O conselho é da psicanalista Regina Navarro Lins, em seu blog, que reproduzimos aqui em homenagem ao Dia Internacional da Mulher.
Cá entre nós, o conselho parece ser simplista demais, mas é um primeiro passo para que mulheres comecem a pensar (e repensar) a(s) maneira(s) como enfrentam o tema com seus parceiros, a fim de evitar a violência doméstica.
Afinal, há uma série de outros fatores imbricados na questão, como o nível sócio-cultural dos envolvidos, família desestruturada, ausência de modelos familiares positivos anteriores, a dependência econômica da mulher em relação ao marido, os filhos, autoestima, e por aí vai.
Outro passo fundamental, por exemplo, que não pode ser ignorado jamais é educar crianças e adolescentes do sexo masculino a aprenderem a respeitar as mulheres desde a mais tenra idade, preparando-os para os relacionamentos que terão no futuro.
Portanto, resumir o problema a uma só reação parece precipitado, mas tomar uma posição firme antes do primeiro tapa pode ser o início de uma solução:
Violência dentro de casa
A questão da semana é o caso da mulher que teme ser agredida pelo marido. E esse temor não é incomum. No Brasil, uma em cada quatro mulheres sofre com a violência doméstica. As estatísticas mostram que grande parte dos ferimentos físicos e assassinatos ocorrem entre pessoas que vivem juntas. Segundo um artigo do jornal americano New York Times, o comandante das forças das Nações Unidas na Bósnia costumava se referir aos rugidos noturnos das metralhadoras no centro de Sarajevo, em 1993, como “violência doméstica”.
Numa relação amorosa é comum haver discussões, afinal, quando não se está de acordo com alguém argumentar, mesmo de forma veemente, é um modo de reconhecer o outro, de levar em conta que ele existe. Na violência, ao contrário, o outro é impedido de se expressar, não existe diálogo. A agressão física não acontece de uma hora para outra. Tudo tem início muito antes dos empurrões e dos golpes. Um olhar de desprezo, uma ironia, uma intimidação, são pequenas violências que vão minando a autoestima da mulher.
Antes do primeiro tapa as mulheres devem reagir à violência verbal e psicológica. Para isso é essencial que elas aprendam a perceber os primeiros sinais de violência para encontrar em si mesmas a força para sair de uma situação abusiva. Compreender por que se tolera um comportamento intolerável é também compreender como se pode sair dele.
Não é nada fácil para o homem corresponder ao ideal masculino que a sociedade patriarcal lhe exige. Homens e mulheres têm as mesmas necessidades psicológicas — trocar afeto, expressar emoções, criar vínculos. A questão é que perseguir esse ideal impede a satisfação das necessidades, e a impossibilidade de alcançá-lo gera frustração. Está aberto o espaço para a violência masculina no dia-a-dia. Essa ideia se confirma quando os estudos mostram que a violência contra as mulheres não é a mesma em todos os lugares. É muito maior onde se cultua o mito da masculinidade.
É interessante observar que não há necessidade do uso da força para subjugar o outro; meios sutis, repetitivos, velados, ambíguos podem ser empregados com igual eficácia. Atos ou palavras desse tipo são muitas vezes mais perniciosos que uma agressão direta, que seria reconhecida como tal e levaria a uma reação de defesa.
A psicanalista francesa Marie-France Hirigoyen, que pesquisou bastante o tema, faz uma severa crítica aos psicanalistas que consideram que as mulheres que permanecem na relação experimentam uma satisfação de ordem masoquista em ser objeto de sevícias. “É preciso que esse discurso alienante cesse, pois, sem uma preparação psicológica destinada a submetê-la, mulher alguma aceitaria os abusos psicológicos e muito menos a violência física.”