Esta história inusitada aconteceu no Brasil mesmo, no interior de São Paulo, e mostra como a inversão de valores e famílias desestruturadas podem produzir manifestações bizarras de amor, se é que não tem ninguém com parafusos a menos na cabeça neste caso.
Do ponto de vista jurídico, a repercussão também é interessante: afinal, se não havia ânimo (vontade) de subtrair, para si ou para outrem, coisa alheia móvel (definição de furto - art. 155 do Código Penal), como qualificar o crime?
Já que o rapaz queria apenas ser reunido ao pai numa penitenciária, poderia ter havido, no máximo, um crime de dano (art. 163 do Código Penal).
A notícia é do Estadão:
Rapaz furta banco para ser preso
e encontrar pai em presídio
CHICO SIQUEIRA
Em Iacri, operário de 19 anos arrombou banco e esperou a chegada da Polícia Militar
ARAÇATUBA - Após discutir com a mãe por ter chegado em casa às 4 horas da madrugada, o operário Mauro Silva Primo, de 19 anos, arrombou um banco, furtou dinheiro dos caixas e esperou a chegada da Polícia Militar. Sua intenção era ser preso para encontrar com o pai, que está detido num presídio estadual. O caso aconteceu nesta quarta-feira, dia 1º, em Iacri, no interior de São Paulo.
Revoltado com as palavras da mãe, que ameaçava abandoná-lo por estar prestes a ter o mesmo destino do pai, Primo saiu de casa prometendo a ela que então seguiria os caminhos do pai, com quem se encontraria no presídio. Ele usou um bloco para quebrar o vidro e entrar na agência do Bradesco da cidade. Retirou R$ 360,00 e um pacote de moedas, com R$ 29,95, de um dos caixas. O alarme soou, mas mesmo assim ele permaneceu na agência. Antes da prisão, a situação quase saiu do controle porque a polícia pensou, em um primeiro momento, que o celular e uma mochila do rapaz pudessem ser explosivos.
Em contato com ele no celular estava a namorada de Primo, acompanhando tudo em tempo real. “Ele foi contando tudo para a namorada. Disse que tinha brigado com a mãe”, contou Gildavio Rodrigues Moreira, presidente do Conselho Municipal de Segurança de Iacri, que acompanhou o caso. Segundo Moreira, Maurinho nunca tinha tido passagem pela polícia e sempre foi considerado um rapaz educado e trabalhador. “Maurinho sempre foi um exemplo de pessoa, até há pouco tempo trabalhava na igreja da cidade e hoje, numa fábrica de ração de Bastos”, disse. “Não sei como pôde fazer uma loucura dessas.”
Segundo ele, a mãe de Maurinho, Márcia Roberta Barbosa, contou que nos últimos tempos o filho começou a chegar tarde e a andar com más companhias. Na madrugada desta quarta-feira, ao ver que o filho chegar em casa por volta das 4 horas da madrugada, se revoltou e teve uma discussão áspera com o rapaz. Pelo crime de furto, Maurinho foi levado à Cadeia Pública de Lutécio, de onde deve ser removido nesta quinta-feira para o Centro de Detenção Provisória (CDP) de Caiuá, onde seu pai se encontra preso pelo crimes de estelionato e furto.