segunda-feira, 17 de junho de 2013

Como as religiões se dividem na cidade de São Paulo


Leituras muito interessantes podem ser feitas a partir dos dados levantados pelo Ibope sobre a religiosidade paulistana (ou a falta dela). Os dois artigos abaixo foram publicados no Estadão de 16/06/13 nos links indicados nos respectivos títulos:


RODRIGO BURGARELLI E JOSÉ ROBERTO DE TOLEDO

São Paulo pode até ter nome de santo, mas ser católico na capital paulista já deixou há muito de ser unanimidade. Atualmente, há bairros na zona leste que têm até 12 vezes mais evangélicos do que distritos em áreas mais ricas, proporcionalmente. O líder nesse quesito é Lajeado, no extremo leste - lá, um em cada três moradores se declarou evangélico.

Os dados fazem parte de estudo do Ibope em parceria com o Estadão Dados, com base nos questionários detalhados do Censo 2010. O levantamento integra a série 96xSP, que traz reportagens sobre temas como migração e deslocamento nos 96 distritos da capital.

O mapa das religiões em São Paulo mostra que não há nenhum distrito em que os fiéis da Igreja Católica não sejam maioria. Apesar disso, o número de católicos por evangélicos varia bastante entre as regiões da cidade. Ele é maior justamente nos bairros mais ricos, como Morumbi, Itaim e Alto de Pinheiros. O líder é o Jardim Paulista, onde há 12 católicos para cada evangélico. Essa proporção diminui conforme se afasta dos bairros nobres.

O extremo da zona leste concentra menos católicos do que qualquer outra área da capital, mesmo tendo níveis de renda similares a distritos das zonas sul e norte. A menor taxa é de Lajeado, onde há quase 1 evangélico para cada católico. A explicação, segundo especialistas, está na distribuição histórica dos templos religiosos em São Paulo.

"A zona leste, a partir da Avenida Celso Garcia, tem uma tradição antiga de igrejas evangélicas. A primeira igreja pentecostal de São Paulo é a Congregação Cristã do Brasil, no Brás. Ela foi fundada por italianos, mas já na década de 1950 parte dos milhares de nordestinos que vinham para São Paulo ocupar os bairros mais ao leste dessa área já frequentava esses cultos", explica o professor emérito de Antropologia da USP, João Baptista Borges Pereira.

Segundo ele, as igrejas pentecostais e neopentecostais são especialmente atraentes para imigrantes de menor renda porque foram mais bem-sucedidas em atrair esse público, tanto por seu discurso de prosperidade quanto por sua importância como referência social para os recém-chegados.

"O pentecostalismo é uma religião urbana, ligada ao modo de vida capitalista e ao trabalhador assalariado", complementa o professor de Teologia da PUC-SP, Edin Sued.









Enquanto isso, a região mais agnóstica é a Bela Vista, na região central; para especialista, cultura local influi na formação

Os dados do Ibope também mostram que São Paulo tem seu próprio "Bible belt" - ou "cinturão da Bíblia", termo usado tradicionalmente para descrever a zona mais religiosa dos Estados Unidos. Na capital, os bairros que têm mais pessoas que se declararam adeptas de alguma religião são Água Rasa, Vila Formosa e Mooca, todos no início da zona leste. Os distritos no entorno, indo ao norte até a Vila Medeiros, também concentram essa característica.

Nesses bairros, a maior parte dos fiéis é católica, seguida por evangélicos e espíritas. No líder, Água Rasa, apenas 4% dos seus moradores declararam ser ateus ou agnósticos.

O contraste é grande quando o número é comparado com a Bela Vista, na região central. Lá, essa taxa é quatro vezes maior - ou seja, praticamente um em cada cinco moradores não segue nenhuma religião.

Para o professor João Baptista Borges Pereira, da Universidade de São Paulo (USP), o "Bible belt" paulistano tem essa característica por causa da própria cultura do bairro. "São locais onde há pouca imigração recente, e os moradores costumam ter uma tendência maior de permanência. Assim, cria-se uma religiosidade de bairro, onde a igreja vira um centro social e uma referência para a sociabilidade local", explica.

Diversidade. O mapa da religião revela que existem comunidades fortes concentradas em certos bairros. Uma das mais famosas delas são os judeus. Dos 34 mil judeus que vivem na capital, cerca de 10 mil moram nos distritos de Santa Cecília e Consolação, onde fica o bairro de Higienópolis. Há também números relevantes em outros distritos de maior renda, como Jardim Paulista e Perdizes, e também no Bom Retiro, um dos primeiros locais a receber imigração judaica em São Paulo.

Os espíritas - que compõem a terceira maior comunidade religiosa paulistana, com 448 mil adeptos - estão mais concentrados no Tatuapé, Mooca e Água Rasa, onde mais de 10% dos moradores declararam seguir esse credo. É nessa região que fica o Centro Espírita Perseverança, um dos mais tradicionais de São Paulo.

Já a maioria dos muçulmanos - são cerca de 6 mil na capital - está no Pari, tradicional bairro comercial que abriga uma das principais mesquitas da cidade. Os budistas (são 63 mil) se concentram na Saúde, Jabaquara e Liberdade, distritos que também têm porcentual relevante de imigrantes orientais, como japoneses e chineses.

Os 56 mil adeptos de religiões afro-brasileiras, como umbanda e candomblé, estão mais espalhados pela capital. Em distritos com grande herança de comunidades africanas, como Tucuruvi e Carrão, cerca de 2% dos seus moradores se declararam adeptos dessa religião. / R. B. e J. R. T.



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