Historiador francês suicida-se diante do altar da Catedral de Notre-Dame
Um homem de 78 anos, identificado como o político, historiador, ensaísta, jornalista e ativista de extrema direita Dominique Venner, autor ainda de vários livros, matou-se a tiro em plena catedral de Notre-Dame em Paris, França, cerca das 16h00 locais (14h00 GMT).
No momento do suicídio a catedral de Notre-Dame estava repleta de turistas e de fiéis mas foi evacuada sem sobressaltos.
As autoridades encontraram uma carta pousada no altar, junto ao corpo mas, Dominique Venner ter-se-á aproximado calmamente do local tendo-se suicidado sem proferir um som ao disparar uma arma de fabrico belga dentro da própria boca.
Este foi o segundo suicídio na capital francesa em menos de uma semana. No dia 16 de maio, quinta feira passada, um outro homem, de cerca de cinquenta anos, entrou numa escola primária católica e, com recurso a uma espingarda de canos serrados, suicidou-se à frente de dezenas de alunos com idades a rondar os seis anos.
Nascido em 16 de abril de 1935, Dominique Venner era historiador especializado em História política e militar, conhecido em França pela sua grande atividade política de extrema direita, pela qual foi detido 18 meses, em 1961.
Em 1962 o seu manifesto Pour une critique positive (por uma crítica positiva) escrito imediatamente após ser libertado da prisão, tornou-se um texto fundamental para uma parte da extrema direita.
Catedral fechada
Um turista americano afirmou à Agência France Presse (AFP) que a catedral estava cheia no momento do suicídio mas que não se gerou pânico.
A catedral foi encerrada ao público e todas as Missas foram suspensas até às 20h00 locais. A essa hora haverá uma "vigília pela vida" com os prelados da Ilha de França, a que pertence a catedral.
"Vamos rezar por este homem como por tantos outros que estão desesperados," afirmou o Monsenhor Patrick Jacquin, reitor de Notre-Dame. "É terrível, pensamos nele e na sua família," acrescentou, referindo que Venner, "era um desconhecido, não era um fiel da catedral".
Perigo islamita
Na última nota que assinou, publicada no seu blogue com data de hoje, 21 de maio, Venner critica ferozmente a aprovação pelo Parlamento francês, na semana passada, da lei que permite o casamento entre pessoas do mesmo sexo.
Avisa também contra o perigo da islamização de França, considerando a imigração uma ameaça maior ainda do que o casamento gay, comparando-a "uma grande substituição da população da França e da Europa."
Intitulado "A manif de 26 de maio e Heidegger" o ensaio fala do risco de "uma França caída em poder dos islamitas," criticando toda a classe política francesa e a Igreja Católica pelo seu papel na imigração.
"Desde há quarenta anos, os políticos e governos de todos os partidos (excepto a Frente Nacional), assim como o patronato e a Igreja, trabalharam ativamente acelerando por todos os meios a imigração afro-magrebina," escreveu.
"Gestos espetaculares"
Sobre a manifestação do próximo dia 26, contra o casamento gay, Venner sublinhava que os seus participantes "terão razão em gritar a sua impaciência e a sua cólera" mas advertia que "o seu combate não pode limitar-se à recusa do casamento gay."
"Serão necessários certamente gestos novos, espetaculares e simbólicos para sacudir as sonolências, abalar as consciências anestesiadas e acordar a memória das nossas origens", escreveu Venner.
O historiador era atualmente editor da revista La Nouvelle Revue d'Histoire.
"Potência simbólica"
Pierre Guillaume Roux, editor dos livros de Venner, disse à AFP ter falado com o autor na noite de segunda-feira, sobre a sua próxima obra que deverá chegar às livrarias no próximo mês.
"Não creio que se deva ligar este suicídio apenas à questão do casamento (gay), vai bem mais além" afirmou Roux, acrescentando que o gesto, em Notre-Dame, se reveste "de uma potência simbólica extremamente forte que o aproxima de Mishima" (escritor japonês que se suicidou em 1970).
Paraquedista durante a guerra da Argélia, Dominique Venner fez parte da Organização secreta OAS (organização armada secreta) que procurava, de forma clandestina, manter a Argélia francesa.
Desde meados dos anos 50 do séc.XX que Venner era membro de várias estruturas de extrema direita. Escreveu ainda várias obras de História, militar e política, e ainda livros sobre caça e armas de fogo.