A realização da Jornada Mundial da Juventude no Rio de Janeiro, com a presença do papa Francisco, de 23 a 28 de julho de 2013, é também uma oportunidade para que jovens de outras religiões possam acolher e conviver pacificamente com os seus pares católicos que virão de todo o mundo.
Essa lição de respeito e solidariedade foi noticiada pela BBC Brasil:
Jornada da Juventude envolve fieis de outras religiões no Rio
Caio Quero
A estudante de jornalismo Thaís Mello, de 25 anos, diz estar animada para a chegada da Jornada Mundial da Juventude, evento que deve reunir cerca de 2,5 milhões de jovens católicos no Rio de Janeiro no final do mês de julho e que vai contar com a presença do papa Francisco.
Mas, ao contrário da multidão de devotos que vai invadir as ruas da cidade por uma semana, Thaís não é católica. Adepta da Igreja Batista, uma das denominações protestantes com maior número de fiéis no Brasil, ela e sua família vão participar da JMJ hospedando em sua casa peregrinos de fora da cidade.
"Quando eu soube da jornada e de que iam precisar de casas para as pessoas se hospedarem, eu achei legal a ideia. Eu conversei com meus pais e eles autorizaram", conta Thaís, que deve receber sete peregrinos em sua casa de quatro quartos em Guadalupe, Zona Norte do Rio.
Mas ela não é a única não católica que estará envolvida com a Jornada.
Incentivados pelo evento, jovens muçulmanos, judeus e católicos vão promover um encontro paralelo dois dias antes do início da JMJ, para discutir o diálogo entre as diversas religiões.
Hospedagem
A ideia de receber jovens católicos em sua casa surgiu após uma experiência similar que Thaís viveu no Equador.
No ano passado, ela foi ao país para participar de um programa de trabalho voluntário ligado a uma igreja protestante. Entre as casas em que ficou hospedada, estava a de uma família católica.
"Eu fiquei primeiro na casa de uma família protestante e depois na casa de uma família católica. Fui muito bem recebida e foi muito legal", diz.
Thaís conta que está estudando para prestar concursos públicos, mas que já planeja interromper a rotina dos estudos durante a semana da Jornada.
Ela disse ainda que a ideia de hospedar os fiéis não sofreu resistência de seus pais, também batistas.
"Meu pai só ficou um pouco receoso porque a gente não sabe quem são as pessoas (que ficarão hospedadas). Ele até conversou sobre isso com o pessoal (da organização), que fez uma visita aqui em casa e o tranquilizou", diz.
Thais acrescenta que seu pai fez apenas uma exigência: "meninos para um lado e meninas para outro".
A estudante afirma não ver conflito no fato de estar recebendo jovens de outra religião em sua casa. "Apesar das igrejas (diferentes), nós somos cristãos. Tem algumas diferenças, sim, só que a gente não tem que ficar focado nisso, tem que focar em Deus e seguir adiante".
Diálogo
Além do cristianismo, membros de outras religiões também vão aproveitar a Jornada para discutir as semelhanças e diferenças entre suas crenças. No dia 21 de julho, cerca de 150 jovens muçulmanos, judeus e católicos vão promover em um auditório da PUC-Rio um encontro inter-religioso.
"Vai ser como se fosse uma pré-Jornada, com uma abertura com os líderes de cada religião", diz a católica Aline Barbosa Almeida, coordenadora arquidiocesana da Pastoral da Juventude do Rio de Janeiro e uma das organizadoras.
Aline explica que o evento vai contar com a participação 50 jovens de cada uma das religiões. Além disso, uma exposição vai trazer objetos usados nos ritos católicos, judaicos e muçulmanos.
A iniciativa – que não faz parte da programação oficial da JMJ - surgiu após discussões da Juventude Inter-Religiosa do Rio de Janeiro (JIRJ), grupo que existe há cerca de um ano e meio e reúne jovens das três religiões.
"Nós temos muito mais coisas em comum que pontos discordantes. E mesmo naquilo que a gente discorda, isso não significa que aquela pessoa que pensa diferente de mim seja inferior ou superior, ela simplesmente pensa ou crê de maneira diferente e deve ser respeitada", diz Fernando Celino, muçulmano e um dos organizadores do evento.
Nascido em uma família católica, Celino se converteu ao islamismo há pouco mais de sete anos.
Coordenadora de projetos sociais da instituição judaica Hillel, Tamar Nigri Prais afirma não ter sentido resistência de qualquer das partes ao diálogo entre as religiões.
"Convivendo a gente consegue ver ainda mais claro (as coisas que as religiões têm em comum). O mais legal são o interesse no diálogo e o respeito mútuo entre as religiões", diz.