católica do mundo: "se somos a maior nação católica, é só no número. Muitos se dizem católicos em respeito à tradição da família, mas poucos frequentam a igreja.

E há também o elemento sincrético, muito presente nas camadas populares", diz.

André Ricardo de Souza, sociólogo da Universidade Federal de São Carlos, diz que a quantidade de católicos brasileiros que vivenciam a experiência na igreja "não passa dos 15%".

Não há consenso entre os especialistas sobre quais são as principais vertentes da Igreja Católica no Brasil.

Todos concordam porém, que a Teologia da Libertação perdeu influência e o cenário atual é dominado pelos conservadores, que têm em Odilo Scherer um dos seus principais expoentes.

O grande destaque, em termos de apelo de público, continua sendo a Renovação Carismática, representada pela Canção Nova ou Shalom e os padres cantores.

Os carismáticos já contam com 15 milhões de adeptos e continuam crescendo.

"Eles propõem uma renovação apenas litúrgica. Politicamente ou em termos de moral sexual, são bastante conservadores", explica André Ricardo.

Outros movimentos que crescem, mas em proporção bem menor, são os focolares, com uma abordagem mais ecumênica, ou o Comunhão e Libertação.

Diferentes uns dos outros, todos esses movimentos surgiram no pós-Segunda Guerra e serviriam, de uma maneira ou de outra, como um caminho alternativo ao proposto pelos evangélicos.

Em comum, apresentam Cristo como uma figura fascinante e próxima. O aspecto emocional é muito importante. Agem de uma forma diferente: o encontro com Jesus pode acontecer e mudar a vida do fiel.



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